quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

2009 Inovou Até Demais

Esse ano foi tumultuado, não? Quantas mudanças! Principalmente para mim e meus colegas vestibulandos de todo o país. Houve também mortes de figuras importantes, casos intrigantes, epidemias, recordes quebrados e efemérides significativas. Então rumo à retrospectiva 2009 do Sempremdm!

Começo pelo que eu manjo. O famigerado vestibular. As mudanças são incontáveis e começam com o MEC declarando, após o ano letivo já ter iniciado, a substituição do vestibular pelo tal do “novo” ENEM – novo entre aspas porque de novo ele não tem nada. O ENEM foi um fiasco. Longo, cansativo, burro. Isso sem contar que as provas foram roubadas e os resultados vão chegar lá por fevereiro – quem pretendia entrar na UTFPR, que adotou integralmente, se lascou, afinal vai ter aula só lá pelo mês de março, um mês depois do normal. Houve também algumas mudanças mais internas como a mudança no número de redações da UFPR, na segunda fase da Fuvest, no fato da UFSC e da UFPR não baterem na data, mas essas são periféricas.

Mas se teve algo que marcou muito, tanto para os estudantes quanto para a população em geral, foi a tal da Influenza A H1N1, a “gripe suína”. A epidemia até rendeu à maioria das pessoas 2 semaninhas de folga – apelidadas de “férias suínas”. Shoppings e restaurantes vazios, desesperados de máscaras cirúrgicas pelas ruas, tema pro jornal o mês todo. Depois de um mês ninguém mais nem se lembrava do assunto.

Outra coisa é que todo ano tem um crime que comove a população. Esse ano tivemos o Deputado beberrão e apressadinho, Carli Filho. Bebeu, correu, bateu e matou 2 jovens que nada tinham a ver com a história. Até onde eu sei, está respondendo em liberdade e passa bem. Teve também o assassinato do rapaz e o estupro de sua namorada em um morro próximo à Praia Mansa e o recente caso do menino das agulhas. Ah, e não posso me esquecer do aconteceu no Couto Pereira há poucas semanas que não sei chamar por outro nome senão crime. Sim, em matéria de desgraça foi um bom ano.

Ah, as efemérides! Adoro essas coisas de aniversários redondos, datas importantes. Esse ano tivemos algumas. 220 anos da Revolução Francesa e da Inconfidência Mineira, 150 da publicação da Origem das Espécies, do Darwin, 70 do início da mais sangrenta de todas as guerras, a 2ª Guerra Mundial, 60 da revolução chinesa, 50 da revolução cubana, 40 do festival de Woodstock e do lançamento do Abbey Road – o disco cuja capa é uma das mais intrigantes de todos os tempos -, 30 da revolução sandinista, 20 da queda do muro de Berlim. Isso que esse ano é o Ano Internacional da Astronomia. Enfim, muitas datas foram comemoradas durante esses quase 360 dias que se passaram até hoje.

As mortes foram memoráveis também. A começar pelo Rei do Pop, Michael Jackson, que nos deixou na véspera de uma turnê de retorno. A cultura também perdeu esse ano Mercedes Sosa, cantora argentina, Farrah Fawcett, atriz que fazia o papel de uma das 3 panteras originais, Patrick Swayze, ator que ficou famoso pelos filmes “Ghost” e “Dança Comigo” e Les Paul, músico e inventor do modelo de guitarra Gibson que leva o seu nome. Outra grande perda foi a do antropólogo Claude Lévi-Staruss, o criador do estruturalismo e um dos grandes responsáveis pela destruição de conceito de eugenia. É sempre bom lembrar que ele finalizou seus trabalhos com tribos brasileiras e que foi um dos fundadores da USP. Teve também a morte do locutor Lombardi e do empresário Herbert Richers, o cara da “versão brasileira Herbert Richers” – quem via seriados antigos dublados vai saber do que estou falando – e do estilista, e até então também político, Clodovil Hernandes. Mas não foram só os bons que nos deixaram. A morte do político Celso Pitta nos dá esperanças pra que qualquer dia desses apareça no Jornal Nacional “O político José Sarney sofreu hoje um AVC e não resistiu”. Já iria tarde, mas como vaso ruim não quebra...

E falando em vaso ruim, como todos os outros anos, esse não escapou dos casos de corrupção. Começo pelo bigodudo do parágrafo anterior, o Senhor do Maranhão, José Sarney. Mesmo com passeatas, protestos, críticas e o escambau ele se manteve firme e forte no trono de presidente do Senado. Tudo pra proteger o seu filinho que estava – e ainda está sendo, se não me engano – investigado pela polícia. E claro, não podemos nos esquecer o senhor dos panetones cifrados, Celso Arruda. E falando em Arruda - aliás, que nome mais amaldiçoado esse; folhas de arruda nunca mais -, logo nos vem à cabeça a imagem da loira da UNIBAN, Geyse Arruda, quase sendo execrada pelos colegas de faculdade. Um caso que acabou dividindo opiniões – a minha está aqui.

E é melhor eu parar por aqui porque o texto já está gigantesco. Aliás, o blog nessas próximas semanas terá poucos – se tiver – posts. Poxa gente, precisamos de férias também! Ano que vem retornaremos com tudo. Sempre Mais do Mesmo, sempre novos posts.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Imperfeccionismo

De todos os meus defeitos

O pior que tive

Foi tentar ser pefeito.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sal, Limão, Tequila, Arriba!

Tenho medo do fiasco

Após 6 doses de Zé Cuervo

E um frasco de Tabasco.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Natureza Selvagem

A natureza é a dona do mundo. Nada de presidente dos E.U.A. ou quem tem mais bombas atômicas (presidente dos E.U.A.). Quem manda nessa joça é a mãe natureza. Seja assustando crianças à noite soltando trovões, seja destelhando casas com sopros moderados de 120km/h. As forças do planeta dominam nossas vidas e condicionam nosso modo de viver. Mas também nos proporcionam as mais belas cenas.

A chuva, por exemplo. Atola carros, alaga bairros e cidades inteiras, (infelizmente) mata e joga na rua centenas de pessoas, cria cataratas na UTFPR. Enfim, causa inúmeros danos a nossa sociedade. Porém, quem nunca "lavou a alma" num banho de chuva no verão? Quem não gosta de sentar numa sacada (coberta, por favor) ao lado de uma boa companhia só deixando chover? Já dizia minha mãe, quando chove, o negócio é fazer como os polacos (sem preconceitos!): dexakichova.

Outro exemplo, que muitas vezes vem junto das chuvas: trovoadas. Por incrível que pareça, nosso país é o que mais registra o acontecimento de raios no mundo, sendo Teresina, capital do Piauí a terceira cidade no mundo em matéria de descargas elétricas! Raios, trovões, relâmpagos e cia. são responsáveis por um prejuízo, só no Brasil, de R$1 bi anual, causando 75 mortes em 2006 (fonte). Mas é difícil achar alguém que não se surpreenda ao ver, na distância, imagens como essa. E também, vale dizer, eles, com sua eletricidade, já são fonte de energia em alguns lugares que conseguem captá-los.

Enfim, inúmeros outros exemplos poderiam ser citados para ilustrar essa relação entre destruição e beleza das forças da natureza (vulcões, sua quente força e sua beleza irradiante; o oceano, suas inúmeras imagens belas e seu poder de engolir beira-mares; etc.). Deixo esse texto como meu ode a mãe de nosso planeta e sua influência sobre nós. Só espero que, com isso, ela me poupe de episódios absurdos, como atolar o carro em pleno centro da cidade!

Amor Bandido

Esse tal de Amor é um sacana.

Te idolatra se for babaca,

Te mal-trata se for bacana.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Os Barões do Rock N' Roll

Se o Circo Voador teve um anfitrião, esse anfitrião foi o Cazuza. E se o Cazuza, que era um rei nato, teve uma corte, essa corte foi o Barão Vermelho. Se não fosse o Barão, nosso Rock com certeza seria bem menos interessante. E olhe que o Barão é uma das poucas bandas do mundo a conseguir trocar de vocalista e manter a qualidade. Barão com Cazuza é incrível, mas com Frejat nos vocais ainda bate um bolão. Mas dessa vez vou falar dos anos de ouro, que foi antes da separação.

A profusão de hormônios apelidada de Cazuza quando se uniu àquela banda de jovens músicos foi amor à primeira vista. Logo aquele rapaz de classe média se uniu ao Frejat e com ele formou uma das melhores duplas de compositores da nossa música. O Barão era lírico e raivoso. Era apaixonado e apaixonante. O Barão era puro Rock N’ Roll.

Sem mais delongas, vamos às indicações. Não vou me dar ao trabalho de indicar as mais famosas como “Pro Dia Nascer Feliz”, “Bete Balanço” ou “Maior Abandonado” porque seria muito clichê. Vou mais fundo, mesmo adorando essas músicas.

Vou começar de leve. Um blues acústico sobre um homem abandonado pelo seu amor. “Bilhetinho Azul” é calma, porém tem um ritmo contagiante. Isso sem contar a parte do “Chuchu, vou me mandar” que sempre me arranca um sorriso quando ouço. Quem consegue dizer isso sem parecer cafona? Só o Cazuza...

Outra baseada nos blues clássicos, mas dessa vez mais pesada – quero lembrar que isso é uma marca forte do Barão já que o Rock deles era inspirado nos clássicos setentistas – é a “Por que que a Gente É Assim?”. “Mais uma dose? É claro que eu tô afim. A noite nunca tem fim...” e assim começa um clássico. Um riff pausado, marcante que faz seu pé bater no chão no ritmo do baixo sem você sequer perceber. “Canibais de nós mesmos antes que a Terra nos coma. 100 gramas, sem dramas”. Será que eu preciso dizer alguma coisa sobre uma frase dessas?

Vou aglutinar as duas últimas num só parágrafo pro texto não ficar tão longo quanto o sobre os Titãs. As próximas indicações são “Down em Mim” e “Todo o Amor que Houver Nessa Vida”. A primeira é uma das minhas favoritas. É incrível o que dá pra fazer com 4 acordes. “E as paredes do meu quarto vão assistir comigo a versão nova de uma velha história. E quando o sol vier socar minha cara, com certeza você já foi embora” é umas das coisas mais incríveis que o Cazuza e o Frejat já compuseram na vida dessa grande banda. A outra não é a que o Cazuza gravou em carreira solo – essa eu particularmente acho um saco. Falo da versão original, do primeiro disco da banda. Definitivamente outra pérola daquela mente conturbada.

Também recomendo o filme “Cazuza - O Tempo Não Pára”, biografia do cantor e compositor. Agora é só colocar os vídeos do youtube - que aposto que já estão carregando em outra janela – pra tocar e aproveitar o som.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cafeína na Veia (Criativa)

Tenho o costume (sortudo demais sou eu por tê-lo adquirido) de tomar café. Expresso duplo, puro, uma colherzinha de açúcar. Melhor coisa naqueles momentos em que estou muito agitado, os pensamentos não estão se organizando ou estou passando por uma fase difícil. Diferentemente da maioria, me sinto extremamente tranqüilizado e acalmado pelo expresso. Só uma coisa é capaz, às vezes, de frustrar esse momento meu: quando vou com muita sede ao pote e queimo a língua.

(Ô dorzinha maldita, a da língua queimada. Ficamos bom tempo tentando refrescá-la e, depois, ignorá-la. Mas é horrível. Absurdamente chata também é a dor de unhas cortadas muito curtas. Ah, quem nunca cortou a unha dos dedões das mãos muito curta e não conseguiu, por isso, usar os dedos devidamente. Topadas do mindinho no canto do armário, mordidas na língua, joelhadas na escrivaninha. Enfim, o mundo está cheio de ameaças sinistras, na espreita para nos fazer agonizar, nem que seja por instantes.)

Quando estou com minha xícara, sentado num ambiente agradável, geralmente sou atingido, de súbito, com idéias boas, pensamentos complexos. Boa parte das vezes, bebo acompanhado de um livro. Outras, de pessoas magníficas e companhias impagáveis. Esses são os principais combustíveis para minha criatividade. Depois desses momentos relaxantes, costumo ter uma produtividade acima do normal.

(Nada como trabalhar motivado, com vontade. Ter aquele professor cativante, que nos instiga, trabalhar num ambiente amistoso e harmonioso, com pessoas estimulantes. De boa, estudar e trabalhar em lugares desafiadores com pessoas que, como eu, buscam sempre estar à frente, é ótimo demais. No entanto, é cansativo, mental e fisicamente.)

Porém, desde que começou a temporada de provas, seja das faculdades, seja dos vestibulares, não tenho conseguido casar os horários meus e de meus companheiros(as). E posso garantir que isso tem estragado boa parte de meus pensamentos. Essa falta de relaxamento para a cachola pode ter, por um tempo, atrofiado minha capacidade de escrever. Junte a isso o esgotamento das energias e temos aquele tão temido bloqueio criativo.

(Pelo menos ainda escrevo alguma baboseira aqui. Tem gente que nem pra isso... Brincadeirinha! Pessoas ocupadas são fogo. Não conseguem tempo pra respirar, imagina pra postar no Blog.)

Acho que consegui fazer algo com esse jogo de parênteses. Experiências a parte, espero que, agora que as pessoas entram de férias, possa receber mais convites para sair tomar aquele expresso duplo, puro, uma colher de açúcar.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Início do Ócio

Começo me desculpando pela ausência. Só tive condições de escrever de novo hoje. A razão é que ontem fiz a última prova da segunda fase da Federal do Paraná. História e Filosofia. Tive de escrever coisa pra 100 linhas. Isso que no dia anterior tive 5 redações. O que esses dias fizeram com o meu calo do dedo médio, prefiro nem comentar. Mas enfim, missão cumprida. Agora só tenho uma segunda fase da USP na ressaca do ano novo que eu vou fazer com uma “vontade” admirável...

O ponto é que escrevi tudo isso pra anunciar que estou em férias. E você se perguntando “tá, e daí?”. Então, percebi que as férias são tudo o que eu preciso. Aliás, o que todo mundo precisa. Tempo pra pensar e poucas coisas pra cumprir. Afinal o ócio criou as melhores coisas da humanidade. E vocês leem isso de um vagabundo confesso.

Os gregos, por exemplo. Se não fossem os escravos, nunca teriam desenvolvido tanta filosofia, matemática, literatura. Ou os nobres da aristocracia que se não fossem os servos não teriam feito tantas descobertas científicas, obras de arte, concertos de música. Hoje em dia, o mais perto que chegamos disso são as bolsas que os cientistas recebem para pesquisar. E as férias, claro.

Nesse tempo pretendo ler o que eu quero - e não só coisas relacionadas ao vestibular -, fazer exercício – pra perder a barriga que esse ano me trouxe- e produzir o que tá armazenado nessa cachola que vos escreve no momento. Escrever, conversar, tocar. Agora só me resta aproveitar esses 80 dias que se seguem e aguardar ansiosamente pelo resultado do tão esperado vestibular que sai até dia 22. Enfim, férias.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Fronteira com as Palavras

A vida de um pensamento dura até que ele chegue ao ponto perpendicular com as palavras e a partir de então está morto, entretanto é indestrutível, igual um fóssil.
Assim, logo que nosso pensamento encontrou palavras, ele já deixa de ser algo íntimo. Quando ele começa a existir para os outros, para de viver em nós, da mesma maneira que o filho se separa da mãe quando passa a ter sua existência própria. Como diz o poeta:

"Não me venham confundir com contradições!
Logo que falamos, começamos a errar."

Citação do poema de Goethe, "Spruch".

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

“O Amor É o Fogo...”

Não!
O amor é uma mão!
Que te bate
E sem embate, te abate.
Que te pega,
Te apega e te cega.
Aí no tempo crescente,
Te bate novamente.

O Triste Fim do Conhecimento Sensível

Já percebeu que hoje as coisas precisam ser abstratas e difíceis para que possam ser respeitadas? A reta tornou-se inviável, mesmo sendo o caminho mais curto para ligar dois pontos, o simples é visto como suspeito. Para que algo possua credibilidade faz-se necessário um aval científico. Não basta ser conhecimento para que seja valorizado, é preciso ser ciência.

Merleau-Ponty já falava da falta de animalidade do conhecimento moderno. O mais triste disso tudo é que ainda colhemos os frutos da produção científica da modernidade: objetivismo, distanciamento do observador e seu objeto de estudo, imparcialidade. Para que algo seja considerado ciência, é necessário que seja previsível e calculável, Weber mesmo já dizia isso. Assim, as outras fontes como a sabedoria popular e o conhecimento sensível foram desvalorizadas. E vamos e venhamos, não existe nada mais hipócrita do que uma teoria bem fundada. Na prática, ela nunca será a mesma. Ela foi criada a partir das idéias de uma pessoa só! Como as outras devem reagir da mesma forma frente a uma única cadeia de raciocínio, sendo que não possuem as mesmas experiências de vida, a mesma bagagem educacional, o mesmo conjunto emocional e até a mesma forma de recepcionar o conhecimento?

Se existe algo insólito é o conhecimento: não há como obtermos uma verdade absoluta. Cada um absorve uma assertiva de sua determinada maneira. A teoria é importante, e isso não podemos negar. Mas nem mesmo a teoria, com todo o seu alto nível de abstração, está livre de relativismos. Olhe a física, a gente aprende de um jeito fácil no Ensino Médio: os sistemas são todos constantes, massa e energia se conservam, etc. Ingenuidades à parte, sabemos que não é assim na realidade "sólida". Afinal, o que aconteceu com o conhecimento sensível?! Ele é tão desprezado hoje. Temos métodos e macetes para chegarmos a uma conclusão comum. Mesmo a ciência tendo evoluído muito desde a Modernidade, mesmo depois da Teoria da Relatividade de Einstein, temos resquícios desse positivismo científico, que reina, mesmo que não absoluto, até os dias de hoje.

Precisamos de complexos procedimentos para ter acesso a determinados direitos, de instrumentos mil para nos localizarmos no tempo e espaço. O conhecimento tornou-se cada vez mais técnico, mais hermético, é preciso compartilhar todo aquele jargão científico para poder ter acesso às informações. As antigas discussões filosóficas hoje se resumem a discussões técnico-procedimentais, graças a essa herança moderna, de modo operacional e acadêmico. O Antigo conhecimento era lido da natureza e percebido juntamente com o conhecimento sensível, de modo a formar uma ordem, e o homem era mais submerso a essa lógica.

Veja os Quares, eles se localizam no deserto sem ajuda de nada, somente com o posicionamento das estrelas, mesmo com as dunas mudando de lugar constantemente. A percepção que o homem tinha da realidade era muito maior. Nós não temos mais percepção. A passagem desse concreto para o abstrato criou um nível de, justamente, abstração do conhecimento que nos distancia profundamente da realidade. Isso vai repercutir, no século XX, em prejuízos militares. A guerra do Vietnã, por exemplo. Os Estados Unidos levaram um couro porque não tinham conhecimento sensível do território. O vietcongue sabia trafegar alí, sabia se localizar naquela selva como ninguém. Ele sabia diferenciar uma coisa da outra, sabia onde estava andando. As tropas americanas, urbanas, viam a selva como algo desconhecido, não tinham a agilidade, o conhecimento que o outro lado tinha, a percepção. Aquilo que víamos nos filmes de faroeste, o cara colocando o ouvido na terra, sabendo se passou alguém por ali, a quanto tempo. Essa capacidade de conhecimento perceptivo é algo que o homem moderno perdeu profundamente.

Nosso conhecimento é maciçamente abstrato, técnico. Essa percepção não temos mais. O homem que era chamado a CONHECER essa realidade, conhecer pela percepção do mundo, agora é chamado a manifestar sua vontade, a QUERER. Somos vítimas da razão instrumental, da ciência: sem toda essa parafernália, não conseguimos ver um futuro sustentável.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Aparteísmo Academicista

Não entendeu o título? Então, é justamente sobre essa língua que só os acadêmicos entendem que resolvi falar. Não sou contra o erudito nem contra a prolixidade – eu mesmo gosto de usar algumas “palavras difíceis” de vez em quando -, o que me irrita é o culto ao complicado. Não estou defendendo a morte do português bem-escrito também, só quero que o “português bem-escrito” seja compreensível.

É comum as pessoas acharem incrível quem tem um léxico um pouco mais avantajado, quem usa mesóclise, quem fala cujo, mesmo sem entender uma palavra sequer do que essas pessoas estão dizendo. E fica esse ciclo vicioso, um tentando ser mais incompreensível do que o outro, brigando por alguns aplausos. Isso me leva a outro ponto: o do egoísmo intelectual. As pessoas que tem um pouco mais de cultura não querem que as outras alcancem o mesmo nível delas. Elas se orgulham de se diferenciarem por isso! Quantas vezes você não ouviu “essas pessoas não merecem ler esse livro” ou algo do gênero? Isso é porque a pessoa que disse isso só tem esse conhecimento, que devia ser de todos, de notável e o defende como pode.

Eu mesmo sou vítima disso, não vou mentir. Tenho que lutar contra o meu preconceito quando ouço que uma pessoa totalmente inusitada assistiu a um filme super cabeça e disse que gostou e entendeu. Mas temos de lutar pela democratização, e não por uma aristocracia, da cultura e do conhecimento.

E é aí que volto para o tal do “aparteísmo academicista” do título. Os textos científicos, que teoricamente servem para a compreensão de como as coisas são, são normalmente confusos, cheios de concessivas e termos técnicos que são, muitas vezes, incompreensíveis. Essa infantilidade dos doutores e PhDs que me irrita. Essa coisa de “clube do bolinha” onde eles usam o “advoguês” ou o “economês” pra separar a plebe da nobreza intelectual. Uma coisa é protocolo, é decoro, é formalidade. Outra bem diferente é segregar o conhecimento. Viva à verdadeira democracia da cultura!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Um Minuto de Silêncio

E começa o segundo tempo de Coritiba e Fluminense...

Com a vontade de vingar-se pelo Atletiba sofrido, a cada minuto que passava, sentia um falso alívio no peito de ver o nosso arquirrival indo para a Série B. O resultado, Botafogo 2 x 1 Palmeiras, decretava o fim da megalomania do Centenário (1909 - 100 anos do nascimento do Coritiba Futebol Clube).

Restava uma vitória para salvar o Coxa e acabar com a inesperada arrancada do Fluminense de 10 jogos invictos (7 vitórias e 3 empates). A partida no Couto Pereira estava 1 x 1, o primeiro gol do jogo feito pelo tricolor carioca, uma falta rolada batida no canto. O empate veio de um cruzamento na medida para o zagueiro Pereira do Coxa cabecear direto para o gol do goleiro Rafael. Pouco preocupei-me com o jogo do meu Furacão que, com o time desfalcado, ficaria no 0 x 0 com o Barueri. Estava com alma e coração no Coxa e Flu. Estava certo de que o rebaixamento coxa-branca lavaria minha alma e que seria uma alegria comparável ao título paranaense de 2009.

Chegava os 40 minutos, o desespero dos jogadores no Couto aliviava tudo aquilo armazenado no meu peito: os 4 x 2 na Baixada, a capa da tribuna, o 3 x 2 de virada no Couto, o frequente comentário dos "comentaristas esportivos" da imprensa paranaense de que o Coxa tinha um elenco melhor do que o do Atlético. Como aquilo fazia bem, porém, só naquele momento.
O juiz indica os 4 minutos de acréscimo, começa em mim o tradicional momento de "cair a ficha".

Mais um ano sem Atletiba no brasileirão. Mais um ano de um futebol paranaense desacreditado e ridicularizado pela imprensa nacional. Mais um ano de um futebol que faz jus ao fato de ter mais torcedores Corinthianos, Palmeirenses, São-Paulinos, Gremistas e Colorados do que torcedores dos times do Paraná. Tem de ser valorizado o torcedor atleticano, coxa-branca, paranista, pois nós somos os verdadeiros torcedores do nosso time. Nós comparecemos ao estádio, nós estamos perto do clube que amamos, nosso clube representa nosso Estado, nosso lugar de berço. Pena que o time não corresponde, nenhum dos três times do nosso estado merecem a torcida que têm.

O rebaixamento do Coritiba, pela segunda vez em menos de 5 anos, traz para todos nós a lição de que não é possível torcer para um time que tem suas alegrias embasadas na desgraça do rival. O que traz alegria para nós, fanáticos pelos nossos times, é futebol. Um futebol no mínimo de raça indiscutível. A falta de habilidade é compreensível pela circunstância do famigerado mercado de jogadores de futebol.

Soou o apito. Não pude nem comemorar ou refletir melhor o turbilhão de sentimentos que passou por minha cabeça. Um grupo de torcedores do Coxa pula o fosso do estádio e agride um policial que protegia os jogadores do Fluminense. Na frente de câmeras e de inúmeras pessoas de princípios, um pai de família é espancado por um grupo de torcedores enfurecidos. O desespero dos repórteres em volta pedindo reforço policial no campo. Cadeiras arremessadas ao gramado, confronto direto entre torcedores e a Polícia Militar. O que é isso? Onde está agora Jair Cirino, presidente do Coxa, que prometeu, deu esperanças e nada correspondeu? Por que ele não estava no gramado? Aliás, por que havia torcedores no gramado? O que justifica espancar um inocente por causa de algo que sequer é sua culpa? O policial espancado queria seu salário para levar à sua casa, pouco importava Fluminense ou Coritiba, ele estava fazendo seu trabalho.

É aí que precisa ser ensinado, junto ao amor à camisa, mesmo eu sendo um admitido fanático pelo Clube Atlético Paranaense, o limite desse amor, o valor da vida, o ato de medir as consequências. Uma vida não pode ser comparada ao fanatismo por um clube de futebol. Cala o Brasil, o país do futebol, uma atitude repugnante como essa. Além de ser uma lição para dirigentes de clubes, que promovem um marketing dualista do seu time de futebol (nós somos o bem, o rival é o mal). Mexer com as emoções das pessoas não é como vender um simples produto. Time de futebol não é marca, não é empresa. Time de futebol é paixão, por isso devem ser transmitidos os limites dessa paixão.

Um minuto de silêncio, não ao Coxa, não à vergonha do futebol paranaense, mas às vidas arruinadas das pessoas no dia 06/12/2009 no Estádio Major Couto Pereira.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A Falta de Sentido que Faz Sentido

"Why is a raven like a writing-desk?" ("Por que um corvo é igual a uma escrivaninha?", tradução livre)

Nada melhor para começar um post sobre nonsense do que a transcrição do magnífico (e ainda não respondido definitivamente) enigma do Chapeleiro Maluco, da história de "Alice no País das Maravilhas". Segundo o próprio Lewis Carroll, autor de "Alice", no prefácio da edição de 1896 da história, não havia resposta mesmo para o enigma quando ele o pensou. Mas após sua publicação, inúmeras respostas foram propostas. Até Aldous Huxley, renomado autor de "Admirável Mundo Novo" se arriscou com uma das melhores soluções, na minha opinião: "Because there's a b in both and because there's an n in neither" (algo como "porque tem um a em ambos e um n em nenhum", tradução livre também).

Aliás, não só esse excerto demonstra a essência (se é que há alguma) do nonsense nas duas aventuras de Alice. Na segunda história de Alice, "Através do Espelho - E o que Alice Encontrou Lá", por exemplo, na qual Alice atravessa um espelho da sala de sua casa e sai num mundo 'espelhado', temos várias passagens, bem como no primeiro romance, engraçadas, porém, sem nenhum sentido aparente. O poema de nonsense mais aclamado de todos os tempos é de autoria de Lewis Carroll e é encontrado nessa segunda aventura de Alice, "Jabberwocky" (para quem tem um pouco de inglês).

Outro expoente do nonsense, por "increça que parível", é o escritor da considerada maior obra em língua inglesa de todos os tempos ("Ulysses"), James Joyce. Em sua obra mais trabalhada, "Finnegans Wake", Joyce brinca num sonho de maneira sem precedentes. Palavras compostas por dezenas de outras palavras (portmanteau, em inglês), misturas de pelo menos umas 15 línguas diferentes e capítulos sem nenhuma progressão aparente. Algumas interpretações são possíveis, mas não há ninguém com envergadura moral suficiente para dizer qual é a correta (se é que há alguma).

Fecho o post indicando o livro que me incitou a escrever esse post, "The Annotated Alice: Definitive Edition", a versão comentada das duas aventuras de Alice, no país das maravilhas e através do espelho. Comentários extremamente úteis, que nos permitem entender a parte do nonsense de Carroll que possui explicação. Vale lembrar também que as aventuras de Alice vão ao cinema através da cabeça de Tim Burton, ano que vem.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Que Soem as Vuvuzelas!

Hoje saiu as definições dos grupos da tão aguarda primeira copa do continente africano, a da África do Sul. A copa promete, mesmo depois da palhaçada – e não tenho pudor em chamar assim o que aconteceu nos últimos jogos das eliminatórias europeias – que foi o jogo entre Irlanda e França, com direito ao “retorno da mão de Deus”, dessa vez, na versão de Thierry Henry.

Os grupos têm como característica intrigante a presença de grandes seleções separadas enfrentando seleções de menor tradição, o que, na minha opinião, é ótimo, já que as oitavas e quartas de final serão, provavelmente, marcadas por clássicos. Isso se não houver nenhuma zebra, como foi o Senegal na copa de 2002 ou a Croácia na de 98. Além disso, também é interessante destacar a presença de todas as seleções que possuem uma taça da copa na estante participando da edição do ano que vem.

Mas vamos aos grupos! No A, está a anfitriã, o México, o Uruguai e a famigerada França. No B, nossos hermanos argentinos pegam a Nigéria, a Coreia do Sul e a Grécia. O grupo C é a festa dos ingleses, que vão pegar os EUA, a Argélia e a Eslovênia. No D, outro grupo fácil, a Alemanha pega Austrália, Sérvia e Gana. O E tem Holanda, Dinamarca, Japão e Camarões, o que dá uma briga boa. Já o F e o H seguem o padrão dos B, C e D, sendo que o F conta com a Forza Azurra italiana como protagonista, além de Paraguai, Nova Zelândia e Eslováquia, e o H tem como estrela La Fúria Española acompanhada da Suíça, da Honduras – sim, a do Zelaya – e Chile.

Deixei pra falar do grupo da nossa seleção canarinho, o G, por último, já que fomos extremamente azarados nos nossos adversários. Enfrentaremos Coreia do Norte, Costa do Marfim e Portugal. A Costa do Marfim tem revelado alguns grandes jogadores como Drogba, o que já é algo pra se tomar cuidado. A Coreia do Norte é o ponto fraco, mas a última vez que pegamos os portugueses na primeira fase, eles quebraram Pelé, que ficou impossibilitado de jogar os próximos jogos da Copa de 66, na Inglaterra, e Eusébio deu show. Fomos eliminados já de cara.

Pelo menos, na copa seguinte a que fomos eliminados pelos lusitanos, a de 70 no México, o Brasil apresentou a melhor seleção de todos os tempos, que contava com Pelé, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto Torres, Félix e tantos outros. Se perdermos essa da mesma maneira que perdemos a de 66, o passado pelo menos nos é simpático quando se trata de perspectivas para a Copa do Brasil.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sempre Minguante

Tenho pena do luar,

Que tem que competir

Com o brilho do seu olhar.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sangue Não se Lava com Sangue

Assistindo, há uma semana, uma palestra sobre Klaus Barbie, último general nazista preso e condenado, apresentada por meus colegas de sala, comecei a refletir sobre todas as conseqüências que a Segunda Guerra trouxe para todo o mundo. O holocausto trouxe à prova a importância da democracia em uma sociedade.

A Ditadura Hitleriana despertou monstros inibidos na mente de muitos alemães nazistas. Monstros que jazem em todos nós, porém não são despertados, pois temos como freio uma educação, uma legislação, uma humanidade. Porém, quando o Estado é permissivo a tudo isso, não só permissivo, mas apoiador, instigador de uma teoria de “raça superior”, perde-se o parâmetro de certo ou errado que há em nós. É a famosa “banalização do mal”. Durante essa apresentação sobre Klaus Barbie, um colega meu abordou o julgamento, chamou- me atenção o argumento do advogado do réu. O advogado de Barbie, Jacques Vergés, declarou na defesa um fato que é omitido por todo o mundo: a consciência limpa daqueles que acusaram os nazistas.

É inegável a falta de humanidade que houve durante a Segunda Guerra, mas o que aconteceu logo depois? O que foi a bomba atômica em Hiroshima, o massacre praticado pela França (país em que Klaus Barbie foi julgado) contra os Argelinos que lutavam pela independência, o também massacre praticado pelos Israelenses contra o Egito e os palestinos? Barbie teve um argumento que pode servir de defesa a tudo isso: “Admito tudo que fiz, mas fiz tudo isso durante a Guerra, e a Guerra acabou”. Mas por que então somente Barbie recebeu prisão perpétua? Que pena teve Paul Tibbets (comandante do avião que jogou a bomba atômica em Hiroshima), Ariel Sharon (ex- primeiro-ministro israelense que permitiu um massacre aos libaneses)? Onde fica a permissividade das nações do mundo ao assistir de camarote os conflitos na África, fruto de uma colonização mal pensada e com intuito único de exploração, desprezando as rixas entre as tribos que lá existiam?

Na entrevista de Mahmud Ahmadinejad, presidente do Irã, à Globo News concedida em sua visita ao Brasil, ele foi indagado sobre as afirmações à respeito da não-existência do Holocausto. Ahmadinejad disse o que busquei enfatizar nesse texto, não é que não existiu o Holocausto, é que não se aprendeu, com toda a brutalidade que foi, a valorizar a vida humana. Porém, que credibilidade tem um chefe de estado que lança mísseis caseiros e financia organizações terroristas pelo mundo inteiro?

Minha esperança continua na educação, com uma globalização positiva, a globalização dos direitos humanos devidamente aplicados, da punição justa e universal, do respeito às culturas, do reconhecimento da importância da democracia e seu desenvolvimento. Uma democracia que protege as minorias e impulsiona seu povo a ter consciência, voz ativa e fé no voto. O Brasil, no linguajar popular, capenga, mas acredito que caminha para isso.

domingo, 29 de novembro de 2009

For Those That Rock, I Sallute You

Passar 12 horas de baixo de um sol escaldante, tomar uma chuva de verão típica de São Paulo, com direito a trovoada e ventos, ficar mais do que 15 horas em pé, seja andando, parado, pulando, passar 7 horas apertado num ônibus na ida, mais 7 na volta... Tudo isso gastando mais de 300 reais. Mas valeu muito a pena por duas horas do dia 27 de novembro. AC/DC.

Setenta mil pessoas, muitas delas vindo de longe, pulando no gramado e nas arquibancadas do Morumbi ao som de "Rock'n'Roll Train". A impressão que tive foi que todas elas sabiam de cor as letras de todas as músicas de uma das bandas mais influentes de todos os tempos. Segunda música foi "Hell Ain't a Bad Place To Be", extremamente irônica na minha situação, afinal, passar pelo inferno, comparando com o dia que passei, não seria tão ruim. Canções clássicas, como "Back in Black", intercaladas com umas do álbum novo, o Black Ice, fizeram um setlist de agradar a qualquer fã (ou não fã). A banda simplesmente deu um show de instalações e, principalmente, de performance. Pirotecnia, solos virtuosíssimos, bonecas infláveis gigantes e dancantes. Não tenho jeito melhor de expressar a sensação de ter feito parte desse espetáculo.

Destaco aqui o que mais me chamou a atenção do show. Primeiro, ao apagarem-se as luzes do estádio, podia-se observar um enxame de luzes vermelhas piscando. Eram os chifres de diabo que estavam sendo vendidos antes do show, tema da capa do disco "Highway to Hell", e que Angus Young, guitarrista, usou no bis. Canhões ensurdecedores, se unindo ao já estrondoso som da banda, ecoavam durante a performance de "For Those About to Rock (We Salute You)" e abalavam as estruturas, senão do estádio, as minhas.

Mas absurdo mesmo foi o show do já mencionado guitarrista, Angus Young. Nas palavras do vocalista Brian Johnson antes da música "The Jack" (na qual, no fim, Angus faz um strip-tease), "he's got the devil in his fingers and the blues in his soul". E não duvido nem um pouco dessa afirmação, principalmente pela música "Let There Be Rock". Uns vinte minutos após término da letra da música e Angus ainda solava no palco. Seja na passarela que atravessava o gramado e levava a uma plataforma que se elevava, seja no centro do palco e das atenções e das luzes. Young parecia uma criança de brinquedo novo, não querendo soltá-lo jamais. Na minha humilde opinião, digo convicto que presenciei um dos guitarristas mais talentosos ainda vivos. Animador de multidões, virtuoso solista, criança (de 54 anos) hiperativa.

Resumo da ópera: 300 reais extremamente bem investidos no show que garanto ter sido o melhor de minha vida, até agora.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Vestibular É Negócio Muito Perigoso

No começo,
Em tudo se acha graça.
Mas com o tempo,
Percebe-se a desgraça.

E então conhecemos Einstein
E a viagem que é a Física Moderna.
Quarks, Quantuns e neutrinos.
A mais organizada das badernas.

E ter de decorar os filos,
Organelas, tecidos, profilaxias e termos.
Saber de anfioxos, eritroblastose, eutrofização.
Tudo armado para nos perdermos.

Ter de calcular o PH
Das reações mais absurdas.
Nox, fenóis, elétrons e radiação
Estampados em provas sisudas.

Viajamos da Mesopotâmia
Aos causos dos dias atuais.
Compreendemos cada intriga
Mas logo não queremos saber mais.

Conhecemos diversos sujeitos
Recheados de adjetivos.
E vemos em cada frase
Um sentido subjetivo.

Não bastavam os números normais?
Já tem infinitos desses ordinários!
Mas os matemáticos, não satisfeitos,
Me inventam os “imaginários”.

E com o tempo vem a ansiedade.
E nossa mente se torna um aterro.
E aprendemos que rir é bom,
Mas que rir demais é desespero.

E tudo isso pra uma prova!
Por um banho da lama sagrada.
Por um urro de comemoração
Pela conquista da vaga disputada.

E poder contar pros seus filhos
O que passou naquele ano.
“Sofri, mas valeu a pena,
Disso eu não me engano”.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Eternamente Efêmero

No começo do século passado, um físico alemão revolucionou o modo como vemos as coisas. “O tempo é extensível e o espaço, compressível”, é o que dizia Albert Einstein. E, em se tratando de tempo, ele estava cheio de razão. 5 minutos podem ser um instante bem como uma eternidade, dependendo de simples variantes como a companhia no momento.

Regularmente, dividimos o tempo em pretérito, presente e futuro. Mas basta olhar pra gramática que descobrimos o pretérito perfeito, o pretérito mais que perfeito, o futuro do subjuntivo, o presente do indicativo, o futuro do pretérito – esse último, o mais intrigante, na minha opinião, afinal o futuro do pretérito É o presente – e diversos outros “tempos” verbais.

Mas o presente não existe. É como a tênue linha do espelho d’água que separa este líquido do ar que o cerca. O passado é um conjunto de presentes, adimensionais, que unidos formam o que conhecemos por história. E o futuro? Esse é uma interrogação por si só. Uns creem na sua predefinição, no destino, na sina, no karma, outros em sua completa aleatoriedade, no livre arbítrio. Enfim, o tempo não é tão simples quanto parece.

O tempo é de tudo um pouco. É o caminho da sabedoria, da experiência e das rugas. O tempo não faz diferença para os apaixonados. “O tempo não para”. O tempo é invenção, resultado de uma revolução industrial escrava das horas e dos minutos. O tempo é Chronos, o pai de Zeus. Mas acima de tudo, o tempo é atemporal.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Som & Fúria

Poucas coisas conseguem me tirar do sério quando se trata de música. Os sintetizadores, definitivamente são uma delas.

Sintetizadores, pra quem não sabe, é aquele teclado meio fanho, típico dos anos 80, como por exemplo, o da introdução de “The Final Countdown” do Europe. Eles também se fazem presentes em algumas músicas eletrônicas, no tecnobrega e no maldito “funk” carioca – funk em parênteses porque pra mim funk é o que o James Brown fazia, aquilo é palhaçada.

Bem, nunca fui muito adepto do piano e de seus afins. O piano solo tudo bem, é legal. Da música clássica, apesar de não ser minha preferência, alguma coisa ou outra sempre me interessou. Agora teclado sempre “estragou” algumas das minhas músicas favoritas. Bem, estragar talvez seja um exagero, mas as versões em que os teclados são substituídos por guitarras marcantes são infinitamente melhores que as originais.

Acho que o maior sacrilégio feito pelos sintetizadores foram o álbum dos Titãs Pós-Cabeça Dinossauro, o “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”. O álbum tem algumas das melhores músicas do grupo como “Comida” e “Diversão” que são muito melhores nas versões ao vivo do que nas originais, já que estas tinham os famigerados sintetizadores em peso.

Felizmente, hoje em dia os sintetizadores já estão superados, pelo menos no Rock. Mas ainda tenho que aturar Banda Calypso, Bonde das Popozudas e Calcinha Preta redescobrindo essa desgraça eletrônica.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

100 Posts, 100 Tempo, 100 Pre Mais do Mesmo

Incrivelmente, sem o Allan para periciar nossos textos sobrou pra mim, Pedro, e pra Minia fazer o texto que comemora o centésimo post desse blog, nesse estilo Fátima e Bonner, mesmo eu sendo totalmente contra a Rede Globo.

E nada mais propício do que começar pelo "fim", o mais recente começo: eu e o Pedro. O Jamil quase bateu o carro quando descobriu.

Pois é, dois meses e pouquinho. Um pouco tempo que remonta uma viagem. A viagem em que descobrimos 5 pessoas que nunca se encaixariam, pelas diferenças, mas que hoje possuem uma amizade muito forte.

E foi nada mais nada menos do que para o outro lado do mundo: JAPÃO! Onde se enrola churrasco no alface, canta karaokê, abre a porta ao contrário, se lê de trás pra frente.

O Jamil se passava por maior de idade, o Allan sabia de tudo, o Dan comia por dois...

Eu era a inocente e você o maior Fanfarrão de todos!

O grupo original pode ter diminuído, mas ficou a amizade. Ficou aquela inexplicável coesão.

E entre sushis e mesas ao léu no Largo, o papo se tornava cada vez mais interessante.

Nessas mesas de Largo consegui discutir filosofia, política, sem ficar cansativo. Quem diria...

Sem perceber, um acrescentando ao outro as mais sutis influências. É, fomos evoluindo.

No final, não era só amizade, era vontade de mudar o país. Taí algo que, também, temos em comum.

Aprendemos a conviver com as nossas diferenças, a gostar dos nossos defeitos, a admirar nossas loucuras.

Debates sobre quase tudo. Desde se vestir de personagem japonês e fazer coreografias a boicotar ou não o ENADE.

Da solução para a aplicabilidade do comunismo à proporção de queijo e presunto em um misto quente...

Havia os mega a favor, os mega contra, mas tudo num debate construtivo, com respeito mútuo.

É como o Allan diz: viva a dialética! Nesses bate-voltas aprendemos muito. Não só sobre política, mas sobre um a tomar as dores dos outros.

Vimos de tudo nessas mesas, o Allan flexibilizando a sua opinião, o Dan levantar o tom na discussão, o Jamil admitindo que gostava de um sambinha...

E em meio a DOUZES e RAAWS, surge o Javã, um menino esquisiiiiito, amigo do Jamil, que tira fotos com uma máquina amadora e faz parecer um fotógrafo... Introspectivo. E ainda quer fazer engenharia da computação no ITA!

A consciência limpa que nós dois temos de que esse grupo pode crescer cada vez mais, Javã fazendo posts magnânimos em 5 linhas... Nós dois, futuros advogados, fazendo uma frase em cinco linhas.

Pontos de vista diferentes que dão a esse blog a riqueza de nossas amizades: uma miscelânea de vozes. "Arabescos horizontais caóticos". A rica dissonância entre os posts sem rima, seguindo um mesmo ritmo.

E o mais importante: a esperança. A esperança de chegar lá na frente e ter peito pra mudar. Coragem, possibilidade e vontade. Quer final mais feliz que esse? 100 posts, uma amizade mais forte do que nunca, além de alguns bons imprevistos ocorridos há dois meses atrás, não é, ma chérie?

É, kare. Um final inesperado com um começo engraçado que tá dando muito certo. Diferentemente do que a gente jamais imaginou. Vai entender...

sábado, 21 de novembro de 2009

"I'm Supertramp, and You're Super Apple!"

"Na Natureza Selvagem" - Sean Penn

Um ideal levado a sério, com conseqüências irreparáveis. Várias amizades e lições aprendidas. Tudo isso ao longo do caminho mais clássico da história moderna: através dos Estados Unidos. "Na Natureza Selvagem" ("Into the Wild", no original) é baseado na vida real de um universitário que, munido de alguns livros (Byron, Thoreau,...) e uma mochila, se forma e decide se exilar, temporariamente, no Alaska, estado mais isolado do país norte-americano (tirando o Hawaii).

Após sua formatura, McCandless foge de casa sem deixar rastros, nem avisar sua irmã e confidente. Ele ia com um carro até parte do caminho, sua única posse, que ele perde. Seu dinheiro (24 mil dólares) ele doa, pegando apenas alguns trocos que, no meio do caminho, ele decide queimar. Pegando carona e andando pelas estradas, McCandless topa com várias personagens que vão de excêntricas à maior das simplicidades. De todas elas, ele tira um aprendizado valioso e memórias para aproveitar enquanto ele passa tempos só numa imensidão gelada.

A história é contada em flashes, intercalando cenas do protagonista vivendo no Alaska e durante sua jornada até lá. Já no destino, ele mostra o quanto fugir da civilização hipócrita e constantemente contraditória que vivemos é gratificante e prazeroso. Porém, durante sua 'fuga', percebemos o quanto nos aproximar dos outros e criar vínculos afetivos reais é, também, gratificante e prazeroso. Só que o protagonista descobre isso tarde demais.

O filme tem um desfecho trágico, porém iluminado e cheio de sentido e convites à reflexão. Vale bastante a pena pelos diálogos nos quais vemos o brilhante idealismo do jovem, do qual, querendo ou não, todos temos um pouco. As paisagens deslumbrantes e a fotografia bem trabalhada em cenários grandiosos formam um par belíssimo com a trilha sonora extremamente adequada, creditada ao vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder. No todo, uma obra para se deliciar e se pensar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Melanina da Discórdia

Hoje, 20 de Novembro, é o Dia da Consciência Negra. Um marco da luta afro-descendente pela igualdade. E é justamente sobre igualdade que eu resolvi falar, aliás, sobre a falta dela, simbolizada pelas cotas raciais. Mas antes que me crucifiquem por eu ser branco e achem que eu, por ser vestibulando, olho só pro meu umbigo, quero deixar claro que eu sou totalmente a favor das cotas, mas das sociais.

Cotas não são e nunca serão a solução pros nossos problemas educacionais. Elas são somente um “tampão” pra conter o vazamento. Agora, que elas são úteis pra diminuir as discrepâncias, isso elas são. Cotas possibilitam um aluno dedicado de baixa renda chegar ao ensino superior e ter uma carreira digna. É desonesto comparar a minha preparação com a de um rapaz com o mesmo QI que o meu, mas que sempre estudou em colégios estaduais.

Entendo que o índio e o negro foram explorados de todas as maneiras possíveis e que o preconceito e sua suposta inferioridade estão praticamente inseridos na cultura popular, mas ainda não concordo com as cotas raciais. Separar alguém pela etnia é admitir a diferença. “Cor de pele” não é mensurável, por dentro nada diferencia um negro de um caucasiano, afinal somos todos iguais, lembram? Sem contar que conheço diversas pessoas que vão tentar entrar em cursos superiores concorridíssimos por cotas raciais sendo que sempre estudaram em colégio particular, sempre tiveram acesso à cultura e têm todas as condições de passar por esforço próprio.

Aceitar essa “esmola” governamental é ir contra os ideais de igualdade pelos quais Zumbi, Martin Luther King e Malcolm X sempre brigaram - com razão, diga-se de passagem. Para resolver o preconceito, precisamos mudar a cabeça das pessoas e não a constituição.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Habilidades que nem Sonhávamos em Ter

Sonhar é dar uma espiadinha
No futuro que gostaríamos de construtir
É experimentar a realidade vizinha,
Saborear o surreal de uma forma sólida

Rio do riso do rio que me retribui
Sento na escada doce e melancólica
Que ascende ao terraço dos jardins suspensos
Cheiro a tênue linha entre o medo e a vida
O medo mais sonho do que meu próprio sonho
A vida mais real que a própria certeza de nada ser verdadeiro

A essa hora, a rima já se dissolveu
A água ja se incendiou, o fogo se derreteu
E o relógio ali tocou, uma réstia de luz apareceu
Os minutos se estenderam e a resposta feneceu
Gostaria de ter controle sobre essa aptidão
Dormir com uma pergunta, mas acordar com um bordão.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

“Gigante Pela Própria Natureza”

Se o tamanho do Brasil é o que nos propicia ter vastos campos para a plantação de produtos para exportação, enormes reservas subaquáticas de petróleo, gigantescos lençóis freáticos e a diversidade única da Amazônia e do Pantanal, ele também é um dos maiores causadores da nossa desigualdade.

Explico. Uma coisa, por exemplo, é você fazer uma revolução no sistema educacional de um país como a Alemanha ou como a Coreia do Sul, equivalentes aos estados do Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina, outra bem diferente é fazer a mesma reviravolta no 5º maior país em extensão e população do mundo. O Brasil, em extensão só fica atrás do Canadá, da China, dos EUA e da Rússia.

Porém, esses países têm, cada um, peculiaridades históricas que propiciaram esse avanço e que os diferenciam de nós. Os EUA e a Rússia – que era a maior república da URSS – avançaram no pós-guerra devido à vitória sobre o Eixo, o que acabou desembocando na Guerra Fria, quando ambas desenvolveram-se tecnologicamente. O Canadá é irmão siamês dos “states” e, portanto recebe os reflexos dos avanços americanos, isso sem contar a baixa população por metro quadrado. A China é um regime comunista e eu gosto de dizer que “na China o povo é obrigado a ganhar dinheiro” o que, unido à ausência de Direitos Trabalhistas, fez com que ela alcançasse esse crescimento astronômico anual. Mas é bom lembrar que a China só funciona na porrada, na repressão. Se não fosse esse governo ditatorial ela não teria esse mesmo crescimento. Entre economia e liberdade, ainda fico com a segunda opção.

O tamanho do Brasil é também um empecilho no transporte, afinal os investimentos nesse setor devem ser muito maiores do que o de qualquer país da União Europeia. Energia então é um caos, é só olhar pra semana passada e ver o que a falta de energia pode fazer com o país. O problema é que nem a maior hidrelétrica do planeta consegue suprir a nossa demanda energética. Têm ainda os programas de assistência social que não conseguem suprir a demanda, o sistema de saúde ineficiente pelo números de necessitados e a confusão burocrática que tem se tornado “tipicamente brasileira”.

Mas ainda é possível reverter esse quadro. Como disse no primeiro parágrafo, essa vastidão tem nos trazido boas notícias, agora só basta investirmos na educação – que no futuro vai gerar tecnologia, a única coisa que nos separa dos “países de 1º mundo” – e desistirmos dessa ideia besta de que em 4 anos se pode revolucionar todo o sistema. O Brasil não necessita de medidas desesperadas, precisa de medidas a longo prazo. Só basta os eleitores perceberem isso.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Revolução Imposta

Muitos de vocês não devem ter visto, até porque eram poucos os cinemas que estavam exibindo o filme, mas quem viu "Che 2" sabe do drama que o comando revolucionário sofreu com a falta de apoio. Mesmo vivendo na miséria e sofrendo horrores, sem infra-estrutura física nem cultural, sem assistência médica nem voz alguma, a população da Bolívia resistia a revolução proposta pelos guerrilheiros.Claro, Ernesto Guevara sob a perspectiva de Steven Spilperg, nada mais paradoxal. Mas por incrível que pareça, a mensagem foi passada de maneira clara e sem rancores nacionalistas: não existe revolução sem educação, sem consciência, e principalmente, sem VONTADE.

O elemento volitivo se torna fundamental em um momento de ruptura com o passado. Sem ele, como poderia ser instituída uma nova ordem sem que o povo, e consequentemente o poder soberano dele emanado, validasse a mudança? Não seria algo autocrático e contraditório querer instituir um governo contra a vontade soberana do povo? As forças reais precisam validar o poder e suas leis, caso contrário, a carta magna só será um simples papel. Como já dizia Érico Veríssimo em "Olhai os Lírios do Campo": os lírios não crescem forçosamente, por leis, decretos. É necessário que a população queira crescer, tenha a vontade de mudar. O povo tem o direito de se auto determinar, não precisando se submeter àquilo que ele não consinta.

Trazendo toda essa teoria para o concreto, lembro-me de um artigo que li no início do ano sobre educação, intitulado "Precisamos de uma crise". Nele havia uma explícita crítica a falta de interesse por parte da população como um todo em melhorias no sistema educacional. Em um determinado exame, o Brasil foi o último colocado entre os 40 países avalidos no tocante a qualidade de ensino, e os pais ainda declaram-se satisfeitos com a educação ofertada aos seus filhos! Já na Alemanha, o resultado de 25º lugar gerou uma verdadeira crise interna. O ensino, assim como todos os outros setores do país, só mudará para a melhor, quanto a população parar de dar uma de surda, cega e muda, e agir com sapiência: aceitar os problemas, e ter vontade de melhorar. Fácil é reclamar, mesmo já sendo um passo dado. No entanto, outro muito mais largo seria tomar as rédias do movimento, estender as bandeiras da revolução e fazer algo para que a realidade mude.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Do Agogô ao Caxixi, Do Xequerê à Zabumba

O batuque, em todas as suas possíveis variações é, com toda a certeza, uma das coisas que mais move o ser humano. Pelo menos para mim, isso é uma verdade. Seja ele de um surdo de uma escola de samba, de um taiko, de uma zabumba, de uma bateria, de uma panela ou de uma batida à mesa, não interessa. A vibração da pele animal que fica esticada no tambor entra em concordância com as batidas do coração, quando bem executada, seja num conjunto só de percussão, seja num grupo musical misto. Arrepios surgem nos pêlos, tremores se espalham pelas veias, emoção é extravasada por todos os poros de quem acompanha um grupo de maracatu, uma bateria de escola de samba ou escuta uma apresentação folclórica japonesa de taiko. Usada em guerras antigamente como maneira de afugentar o inimigo e aumentar a aparência de poder nos exércitos pelo mundo inteiro, a percussão se mostra, até hoje, como uma das maneiras mais puras e belas de expressão musical.

Minha simples homenagem àlguns dos ritmos que mais me cativam e emocionam: taiko, maracatu e samba, entre vários outros.

domingo, 15 de novembro de 2009

Espada, Café, Leite, Chumbo e Democracia

Hoje é 15 de Novembro. Só fui me dar conta disso no meio do dia e creio que vocês também não acordaram com bandeirinhas na janela. Como vocês sabem, hoje se comemora a Proclamação da República, mas esse ano temos algo mais, comemoramos seus 120 anos. Desde o Marechal Deodoro até o Lula foram 2 capitais federais, 4 moedas, 2 ditaduras e 33 presidentes. Evoluímos em alguns pontos, saímos do coronelismo para uma das mais seguras votações do mundo, por exemplo. Agora só falta ter os melhores políticos do mundo, coisa que o Brasil nunca foi medalha de ouro.

A única coisa que me entristece é a nenhuma divulgação dessa data tão valorosa. Nenhum comentariozinho sequer no Fantástico, por exemplo. Nenhuma propaganda do governo, nenhuma bandeira hasteada em um prédio, nenhuma versão do hino nacional. Uma coisa é se orgulhar de uma história que não tivemos, como fizeram os Românticos, outra bem diferente é comemorar um acontecimento histórico.

Talvez seja essa falta de patriotismo – porque pra maioria da população, patriotismo é vestir a camisa da seleção em época de Copa do Mundo – que nos afasta dos “países de 1º mundo” como EUA e França que nos dias 4 e 14 de Julho, respectivamente, param seus países com um coro uníssono de exaltação à bandeira. Não gosto de militarismo, mas um patriotismozinho de vez em quando não faz mal a ninguém.

Belas Divagações

"A Metafísica do Belo" - Arthur Schopenhauer

Ultimamente, tenho adquirido o hábito de exaltar um livro antes de chegar ao seu fim. Foi assim com Ulysses, do James Joyce (que, mesmo com um descomunal esforço, não aguentei chegar ao fim até hoje) e com Musashi, de Eiji Yoshikawa (que já havia lido antes, mas não me segurei e postei sobre ele enquanto estava no meio do volume 2 de 3), entre outros. Mas, desta vez, vou me perdoar e postar aqui sobre uma obra de um obscuro autor, apesar de extremamente influente sobre vários gênios, por exemplo Nietzche, Freud, Beckett e Machado: Arthur Schopenhauer.

Aqui, falo sobre o livro "A Metafísica do Belo", que na verdade é o conjunto de aulas ministradas sobre esse tema por ele para pouquíssimos ouvintes, já que naquele tempo ele não era nem um pouco bem visto pelos alemães por suas críticas veementes a autores conterrâneos influentes da época, como, por exemplo Fichte e Hegel (esse último foi colega professor de Schopenhauer na mesma universidade). Essas aulas faziam parte de sua obra maior, "O Mundo como Vontade e como Representação" (livro que também encostei enquanto estava no meio, por sua densidade), como um de seus capítulos.

Nessas preleções, Schopenhauer, notadamente conhecido como pessimista ("viver é sofrer"), aborda o tema da beleza, sendo esta advinda das artes e da contemplação desinteressada. Definindo o "belo" e o "sublime", o filósofo mostra seu lado esperançoso, democratizando a beleza e a qualidade de "gênio", também explicada por ele nessa obra. Não vou me deter em explicar suas definições detalhadamente, mas acho válido dizer que, conhecendo um pouco de suas convicções e explicações, nos surpreendemos com o otimismo prático que surge de seus escritos.

Recomendo esse livro, não muito fácil nem leve, por suas explanações interessantes sobre os diversos tipos de arte e beleza. Confesso que há partes em que não concordo com o autor, mas sou inclinado a aceitar muitas de suas afirmações, baseadas, na sua maioria, em críticas a Platão e Kant.

Última observação: a introdução na versão da editora Unesp possui uma introdução ótima, na qual o tradutor explica sucinta e claramente os conceitos e as bases mais importantes da obra schopenhauriana.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Era do "Topo do Muro"

Muito se falou e teorizou sobre o século XX. Uma das mais famosas e prestigiadas figuras a ensaiar sobre o assunto foi Eric Hobsbawm, historiador marxista egípcio-britânico. Concordo com ele quando diz que a “Era dos extremos” acabou em 89, com a queda do muro de Berlim. Realmente, se podemos resumir toda a ideologia presente desde então até o momento essa palavra seria “relatividade”.

Einstein, célebre físico alemão, relativizou a física, hoje consideramos o espaço e o tempo – antes tidos como absolutos – deformáveis, este pode ser dilatado e aquele pode ser comprimido. Sartre, Camus, Merleau-Ponty, brilhantes filósofos franceses - mesmo sem terem sido os “inventores do existencialismo” -, relativizaram a filosofia, hoje não há mais verdade, mas sim perspectivas, pontos de vista. Lévi-Strauss, aclamado antropólogo francês, relativizou a antropologia, não existe mais “hierarquização de cultura”, eugenia, conceitos de raça, existe é diversidade. Anthony Giddens, grande sociólogo britânico, relativizou a política, não é mais plausível alguém defender a “ditadura do proletariado” bem como ser partidário do neoliberalismo chega a ser desmoralizante, o caminho agora é a Terceira Via. Enfim, hoje não se vê mais certezas, se vê possibilidades.

Foi-se o tempo do certo e errado, bem e mal, fim e começo. A relatividade é a única certeza que temos. E justamente essa ideologia de concessões que me faz perguntar: e essa visão não é somente UM ponto de vista? Se não existe mais verdade, quem disse que essa ideologia é A verdade? Talvez toda essa tolerância esteja alienando as pessoas cada vez mais. É impossível acontecer um novo “Maio de 68”, “Movimento Hippie”, “Primavera de Praga”, "Revolução dos Cravos" ou até mesmo um “Diretas Já”. Com a relatividade veio a morte do romantismo. Se isso é bom ou ruim, só o tempo irá nos dizer. Aliás, quer algo mais relativo do que um final de texto como esse?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Medievo Estudantil

Há duas semanas um caso dividiu as opiniões do país. Geyse Arruda, 20 anos, estudante de turismo noturno da UNIBAN, Universidade Bandeirantes, foi execrada por mais de 700 estudantes por estar vestindo uma minissaia rosa-choque, salto alto e maquiagem. Uma atitude que se assemelha a um “revival” dos tempos de inquisição, uma verdadeira “caça às bruxas” em época de Halloween.

Já vi gente de ambos os lados. Uns que defendem a atitude grotesca dos “moralistas” universitários - os mesmos que queimam mendigos, batem em prostitutas e arranjam confusões nas baladas -, outros que defendem a estudante - que a meu ver não passa de uma imbecil, tão dispensável para a sociedade quanto os que a agrediram, pois aposto que se fosse outra pessoa, ela estaria dentro da manifestação. Pra mim, não existem santos nessa história.

Preconceito da minha parte? Não, chamo isso de experiência. Para provar minha posição sobre a índole da moça, hoje li na Ilustrada on-line que ela está aproveitando os 15 minutos de fama como pode, mudando de visual e até pensando em estrelar uma Playboy. Nada mais justo mostrar o corpo para a Playboy já que não quis mostrá-lo para os “playboys universitários” que urravam ameaças de estupro. Cá entre nós, não se pode esperar muito de uma estudante que é aprovada no curso de turismo, noturno, de uma das piores universidades do país – a UNIBAN é a 159ª colocada entre 175 universidades avaliadas no país.

Mas quero deixar claro que se tiver que escolher entre o sujo e o mal-lavado, ainda fico com ela. Por mais besta que ela seja, um retrocesso social como esse não pode ficar impune. Ela tem o direito de se vestir como bem entender e se ela resolver praticar “a profissão mais antiga do mundo”, quem somos nós para julgá-la? É absurdo, em pleno século XXI, o chamado “futuro da nação” agir dessa maneira puritana na sagrada “casa do conhecimento”.

Enfim, pelo visto, nós definitivamente ainda não saímos da “Idade das Trevas”. Um fato como esse só comprova a minha teoria.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Voz num Bandeón

Depois do post do Hector Lavoe e do debate sobre a cultura do sul com nosso patrão Allan, resolvi continuar nessa linha antes de voltar para a velha cornetagem sobre a política nacional, nada melhor que despedir-me com chave de ouro. De Astor Piazzola, grande nome do Tango (não adiantaria eu colocar Carlos Gardel ou Gothan Project, pois acredito que vocês conhecem muito mais que eu), a canção "Adiós Nonino" (a mais famosa junto com "Libertango") é a que recomendo a vocês.

É nesse momento que tento deixar minha barba crescer e encarno o grande Jamil: O bandeón inicia a música com uma violência inexplicável, no contratempo com notas secas do violino. A razão é a tentativa de mostrar o momento de despedida de, penso eu, mãe e filho. O desespero da mãe, representado pelo início da música, quebra totalmente com um suspiro de saudade e de tentar colocar, naquele momento de despedida, tudo aquilo que foi vivido, tudo aquilo que só uma pessoa tão querida faz lembrar. A música, pelas notas, traduz uma mensagem que só pode ser associada ao carinho, ao amor. Intensifica-se a melodia, vêm as lágrimas, vem o desespero, o medo de perder um ao outro. Aproxima-se o momento da despedida, volta o desespero, a mistura de sentimentos, de saudade, de inconformação. Porém, para que se inconformar se já está na hora? Tivera eu vivido diferente, aproveitado mais, é tarde para lamentar-se. Fica a melodia alegre para o final, que é a verdadeira mensagem da mãe para o filho: onde quer que esteja, seja o tempo que for, sempre estarei contigo, te amando.

"Nonino"(avô em italiano) era como Piazzola chamava seu pai, a música é uma homenagem a ele, que tinha morrido recentemente. Astor considerava esse tango como o maior de todos. Essa música, não me faz lembrar de outra coisa se não da minha mãe. Ela, D. Sonia, que escuta "Adiós Nonino" sempre que está passando por algum momento difícil. É por me fazer tão bem escutando essa música que escrevo esse post. Para, quem sabe, vocês atribuírem a alguma pessoa querida, ou simplesmente relaxar.

Raiando sem Sol

Aqui fica

A minha indignação,

Maldito seja

O horário de verão!

Black or White

É, pessoas, somos realmente afetados pela lógica moderna. Estamos sempre naquele maniqueísmo contínuo, pensando e classificando as coisas, acreditando piamente no dualismo do mundo. Por que cargas d'água não pode existir um terceiro caminho? Quem não é bom, é mau; é doce ou salgado; em cima ou em baixo. Por que não podemos pairar em um meio termo? Sempre precisamos ter opinião sobre tudo? Confesso que sei amar os dois lados da moeda, de maneira igual. Queria flutuar entre as opções, marcar um "A,5" no gabarito. O que o ensino não só brasileiro, mas o ensino moderno, a educação pós-Revolução Francesa faz é nos ensinar a pensar que tudo é científico, mensurável, conhecível e sólido, que existem poucas opções. No meio acadêmico nos cobram a terceira via, como se fala na nova sociologia, um "caminho nunca antes explorado" , parafraseando meu pai. NÃO EXISTEM ESTEREÓTIPOS, classes, modelos prontos e prévios. Fazemos uso deles de maneira abstrata, mas eles não existem na realidade, são somente criações práticas de um ser humano falho e simplista.

Cada um adiciona a um enunciado que ouve, por exemplo, suas próprias percepções. Pensar que um grupo de pessoas possa ter sido submetido às mesmíssimas influências durante a vida, de modo a perceber aquilo que ouviram de maneira igual e semelhante ao o que o orador quis passar é extremamente pretensioso. Não ouso afirmar, pois até mesmo a verdade é relativa. Se todos não fossem conformados com esse maniqueísmo eterno, não teríamos tantos conflitos armados, tantas chantagens políticas, discussões desnecessárias, inflexionismo de opinião. Talvez seja disso que o mundo precisa mais : uma pitada de incerteza, meio termo. Menos orgulho e preensão, mais humildade e maiêutica.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Cabra da Peste

Ao ouvir de um colega meu da faculdade que eu "queria ser nordestino", tive a oportunidade de refletir sobre essa minha atração aparente pelo povo da região pioneira da colonização de nosso país. Acabei por concluir que deveríamos valorizar e entender mais ainda daquela área. Por partes.

Meu amigo fez essa ressalva ao me ouvir cantando Chico Science e a Nação Zumbi com o sotaque próprio deles, o recifense. Por ser atraído pelas artes cênicas (porém, sem muito talento, confesso), tento sempre ser fiel ao original e imitar de maneira sempre coerente. Daí a minha "vontade de ser nordestino", segundo João, meu colega. Acontece que fui atraído pela música da banda, principalmente, pela mistura entre a percussão marcante do Maracatu (tenho enorme afinidade por percussão, em geral, mas falo sobre isso outra hora) e o som de guitarras ora distorcidas ora carregadas de peso. Também grandes expositores de uma parte intrigante do nordeste eram os Raimundos em início de carreira. Músicas, às vezes besteirentas, outras vezes exageradas, conseguiam explicitar situações tipicamente nordestinas (também com sotaques).

Outro aspecto meu que me fez atraído pela região nordeste brasileira foi o meu contato extremamente impactante com a obra de João Guimarães Rosa "Grande Sertão: Veredas". Confesso que não tenho a envergadura moral necessária para absorver satisfatoriamente o romance (detalhe: ninguém tem), porém, tenho a convicção, adquirida empiricamente, de que esse livro é, e, com certeza, será por muito tempo o mais grandioso romance de nossa literatura tupiniquim. Ao o ler, fui transportado para o universo sertanejo do norte de Minas (ah, não é no nordeste, mas é um expoente, também, do interior do nordeste) e me senti parte das andanças de jagunços e capatazes pelos matos e semi-desertos de nosso país. Daí vem muito de meu conhecimento sobre o sertão e a personalidade do sertanejo, simples, mas, indiscutivelmente, universal e o mais humano possível.

Era de se esperar que eu demonstrasse, nem que seja um pouco, de afeição pela região nordestina e pelo povo de lá proveniente, seja ele um músico e compositor genial (que visava se organizar para desorganizar) ou um autor de incomparável talento narrativo (que, como pouquíssimos, conseguiu expor a natureza humana e seus sentimentos mais primordiais). Só me falta correr atrás de mais exemplos da magnífica cultura nacional que germina duma das áreas mais brasileiras e não-globalizadas (no sentido de ter uma identidade ainda bem preservada e intocada) de nosso Brasil velho de guerra. Realmente, o nordeste É o Brasil.

Less a "Brick in the Wall"

Ontem, dia 9 de Novembro de 2009, comemorou-se os 20 anos da queda de um marco, de um dos maiores símbolos da “Era dos Extremos”: o Muro de Berlim.

Pra quem não se lembra da História, ao terminar a II Guerra Mundial, a Alemanha nazista, derrotada, foi dividida como uma pizza entre as nações Aliadas. A capital Berlim também foi dividida, apesar de se encontrar inteiramente em território soviético. Após algum tempo iniciou-se a bipolarização EUA-URSS que marcou a Guerra Fria e a França e a Inglaterra cederam suas partes ao aliado capitalista dividindo a Alemanha em duas: a Ocidental (República Federal da Alemanha) e a Oriental (República Democrática Alemã). O mesmo ocorreu com Berlim, que também ficou divida em Oriental e Ocidental. Devido à “tentação do capitalismo” o fluxo de pessoas saindo de Berlim Oriental e indo para a Ocidental era muito grande, o que levou o governo Soviético a erguer na madrugada do dia 13 de Agosto de 61 o muro de Berlim dividindo famílias e amigos por quase 40 anos. É sempre bom lembrar que era impossível a passagem da RDA para a RFA pela fronteira comum graças à “Cortina de Ferro” assegurada pelo “Pacto de Varsóvia”, portanto Berlim Ocidental era o cano de escape do Leste Europeu para o mundo ocidental.

Mas uma coisa que me entristece é chegar em casa e me deparar com uma Veja que traz como nota de rodapé: “a derrocada do comunismo abriu caminho para a maior expansão do progresso social e material da história”. É muito triste alguém ainda ver isso como algo bom. O que me alegra a ponto de comemorar essa efeméride é a vitória da liberdade de expressão, da Democracia, da união de um povo segregado por caprichos políticos e não a vitória de um sistema que se baseia na existência da pobreza para se sustentar nem na derrocada de outro sistema que impede a expressão do ser e ainda por cima se afirma revolucionário. Isso é o sujo falando do mal-lavado.

Bem, para relembrar e comemorar esse fato histórico deixo aqui duas músicas que simbolizaram essa união: “Another Brick in the Wall” do Pink Floyd sendo interpretada pelo Roger Waters em carreria solo com participação especial de Cyndi Lauper, show comemorativo da queda do muro – o show inteiro é muito legal, eles constroem um muro no palco e no fim o destroem - e “Wind of Change” do Scorpions, a mais famosa banda Alemã de todos os tempos cantando um de seus grandes sucessos que foi feito em homenagem à essa reunião do povo alemão. Divirtam-se!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Hoy te Dedico, Mis Mejores Pregones

Cá estou eu escrevendo sobre um estilo de música totalmente diferente do costume brasileiro. Numa noite em Nova York, decidiu-se misturar Mambo, Rumba, Jazz, Merengue. Era a Salsa sendo apresentada pela voz de Hector Lavoe, o maior nome desse estilo musical. Com a combinação dos estridentes do trompete, do sax e da percussão que impede você de ficar parado, a Salsa juntava a irreverência latina com um som de batida única. Vou tentar utilizar o maravilhoso estilo de escrever do Jamil, pois realmente acho improvável que ele escreva sobre uma salsa.
Em “Hoy te dedico, mis mejores pregones”, por exemplo, ele utiliza instrumentos de sopro que misturam-se com a harmonia de violinos, tocando o puro da salsa. Assim entra a voz única de Lavoe, conseguindo atear mais a sensação de uma boa música. Os pianos juntam-se à percussão e levam tanto mente e corpo para uma dança, uma viagem, os vocais de fundo dizem a essência dessa canção. A alma do cantor na música.
Afinal, o que é o cantor senão o porta voz do turbilhão da mente, do coração, da raiva. A voz, um dom, uma marca registrada? Pena que, como muitos dos grandes cantores, Hector Lavoe caiu nas drogas e morreu de AIDS. Porém, deixou bem imortalizado um ritmo que representa o Latino-Americano, ninguém fica parado.
Para quem quiser saber a história de Hector, assista ao filme “El Cantante” disponível no link em inglês e com legenda em espanhol.

Eu, Robô

Não, essa não vai ser uma resenha cinematográfica - apesar de eu gostar bastante desse filme - como a do meu último texto. É sobre mim - bem como sobre toda a humanidade. Sim, não sou nenhum pouquinho pretensioso sequer.

Eu, você, nós. Nada mais que ciborgues com músculos no lugar de engrenagens, neurônios no lugar de nanochips e um super HD chamado cérebro. Não sou psicólogo nem médico - no máximo um aspirante a filósofo -, mas isso já basta pra eu admirar a grandeza desse último. O que somos, o que pensamos, o que dizemos. Tudo não passa de um conjunto de reações químico-biológicas. Raiva, amor, tristeza, felicidade não passam de uma combinação entre hormônios e impulsos elétricos. Pessoas inteligentes, burras, boas, más, incríveis e monótonas são todas anatomicamente iguais. Isso me leva a uma conclusão: as ciências humanas não existem. Longe de mim repudiar as humanidades, afinal, é por esse caminho que vou seguir na minha vida acadêmica, mas que elas são superficiais e frágeis, isso são. O que é o pensamento? A índole? A consciência? O ego? Ninguém sabe ao certo. E não é justamente isso o que estuda a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia? Então...

O que me levou a todas essas conjecturas? Ontem comprei a Superinteressante desse mês. A capa expunha comprimidos recheados de cérebros em cima da chamada: "A pílula da inteligência". Pronto, estava feito o estrago. Milhares de conexões e estímulos passaram pela minha massa cinzenta e o resultado vocês estão lendo agora. Esse mote se associou a uma aula de filosofia pras discursivas da federal que tive semana passada em que ouvi que Descartes considerava o corpo uma máquina. Taquei tudo nesse liquidifador encefálico que carrego sobre o pescoço e voilà, um texto denso e relativamente enorme pros meus padrões.

Enfim, a percepção desse fato - do que não passamos de um amontoado de células e afins - me leva a duas conclusões: uma é de que as "drogas da felicidade" presentes no filme do Spielberg, "Minority Report", e na obra-prima de Aldous Huxley - que ainda pretendo ler na íntegra, com tempo e atenção - "Admirável Mundo Novo", são possíveis e não passam de uma questão de tempo; a outra é de que se por dentro somos todos iguais, provavelmente haja algo maior por trás dessas nossas carcaças. Alma consciência, espírito, saber, vida. Chame como quiser. Só espero viver até descobrirem o que é realmente. Espero viver, se é que ao beirar meus 100 anos a morte já não seja algo opcional, porque do jeito que estamos indo, não duvido mais que a imortalidade seja algo alcançável.

domingo, 8 de novembro de 2009

"Nada se Cria, Tudo se Copia"

Copyright

Copycat

Copy right!

Copy that!

sábado, 7 de novembro de 2009

De Pop e Rock, Toda Música Tem um Toque

Gabba gabba hey
Hey mamma, said the way you move, gonna make you
Are my sunshine, my only
Yooou can make all this world seems right
About now, the funk soul
Man, I'm a soul man,
I'm feeling like a woman
No cry, nooo, woman no cry
Me a river, cry me a river
Rolling, rolling, rolling down the
Watchtower, princes kept the view, while all
My loving, I will send to you
Shook me all night long
Way to the top, if you wanna
Rock! I Wanna Rock
You like a hurricane, here I
Like it, Ahan ahan, that's the way
Talk this way, walk this
Love? That I'm feeling? Is this the love
Only love, can bring back your love someday
We'll know if love can move a mountain, someday we'll know
It's only Rock'n'Roll, but I like it. ;D

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Serenata

Te trago essa rosa

Em verso e trova,

Em verso e prosa.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"Quem Vigia os Vigilantes?"

“Watchmen” – Zack Snyder (graphic novel original de Alan Moore)

Pra mim, existem dois tipos de filme: os “blockbusters” - aqueles filmes que custam milhões e rendem bilhões já no primeiro dia de bilheteria, que tem finais felizes e previsíveis com um desenvolvimento regado a muita morte, sangue, briga e romance – e os “cult” – aqueles que não tem começo nem fim, filmes de alta densidade filosófica, tipicamente europeus, que ninguém assiste e quem assiste não gosta, só aqueles pseudointelecutais que andam de boina e gola olímpica em pleno verão. Ambas essas vertentes têm suas obras primas, porém são poucos os filmes que conseguem unir os dois com maestria. Watchmen, definitivamente é um deles.

O filme é uma adaptação dos Quadrinhos homônimos da DC Comics, porém de acordo com os fãs da série é extremamente fiel ao original, apesar de algumas mudanças no enredo. A história se passa num mundo onde super-herois existem e são algo trivial. O fato de eles exisitrem – e serem em sua quase totalidade estadunidenses – causam um desequilíbrio geopolítico no mundo. Os aliados vencem a 2ª Guerra Mundial com folga, graças aos “Minutemen”, uma espécie de Liga da Justiça dos anos 40. Esse fato se torna relevante nos anos 60 quando, com a ajuda do Dr. Manhattan – um físico nuclear que sofreu um acidente em laboratório que o tornou um espécie de semideus, tendo poder absoluto sobre a matéria e compreensão total do tempo que o cerca –, os EUA saem vitoriosos do Vietnã. Isso faz com que o caso Watergate nunca seja descoberto, a popularidade de Nixon vá às alturas sendo reeleito diversas vezes e, portanto o movimento hippie perca considerável força. É nesse ambiente de “desequilíbrio de forças” que é criado o grupo “Vigilantes”, contando com o ex-minuteman, o Comedian – um sádico, irônico e sarcástico anti-heroi que representa de maneira parodiada a sociedade que o cerca –, Silk Spectre II – filha da 1ª Silk Spectre, participante dos Minutemen -, o Nite Owl II – uma espécie de Batman mais fraco e mais Nerd que deu continuidade ao trabalho do Nite Owl original, um ex-policial que participou do gurpo de 1940 –, Dr. Manhattan, Ozzymandias – tido como o homem mais inteligente do mundo, sua mente é brilhante ao ponto de calcular a trajetória e tempo de uma bala atirada contra ele e conseguir segurá-la com as mãos – e por fim Rorschach – o mais intrigante personagem da série, com um nome em homenagem ao teste de Rorschach, um filho de prostituta, conturbado e extremamente moralista, um psicopata às avessas que procura sempre a justiça mesmo que isso implique em mortes e roubos.

Em 1977, é sancionada a lei Keene, implantada em resposta à greve da polícia e à revolta da população contra os vigilantes, que agiam acima da lei. Com isso, ou os Vigilantes se registravam no governo – como fez o Comediante e o Dr. Manhattan -, ou se aposentavam – como fez a Silk Spectre e o Nite Owl, que se mantiveram na surdina, e o Ozzymandias, que revelou sua identidade e se tornou o megamilhonáro Adrian Veidt. Em 1985, data em que se passa o filme, o Comedian é assassinado e então começa a trama.

O filme é genial por diversos aspectos. Ele principalmente cria um conflito mental sobre o que é o certo e errado. Apresenta sacrifícios em prol de algo maior, mostra atitudes imorais pela justiça, mostra a sociedade como ela é. Torna o bem, o mal, o certo e o errado relativos. Além disso, parodia os HQs clássicos como quando o vilão – que eu não vou revelar quem é, se é que podemos chamá-lo desse jeito - diz “Vocês acham que eu sou um desses vilões de história em quadrinho? Já ativei meu plano há 35 minutos” e parodia também a sociedade americana como no diálogo entre um jornalista e seu chefe “-Parece que o Reagan vai se candidatar à presidência . – Eu quero notícias plausíveis, você acha mesmo que elegeríamos um cowboy pra presidente?”. A trilha sonora é ótima, tendo várias músicas de época incluindo "Hallelujah" de Jeff Beckley e "All Along the Watchtower" na versão do Hendrix. O filme também mostra um outro lado da convivência com super-herois. Os protestos das pessoas comuns contra a sua onipotência, as greves das forças policiais que se sentiam inutilizadas graças ao trabalho deles, etc. O post já está longo e se eu fosse descrever tudo do filme com minnúscia precisaria de um outro livro.

Enfim, é uma obra-prima dentre tantos HQs que se tornaram filmes. O diretor Zack Snyder foi o mesmo que trouxe às telonas “300”, e manteve até mesmo alguns quadrinhos como storyboard da produção. Para um fã de distopias, ficção científica e quadrinhos com conteúdo, como eu, esse filme é um prato cheio. Cheio de humor, ironia, sexo, sangue, violência e conjecturas filosóficas. Extremamente recomendado.

domingo, 1 de novembro de 2009

"Open the Door, HAL"

"2001: A Space Odyssey" - Stanley Kubrick

Nunca é demais viajarmos sobre como será o futuro e, com isso, divagarmos sobre nossa situação atual e os antigos acontecimentos e, depois de tudo, tentar fazer ligações entre o agora, o ontem e o amanhã. Um filme vem à mente quase que como uma unanimidade quando pensamos em futuro: "2001: Uma Odisséia no Espaço". Talvez atrás apenas da dupla trilogia do Star Wars em popularidade no gênero ficção científica, essa, como diz o nome, odisséia é uma incrível e ao mesmo tempo absurda viagem ao futuro e ao espaço, vista pelos olhos de Stanley Kubrick e do autor de romances Arthur C. Clarke.

No início, talvez o mais primitivo de todos os filmes do gênero, vemos a chamada "dawn of mankind", ou aurora, amanhecer da humanidade. Grupos de hominídeos brigam por território e, depois de perder seu espaço, um dos primatas do grupo oprimido descobre o osso como arma. Aqui entra em cena a música mais clássica e lugar-comum da história, "Thus Spoke Zarathustra", ou "Assim Falou Zaratustra" (sim, homônima ao livro de Nietzche). Sendo tocada também nos créditos iniciais do filme e no fim, obviamente, essa música ficou no imaginário de todos como trilha sonora de conquistas e superações. Depois de um corte de milhões de anos, nos encontramos a caminho duma estação espacial. E por aí vai a história de bem mais que duas horas de filme que não vou contar.

Comento agora sobre as incríveis qualidades desse filme. Primeiro, fica aqui minha admiração pela criatividade e visão dos autores, por colocarem em cena maquinários extremamente detalhados nas naves e estações e por anteciparem muitas criações tecnológicas que surgiram com o tempo. Vale lembrar que o filme é de 1968 e que muitos dos efeitos que vemos nas partes mais psicodélicas da história são feitas com materiais caseiros em conjunto com duas mentes viajadas. Outra coisa que vem ao caso mencionar é a linda trilha sonora que habita grande parte da narrativa, que, por sinal, é extremamente muda. Não que não haja ação, mas a que há, é curta. Ainda sobre as músicas, legal como a maior parte do filme é feita em silêncio. Mas não é aquele silêncio agonizante, é o silêncio programado, para pensarmos, para refletirmos na gigantesca odisséia a qual somos convidados a participar.

Apesar de ser um filme de ficção, "2001..." levanta inúmeras questões relevantes e atemporais que são extremamente delicadas e, ao mesmo tempo, intrigantes. Exemplos de discussões possíveis: sobre civilizações extraterrestres; sobre a relação entre homem e máquina; sobre Deus; e por aí vamos. Na versão em Blu-Ray do filme, que aluguei não muito tempo atrás, os extras são recheados de documentários (se não me engano, sete deles), sendo um deles sobre as questões filosóficas acerca da obra. Não vou entrar no assunto, mas, quem quiser, depois de assistido o filme, prefiro discutir pessoalmente.

Fica aqui a dica de um filme que, apesar de cansativo, tanto física quanto mentalmente, nos alimenta e nos move em direções nunca antes pensadas.

Nós, a Sós

E com os teus braços
Eu faço laços,
E em meio a abraços
E amassos,
Me apoio em teu regaço
E embaço
Os teus traços.
E te traço,
Te ameaço
E te caço.
No chão e no terraço.
E invado teu espaço,
Teu ventre de aço
E me faço
De palhaço,
E muito bem passo,
E te faço
De meu maço.
Te trago, e o cansaço
Faz de mim de volta um bagaço
Estirado em teus braços.

sábado, 31 de outubro de 2009

Liberdade, Igualdade, Fraternidade

É tudo o que queriam os Iluministas, os revolucionários da "bastilha", os "povos da primavera", os estudantes do "ano que não acabou" e todas as pessoas que tem bom-senso. Mas o tempo passou e de um lado ficou a liberdade dos EUA, e do outro a igualdade da URSS. E a América Latina não se sentiu mais livre depois de sentir o "Big Stick", nem o Leste Europeu mais igual depois de conhecer o "Pacto de Varsóvia". Ah, a Fraternidade? Essa nunca existiu, nunca foi aplicada. Nunca deu dinheiro nem nunca deu resultado. A Fraternidade não passa de uma palavra pra preencher espaço. Pra fechar a rima, a métrica dos discursos demagogos dos políticos mentirosos.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"Ah, Como Eu Sofro!"

Mas pode reparar,

A gente gosta mesmo

É de reclamar.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Vascularização das Opiniões

Respondendo o comentário pré-histórico do Allan sobre arte contemporânea: cada um tem sua forma de externar aquilo que sente, que vê como arte. Não existe um padrão do que pode ser considerado como uma obra artística. Claro, pessoas submetidas a um mesmo contexto histórico, político e socioeconômico possuem tendências similares. Não é possível você ver um quadro, por exemplo, e encarar aquele estilo da mesma forma que você encarava antes. Ele passa a exercer uma influência sobre o seu olhar, seja positiva (e assim, construtiva ao seu estilo, estando contido nele) ou negativa ( sendo usado como oposição àquele determinado tipo de arte). Na verdade, não podemos nem sequer tipificar. Fazemos isso para fins didáticos e práticos, acredito eu.

Aonde eu quero chegar? Na verdade nem eu sei, to com sono, hahaha. Mas sinto em dizer que a tendência atual é não ter tendência alguma. As intenções encontram-se tão diluídas na sociedade, que acabam sendo praticamente singulares. Ninguém possui um ponto de vista igual ao meu. As influências que eu tive na minha vida, sejam subjetivas (sentimentais, memoriais, afetivas, sociais) ou objetivas (conhecimento, que por sinal, nunca será nem neutro nem impessoal, acabando por ser subjetivo também, de certo modo) acabam fazendo do meu pensamento estritamente singular. A arte contemporânea que o Allan tanto criticou não passa de um exemplo prático dessa visão única. Um dia, tive até que rir, vi no Museu do Olho um pote de vidro com molho de tomate dentro, quebrado, caído no chão e um esfregão e um balde do lado. Para mim aquilo não "é" arte, mas para as pessoas que compartilham da mesma gama mínima de signos que o autor da obra, aquilo é arte, pois elas conseguem entender o que foi externado.

Tudo é relativo,não depende só do ponto de partida para que se chegue a uma mesma linha de chegada. É claro, isso para pessoas não alienadas, mas não vou voltar ao manjado moto perpétuo.

O Ler, o Pensar

A leitura não pode substituir o pensamento. A literatura está para o pensamento assim como o ato de comer está para a digestão e a assimilação. Quando a prática da leitura se orgulha de que, somente ela, por meio de suas descobertas, fez progredir o saber humano, é como se a boca quisesse se gabar por sustentar sozinha a existência do corpo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Economia de Pau-a-Pique

A crise que todo mundo tanto temeu, pelo visto já passou. O Lula realmente não tava tão errado quanto à história da marolinha. Aliás, pra mim o governo foi impecável no tratamento dessa crise. Já imaginaram se eles tivessem assustado toda a população? A recessão econômica ia ser desastrosa. Ter fingido que tava tudo bem simplesmente fez como que nada acontecesse.

Percebem como a economia é relativa? A crise não é algo material, é algo imaginário. Toda a economia é. Só o fato de o presidente ter acalmado a população fez com que, apesar de os níveis de exportação baixassem, o mercado interno continuasse firme e forte. A economia não passa de uma convenção mundial.

Tem mais, ela é extremamente manipulável. Se um governo precisar de mais dinheiro, pode simplesmente emitir mais notas. Poderia pagar as dívidas internas, mas claro, teria sua moeda desvalorizada no resto do mundo. Agora, e se todas as moedas se desvalorizassem? E se todos os países emitissem mais notas na mesma proporção? O Valor de cada nota poderia diminuir, mas relativamente ao resto do mundo, ela valeria a mesma coisa! Isso mostra, por exemplo, que o ouro, que foi lastro por muito tempo, não tem preço!

Na natureza o arroba do ouro não tem preço fixo, tem o preço que nós estabelecemos. Aliás, o ouro é um metal como outro qualquer. Creio que ele tenha sido escolhido como moeda de troca pela dificuldade de encontrá-lo e da sua baixíssima reatividade. Mas eis que portugueses e espanhóis vêm pras Américas e descobrem que existem enormes reservas de ouro, prata e diamante por aqui. Resultado: eles são os novos “donos” do mundo. Percebam então que o ouro não é algo tão raro assim, provavelmente os Incas e os Astecas utilizassem outras coisas como moeda de troca, afinal, ouro era algo banal pra esses povos. Ou seja, o que tem o ouro de tão valioso?

Outra coisa que sempre me intrigou foi uma “crise mundial”. Pra mim, crise mundial não existe. Não dá pra todo mundo sair perdendo, o dinheiro não sai desse planeta. Tudo o que produzimos, consumimos e o dinheiro com que pagamos está aqui. Em toda crise há quem ganhe e há quem perca. Se todos perderem, no fim das contas deu na mesma, afinal economia é uma convenção, lembram? Outra coisa que também me intriga é quando dizem que é muito caro transformar água salgada em água potável. Caro? Caro vai ser a raça humana acabar por falta desse líquido incolor. Nada é caro quando se é necessário. Água é um exemplo de que a economia é falsa, é só a água acabar que o preço do aço das refinarias é subsidiado, a energia é divida, a mão de obra é qualificada e barateada, enfim, o processo todo se torna viável.

É por essas e outras que as ciências econômicas não me agradam. São muito frágeis, tudo é muito relativo, tudo é muito mutável e imprevisível. Frágil como as casa de pau-a-pique que só existem graças à ganância e desigualdade causadas pela própria Economia. Prefiro filosofia, algo que comparado a essa pseudociência - afinal, é tão aleatória quanto a astrologia - chega até mesmo a ser concreto.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

São Pedro Limpa o Salão de Festas

E na festa, dança a moça que foge das poças,
Dança o índio agradecendo aos céus,
Dança, no filme, aquele idiota,
Dança o bolinho na panela da Bebel,
Dançam as gotas que escorrem do meu rosto ao meu peito.
Conclusão: na chuva, todos dançam de algum jeito.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Brincando de Ser Criativo

Hoje, vindo para casa, saquei uma bela coincidência, ou, pelo menos, consegui aquela inspiração. Ouvindo "Computadores Fazem Arte", de composição de Chico Science, e tendo o privilégio de poder ver blocos de nuvens se movendo em tempos diferentes com um fundo amarelo-alaranjado, divaguei sobre dois assuntos, meio que relacionados.

Primeiro, algo que tem a ver com o post do Allan sobre arte. A música, na versão que eu ouvia, tocada pelo Mundo Livre S/A, fala sobre como a tecnologia hoje faz todo o trabalho do homem preguiçoso, inclusive se metendo na arte. Com isso, "computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro". Além de os artistas, segundo Chico, pegarem carona nas inovações tecnológicas dos cientistas (vide Photoshop), eles se aproveitam dessa para delegarem todo o esforço da criação criativa para as máquinas. É claro que há exceções, caso, mesmo hoje em dia, das pessoas que se recusam a envolver a tecnologia de ponta em suas obras (como alguns arquitetos, que preferem a mão do que softwares de desenho), e caso das que utilizam as inovações, porém, mantendo a parte humana da criação artística.

O outro aspecto que observei, e que diz respeito às nuvens, é sobre criatividade. Como pode um ser vivo (nós) ver, num aglomerado de partículas de água condensada sendo carregado pelo ar em corrente, graças as mudanças de pressão e temperatura, algodão-doce, animais sinistros, pessoas queridas, entre outras imagens inusitadas (no meu caso, vi, hoje, pelo fundo meio amarelo, Zeus e alguns raios. Claro, relevem minha viagem, tendo em vista que tive quatro aulas de projeto arquitetônico hoje)? Estranho é pensar, também, em como certas pessoas "criam" necessidades através de obviedades, que antes passavam despercebidas, graças à criatividade e inovação. Não é óbvio que devemos usar lâminas para nos barbearmos, ou que a melhor solução para prender blocos de papel é o clips? Claro que esses conceitos de necessidade podem ser questionados (vide a internet, que, para muitos, temo eu, é caso de vida ou morte).

Agora, relacionando os dois, a criatividade, impulsionada por diversos motivos, cria obras artísticas magníficas, faz surgir inovações tecnológicas antes inimagináveis. Essas inovações são utilizadas das mais diversas maneiras, como, por exemplo, no auxílio do artista. Só que, como o ser humano é, por natureza, um animal, portanto, faz de tudo para sobreviver, muitas vezes a tecnologia é usada de maneira obtusa (boa, hein), como é o caso da bomba atômica, exemplo clássico do mau-uso do conhecimento.

Pronto! Viram como é fácil fazer uma relação entre dois acontecimentos totalmente desconectados entre si? É só ter um pouco de elasticidade e assistir algumas aulas de física seguidas por aulas de história.

domingo, 25 de outubro de 2009

A "Arte" de Enganar

A arte não existe mais faz tempo. Sempre achei muito engraçado esse negócio de arte contemporânea. Sabe aqueles quadros que se resumem a rabiscos e que, de acordo com o autor e os críticos metidos a besta, são “expressões mais profundas da alma”? Então, acho a maior besteira.

Arte pra mim tem 3 matrizes, 3 alicerces que sem eles ela é dispensável. Tem que ter emoção, criatividade e qualidade técnica. O primeiro é simples, o segundo já não é pra todo mundo e o terceiro sozinho também não é grande coisa. Agora conseguir unir os três, ah, isso é pra poucos.

E olha que eu nem sou daqueles radicais que só idolatra do séc. XIX pra baixo. Adoro obras do Picasso, do Van Gogh, até da Tarsila do Amaral. Essas obras não são meras “expressões mais profundas da alma”, são isso e muito mais. Um quadro de Picasso pode não ter a qualidade técnica convencional de um Leonardo Da Vinci, mas a perspectiva dele é única, utilizar formas geométricas pra representar os outros é genial na minha humilde opinião. Van Gogh então é mágico. Ele consegue exprimir seus sentimentos, expressar o que ele vê, o que sente, mas mesmo assim utiliza uma fusão expressionismo-impressionismo característica dele impecavelmente.

Agora peguem um Duchamp, por exemplo. Pra mim aquilo é a maior enganação. Tudo bem, é uma expressão raivosa e desesperada do pós-guerra, mas será que não dava pra ser melhorzinho não? E isso não acontece só na pintura, na música é ainda mais visível. Por exemplo, o Sex Pistols, uma banda punk. Aquela coisa baseada em 3 acordes, baixo de 3 notas e bateria manjada. Mas era música de protesto, tinha a parte emocional. Agora é desonesto comparar Sex Pistols com Chico Buarque, por exemplo. Chico também fazia música de protesto, mas era com classe, com talento. Não era um mero vômito de revolta.

Esses artistas são tão fracos que esses dias mesmo pegaram um elefante e o colocaram em frente a uma tela com baldes de tinta ao seu redor. Os quadros depois foram pra uma exposição em NY. O resultado? O tal pintor desconhecido foi enaltecido por todos, até comparado com um desses “gênios” da pintura moderna. Ou seja, um elefante pode fazer o mesmo trabalho, se não melhor, que qualquer um desses pseudo-artistas.

Talvez eu esteja sendo preconceituoso. Talvez eu esteja errado, assim como Monteiro Lobato estava quando avaliou a exposição da Anita Malfati, pintora modernista. Talvez daqui uns 20 anos eu desminta tudo isso, mas enquanto isso não acontece, continuo achando tudo isso uma grande idiotice.