quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"Quem Vigia os Vigilantes?"

“Watchmen” – Zack Snyder (graphic novel original de Alan Moore)

Pra mim, existem dois tipos de filme: os “blockbusters” - aqueles filmes que custam milhões e rendem bilhões já no primeiro dia de bilheteria, que tem finais felizes e previsíveis com um desenvolvimento regado a muita morte, sangue, briga e romance – e os “cult” – aqueles que não tem começo nem fim, filmes de alta densidade filosófica, tipicamente europeus, que ninguém assiste e quem assiste não gosta, só aqueles pseudointelecutais que andam de boina e gola olímpica em pleno verão. Ambas essas vertentes têm suas obras primas, porém são poucos os filmes que conseguem unir os dois com maestria. Watchmen, definitivamente é um deles.

O filme é uma adaptação dos Quadrinhos homônimos da DC Comics, porém de acordo com os fãs da série é extremamente fiel ao original, apesar de algumas mudanças no enredo. A história se passa num mundo onde super-herois existem e são algo trivial. O fato de eles exisitrem – e serem em sua quase totalidade estadunidenses – causam um desequilíbrio geopolítico no mundo. Os aliados vencem a 2ª Guerra Mundial com folga, graças aos “Minutemen”, uma espécie de Liga da Justiça dos anos 40. Esse fato se torna relevante nos anos 60 quando, com a ajuda do Dr. Manhattan – um físico nuclear que sofreu um acidente em laboratório que o tornou um espécie de semideus, tendo poder absoluto sobre a matéria e compreensão total do tempo que o cerca –, os EUA saem vitoriosos do Vietnã. Isso faz com que o caso Watergate nunca seja descoberto, a popularidade de Nixon vá às alturas sendo reeleito diversas vezes e, portanto o movimento hippie perca considerável força. É nesse ambiente de “desequilíbrio de forças” que é criado o grupo “Vigilantes”, contando com o ex-minuteman, o Comedian – um sádico, irônico e sarcástico anti-heroi que representa de maneira parodiada a sociedade que o cerca –, Silk Spectre II – filha da 1ª Silk Spectre, participante dos Minutemen -, o Nite Owl II – uma espécie de Batman mais fraco e mais Nerd que deu continuidade ao trabalho do Nite Owl original, um ex-policial que participou do gurpo de 1940 –, Dr. Manhattan, Ozzymandias – tido como o homem mais inteligente do mundo, sua mente é brilhante ao ponto de calcular a trajetória e tempo de uma bala atirada contra ele e conseguir segurá-la com as mãos – e por fim Rorschach – o mais intrigante personagem da série, com um nome em homenagem ao teste de Rorschach, um filho de prostituta, conturbado e extremamente moralista, um psicopata às avessas que procura sempre a justiça mesmo que isso implique em mortes e roubos.

Em 1977, é sancionada a lei Keene, implantada em resposta à greve da polícia e à revolta da população contra os vigilantes, que agiam acima da lei. Com isso, ou os Vigilantes se registravam no governo – como fez o Comediante e o Dr. Manhattan -, ou se aposentavam – como fez a Silk Spectre e o Nite Owl, que se mantiveram na surdina, e o Ozzymandias, que revelou sua identidade e se tornou o megamilhonáro Adrian Veidt. Em 1985, data em que se passa o filme, o Comedian é assassinado e então começa a trama.

O filme é genial por diversos aspectos. Ele principalmente cria um conflito mental sobre o que é o certo e errado. Apresenta sacrifícios em prol de algo maior, mostra atitudes imorais pela justiça, mostra a sociedade como ela é. Torna o bem, o mal, o certo e o errado relativos. Além disso, parodia os HQs clássicos como quando o vilão – que eu não vou revelar quem é, se é que podemos chamá-lo desse jeito - diz “Vocês acham que eu sou um desses vilões de história em quadrinho? Já ativei meu plano há 35 minutos” e parodia também a sociedade americana como no diálogo entre um jornalista e seu chefe “-Parece que o Reagan vai se candidatar à presidência . – Eu quero notícias plausíveis, você acha mesmo que elegeríamos um cowboy pra presidente?”. A trilha sonora é ótima, tendo várias músicas de época incluindo "Hallelujah" de Jeff Beckley e "All Along the Watchtower" na versão do Hendrix. O filme também mostra um outro lado da convivência com super-herois. Os protestos das pessoas comuns contra a sua onipotência, as greves das forças policiais que se sentiam inutilizadas graças ao trabalho deles, etc. O post já está longo e se eu fosse descrever tudo do filme com minnúscia precisaria de um outro livro.

Enfim, é uma obra-prima dentre tantos HQs que se tornaram filmes. O diretor Zack Snyder foi o mesmo que trouxe às telonas “300”, e manteve até mesmo alguns quadrinhos como storyboard da produção. Para um fã de distopias, ficção científica e quadrinhos com conteúdo, como eu, esse filme é um prato cheio. Cheio de humor, ironia, sexo, sangue, violência e conjecturas filosóficas. Extremamente recomendado.

3 comentários:

  1. Realmente, um filmasso. Vale a pena!
    Legal é a versão em Blu-Ray, com um disco inteirinho só de extras.

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  2. Nossa... É um filme excelente mesmo. Vi ele essa semana, e agora dei uma passada aqui e vi seu post. Também não vou ficar comentando muito sobre a história pq isso daria realmente um texto enorme, quiçá um livro. Venho apenas comentar sobre o Rorschach: o cara é genial. Paranóico e extremamente desconfiado - e com razão, diga-se de passagem - é ele quem conta a história do filme, com maestria, através de um diário que mantém por precaução, para o caso de ser assassinado. O passado descrito do personagem é incrível. O fato de ele acreditar na justiça acima de tudo, principalmente após o incidente da menininha de 6 anos (que também não vou comentar para não estragar a surpresa) é o que mais marca esse personagem. Não conhecia a história dele até ver este filme e me interessou muitíssimo, principalmente a cena em que ele grita "Devolva meu rosto!" em desespero e ódio atrás de sua máscara que justamente não é um rosto e sim uma mancha. Se fosse eu, devolveria a máscara dele, ainda mais depois de ver o que ele pode fazer com um cutelo.

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  3. O filme é ótimo, cheio de reviravoltas e finais inesperados para cada um dos personagens. Achei genial o relativismo exposto, até onde alguém pode determinar o que é bom para os outros, sacrificar algo em prol do bem maior? A tênue linha divisória entre o bem e o mal é amplamente explorada pelo filme também. Gostei ;D

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