quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Presença, de Corpo e Alma

Uma observação:

Tem vezes que sua presença é sufocante, tão constante. Parece até uma sombra, um acompanhamento irrecusável, uma peça que combina exclusivamente com seu par. Por onde vá, lá está ele.

Indo pela rua, mesmo após um dia inteiro de atividades envoltas em grupos diversos de pessoas distintas, de lugares diferentes, mesmo assim, lá caminha tua companhia, ao teu lado. Após uma leitura, profunda ou barata, após uma reflexão, um devaneio, uma reflexão, após uma rápida ou pesada discussão, após o banho(!), o almoço, a escovada dos dentes,...  até mesmo se tentas assaltar a geladeira pela madrugada, ou fazer um bate-volta no posto de gasolina da esquina por um chiclete, ou correr na locadora devolver o catálogo, é inevitável, te segue.

Sem perceber, o achas no fundo do copo (vazio), na crista da onda, na cobertura do café cremoso, no molho do macarrão (espirrado na camisa), no embrulho amassado da caixa de chocolate.

No caminho pra casa, independente de ser um atalho, ou uma nova rota, ou o traçado do cavalo do padeiro, pode ser que te vires e só o vejas distante, avoando. Se não o vê prontamente, ao te virares ou ao olhares para baixo, não te engana. Depois de procurá-lo, é provável que assim o encontre: casual, distraído, até desleixado. Mas sempre fiel.
Se com isso ficas nervoso, decepcionado, preocupado, relaxa. Ele te vê, e ri, de canto de boca, discreto.

No fim, te acostuma.

Mesmo acostumado, há momentos em que te surpreende vê-lo. Era ele lá no fundo, quando virei a cabeça? Era ele atrás do outro, quando passou o ônibus? Era ele no reflexo da janela, quando a fechei? Era; ou não era. Mas que ele estava lá, ah, disso não tem dúvida.

Quando penso nisso, por mais tempo que invista (ou gaste) no assunto, sempre o percebo fiscalizando, acompanhando, até ajudando. Mas sempre quieto.
Até se o encurralo, no seu esconderijo mais batido, no espelho, ele consegue se fazer de desentendido, que não viu nada, não escutou nada; não fala nada.