quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

2009 Inovou Até Demais

Esse ano foi tumultuado, não? Quantas mudanças! Principalmente para mim e meus colegas vestibulandos de todo o país. Houve também mortes de figuras importantes, casos intrigantes, epidemias, recordes quebrados e efemérides significativas. Então rumo à retrospectiva 2009 do Sempremdm!

Começo pelo que eu manjo. O famigerado vestibular. As mudanças são incontáveis e começam com o MEC declarando, após o ano letivo já ter iniciado, a substituição do vestibular pelo tal do “novo” ENEM – novo entre aspas porque de novo ele não tem nada. O ENEM foi um fiasco. Longo, cansativo, burro. Isso sem contar que as provas foram roubadas e os resultados vão chegar lá por fevereiro – quem pretendia entrar na UTFPR, que adotou integralmente, se lascou, afinal vai ter aula só lá pelo mês de março, um mês depois do normal. Houve também algumas mudanças mais internas como a mudança no número de redações da UFPR, na segunda fase da Fuvest, no fato da UFSC e da UFPR não baterem na data, mas essas são periféricas.

Mas se teve algo que marcou muito, tanto para os estudantes quanto para a população em geral, foi a tal da Influenza A H1N1, a “gripe suína”. A epidemia até rendeu à maioria das pessoas 2 semaninhas de folga – apelidadas de “férias suínas”. Shoppings e restaurantes vazios, desesperados de máscaras cirúrgicas pelas ruas, tema pro jornal o mês todo. Depois de um mês ninguém mais nem se lembrava do assunto.

Outra coisa é que todo ano tem um crime que comove a população. Esse ano tivemos o Deputado beberrão e apressadinho, Carli Filho. Bebeu, correu, bateu e matou 2 jovens que nada tinham a ver com a história. Até onde eu sei, está respondendo em liberdade e passa bem. Teve também o assassinato do rapaz e o estupro de sua namorada em um morro próximo à Praia Mansa e o recente caso do menino das agulhas. Ah, e não posso me esquecer do aconteceu no Couto Pereira há poucas semanas que não sei chamar por outro nome senão crime. Sim, em matéria de desgraça foi um bom ano.

Ah, as efemérides! Adoro essas coisas de aniversários redondos, datas importantes. Esse ano tivemos algumas. 220 anos da Revolução Francesa e da Inconfidência Mineira, 150 da publicação da Origem das Espécies, do Darwin, 70 do início da mais sangrenta de todas as guerras, a 2ª Guerra Mundial, 60 da revolução chinesa, 50 da revolução cubana, 40 do festival de Woodstock e do lançamento do Abbey Road – o disco cuja capa é uma das mais intrigantes de todos os tempos -, 30 da revolução sandinista, 20 da queda do muro de Berlim. Isso que esse ano é o Ano Internacional da Astronomia. Enfim, muitas datas foram comemoradas durante esses quase 360 dias que se passaram até hoje.

As mortes foram memoráveis também. A começar pelo Rei do Pop, Michael Jackson, que nos deixou na véspera de uma turnê de retorno. A cultura também perdeu esse ano Mercedes Sosa, cantora argentina, Farrah Fawcett, atriz que fazia o papel de uma das 3 panteras originais, Patrick Swayze, ator que ficou famoso pelos filmes “Ghost” e “Dança Comigo” e Les Paul, músico e inventor do modelo de guitarra Gibson que leva o seu nome. Outra grande perda foi a do antropólogo Claude Lévi-Staruss, o criador do estruturalismo e um dos grandes responsáveis pela destruição de conceito de eugenia. É sempre bom lembrar que ele finalizou seus trabalhos com tribos brasileiras e que foi um dos fundadores da USP. Teve também a morte do locutor Lombardi e do empresário Herbert Richers, o cara da “versão brasileira Herbert Richers” – quem via seriados antigos dublados vai saber do que estou falando – e do estilista, e até então também político, Clodovil Hernandes. Mas não foram só os bons que nos deixaram. A morte do político Celso Pitta nos dá esperanças pra que qualquer dia desses apareça no Jornal Nacional “O político José Sarney sofreu hoje um AVC e não resistiu”. Já iria tarde, mas como vaso ruim não quebra...

E falando em vaso ruim, como todos os outros anos, esse não escapou dos casos de corrupção. Começo pelo bigodudo do parágrafo anterior, o Senhor do Maranhão, José Sarney. Mesmo com passeatas, protestos, críticas e o escambau ele se manteve firme e forte no trono de presidente do Senado. Tudo pra proteger o seu filinho que estava – e ainda está sendo, se não me engano – investigado pela polícia. E claro, não podemos nos esquecer o senhor dos panetones cifrados, Celso Arruda. E falando em Arruda - aliás, que nome mais amaldiçoado esse; folhas de arruda nunca mais -, logo nos vem à cabeça a imagem da loira da UNIBAN, Geyse Arruda, quase sendo execrada pelos colegas de faculdade. Um caso que acabou dividindo opiniões – a minha está aqui.

E é melhor eu parar por aqui porque o texto já está gigantesco. Aliás, o blog nessas próximas semanas terá poucos – se tiver – posts. Poxa gente, precisamos de férias também! Ano que vem retornaremos com tudo. Sempre Mais do Mesmo, sempre novos posts.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Imperfeccionismo

De todos os meus defeitos

O pior que tive

Foi tentar ser pefeito.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sal, Limão, Tequila, Arriba!

Tenho medo do fiasco

Após 6 doses de Zé Cuervo

E um frasco de Tabasco.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Natureza Selvagem

A natureza é a dona do mundo. Nada de presidente dos E.U.A. ou quem tem mais bombas atômicas (presidente dos E.U.A.). Quem manda nessa joça é a mãe natureza. Seja assustando crianças à noite soltando trovões, seja destelhando casas com sopros moderados de 120km/h. As forças do planeta dominam nossas vidas e condicionam nosso modo de viver. Mas também nos proporcionam as mais belas cenas.

A chuva, por exemplo. Atola carros, alaga bairros e cidades inteiras, (infelizmente) mata e joga na rua centenas de pessoas, cria cataratas na UTFPR. Enfim, causa inúmeros danos a nossa sociedade. Porém, quem nunca "lavou a alma" num banho de chuva no verão? Quem não gosta de sentar numa sacada (coberta, por favor) ao lado de uma boa companhia só deixando chover? Já dizia minha mãe, quando chove, o negócio é fazer como os polacos (sem preconceitos!): dexakichova.

Outro exemplo, que muitas vezes vem junto das chuvas: trovoadas. Por incrível que pareça, nosso país é o que mais registra o acontecimento de raios no mundo, sendo Teresina, capital do Piauí a terceira cidade no mundo em matéria de descargas elétricas! Raios, trovões, relâmpagos e cia. são responsáveis por um prejuízo, só no Brasil, de R$1 bi anual, causando 75 mortes em 2006 (fonte). Mas é difícil achar alguém que não se surpreenda ao ver, na distância, imagens como essa. E também, vale dizer, eles, com sua eletricidade, já são fonte de energia em alguns lugares que conseguem captá-los.

Enfim, inúmeros outros exemplos poderiam ser citados para ilustrar essa relação entre destruição e beleza das forças da natureza (vulcões, sua quente força e sua beleza irradiante; o oceano, suas inúmeras imagens belas e seu poder de engolir beira-mares; etc.). Deixo esse texto como meu ode a mãe de nosso planeta e sua influência sobre nós. Só espero que, com isso, ela me poupe de episódios absurdos, como atolar o carro em pleno centro da cidade!

Amor Bandido

Esse tal de Amor é um sacana.

Te idolatra se for babaca,

Te mal-trata se for bacana.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Os Barões do Rock N' Roll

Se o Circo Voador teve um anfitrião, esse anfitrião foi o Cazuza. E se o Cazuza, que era um rei nato, teve uma corte, essa corte foi o Barão Vermelho. Se não fosse o Barão, nosso Rock com certeza seria bem menos interessante. E olhe que o Barão é uma das poucas bandas do mundo a conseguir trocar de vocalista e manter a qualidade. Barão com Cazuza é incrível, mas com Frejat nos vocais ainda bate um bolão. Mas dessa vez vou falar dos anos de ouro, que foi antes da separação.

A profusão de hormônios apelidada de Cazuza quando se uniu àquela banda de jovens músicos foi amor à primeira vista. Logo aquele rapaz de classe média se uniu ao Frejat e com ele formou uma das melhores duplas de compositores da nossa música. O Barão era lírico e raivoso. Era apaixonado e apaixonante. O Barão era puro Rock N’ Roll.

Sem mais delongas, vamos às indicações. Não vou me dar ao trabalho de indicar as mais famosas como “Pro Dia Nascer Feliz”, “Bete Balanço” ou “Maior Abandonado” porque seria muito clichê. Vou mais fundo, mesmo adorando essas músicas.

Vou começar de leve. Um blues acústico sobre um homem abandonado pelo seu amor. “Bilhetinho Azul” é calma, porém tem um ritmo contagiante. Isso sem contar a parte do “Chuchu, vou me mandar” que sempre me arranca um sorriso quando ouço. Quem consegue dizer isso sem parecer cafona? Só o Cazuza...

Outra baseada nos blues clássicos, mas dessa vez mais pesada – quero lembrar que isso é uma marca forte do Barão já que o Rock deles era inspirado nos clássicos setentistas – é a “Por que que a Gente É Assim?”. “Mais uma dose? É claro que eu tô afim. A noite nunca tem fim...” e assim começa um clássico. Um riff pausado, marcante que faz seu pé bater no chão no ritmo do baixo sem você sequer perceber. “Canibais de nós mesmos antes que a Terra nos coma. 100 gramas, sem dramas”. Será que eu preciso dizer alguma coisa sobre uma frase dessas?

Vou aglutinar as duas últimas num só parágrafo pro texto não ficar tão longo quanto o sobre os Titãs. As próximas indicações são “Down em Mim” e “Todo o Amor que Houver Nessa Vida”. A primeira é uma das minhas favoritas. É incrível o que dá pra fazer com 4 acordes. “E as paredes do meu quarto vão assistir comigo a versão nova de uma velha história. E quando o sol vier socar minha cara, com certeza você já foi embora” é umas das coisas mais incríveis que o Cazuza e o Frejat já compuseram na vida dessa grande banda. A outra não é a que o Cazuza gravou em carreira solo – essa eu particularmente acho um saco. Falo da versão original, do primeiro disco da banda. Definitivamente outra pérola daquela mente conturbada.

Também recomendo o filme “Cazuza - O Tempo Não Pára”, biografia do cantor e compositor. Agora é só colocar os vídeos do youtube - que aposto que já estão carregando em outra janela – pra tocar e aproveitar o som.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cafeína na Veia (Criativa)

Tenho o costume (sortudo demais sou eu por tê-lo adquirido) de tomar café. Expresso duplo, puro, uma colherzinha de açúcar. Melhor coisa naqueles momentos em que estou muito agitado, os pensamentos não estão se organizando ou estou passando por uma fase difícil. Diferentemente da maioria, me sinto extremamente tranqüilizado e acalmado pelo expresso. Só uma coisa é capaz, às vezes, de frustrar esse momento meu: quando vou com muita sede ao pote e queimo a língua.

(Ô dorzinha maldita, a da língua queimada. Ficamos bom tempo tentando refrescá-la e, depois, ignorá-la. Mas é horrível. Absurdamente chata também é a dor de unhas cortadas muito curtas. Ah, quem nunca cortou a unha dos dedões das mãos muito curta e não conseguiu, por isso, usar os dedos devidamente. Topadas do mindinho no canto do armário, mordidas na língua, joelhadas na escrivaninha. Enfim, o mundo está cheio de ameaças sinistras, na espreita para nos fazer agonizar, nem que seja por instantes.)

Quando estou com minha xícara, sentado num ambiente agradável, geralmente sou atingido, de súbito, com idéias boas, pensamentos complexos. Boa parte das vezes, bebo acompanhado de um livro. Outras, de pessoas magníficas e companhias impagáveis. Esses são os principais combustíveis para minha criatividade. Depois desses momentos relaxantes, costumo ter uma produtividade acima do normal.

(Nada como trabalhar motivado, com vontade. Ter aquele professor cativante, que nos instiga, trabalhar num ambiente amistoso e harmonioso, com pessoas estimulantes. De boa, estudar e trabalhar em lugares desafiadores com pessoas que, como eu, buscam sempre estar à frente, é ótimo demais. No entanto, é cansativo, mental e fisicamente.)

Porém, desde que começou a temporada de provas, seja das faculdades, seja dos vestibulares, não tenho conseguido casar os horários meus e de meus companheiros(as). E posso garantir que isso tem estragado boa parte de meus pensamentos. Essa falta de relaxamento para a cachola pode ter, por um tempo, atrofiado minha capacidade de escrever. Junte a isso o esgotamento das energias e temos aquele tão temido bloqueio criativo.

(Pelo menos ainda escrevo alguma baboseira aqui. Tem gente que nem pra isso... Brincadeirinha! Pessoas ocupadas são fogo. Não conseguem tempo pra respirar, imagina pra postar no Blog.)

Acho que consegui fazer algo com esse jogo de parênteses. Experiências a parte, espero que, agora que as pessoas entram de férias, possa receber mais convites para sair tomar aquele expresso duplo, puro, uma colher de açúcar.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Início do Ócio

Começo me desculpando pela ausência. Só tive condições de escrever de novo hoje. A razão é que ontem fiz a última prova da segunda fase da Federal do Paraná. História e Filosofia. Tive de escrever coisa pra 100 linhas. Isso que no dia anterior tive 5 redações. O que esses dias fizeram com o meu calo do dedo médio, prefiro nem comentar. Mas enfim, missão cumprida. Agora só tenho uma segunda fase da USP na ressaca do ano novo que eu vou fazer com uma “vontade” admirável...

O ponto é que escrevi tudo isso pra anunciar que estou em férias. E você se perguntando “tá, e daí?”. Então, percebi que as férias são tudo o que eu preciso. Aliás, o que todo mundo precisa. Tempo pra pensar e poucas coisas pra cumprir. Afinal o ócio criou as melhores coisas da humanidade. E vocês leem isso de um vagabundo confesso.

Os gregos, por exemplo. Se não fossem os escravos, nunca teriam desenvolvido tanta filosofia, matemática, literatura. Ou os nobres da aristocracia que se não fossem os servos não teriam feito tantas descobertas científicas, obras de arte, concertos de música. Hoje em dia, o mais perto que chegamos disso são as bolsas que os cientistas recebem para pesquisar. E as férias, claro.

Nesse tempo pretendo ler o que eu quero - e não só coisas relacionadas ao vestibular -, fazer exercício – pra perder a barriga que esse ano me trouxe- e produzir o que tá armazenado nessa cachola que vos escreve no momento. Escrever, conversar, tocar. Agora só me resta aproveitar esses 80 dias que se seguem e aguardar ansiosamente pelo resultado do tão esperado vestibular que sai até dia 22. Enfim, férias.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Fronteira com as Palavras

A vida de um pensamento dura até que ele chegue ao ponto perpendicular com as palavras e a partir de então está morto, entretanto é indestrutível, igual um fóssil.
Assim, logo que nosso pensamento encontrou palavras, ele já deixa de ser algo íntimo. Quando ele começa a existir para os outros, para de viver em nós, da mesma maneira que o filho se separa da mãe quando passa a ter sua existência própria. Como diz o poeta:

"Não me venham confundir com contradições!
Logo que falamos, começamos a errar."

Citação do poema de Goethe, "Spruch".

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

“O Amor É o Fogo...”

Não!
O amor é uma mão!
Que te bate
E sem embate, te abate.
Que te pega,
Te apega e te cega.
Aí no tempo crescente,
Te bate novamente.

O Triste Fim do Conhecimento Sensível

Já percebeu que hoje as coisas precisam ser abstratas e difíceis para que possam ser respeitadas? A reta tornou-se inviável, mesmo sendo o caminho mais curto para ligar dois pontos, o simples é visto como suspeito. Para que algo possua credibilidade faz-se necessário um aval científico. Não basta ser conhecimento para que seja valorizado, é preciso ser ciência.

Merleau-Ponty já falava da falta de animalidade do conhecimento moderno. O mais triste disso tudo é que ainda colhemos os frutos da produção científica da modernidade: objetivismo, distanciamento do observador e seu objeto de estudo, imparcialidade. Para que algo seja considerado ciência, é necessário que seja previsível e calculável, Weber mesmo já dizia isso. Assim, as outras fontes como a sabedoria popular e o conhecimento sensível foram desvalorizadas. E vamos e venhamos, não existe nada mais hipócrita do que uma teoria bem fundada. Na prática, ela nunca será a mesma. Ela foi criada a partir das idéias de uma pessoa só! Como as outras devem reagir da mesma forma frente a uma única cadeia de raciocínio, sendo que não possuem as mesmas experiências de vida, a mesma bagagem educacional, o mesmo conjunto emocional e até a mesma forma de recepcionar o conhecimento?

Se existe algo insólito é o conhecimento: não há como obtermos uma verdade absoluta. Cada um absorve uma assertiva de sua determinada maneira. A teoria é importante, e isso não podemos negar. Mas nem mesmo a teoria, com todo o seu alto nível de abstração, está livre de relativismos. Olhe a física, a gente aprende de um jeito fácil no Ensino Médio: os sistemas são todos constantes, massa e energia se conservam, etc. Ingenuidades à parte, sabemos que não é assim na realidade "sólida". Afinal, o que aconteceu com o conhecimento sensível?! Ele é tão desprezado hoje. Temos métodos e macetes para chegarmos a uma conclusão comum. Mesmo a ciência tendo evoluído muito desde a Modernidade, mesmo depois da Teoria da Relatividade de Einstein, temos resquícios desse positivismo científico, que reina, mesmo que não absoluto, até os dias de hoje.

Precisamos de complexos procedimentos para ter acesso a determinados direitos, de instrumentos mil para nos localizarmos no tempo e espaço. O conhecimento tornou-se cada vez mais técnico, mais hermético, é preciso compartilhar todo aquele jargão científico para poder ter acesso às informações. As antigas discussões filosóficas hoje se resumem a discussões técnico-procedimentais, graças a essa herança moderna, de modo operacional e acadêmico. O Antigo conhecimento era lido da natureza e percebido juntamente com o conhecimento sensível, de modo a formar uma ordem, e o homem era mais submerso a essa lógica.

Veja os Quares, eles se localizam no deserto sem ajuda de nada, somente com o posicionamento das estrelas, mesmo com as dunas mudando de lugar constantemente. A percepção que o homem tinha da realidade era muito maior. Nós não temos mais percepção. A passagem desse concreto para o abstrato criou um nível de, justamente, abstração do conhecimento que nos distancia profundamente da realidade. Isso vai repercutir, no século XX, em prejuízos militares. A guerra do Vietnã, por exemplo. Os Estados Unidos levaram um couro porque não tinham conhecimento sensível do território. O vietcongue sabia trafegar alí, sabia se localizar naquela selva como ninguém. Ele sabia diferenciar uma coisa da outra, sabia onde estava andando. As tropas americanas, urbanas, viam a selva como algo desconhecido, não tinham a agilidade, o conhecimento que o outro lado tinha, a percepção. Aquilo que víamos nos filmes de faroeste, o cara colocando o ouvido na terra, sabendo se passou alguém por ali, a quanto tempo. Essa capacidade de conhecimento perceptivo é algo que o homem moderno perdeu profundamente.

Nosso conhecimento é maciçamente abstrato, técnico. Essa percepção não temos mais. O homem que era chamado a CONHECER essa realidade, conhecer pela percepção do mundo, agora é chamado a manifestar sua vontade, a QUERER. Somos vítimas da razão instrumental, da ciência: sem toda essa parafernália, não conseguimos ver um futuro sustentável.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Aparteísmo Academicista

Não entendeu o título? Então, é justamente sobre essa língua que só os acadêmicos entendem que resolvi falar. Não sou contra o erudito nem contra a prolixidade – eu mesmo gosto de usar algumas “palavras difíceis” de vez em quando -, o que me irrita é o culto ao complicado. Não estou defendendo a morte do português bem-escrito também, só quero que o “português bem-escrito” seja compreensível.

É comum as pessoas acharem incrível quem tem um léxico um pouco mais avantajado, quem usa mesóclise, quem fala cujo, mesmo sem entender uma palavra sequer do que essas pessoas estão dizendo. E fica esse ciclo vicioso, um tentando ser mais incompreensível do que o outro, brigando por alguns aplausos. Isso me leva a outro ponto: o do egoísmo intelectual. As pessoas que tem um pouco mais de cultura não querem que as outras alcancem o mesmo nível delas. Elas se orgulham de se diferenciarem por isso! Quantas vezes você não ouviu “essas pessoas não merecem ler esse livro” ou algo do gênero? Isso é porque a pessoa que disse isso só tem esse conhecimento, que devia ser de todos, de notável e o defende como pode.

Eu mesmo sou vítima disso, não vou mentir. Tenho que lutar contra o meu preconceito quando ouço que uma pessoa totalmente inusitada assistiu a um filme super cabeça e disse que gostou e entendeu. Mas temos de lutar pela democratização, e não por uma aristocracia, da cultura e do conhecimento.

E é aí que volto para o tal do “aparteísmo academicista” do título. Os textos científicos, que teoricamente servem para a compreensão de como as coisas são, são normalmente confusos, cheios de concessivas e termos técnicos que são, muitas vezes, incompreensíveis. Essa infantilidade dos doutores e PhDs que me irrita. Essa coisa de “clube do bolinha” onde eles usam o “advoguês” ou o “economês” pra separar a plebe da nobreza intelectual. Uma coisa é protocolo, é decoro, é formalidade. Outra bem diferente é segregar o conhecimento. Viva à verdadeira democracia da cultura!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Um Minuto de Silêncio

E começa o segundo tempo de Coritiba e Fluminense...

Com a vontade de vingar-se pelo Atletiba sofrido, a cada minuto que passava, sentia um falso alívio no peito de ver o nosso arquirrival indo para a Série B. O resultado, Botafogo 2 x 1 Palmeiras, decretava o fim da megalomania do Centenário (1909 - 100 anos do nascimento do Coritiba Futebol Clube).

Restava uma vitória para salvar o Coxa e acabar com a inesperada arrancada do Fluminense de 10 jogos invictos (7 vitórias e 3 empates). A partida no Couto Pereira estava 1 x 1, o primeiro gol do jogo feito pelo tricolor carioca, uma falta rolada batida no canto. O empate veio de um cruzamento na medida para o zagueiro Pereira do Coxa cabecear direto para o gol do goleiro Rafael. Pouco preocupei-me com o jogo do meu Furacão que, com o time desfalcado, ficaria no 0 x 0 com o Barueri. Estava com alma e coração no Coxa e Flu. Estava certo de que o rebaixamento coxa-branca lavaria minha alma e que seria uma alegria comparável ao título paranaense de 2009.

Chegava os 40 minutos, o desespero dos jogadores no Couto aliviava tudo aquilo armazenado no meu peito: os 4 x 2 na Baixada, a capa da tribuna, o 3 x 2 de virada no Couto, o frequente comentário dos "comentaristas esportivos" da imprensa paranaense de que o Coxa tinha um elenco melhor do que o do Atlético. Como aquilo fazia bem, porém, só naquele momento.
O juiz indica os 4 minutos de acréscimo, começa em mim o tradicional momento de "cair a ficha".

Mais um ano sem Atletiba no brasileirão. Mais um ano de um futebol paranaense desacreditado e ridicularizado pela imprensa nacional. Mais um ano de um futebol que faz jus ao fato de ter mais torcedores Corinthianos, Palmeirenses, São-Paulinos, Gremistas e Colorados do que torcedores dos times do Paraná. Tem de ser valorizado o torcedor atleticano, coxa-branca, paranista, pois nós somos os verdadeiros torcedores do nosso time. Nós comparecemos ao estádio, nós estamos perto do clube que amamos, nosso clube representa nosso Estado, nosso lugar de berço. Pena que o time não corresponde, nenhum dos três times do nosso estado merecem a torcida que têm.

O rebaixamento do Coritiba, pela segunda vez em menos de 5 anos, traz para todos nós a lição de que não é possível torcer para um time que tem suas alegrias embasadas na desgraça do rival. O que traz alegria para nós, fanáticos pelos nossos times, é futebol. Um futebol no mínimo de raça indiscutível. A falta de habilidade é compreensível pela circunstância do famigerado mercado de jogadores de futebol.

Soou o apito. Não pude nem comemorar ou refletir melhor o turbilhão de sentimentos que passou por minha cabeça. Um grupo de torcedores do Coxa pula o fosso do estádio e agride um policial que protegia os jogadores do Fluminense. Na frente de câmeras e de inúmeras pessoas de princípios, um pai de família é espancado por um grupo de torcedores enfurecidos. O desespero dos repórteres em volta pedindo reforço policial no campo. Cadeiras arremessadas ao gramado, confronto direto entre torcedores e a Polícia Militar. O que é isso? Onde está agora Jair Cirino, presidente do Coxa, que prometeu, deu esperanças e nada correspondeu? Por que ele não estava no gramado? Aliás, por que havia torcedores no gramado? O que justifica espancar um inocente por causa de algo que sequer é sua culpa? O policial espancado queria seu salário para levar à sua casa, pouco importava Fluminense ou Coritiba, ele estava fazendo seu trabalho.

É aí que precisa ser ensinado, junto ao amor à camisa, mesmo eu sendo um admitido fanático pelo Clube Atlético Paranaense, o limite desse amor, o valor da vida, o ato de medir as consequências. Uma vida não pode ser comparada ao fanatismo por um clube de futebol. Cala o Brasil, o país do futebol, uma atitude repugnante como essa. Além de ser uma lição para dirigentes de clubes, que promovem um marketing dualista do seu time de futebol (nós somos o bem, o rival é o mal). Mexer com as emoções das pessoas não é como vender um simples produto. Time de futebol não é marca, não é empresa. Time de futebol é paixão, por isso devem ser transmitidos os limites dessa paixão.

Um minuto de silêncio, não ao Coxa, não à vergonha do futebol paranaense, mas às vidas arruinadas das pessoas no dia 06/12/2009 no Estádio Major Couto Pereira.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A Falta de Sentido que Faz Sentido

"Why is a raven like a writing-desk?" ("Por que um corvo é igual a uma escrivaninha?", tradução livre)

Nada melhor para começar um post sobre nonsense do que a transcrição do magnífico (e ainda não respondido definitivamente) enigma do Chapeleiro Maluco, da história de "Alice no País das Maravilhas". Segundo o próprio Lewis Carroll, autor de "Alice", no prefácio da edição de 1896 da história, não havia resposta mesmo para o enigma quando ele o pensou. Mas após sua publicação, inúmeras respostas foram propostas. Até Aldous Huxley, renomado autor de "Admirável Mundo Novo" se arriscou com uma das melhores soluções, na minha opinião: "Because there's a b in both and because there's an n in neither" (algo como "porque tem um a em ambos e um n em nenhum", tradução livre também).

Aliás, não só esse excerto demonstra a essência (se é que há alguma) do nonsense nas duas aventuras de Alice. Na segunda história de Alice, "Através do Espelho - E o que Alice Encontrou Lá", por exemplo, na qual Alice atravessa um espelho da sala de sua casa e sai num mundo 'espelhado', temos várias passagens, bem como no primeiro romance, engraçadas, porém, sem nenhum sentido aparente. O poema de nonsense mais aclamado de todos os tempos é de autoria de Lewis Carroll e é encontrado nessa segunda aventura de Alice, "Jabberwocky" (para quem tem um pouco de inglês).

Outro expoente do nonsense, por "increça que parível", é o escritor da considerada maior obra em língua inglesa de todos os tempos ("Ulysses"), James Joyce. Em sua obra mais trabalhada, "Finnegans Wake", Joyce brinca num sonho de maneira sem precedentes. Palavras compostas por dezenas de outras palavras (portmanteau, em inglês), misturas de pelo menos umas 15 línguas diferentes e capítulos sem nenhuma progressão aparente. Algumas interpretações são possíveis, mas não há ninguém com envergadura moral suficiente para dizer qual é a correta (se é que há alguma).

Fecho o post indicando o livro que me incitou a escrever esse post, "The Annotated Alice: Definitive Edition", a versão comentada das duas aventuras de Alice, no país das maravilhas e através do espelho. Comentários extremamente úteis, que nos permitem entender a parte do nonsense de Carroll que possui explicação. Vale lembrar também que as aventuras de Alice vão ao cinema através da cabeça de Tim Burton, ano que vem.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Que Soem as Vuvuzelas!

Hoje saiu as definições dos grupos da tão aguarda primeira copa do continente africano, a da África do Sul. A copa promete, mesmo depois da palhaçada – e não tenho pudor em chamar assim o que aconteceu nos últimos jogos das eliminatórias europeias – que foi o jogo entre Irlanda e França, com direito ao “retorno da mão de Deus”, dessa vez, na versão de Thierry Henry.

Os grupos têm como característica intrigante a presença de grandes seleções separadas enfrentando seleções de menor tradição, o que, na minha opinião, é ótimo, já que as oitavas e quartas de final serão, provavelmente, marcadas por clássicos. Isso se não houver nenhuma zebra, como foi o Senegal na copa de 2002 ou a Croácia na de 98. Além disso, também é interessante destacar a presença de todas as seleções que possuem uma taça da copa na estante participando da edição do ano que vem.

Mas vamos aos grupos! No A, está a anfitriã, o México, o Uruguai e a famigerada França. No B, nossos hermanos argentinos pegam a Nigéria, a Coreia do Sul e a Grécia. O grupo C é a festa dos ingleses, que vão pegar os EUA, a Argélia e a Eslovênia. No D, outro grupo fácil, a Alemanha pega Austrália, Sérvia e Gana. O E tem Holanda, Dinamarca, Japão e Camarões, o que dá uma briga boa. Já o F e o H seguem o padrão dos B, C e D, sendo que o F conta com a Forza Azurra italiana como protagonista, além de Paraguai, Nova Zelândia e Eslováquia, e o H tem como estrela La Fúria Española acompanhada da Suíça, da Honduras – sim, a do Zelaya – e Chile.

Deixei pra falar do grupo da nossa seleção canarinho, o G, por último, já que fomos extremamente azarados nos nossos adversários. Enfrentaremos Coreia do Norte, Costa do Marfim e Portugal. A Costa do Marfim tem revelado alguns grandes jogadores como Drogba, o que já é algo pra se tomar cuidado. A Coreia do Norte é o ponto fraco, mas a última vez que pegamos os portugueses na primeira fase, eles quebraram Pelé, que ficou impossibilitado de jogar os próximos jogos da Copa de 66, na Inglaterra, e Eusébio deu show. Fomos eliminados já de cara.

Pelo menos, na copa seguinte a que fomos eliminados pelos lusitanos, a de 70 no México, o Brasil apresentou a melhor seleção de todos os tempos, que contava com Pelé, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto Torres, Félix e tantos outros. Se perdermos essa da mesma maneira que perdemos a de 66, o passado pelo menos nos é simpático quando se trata de perspectivas para a Copa do Brasil.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sempre Minguante

Tenho pena do luar,

Que tem que competir

Com o brilho do seu olhar.