quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Se o Presidente Não Tem o Primeiro Grau Completo, Por que o Ministro do STF Precisa Ter Doutorado?

Calma pessoal. Esse título não tem nada a ver com minha opinião. É que dia desses, estava eu, ainda me indignando com as “burradas light” dos nossos representantes ao contemplar o nome aprovado para o mais novo ministro do STF: Antônio Dias Toffoli. Sem preconceito algum contra a pessoa, mas sim contra o currículo desse ex-assessor jurídico do PT. Mesmo formado pela USP, Toffoli tem apenas 41 anos e terá que demonstrar conhecimento supremo da Constituição sem ao menos um doutorado, um mestrado sequer. Poderíamos comparar a experiência acadêmica e curricular dele com Carlos Ayres Britto, tendo graduação e aperfeiçoamento em Direito Público e Privado em Direito pela UFSE e mestrado e doutorado em Direito pela PUC-SP?

Conversando com um amigo colega sobre o assunto, ele disse para mim o título deste artigo. É claro que foi uma brincadeira, porém, é sempre bom enfatizar a diferença: um ministro do STF interpreta nossa carta magna, ou seja, ele interpreta o que todo mundo tem de acatar. Essas supostas mentes pensantes do constitucionalismo brasileiro interpretam o que um presidente deve fazer, o que um senador tem de fazer, logo, não deveriam ser os melhores dentre os melhores? Mas não é por aí, afinal, foi uma indicação meramente política. Esse advogado será um voto de cabresto do STF, ele não terá argumento para debater com as estudadas e rodadas figuras do STF. Quem estuda Direito sabe que todos os membros daquela corte são autores renomados dos livros jurídicos.

Temos mais uma pessoa no STF que assistirá às sessões do STF como um jogo de tênis, olhando de um lado para o outro, calado. A culpa não é de Toffoli, que fique bem claro, a culpa é dos que o escolheram inconsequentemente, ou seja, o presidente. Para finalizar, gostaria apenas de deixar o currículo de uma pessoa que foi indicada para Ministro do STF e nem foi aprovada na lista anterior, uma pessoa que dispensa qualquer apresentação: Luiz Edson Fachin, renomado professor de Direito Civil da PUC-PR e da UFPR (colocarei aqui o link completo de seu histórico pois o espaço destinado à esse artigo é extremamente curto comparado ao currículo desse grande professor)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Mulher que Reclamava

Camisa branca, cabelos longos e presos, óculos arredondados, entre berros e protestos com seu típico sotaque alagoano. Já sabem de quem estou falando, não? Essa é a Heloísa Helena: a mulher que nasceu pra ser oposição.

A Heloísa é uma daquelas figuras que são indispensáveis pra um país funcionar, afinal, ela sempre se opõe a tudo! Quando o partido dela consegue se eleger ela arranja uma maneira de ser expulsa dele. Tá bom, o PT realmente hoje em dia não é mais o mesmo – o próprio Lula, o símbolo do sindicalismo brasileiro, trocou sua ideologia pela faixa de presidente – mas isso não muda o fato da Heloísa continuar sendo o símbolo de protesto brasileiro. Que ela é louca, radical e exagerada, isso é fato – acho que ela no poder seria um perigo – mas sua presença no Senado, no Congresso, onde for, é sempre bem-vinda do ponto de vista democrático.

Quando o Lula e o PT – que até então eram a representação da esquerda brasileira – se elegeram, ficou no ar: afinal, quem seriam os apontadores dos erros do futuro governo Lula. O PSDB não nasceu pra ser oposição e isso ficou provado nos anos seguintes. Eis que Heloísa e seus apoiadores fundam o PSOL, provando que nem a oposição escapa da oposição. Se o PSOL se eleger aposto que ela sai de novo e funda um partido ainda menos elegível. Pra se eleger, um partido precisa fazer alianças, precisa de favores, de apoiadores, patrocinadores – como fez o PT do Lula. Heloísa é contra isso, e por isso, nunca vai chegar ao poder. Ainda bem, assim ela continua fazendo o que faz de melhor: reclamar.

sábado, 26 de setembro de 2009

O Artista Mestiço

Assim foi retratado Thomas Mann (depois da obra de Richard Miskolci). A homossexualidade reprimida é um dos principais componentes das obras desse autor alemão. Thomas Mann nasceu no final do século XIX, época em que desvios da conduta sexual eram considerados males psiquiátricos. Inclusive, indicaram-lhe um tratamento: a cura do sono. Seu sofrimento interior é compensado em suas obras. Chegou inclusive a ganhar o Nobel de Literatura de 1929. Patriota, foi exilado na época de Hitler, indo para os Estados Unidos. Durante a segunda guerra, gravava programas de rádio para ouvintes alemãs (que ouviam suas transmissões em segredo), fazendo um apelo à razão do povo. Roosevelt chegou a cogitar a possibilidade do autor assumir o governo alemão pós-guerra.

Dotado de uma sensibilidade crítica, publicou um livro retratando a burguesia alemã em sua queda, fazendo críticas a ela em "Os Buddenbrooks", livro em conta a história de sua própria família, inserida na esfera burguesa. Também publicou "A Montanha Mágica", livro em que expõe o contexto histórico e social da I Guerra Mundial . Mas o meu preferido é um de seus mais famosos clássicos: Morte em Veneza & Tonio Kröger.

Confesso que entrei em êxtase quando o li. O autor escreve longos diálogos e solilóquios filosóficos sobre a vida e os sentimentos. O livro passa ser ainda melhor para aqueles que sabem o que o autor passou. A parte mais marcante da obra, para mim, foi quando o autor conclui: não importa ser correspondido em seus sentimentos ou não, mas somente o fato de você sentir. Ao sentir, há a certeza de não estar morto por dentro, de não ser vazio. E essa é a maior alegria que alguém pode sentir, saber que está vivo. Nunca consegui ler tão cristalina e puramente a mente de uma alguém como naquelas poucas linhas.

É obvio que não existe conhecimento neutro. Ele projeta em seus personagens seus próprios sofrimentos para que estes diminuam, inconscientemente não façam mais parte dele. Penso que um autor que teve a coragem de se fazer ser lido tão diretamente, de expor seus íntimos pensamentos e ao mesmo tempo enxergar o mundo com olhos tão apurados e críticos, não pode passar despercebido. Fica aí a dica.

Honestidade Custa Caro

A falsidade está em tudo o que vejo.

A todo tempo ela é fabricada.

E a hipocrisia, das moedas de troca,

Sem dúvida é a mais bem cotada.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Sina de Pensar

“Pena não ser burro, não sofreria tanto”, já dizia o Maluco Beleza. Enquanto eu pensava com meus botões, percebi que justamente essa ação seja talvez o maior erro da humanidade: pensar. Calma, não sou eu quem vai promover a ignorância por aí. Pelo contrário, sempre fui um entusiasta do pensamento crítico. Mas justamente esse pensamento crítico me faz refletir: Será que vale a pena pensar?

De acordo com o Gênesis, o maior pecado da humanidade foi provar do fruto proibido. Uns mais ingênuos associam o fruto ao sexo, o que não faz sentido já que a própria bíblia faz menção explícita à reprodução – e a reprodução por meiose que não ia ser. Eu sou mais adepto de pensar que o maldito fruto é o conhecimento. O conhecimento aproxima o homem de Deus. Permite ao homem criar, destruir, julgar. Coisas que só um deus tem jurisdição pra fazer. Hoje, nós pensamos, pagamos o pato do pecado original. Talvez esse pato não seja só “viver do próprio suor”, mas também, conviver com nossas próprias conjecturas.

A sabedoria popular já nos ensina que “de pensar morreu o burro”. Pensar traz tristeza. Desperta mentes para o mundo. A madame que vive de boutique, quando vê o menino de rua se contorcer de fome se comove, pensa nas coisas ruins, abre sua mente pra realidade. Por outro lado não é raro ver um pensador triste, introspectivo, refletindo. Talvez pensar seja justamente a maior sina da humanidade.

Diversas doenças são causadas pelo fato de “pensar” demais. Depressão, transtorno bipolar, síndrome do pânico, esquizofrenia, insônia. Doenças que só não agem quando o paciente está justamente distraído, não pensando.

Bem, pensando bem, pensar que pensar demais é “a maior sina da humanidade” talvez seja justamente pensar demais.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Humildes Meditações

Posso dizer, sem medo, que faltam ouvintes decentes no mundo. Pior ainda é a escassa quantidade daqueles que sabem discutir (ou, citando a Mínia no outro post, sabem usar a "enferrujada" dialética). Mas o que me preocupa mesmo, nesse assunto, é o número de pessoas que não valoriza as divagações próprias e dos outros, principalmente sobre assunto viajados, metafísicos ou até triviais.

Notei isso tudo quando, como faço rotineiramente, estava num momento introspectivo e fui interrompido. O ruim não foi a interrupção, mas sim a extrema falta de noção dos que me interpelaram. Perguntaram-me, como sempre fazem nessas situações, se eu estava triste, preocupado ou até nervoso(?!). Nem passou pela cabeça deles que eu poderia estar simplesmente pensando. E se menciono o assunto que ponderava temo que teria sido não só motivo de riso, como de desprezo.

Ouso hipotetizar que esse comportamento e (falta de) pensamento advém daquilo que citei no início: a falta de valorização dos pensamentos e divagações íntimas. Isso não nos levaria, dando um pequeno pulo, ao absurdo de menosprezar a profissão do filósofo? Não podemos passar dez minutos do precioso tempo de nossas vidas pensando em assuntos, muitas vezes considerados irrelevantes (mas muito mais profundos do que aqueles que divagamos sobre no cotidiano), que somos tachados de desocupados e vadios despreocupados (no sentido de não fazer nada útil).

Não vou negar que esse tipo de desvalorização foi um dos motivos para eu ter escolhido a engenharia ao invés da filosofia, mas, apesar disso, eu (um dia, quem sabe) irei mostrar para aqueles, que não entendem esses nossos momentos introspectivos, o real valor dessas meditações e a sua importância.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Os Milagres da Natureza

Felizmente, hoje em dia nós temos uma gama de políticos aqui no Brasil que nos faz ter orgulho em hastear a nossa bandeira mesmo fora de época de Copa do Mundo. Blairo Maggi, Edir Macedo, Renan Calheiros, Fernando Collor de Mello, José Sarney. Maravilhosos espécimes do corruptus brasiliensis.

A exemplo disso, na Veja da semana passada, Blairo Maggi – o “dono” e governador do Mato Grosso que pregava a derrubada da Amazônia pra plantar soja, no caso seu próprio produto – foi protagonista de uma reportagem extremamente suspeita mostrando sua “metamorfose”. Nela ele se mostra um homem bondoso, religioso, transformado. Livre do “facínora ambiental” que o assolava anos atrás. É um digno defensor do verde – no caso, dos dólares de sua conta bancária –, abre mão dos lucros recebidos de seus vários “rebanhos de soja” cerceando a pecuária extensiva, prioriza o consumo de hectares já desmatados – que por incrível coincidência em sua maioria pertencem a ele. Enfim, um altruísmo digno de uma medalha de honra do Greenpeace.

Sinceramente, conto de fadas por conto de fadas, prefiro ler os Irmãos Grimm.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Se Ficar o Bicho Pega, Se Correr o Bicho Come

Sigmund Freud , jovem prodígio que era, desenvolveu a divisão da psique (aparelho psíquico humano): id, ego e superego. O id são todos os nossos desejos, nossos instintos, nossos reais pensamentos e impulsos que motivam nossas relações com o mundo, não existindo contradições para ele. Em sua esfera, tudo é possível. O ego é uma instância entre os desejos e a realidade . Já o superego seria uma forma de repressão para o id, desenvolvido ao longo da vida, o qual internaliza os padrões morais de um contexto social. Através da educação e do progresso temporal em meio ao convívio, as pessoas desenvolvem seu superego durante a vida. Sem ele, um velho que queira silêncio, por exemplo, faria de tudo para consegui-lo, até estrangularia o seu neto que ri alto na sala ao lado.

O id encontra brechas para se manifestar quando o superego encontra-se de certa forma inibido, por meio de hipnose, drogas e álcool, principalmente. Por isso que quem bebe fala e sente mais do que deve. O superego, por essas demonstrações, se mostra necessário.

No entanto,o que vivemos hoje é a imposição de uma inibição natural. Temos pautas de conduta para tudo. Assim, ao crescermos, não vemos outra opção senão aquela que nos é ofertada: se submeter à lógica atuante. A sociedade prega uma maneira única e formal de pensar, cheia de macetes e dicas. Não desenvolvemos nossa personalidade baseado em opções e sim em imposições. A dialética encontra-se enferrujada e quase extinta. Pior, a humanidade determina isso. E quem disse que você, ao nascer, escolheu fazer parte desse sistema capitalista de mercado? E quem disse que você escolheu pertencer a uma república? E quem disse que você escolheu ir para a escola? E o mais chocante: quem disse que você quer fazer parte dessa lógica destinada a idiotia futura?

Daí a história de sermos vítimas do sistema. Esse seria o sistema: aquele que determina o que é certo e faz todos se submeterem a ele. É fruto não somente de uma construção histórica, aparentemente evolutiva, mas também é aquele que todos nós fazemos parte. É paradoxal cavarmos nossa própria cova. Ao consentirmos com ele, tornamos parte de sua estrutura, fiscais de sua desenvoltura. Por isso o cara lá do filme “Into the Wild” vai para o Alasca. Mesmo sendo uma solução covarde, ao invés de ficar e lutar por mudanças pelas coisas que ele não escolheu nem quis, ele não queria fazer parte do sistema conformista, sistemático, utilitarista e frio em que vivemos. Porém, notem que é preciso fazer parte dele para poder mudá-lo.

domingo, 20 de setembro de 2009

Aniversário

"Antigamente quando eu me excedia
Ou fazia alguma coisa errada.
Naturalmente minha mãe dizia:
"Ele é uma criança, não entende nada".
Por dentro eu ria satisfeito e mudo —
Eu era um homem e entendia tudo
Hoje só, com meus problemas
Rezo muito, mas eu não me iludo
Sempre me dizem quando fico sério:
"Ele é um homem e entende tudo"
Por dentro com a alma atarantada —
Sou uma criança,não entendo nada."

São nessas palavras de Erasmo Carlos que questiono minha vida até aqui, hoje, 20 de setembro, dia que completo meus 18 anos. Dia em que todos pensam como será daqui pra frente, o tempo não volta, mas que vontade de parar no tempo.

sábado, 19 de setembro de 2009

Julgamento Moral: Quase Irresistível

Certa vez fizeram uma pesquisa que perguntava para as mulheres motoristas: Você acredita que a solução para o furto praticado por menores nos sinaleiros é punição ou educação? 80% responderam que seria a punição a melhor solução. O problema é que o local da pesquisa era próximo de um shopping que havia em seus arredores diversas crianças carentes pedindo esmolas em sinaleiros, assim como uma tradição daquele local ser muito perigoso.

Certa vez fizeram uma pesquisa que perguntava para as mães que caminhavam no shopping a seguinte questão: “Se seu filho roubasse um jogo de videogame em uma das lojas desse shopping, a melhor solução seria punição ou educação?” 99,8% das mães responderam que a educação seria a melhor solução.

É tão mais fácil se excluir da parcela de culpa que todos nós temos nessa sociedade desigual e enxotar os injustiçados para a FEBEM, para o presídio. Mulher humilde que rouba um talher do restaurante que trabalha é vagabunda, madame que rouba um talher do jantar de gala da empresa que seu marido trabalha é cleptomaníaca.

O intuito desse desabafo não é culpar qualquer pessoa por um roubo simples, roubou, esteja preso, ou desprezar a cleptomania como doença. O intuito é rever nossos conceitos que utilizamos diariamente para julgar tudo ao nosso redor. Juramos que esses conceitos são escolhidos e determinados por nós mesmos, infelizmente, não é. Quem somos nós afinal? Meia dúzia de estilistas determinam o que usaremos no próximo verão (cós alto, cós baixo, preto, marrom, azul, terno, blazer, veludo, pelica, malha tigrada), uma comissão de televisão escolhe o que devemos saber de notícia (seria muita ingenuidade pensar que eles publicariam todo tipo de notícia que recebem), será que somos um rebanho, manipulado totalmente?

Como sou jovem e ainda não me consenti, ainda acredito no único pivô dessa mudança: a educação. Eu acredito, ainda acredito, no julgamento moral e preconceituoso dando lugar a um raciocínio consciente e humanitário.

Ordem em Progresso

Bom mesmo é trabalhar no senado.

Roubar de tudo um pouco

E ninguém te cobrar resultado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As Duas Constituições

Luta, passeatas, tortura, morte de entes queridos, exílio, censura. Não foram poucos os sacrifícios feitos para que o Brasil pudesse enfim ter uma Constituição democrática, igualitária. Porém, são esses princípios constitucionais defendidos na prática pelos órgãos públicos? A resposta , por mais otimista e incrédula que seja, será: não.

Ferdinand Lasalle, conterrâneo de Marx, brevemente conduz esse raciocínio de duas Constituições em um livro de aproximadamente 50 páginas: A essência da Constituição. Esse livro que, infelizmente, não tive a oportunidade de ler quando ainda estava em meu ensino médio, pois é imprescindível para a apresentação de um olhar crítico sobre a essência da formação de um Estado-nação. As duas Constituições apresentadas são: a Constituição Escrita e a Constituição Real. A primeira trata-se do papel denominado Constituição; a segunda da prática, do que realmente acontece no país. É claro que Lassalle discursava e defendia sua tese para um grupo de operários submetidos e subjugados a uma Monarquia que não prestava contas à Constituição. Assim como seu exército, que prestava contas exclusivas ao Monarca. Mas as lágrimas de sangue e vozes roucas de nosso povo, para ter uma Constituição democrática, comparadas à impunidade e a desigualdade hoje vista no Brasil não traz o mesmo sentimento de indignação e impotência sentido na Alemanha do final do século XIX?

Lasalle fala que uma Constituição próspera e digna de um povo é uma que concilie o escrito ao aplicado. Por fim, o autor conclui: se uma Constituição Real é diferente da Escrita, o que é então esse documento senão um belo pedaço de papel?

Liberdade Ainda que Tardia

Pode-se dizer que a liberdade é um dos alvos mais perseguidos pela humanidade. Sartre dizia que somos condenados a sermos livres, Cecília Meireles alegava que todos sabem o que é apesar de ninguém saber explicar. Os capitalistas dizem ser o livre comércio, os comunistas dizem ser a segurança garantida pelo estado, os anarquistas dizem ser a completa abolição da hierarquia. Ela estampa o azul da bandeira da revolução francesa, é o tema da bandeira da inconfidência mineira, é a mais famosa estátua do mundo além de ser a protagonista do quadro de Delacroix. Liberdade pra lá, liberdade pra cá e liberdade nenhuma por aqui.

Hoje em dia “liberdade” não passa de uma bela palavra “assegurada” a nós pela constituição. Digo isso porque se fôssemos realmente livres poderíamos ter escolhas sexuais, religiosas, ideológicas, esportivas ou profissionais sem niguém meter o bedelho. Que os moralistas de plantão encham o saco de quem se opõe à “moral”, vá lá. O problema é quando essa intervenção vem por parte do estado.

Não faz muito tempo que o colunista da Ilustrada José “Macaco” Simão foi impedido pela justiça de sequer mencionar o nome da Juliana Paes. Também não faz muito tempo que o filho do Sarney entrou com uma ação contra o Estadão por acusá-lo de envolvimento no caso investigado pela operação Boi-Barrica, além também dessa nova lei anti-fumo imposta por Serra em São Paulo. Enfim, essas e muitas outras repressões dignas dos “anos de chumbo”. O pior de tudo é que todas elas tem como responsável o próprio estado. Censura não é bom e ninguém gosta. Não importa se é feita pela Juliana Paes, pelo Sarney pai, pelo Sarney filho, pelo Serra ou pelo Costa e Silva.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Mas a Mônica Queria Ver o Filme do Godard"

"Le Gai Savoir"- Jean Luc Godard

A subordinação da arte ao mercado faz com que a poesia não mostre sua ousadia. As imagens de Hollywood são grosseiras e dispensam o livre pensamento, jogadas aleatoriamente e sem a filosofia de seus significados. A surdez artificial vendida como verdade pelo mercado tem uma grande fissura nesse novo olhar, representado por Godard, que pretende, nesse filme, intensificar a poesia de imagens e sons contraditórios. Em “ Le Gai Savoir”, Jean Luc Godard não quer explicar o cinema, mas sim oferecer um método para que isso seja feito, que mostre a arte e a cultura impregnadas nele.

O filme recusa o fácil e nos faz pensar, confronta idéias políticas, fala de Marx, Lênin, Mao e Freud, legitimando seus profundos conceitos em suas imagens. Penso que esse título foi uma alusão ao nascimento da poesia européia, com o trovadorismo do século XII. Representa o confronto com o passado e o presente, e deixa no ar a incômoda interrogação de como lidar com o futuro. Geniais os silêncios visuais em homenagem aos Panteras Negras e a outros movimentos revolucionários.

Produto de seu meio, o longa explicita o sepultamento do moralismo da década de 60, a passagem de “I wanna hold your hand” para uma revolução sexual. Imagens da Guerra do Vietnã são misturadas com quadrinhos americanos. Patricia e Rousseau, “protagonistas” do filme em dado momento até falam que a perversão se deflora na negação do sexual. “Le Gai Savoir” exalta o espírito revolucionário jovem, o ensino cada vez mais conformado pela sociedade imperialista burguesa. Nele, há uma passagem na qual Lenin fala que o comunismo só será uma opção quando o capitalismo, tão profundamente impregnado na sociedade atual, não seja mais ensinado nas escolas, não mais conforme e esvazie o povo. Isso se aplica a hoje, o povo está tão comportado que não é mais visto nas ruas.

Um filme brilhante, que representa inovação para, até mesmo, a atualidade. O método e o sentimento se confrontam de um jeito desconfortável, mas necessário. E pensar que até a Legião Urbana já conhecia ele e que, mesmo hoje, ainda representa a quebra de um padrão.

Dura Lex Sed Lex

“A lei é dura, mas é a lei”. Canso de ouvir essa frase em latim de alguns metidos a juristas por aí. Infelizmente, vou ter que discordar desse célebre ditado. Se vocês pensarem bem, a lei é a prova cabal da nossa incapabilidade de conviver sem conflitos. Percebam que se ninguém roubasse seria desnecessária uma lei pra punir quem rouba. Tem também o fato da lei não ser usada como asseguradora de direitos, mas sim como uma arma de punição. Por isso eu acho a tal “moral cristã” algo perigoso. Ninguém a segue pelo bem dos outros, mas sim pelo medo da punição no juízo final. Aliás, a religião católica é a maior inimiga do cristianismo, mas não me arrisco a comentar sobre religião por aqui. Prezo pela minha cabeça, haha.

Voltando à frase-título: o que mais me incomoda nela é o conformismo que ela exprime. Soa como “É, ele é um ditador, mata todos que se opõem a ele, não permite qualquer expressão de pensamento e pune veementemente os acusados. Pois bem, a lei é dura, mas é a lei”. A lei tem que ser usada para, nada mais nada menos, melhorar as relações interpessoais da sociedade e não pra simplesmente punir ou garantir egoísmos de seus elaboradores. Ela não pode ser rígida a esse ponto. Tem que ser maleável, bem como o pensamento humano. Se toda uma população mudasse, do dia pra noite, de sexo uma lei que puna homossexuais seria inviável, inaplicável e no mínimo ridícula.

Enfim, a lei deve ser uma medida desesperada e usada com cautela. Em uma constituição – ou qualquer outro código – ela deve ser utilizada o mínimo possível. Quanto menos leis, parágrafos ou emendas, maior é o grau de evolução daquele povo. Talvez seja essa a idéia – inicial, que fique claro – do comunismo, do anarquismo, do cristianismo e diversos outros “ismos” que sempre foram lindos na teoria, porém impraticáveis em grandes grupos. Enquanto não evoluirmos para alguma espécie de “ser superior” como prega o Budismo ou o Hinduísmo – e lá vou eu me arriscar a falar de religião de volta – vamos ter de nos contentar com a lei da natureza humana, e essa sim, inevitável: Dura Lex sed Lex.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Povo que Sabe Mas Não Sabe

Passam, muitas vezes, despercebidas por nós todos, certas demonstrações enormes, mas sutis, de sabedoria popular. Muitas pessoas sabem muito mais do que acham que sabem. Seria isso algo bom? Ou não se auto-conhecer, nesse caso, seria algo absurdamente frustrante? Vou citar alguns exemplos para que possamos refletir na gravidade desse possível problema.

Por uma falta de acesso à educação formal e à instalações próprias para o ensino e a pesquisa, muitas pessoas do interior de nosso país e pelas áreas mais remotas do mundo inteiro, acabam não notando o conhecimento quando este o é transmitido. Quando se ouve que se esquentando água com uma tal erva mergulhada e a bebermos, essa água suja morna ajudará em males como febre, colesterol, dor de cabeça e inúmeros outros, não questionamos. Nem deveríamos. Pois quem um dia descobriu isso (pesquisa científica) e descobriu que isso ajudava contra "n" males (ciência) acabou por aplicar o conhecimento, sem mesmo notar.

Amigo meu de Rondônia (Arthur) presenteia eu e nossos colegas na faculdade com inúmeras frases não só irreverentes, como também inteligentes. "Mais grosso que papel de embrulhar prego" é uma dessas metáforas que ouvimos todos os dias. Interessante é saber que não só frases divertidas saem de nossas pessoas regularmente. Os ditados populares (ou provérbios, para os cultos) que o digam. "Juramento de quem ama não dá pra crer", já dizia minha vovó. Apesar de muitos serem óbvios, só o são porque descrevem acontecimentos baseados na observação, o puro método da pesquisa científica (claro, mais simplificado).

Outra coisa que é legal de observar é filósofos saindo de condições nas quais não imaginaríamos que essa seria uma ocupação comum. João Guimarães Rosa é a pessoa mais apta a falar desse assunto que existiu. Riobaldo, personagem e narrador do colossal "Grande Sertão: Veredas", é o sertanejo mais profundo, talvez por ter sido um dos poucos que analisamos de perto, que já pisou nas terras do interior de Minas. Sem as rédeas da norma culta, se expressa melhor do que a grande maioria dos poetas que o mundo já viu, com frases simples, mas extremamente densas. "Viver é negócio muito perigoso..." é a minha frase favorita do romance.

Sem querer incluir meu amigo Arthur na categoria dos sábios sem acesso à educação formal (muito pelo contrário, sendo que ele está na UTFPR comigo, me deixando para trás muitas vezes), mas ele, mesmo sem muita profundidade no estudo de filosofia, apareceu com uma pérola esses dias, sem nem perceber: "Nunca é um tempo muito próximo."

Sem entrar muito no mérito da frase, que poderia me prender por um post inteiro maior que esse (grande, não?) já percebemos que não carecemos de um estudo realmente avançado sobre coisas que provavelmente não nos ajudariam muito. Basta nos virarmos, conversarmos com pessoas diversas para enriquecermos nossas vidas de uma maneira, digamos, natural, artesanal, rústica.

É, eu não diria que saber sem saber que sabe é um problema. Talvez, quem sabe, possamos chamar isso de uma confortável ignorância dos inteligentes.

Ouro de Tolo

E que não seja em vão o sangue da batalha.

Que sirva também de inspiração,

E não somente de reles mortalha.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

E o Biodiesel, "Companheiro"?

Pois é. Há uns 2 anos atrás só se falava nessa grande revolução nas energias renováveis. Hoje em dia, ninguém nem se lembra mais do assunto. A menina dos olhos do governo no momento é esse tal de Pré-sal. Pra quem não sabe, esse é o nome dado às reservas petrolíferas descobertas abaixo de uma profunda camada de sal no mar, tão profunda que até o momento a sua exploração era impossível. Pois bem, a Petrobrás conseguiu...

É fato que a descoberta dessa mega reserva é ótima pro nosso país. Se estou certo existe até a possibilidade de exportamos esse líquido num futuro não tão distante. Mas e o meio-ambiente? Como fica? Se por um lado esse petróleo – que é mais concentrado que o comum – produz mais energia com menos gastos, devido à alta concentração do carbono, ele acaba poluindo mais a atmosfera. E todo aquele papo ambientalista da campanha do biodiesel vai por água – ou seria sal? – abaixo.

Todo esse alvoroço não dando em nada me lembrou a campanha Pró-Álcool dos anos 70. A mesma história: ecologia, matéria prima abundante, preço baixo, independência dos países petrolíferos, fracasso. O pró-Álcool até entende-se o porquê de não ter dado certo. Depois da crise do petróleo dos anos 70, era mais barato importar o óleo negro dos outros países do que produzir o nosso próprio etanol, mas o biodiesel não deu certo porque era simplesmente uma campanha política! O Brasil só procurou outras fontes de energia porque era conveniente, a partir do momento que encontramos petróleo em território nacional esquecemos por completo o papo de preservação ambiental.

Essa incoerência demonstra uma clara hipocrisia – ou versatilidade, se preferir – do nosso governo. Não que eu seja militante do Greenpeace, mas acho que honestidade é imprescindível. Petróleo é ótimo, todo mundo quer, todo mundo precisa. Plástico, borracha, gasolina, gás natural, tudo vem dele. Mas e o nosso planeta, como fica? Só porque os países desenvolvidos poluem horrores isso não nos dá motivo pra seguir o mau exemplo. Petróleo sim, exportação sim, mas nunca abandonar as pesquisas nos biocombustíveis. Afinal, petróleo é bom, mas uma hora acaba. E com ele, vamos todos nós junto.

domingo, 13 de setembro de 2009

Custe o que Custar

Quem não imagina uma solução para o mundo caótico de hoje? Sempre penso em um universo onde o escambo predomina. Apesar de ser uma forma rústica, apropriada para a economia moral predominante da Idade Média, seria muito bom ter um mundo sem dinheiro. Cada um cumpriria com as suas obrigações, desempenharia sua função social para que o organismo da sociedade funcionasse. A mercadoria teria seu valor equivalente em outra mercadoria, e não no dinheiro. Assim, quando eu quisesse o fruto do trabalho qualitativamente diferente do meu, trocaria pelo produto do meu próprio trabalho em si. Talvez seja esse o cerne da idéia do comunismo.

Colombo já dizia que o ouro é sublime, e quem o tem, faz o que quiser no mundo. Ele iguala as mercadorias, faz desaparecer todas suas diferenças qualitativas. Os antigos viam nele um poder corrosivo da ordem moral. Shakespeare fala do escravo amarelo, que abençoa amaldiçoados, honra ladrões e os coloca no senado. É a “vil prostituta” da humanidade. Sófocles o acusa o dinheiro de induzir o homem a fazer coisas amaldiçoadas pelos Deuses, de deturpar seu espírito nobre e arruinar cidades. Marx fala que o dinheiro, na lógica burguesa, torna-se o poder social: assim, a burguesia, autora da teoria mercantilista, a desenvolve de tal maneira a chegar no capitalismo. Esse torna-se a corporação brutal da hierarquização social.

O trabalho,em meio a essa lógica excludente, torna-se a perda de si mesmo, alienado. Ele não objetiva mais a satisfação de necessidades humanas, mas sim sua realização efetiva. E tudo pelo entesouramento dos homens, pela fome de poder, concentrado sempre nas mãos de poucos. O trabalho torna-se assim, a perda de si mesmo. O operário põe vida naquilo que produz, e ela se exterioriza no objeto. Ele não se realiza com isso, mas é apenas uma vítima do sistema criado, para que uns governem e outros sejam governados. Incrível como essa lógica pós-revolução industrial ainda se mostra atual, mesmo depois de quase dois séculos.

sábado, 12 de setembro de 2009

"A" Metáfora para Perfeição

"Musashi" - Eiji Yoshikawa

Não me aguentei e estou aqui postando sobre uma obra que é a de maior influência no meu modo de pensar. "Musashi", de Eiji Yoshikawa me foi apresentado, pelo puro acaso, à alguns anos. Época em que cursava a oitava série do ensino fundamental. Esse romance me moldou muitos conceitos e ideais que até hoje me acompanham.

A narração mistura fatos reais com certas passagens romanceadas para contar a história do maior samurai da história do Japão: Miyamoto Musashi. Este lendário bushi (classe dos espadachins da época feudal japonesa) passa, durante toda sua vida, por uma enorme evolução espiritual para se tornar um verdadeiro mestre. Sempre forte e impetuoso, o jovem Takezo (rebatizado, mais tarde, com o nome de sua vila e uma releitura de seus ideogramas) aprende o que realmente é importante na vida de um ser humano, seja pelo modo de vida de um guerreiro ou de um monge. Acompanhamos também, a vida de Matahachi, melhor amigo de infância do herói, que passa por inúmeros altos e (mais ainda) baixos; Otsu, ex-noiva de Matahachi que se apaixona platonicamente por Musashi; monge Takuan, uma inspiração, não só para Musashi, como para todos que têm a oportunidade de conhecê-lo; entre outras personagens marcantes (Sasaki Kojiro, Akemi, o jovem Joutaro,...). O grande mérito do autor, Yoshikawa, é transcrever certas passagens de maneira minuciosamente e belissimamente detalhada.

Dividido em 7 "partes", estas em outros vários capítulos, a obra evolui em conjunto com o espírito de Musashi. Começando com "A Terra", passando por "A Água", "O Fogo", "O Vento, "O Céu", "As Duas Forças" e "A Harmonia Final", fica clara a alusão ao progresso na obra. Os cinco primeiros livros se referem ao ciclos, segundo o budismo, pelos quais passa o espírito para alcançar a perfeição, o nirvana. Bela metáfora do autor para ilustrar o caminho de Musashi: de jovem sanguinário à criador de um estilo surpreendente de empunhadura de duas espadas, o Niten ichi.

Inúmeras são as passagens que eu poderia citar aqui para ilustrar minha admiração por esse belo romance, mas, escolhi essa, em particular, por ser uma que tem algo relacionado com minhas postagens anteriores, a música. Aí vai:

 "O som da flauta elevou-se no ar. Os dedos de Otsu, delgados e brancos, pareciam pequenos duendes pisando e dançando sobre os orifícios da flauta.
  O Tom era grave - transportado pela melodia que murmurava como um regato, Takuan sentia-se fluir como águas que ora correm apressadas por vales, ora brincam travessas em remansos. Ao se elevar aguda a melodia, experimentava a alma arrebatada subir ao espaço, brincar entre nuvens; ou então, vozes da terra e ecos do céu compunham novamente uma triste melodia, a canção do vento a sussurrar nos pinheirais lamentando a inconstância das coisas mundanas"

Vale a pena, demais, diga-se de passagem, ler as aproximadamente 1800 páginas dessa magnífica história.

Aqui, artigo na Wikipedia sobre o herói. O livro é disponível aqui no Brasil pela editora Liberdade.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Viva la Revolución!

“A Revolução dos Bichos” – George Orwell

Talvez uma das sátiras políticas mais bem boladas e arquitetadas da literatura mundial. George Orwell é um gênio do começo até o célebre grand finale do livro: "As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco". Simplesmente genial. Resume a incapabilidade das revoluções darem certo, seja com humanos ou com bichos. Mas a obra é muito mais do que um ensaio sobre a política. Ouso dizer que é um ensaio sobrea condição humana.

Orwell – ao contrário do que muitos pensam – era um comunista fervoroso! Mas era de visão trotskista, e como quem controlava a URSS na época era Stálin, foi nele e em sua figura autoritária que bolou o porco "Napoleão", que não é a toa que é um porco e muito menos que se chama Napoelão. Bom, algumas sacadas são indispensáveis de se comentar por aqui. O fato dos intelectuais serem representados pelo Burro Benjamim, fugindo do clichê da coruja mostranod que muitas vezes os burros de burros não tem nada; das ovelhas que só sabiam repetir o que Napoleão repetia; da KGB ser representada por verdadeiros cães de guarda; da síntese de Tróstki e Lênin na figura do injustiçado porco "Bola de Neve". Enfim, são muitas coisas que quanto mais se compreende a Época em que o livro foi escrito, mais se percebe as sutiliezas da obra.

George Orwell era um gênio e talvez essa seja – ao lado de 1984- uma de suas maiores obras primas. Segue o link em pdf.


http://www.vicentecandido.com.br/biblioteca/revol_bichos.pdf

Recordações de 11 de Setembro - 9/11 Williamsburg

A foto (9/11 Williamsburg) de Thomas Hoepker, no atentado de  11 de setembro que demorou 4 anos para ser publicada.


Muitas especulações foram feitas em cima dessa imagem, e embora o autor seja humilde relatou que fazer aquela foto foi parte do que faz, e por conta de sua experiência só seguiu o seu instinto profissional.

Enquanto as televisões do mundo mostravam esforços de bombeiros, policiais, civis e até os rumores do próprio prefeito da cidade ter sido visto tentando ajudar no resgate de pessoas, o que se passa nas cabeças de jovens americanos flagrados tão descontraídos a uma distância razoável dali? 



quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Validade Perpétua

"O Fausto" - Goethe

"No princípio, era a ação". Assim Goethe sabiamente conclui em seu livro O Fausto. É incrível como ele tinha essa habilidade de escrever coisas que ecoam por todo o contexto histórico, sem anacronismos. Cada frase desse livro é bem bolada. Não é a toa que o autor demorou mais de meio século para escrevê-lo. E essa singela frase traduz toda uma realidade oposta à obra: agir antes de pensar. Já até flagrei o Javã lendo o livro, hahah. Pra quem quiser dar uma olhada, segue o link, mas aconselho pegar o livro e ler, de preferência, a edição mais antiga que encontrar, com aquele cheirinho de biblioteca...

http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/faustogoethe.html

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Privada Política

Sem estabelecer vínculo político algum, gostaria de relembrar o final do segundo mandato do ex-presidente FHC. Creio que a maioria dos brasileiros definiríamos esse final de governo com apenas uma palavra: privatização.

Há quem ainda acredite como correta a medida adotada pelo governo da época, porém, lendo um curto livro de Aloysio Biondi (O Brasil Privatizado) resolvi trazer alguns dados para mostrar um lado diferente. Para iniciar o sentimento de indignação coloco apenas um fato da época: cinco dias antes do leilão da Cemig (empresa de energia de Minas Gerais) FHC assinou um decreto revolucionário que autorizava o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) de conceder empréstimos a grupos estrangeiros! Assim, a Cemig foi comprada por um grupo estadunidense por 2 bilhões de reais, só que metade desse valor financiado pelo BNDES. Soa até irônico, um grupo dos Estados Unidos pegando dinheiro emprestado do nosso país para pagar fiado. O Brasil empresta para os EUA pagarem o próprio Brasil. Que primeiro mundo, hein? O BNDES é e sempre deveria ter sido única e exclusivamente dos brasileiros e para os brasileiros, isso não é Fininvest ou Losango.

Como são muitos os exemplos, vou neste espaço comentar somente sobre as empresas de energia elétrica. Sobre a Vale, o Banco do Brasil, a Petrobrás, a CEF, Telesp, dentre outros, comentarei em outro espaço.

Bom, então vamos começar com o rol de bate e rebate dos argumentos comuns utilizados pelo governo na época das privatizações das Companhias Elétricas:

1) O preço da energia elétrica cairia voluptuosamente, se as empresas fornecedoras fossem privatizadas, pois seriam mais bem administradas.

Isso foi dito à população repetidamente, porém, durante o aumento de preço da tarifa que o governo fez pouco antes da privatização (da Eletropaulo (SP), da Cemig (MG), da Coelba (BA), dentre outras), foi concordado pelo mesmo governo o reajuste anual automático (baseado no IGP-DI, na inflação medida). Aumentavam pouco a pouco, enganando todos nós. Para piorar, também foi autorizado o aumento da tarifa caso algum “imprevisto” ocorresse: E a megadesvalorização do real em 1999? Culminou tudo isso em um aumento de mais de 150% na tarifa da energia elétrica.

2) A qualidade dos serviços seria bem melhor caso as empresas fossem privatizadas.

Esse argumento cai por terra por uma simples ressalva no contrato que estabeleceu o prazo de 1 ano e meio para as metas de crescimento da distribuição de luz e precauções estabelecidas pelo governo. Ou seja, um ano e meio sem melhorias, só reajustes autorizados, vale lembrar. O pior de tudo é que a multa que seria aplicada corresponderia à apenas 0,1% do faturamento anual. Se a Eletropaulo, por exemplo, tinha um faturamento de 1,2 bi/ano, pagaria somente 1,2 milhões. Isso que os investimentos na infraestrutura quando mínimos eram de 100 milhões, ou seja, valia a pena pagar multa.

Meu sentimento nessa pequena amostra do que se trata esse livro de Aloísio Biondi é uma vontade descomunal de falar um palavrão. Sei que, nesse artigo, escrevi próxima à indignação irônica do nosso amigo Allan M. H. Mas como diria FHC: “assim não pode, assim não dá”. Assim pôde e assim deu.

A Saga de um João Ninguém

E veio, e fez-se, e foi-se.

Ninguém nem se deu conta.

Uma foice pela vida, uma vida pela foice.

Revivendo 1808

A faculdade realmente abre nossa mente. Os calouros de direito do pombal de Curitiba (Santos Andrade) estão fazendo um plebiscito para escolher a melhor forma de governo para nosso país. Quem diria que até hoje existe um movimento pró-monarquia no Brasil? E pior, existe um chefe da Casa Dinástica! A Princesa Isabel tinha um filho, D. Pedro de Alcântara de Orleans e Bragança, que em 1908 abdicou de seus direitos sucessórios. Assim, seu irmão caçula virou o estepe, caso a “República” dos Estados Unidos do Brasil (sim, esse era o nome do nosso país até a penúltima constituição outorgada pelos militares) falhasse. Não que ela tenha sido um sucesso. Se hoje o Brasil resolvesse impor o regime monárquico, quem seria rei? O Pelé? Roberto Carlos? O Lula? A Xuxa? Segundo essa tal Casa Dinástica, seria o Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, bisneto da Princesa Isabel.

Os monarquistas falam que seu regime teria uma manutenção muito mais barata do que a do nosso atual sistema de “freio e contrapesos” republicano, o qual tem gastos tão absurdos que chegam a não ser divulgados. Concordo com eles quando falam dos feitos políticos: são pensados e agendados, para que assim, o povo e sua memória curta não esqueçam do prefeito e suas grandiosas obras até as eleições; ou com a proximidade de 2010 e a impossibilidade de reeleição, o orçamento é estranhamente extrapolado para que a bomba estoure nas mãos de quem assumir na seqüência. Aquele tal príncipe culpa o regime republicano do vergonhoso quadro da corrupção brasileira .

Rui Barbosa tava certo em dizer que o parlamento na república transformou-se numa praça de negócios. Mas isso não quer dizer que ele não tenha sido assim desde sempre. Roma já viveu o drama da cooptação, e o senado era tão corrupto quanto na época de Pedroquinha e de Lula. Eu penso que essa história de Monarquia para o Brasil de hoje é uma baboseira. Nunca vai existir uma forma de governo perfeita. A República só é a menos pior. O homem é um bicho egoísta por instinto. É por essas e outras que o comunismo não dá certo, nem o modelo romântico-republicano do Platão. Não precisamos de uma revolução governamental, precisamos de uma revolução mental entre o povo quieto e entorpecido, a atual platéia desse espetáculo político.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"Viver É Morrer"

Me surpreendi agora pouco, quando não achava que estava fazendo qualquer coisa útil, sentindo um prazer indiscritível ao ouvir uma música em particular: "To Live Is to Die", do Metallica, álbum "...And Justice for All", composta por James Hetfield, Lars Ulrich e, o falecido mestre do baixo, Cliff Burton. Resolvi compartilhar essa sensação e vou tentar me expressar da melhor maneira possível.

Começando com uma leve introdução em violão e base suave de bateria, a música adquire um tempo mais forte que vai se elevando a partir de um som de marcha. Entra o riff pesado e carregado, que nos leva à pequenas demonstrações de habilidade no baixo e na guitarra. Acompanhando esse riff, me arrepio quando ele chega, aos 2:30 de música, a um tipo de hesitação. Se repete aos 3:10, antes de um solo, que me dá vontade de acompanhar com um air guitar bem amador, que é o máximo que consigo fazer, no que diz respeito à música. Fim do solo acompanhando o riff com um dedilhar agudo. Entra aos 4:30 uma fase meio que romantizada da música que termina com um dedilhar solitário, logo depois acompanhado de violinos. De emocionar. Outro solo para acompanhar essa parte mais devagar da música. Esse um pouco mais leve. O dedilhar vira power chords fazendo o ritmo acelerar, de leve, e em harmonia com o dedilhar no fundo. Uma pausa. Voltamos ao riff com a única fala da música, citando o co-compositor da obra de arte, Cliff Burton (1962-86): "When a man lies, he murders some part of the world. These are the pale deaths which men miscall their lives. All this I cannot bear to witness any longer. Cannot the Kingdom of Salvation take me home?". Riff continua carregando a música, um pouco mais pesado. Chega ao fim voltando ao início. Violão anunciando "a pale death" de algum homem.

Para quem se interessou, aqui está a música, no youtube.

Essa Falta de Conformismo que me Faz, (In)felizmente, Pessimista Demais

Primeiro artigo, primeiro tiro no escuro. Quando me pediram para escrever sobre política aqui no “Mais do Mesmo”, pensei logo em escrever sobre a característica primordial do jovem: o inconformismo. Nada melhor do que escrever sobre a esperança que já fez nosso país sair da ditadura, da inflação, ou que acreditou que o Merthiolate (que não ardia) curava. O ponto não é dizer que o brasileiro é manipulável, ou, talvez, crédulo ao extremo, mas sim ressaltar a importância dessa esperança.

Conheço estudantes comunistas, trotskistas, maoístas, até seguidores do Inri Cristo, mas dentre eles há um sentimento em comum: a vontade de ver o Brasil ser um país justo, de qualidade de ensino invejável. O inconformismo do jovem, por toda a história, sempre vai, vagarosamente, desgastando, desgastando, ate extinguir-se por completo. Quem imaginaria que aquele médico, advogado, engenheiro, que hoje só lê Veja, que faz um ctrl+c ctrl+v mental das colunas, lia o Capital de Marx, colocava no último volume “O Vira” dos Secos e Molhados, e tinha até esses tempos o ingresso do primeiro Rock in Rio guardado em meio a certificados de cursos, álbum de formatura. Nós ficaremos assim, sem dúvida. O problema é que encontro cada dia mais colegas da minha idade já conformados com o quadro atual.

Hanna Arendt denominou esse fenômeno como banalização da violência. Porém, Arendt fez esse estudo baseado no massacre praticado pelos nazistas sobre os judeus durante a segunda guerra, como os soldados se acomodaram com a calamidade que ocorria, como a frivolidade tomara conta dos seus corações. Ela nunca pensou que isso poderia aplicar-se ao conformismo político que nós temos. Essa noção de incapacidade para tirar alguns gatunos engravatados que povoam a manchada figura do Senado brasileiro. Temos diferenças das gerações anteriores, a música era melhor, a comida mais saudável, o tempo passava mais devagar. Mas quando se trata do inconformismo, estamos falando da essência do espírito jovem, esse anseio de mudar o mundo.

Bato o pé, veementemente, e digo que é sim possível acabar com essa vergonha que vivemos hoje. Basta fazer durar essa esperança, ir contra a maré, todos os políticos que hoje roubam e denigrem a dignidade da nossa política já foram também idealistas, mas sempre desistiram de remar e foram levados pela corrente. É complicado toda vez que discutir política com alguém você levar uma risada na cara pois você acredita na mudança. Até Belchior, “apenas um rapaz latino americano”, não suportou a pressão da vida e fugiu. Mas eu ainda dou minha cara a tapa, mais um dia, mais do mesmo, mais um sorriso amarelo no rosto. Conformar-me, ainda não, ainda não.

"-... E o que fazemos agora? - Esperamos."

Inaugurando uma nova seção aqui do nosso Blog, vou indicar um livro que, apesar de sua rápida leitura, é de extrema profundidade.

"Esperando por Godot" - Samuel Beckett

"Esperando por Godot" ("En attendant Godot" / "Waiting for Godot") é uma peça escrita pelo irlandês Samuel Beckett no ano de 1948. Publicada primeiramente em francês (em 1952), Beckett se encarregou de traduzi-la para o inglês (1955). A peça mostra a espera de dois desocupados (quem sabe, mendigos) Vladimir e Estragon, por um tal de senhor Godot, na companhia de apenas uma árvore desfolhada num descampado enorme e vazio. Em dois atos que passam num átimo graças ao diálogo extremamente monossilábico entre "Didi" e "Gogô", o tempo que estes passam aguardando o terceiro parece despertar algo agonizante. Os dois atos se assemelham na estrutura, com a aparição no meio de cada um de Pozzo e Lucky, duas personagens excêntricas, e, no fim, com um garoto entrando em cena.

A extrema falta do que fazer enquanto aguardam por Godot faz com que Didi e Gogô experimentem diversos momentos únicos, sendo esses às vezes engraçados, cômicos ou até trágicos e tristes. Beckett toca sutilmente em diversos assuntos de profundidade filosófica ao mesmo tempo que faz as personagens sofrerem de um tédio que os leva a cogitar o enforcamento (que descartam, pois seria perigoso de só um dos dois conseguir levar a cabo o plano).

Vale bastante a pena a leitura. Para quem entende inglês, a peça está na internet: aqui, o primeiro ato e o segundo.

A Volta do Poder Moderador

Aproveitando o clima do feriado e seus recessos, venho aqui voltar a falar de Dom Pedro, mas dessa vez com outro enfoque. Quando falamos de independência, logo me vem à cabeça – depois do feriado, é claro – a imagem de D. Pedro I e, quando falamos nele, logo o assimilo ao Poder Moderador.

Pra quem não se lembra, Poder Moderador era o 4º poder, soberano sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, implantado pelo imperador por meio da constituição de 1824 para manter sua autocracia. Uma verdadeira afronta à obra de Montesquieu. Pra quem também não se lembra, a maior contribuição de Montesquieu para a ciência política foi justamente a criação dos 3 poderes: o Legislativo (que define as leis), o Judiciário (que julga utilizando as leis definidas) e o Executivo (que executa as leis definidas e administra o estado). Em tese, esses 3 poderes são independentes entre si, justamente para que haja imparcialidade e justiça em suas decisões. Mas na prática não é bem isso o que acontece, pelo menos, não no nosso país.

Vários mandatos presidenciais evidenciaram o uso – mesmo que tímido – de uma espécie de “poder moderador contemporâneo”. Gilmar Mendes, atual presidente do STF, foi escolhido pelo FHC. Joaquim Barbosa, ministro do STF que ficou famoso por bater boca – com razão! – com Gilmar, foi eleito por Lula. Isso, meus caros, é a subordinação do Judiciário pelo Executivo, inaceitável. Talvez esse outro exemplo evidencie mais esse absurdo. Esse ano, após uma sequência de escândalos, finalmente foram mandados para a avaliação do comitê de “ética” as acusações contra o presidente do Senado, José Sarney. Ele acabou sendo inocentado graças ao voto decisivo dos petistas do comitê que – a mando de Luís Inácio – inocentaram o senador do Amapá. Aloísio Mercadante – indignado com essa manipulação do “Companheiro” – anunciou sua saída irrevogável da liderança petista. Em menos de uma semana – após uma conversa com Lula – revogou sua decisão “irrevogável”, ou seja, subordinação do Legislativo pelo mesmo Executivo. É como se o Executivo mandasse e desmandasse nos outros dois poderes!

Isso talvez explique a nossa justiça burocrática e ineficiente, a falta de fiscalização entre os poderes, os casos chocantes de nepotismo e desvios de dinheiro – que ao menos agora vem à tona, antes nem isso! – ou o moto- perpétuo da corrupção que sustenta nossa política. Está tudo interligado, bem como não deve ser.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Prece de Independência:

(pouco importa se soar clichê)
Obrigado, Arquiteto do Universo.
Por ter nascido em um país
Onde posso falar, escrever,
Manifestsar minha indignação
Gritar por mudança.
Obrigado por nascer em um tempo
Que me possibilita:
Andar na rua com a cara descoberta
Que permita eu gritar por meu time de futebol
De ser impossível pisar em uma mina
Ainda manter minha esperança por mudança.
Obrigado senhor por pertencer a um povo:
Valente,
Que só tem pecha de vagabundo,
Que é solidário
Que é pacífico
Que ama sua pátria

Só lhe faço um pedido nessa prece, no meio de tantos agradecimentos:

Tente fazer com que todos que aqui vivem saibam disso...
Talvez assim, tudo seria diferente...

Na Prática, a Teoria É Outra

Esses dias eu tava ai, revendo uma aula de história do direito. Foi então que percebi uma coisa que não tinha notado em aula: a revelação que nosso professor fez e ninguém deu bola! Vejam só:
O despossuído tem somente o sonho irrealizável de ser proprietário. É essa a lógica que a burguesia vende: todos podem ser proprietários. Teoricamente, podem. Mas na prática, a teoria é outra: uns podem outros não podem.

O Iluminismo do século XVIII foi fundamental para consolidar essa lógica, principalmente com a racionalização do conhecimento. O uso da razão iluminista. Essa razão vai ser chamada, mais adiante, por filósofos da escola de Frankfurt, na Alemanha, de uma razão instrumental. Os Frankfurtianos tem sua escola surgindo no período entre guerras. Na Alemanha, esse é um período de crise: ela perde a I Guerra Mundial , Inglaterra e França impõe a ela um ressarcimento do prejuízo de guerra, a Alemanha é proibida de ter exército, perde a Alsacia-Lorena, e tem uma crise econômica como nunca antes vista. E é ai que se desenvolve o pensamento crítico. Isso que a Escola de Frankfurt vai fazer: a primeira reflexão importante filosófica do século XX, que critica a razão iluminista, chamando-a de razão instrumental. Instrumental para quê? Para o controle da natureza. Esse era o seu objetivo, dominar a natureza. Então é uma razão que é utilizada como instrumento de domínio.

E aí vem a reflexão que os Frankfurtianos fazem: o homem de fato está separado na natureza? Ou o homem faz parte do homem do mundo natural? Se ele pertence ao mundo natural e toda razão instrumental iluminista foi projetada para controle do mundo natural, qual é a conseqüência que essa racionalidade teve para o próprio homem? O controle do ser humano também. E aí vem as análises que Foucault faz sobre a sociedade disciplinar, esquadrinhamento, controle, disciplinalização, que vem dessa racionalidade. Por isso, os historiadores Frankfurtianos não são críticos da razão, e isso é importante hoje, porque é essa a idéia que se tem.

Os pós modernos são aqueles que não mais acreditam na razão. A razão já era, precisamos partir para outras formas de conhecimento do mundo: conhecimento sensível, outras formas de inteligência, inteligência emocional. Papo irracionalista, não acredito mais na razão. Os Frankfurtianos, no entanto, falam que o problema não foi a razão, mas sim essa razão que nós tivemos contato. É possível ser racional e emancipar, ser racional e tentar. A razão não é só um tipo de controle burguês. O que precisamos não é de uma razão que modele, mas sim aquela que emancipe; que não seja construída para a sociedade, e sim pela sociedade.

Música com um Toque de Ideais

A música é um assunto que sempre carrega nas costas algo muito além das harmonias, dos solos, dos refrões e das quebras de ritmo. Seja esse peso uma história de um país ou uma ficção científica, um monólogo choroso de um corno ou um protesto desvairado de uma adolescente, não podemos deixar de considerar essa carga emocional e cultural que anda ao lado da música ao escutá-la e apreciá-la. Afinal, desde que haja rimas e uma base musical podemos fazer uma ponte entre os incomunicáveis pensamentos e ideais que levamos conosco e o mundo e as pessoas para quais queremos nos fazer entender.

Agora, por motivo de falta de espaço e tempo, vou comentar apenas um tipo dessas influências que muitas canções trazem consigo: o protesto. Não o sem-noção de uma rebelde filha-de-papai sem mesada, mas sim aquele que sai às ruas, pára tanques de guerra e faz políticos tremerem (pelo menos, deveria fazer). Sejam elas faixas que mostram insatisfação com o estado (como no fim do Estado novo de Portugal e nos anos da ditadura por aqui) ou que simplesmente querem criticar o sistema, são músicas que cativam não apenas pelo apelo musical propriamente dito, mas também por suas letras provocantes, fortes e, algumas vezes, irreverentes.

Citemos alguns nomes: o de sempre, Raul Seixas ("Aluga-se", onde a solução é alugar o Brasil, e "nós não vamo pagar nada"); o tropicalismo de Caetano, Gil, Mutantes, entre outros daquela bela guarda; os Titãs e a Legião, já citados por Allan no seu artigo sobre nosso Rock (vide "Entre Guitarras e Pandeiros"); até mesmo artistas conteporâneos nossos como O Rappa, Planet Hemp, os inúmeros rappers de nosso país. Tudo isso pra citar poucos.

Também temos os gringos que protestam: direto da década de 70, os esquerdistas e minimalistas do Gang of Four surgiram com um dub-funk idealista que influenciou muitas bandas desde o pós-punk até hoje; uma destas influenciadas é o Rage Against the Machine, com suas nervosas e cheias de groove canções de protesto. System of a Down também se enquadra no quadro de músicos insatisfeitos. Bandas que vão de Metallica aos hippies Country Joe e Jimi Hendrix já se manifestaram através da arte contra as guerras.

Enfim, poderíamos passar o dia inteiro nomeando artistas e bandas que não se preocupam apenas em vender, fazer arranjos bonitos e aparecer no Faustão, mas que, aí sim, fazendo algo de valor, passam mensagens de peso para seus ouvintes. Só nos resta abrir os ouvidos e, quem sabe, nos mexer. Não, não só pra dançar.

Feliz Dia da... Independência?

Se alguém viu a nossa “independência” por aí, por favor, me avise. Isso se é que ela algum dia já tenha existido. Por exemplo: nosso "brado retumbante" de independência não foi dado pelo “povo heróico", mas sim pelo atual autocrata da nossa colônia. O nosso país é o único da América Latina inteira a ter sua independência proclamada pelo governante vigente. Uma verdadeira piada, mas se tratando de Brasil...

O pior é que não foi só isso. Aliás, bom se fosse só isso. Logo depois da “Independência” – e eu prefiro insistir com as aspas – foi atribuída a nós uma espécie de indenização sobre o que Portugal perderia com nossa exploração. Como se não tivessem bastado os 300 anos anteriores. Bom, depois de D. Pedro I declarar a infame, ele mesmo – mas que dúvida – assumiu o poder, mas, graças ao seu “pavio curto” e sua falta de jogo de cintura, acabou não aguentando a pressão e voltou para sua terra natal reivindicar o trono deixado por seu falecido pai. Em seu lugar, deixou seu filho D. Pedro II, que na época tinha apenas 5 anos! Após um governo conturbado e um xunxo tipicamente brasileiro chamado de “golpe da maioridade” finalmente o Pedrinho assumiu. E a liberdade e “independência” continuavam como a dama despudorada da tela de Delacroix e das musas do nosso romantismo; uma figura linda, idealizada e inalcançável. Isso sem contar a constante interferência da Inglaterra que não contente com a exploração econômica nos atiçou a declarar a desonesta guerra do Paraguai.

E veio a Velha “República” – com aspas também porque pra mim República significa Res Publica, ou seja, a coisa pública, e não a vergonha da nossa política do café-com-leite; não me culpem, não fui eu quem escreveu a história –, o golpe de estado de Getúlio, o Estado Novo, a Nova República, a Ditadura e por fim o nosso período atual. Nesses quase 200 anos pouca coisa mudou. Não somos mais explorados pelo Reino Unido, mas sim pelos EUA; o chic agora não é mais dizer bonjour, mas sim hello; quem manda no Brasil não são mais os cafeicultores, mas sim os grandes empresários e o Brasil não se chama mais império ou reinado, mas sim República Federativa.

E a “Independência”? Pois é, ainda estou procurando. Se não sofremos exploração política, sofremos exploração cultural e econômica. Pelo visto, o “Independência ou morte” da cena nas “margens plácidas” do rio Ipiranga está mais pra “Coincidência ou sorte” do que pra qualquer outra coisa.

domingo, 6 de setembro de 2009

Nem Sempre Mais do Mesmo

Nada melhor para o cara que jogou a idéia do blog no ar (sem pensar muito nas conseqüências) do que se apresentar num post com um título contraditório com o nome do próprio blog. Mas, nem se preocupem, não criarei polêmica acerca do nosso domínio na web.

Posso dizer, por já ter criado e mantido um blog solo por um tempo no passado, que a idéia de vários colaboradores é algo muito interessante (vide o primeiro post). Por isso digo que vale a pena acompanhar nosso posts, que vêm de pessoas extremamente profundas, sem serem maçantes.

Termino este dizendo que, mesmo o nome sendo "Sempre Mais do Mesmo", procuraremos fazer deste blog algo fora do comum. Afinal, sempre da mesma coisa acaba cansando.

Entre Guitarras e Pandeiros

Foi assim que se formou o nosso Rock Nacional. De um lado a influência das 6 cordas do Rock britânico-estadunidense com nomes como Led Zeppelin, Rolling Stones, Pink Floyd, Jimi Hendrix, Elvis – e toda sua geração Rockabilly –, Ramones, Sex Pistols, Clash, Joy Division, etc. Do outro, as nossas raízes no Samba, na Bossa Nova, na música Latina e no Reggae, além é claro do fato de ele ter tido seu auge na luta contra os militares, um período de efervescência cultural e esperança de um novo futuro após a ditadura.

Nossas influências são amplas bem como o nosso povo e nossas origens. Gosto de dizer que o nosso Rock tem cara de Brasil, justamente por não ter cara alguma. Tem a identidade de não ter identidade. Não ter só uma vertente, ter várias delas. Ele tem uma ginga única, um ritmo que só os brasileiros com seu “jeitinho” sabem fazer. Uma pegada punk-ska-reggae-blues que só se vê por aqui. Temos compositores geniais – e muitas vezes menosprezados por não fazerem MPB, Samba ou algo do gênero – como Renato Russo e Cazuza.

Aliás, as respectivas bandas desses dois integram o chamado “quadrado mágico” desse estilo. A Legião Urbana – dignos representantes da capital federal, faziam milagres com 3 acordes como um dos nossos grandes hinos (Que País É Este?) e um dos maiores, literalmente, épicos da nossa música (Faroeste Caboclo) –, O Barão Vermelho – filhos do Circo Voador Carioca e que mesmo depois de perder seu líder, Cazuza, mantiveram o nível com o Frejat assumindo os vocais –, Os Titãs – os “bichos escrotos” da capital paulista, letras de cunho político-social de alto nível graças à visão única do Arnaldo Antunes, riffs simples e genialmente esculpidos por Bellotto e Fromer, além do fato intrigante de não terem um vocalista, mas sim cinco; uma zona que só com eles funcinou – e Os Paralamas – talvez os mais dignos representantes de um rock verdadeiramente brasileiro com evidentes influências da música latina, como o uso de metais, e do Reggae com suas levadas de Ska.

E não para por aí! Essa é a nata, mas ainda temos a irreverência da Blitz, o sucesso do RPM, a sátira do Ultraje A Rigor, o Punk da Plebe Rude, além de alicereces como Mutantes e Raul Seixas que tornaram isso tudo possível. Pois é, o que não temos de políticos honestos, temos de músicos decentes. Até que pra quem não acredita em “Rock Nacional” estamos muito bem, não acham?

SP Photo Fest

São Paulo se prepara para receber fotógrafos de peso da cena nacional e internacional durante o SP Photo Fest, o 1º Festival Internacional de Fotografia da capital paulista. O evento, que rola do dia 10 a 13 de setembro, irá ocupar o MIS, Museu da Imagem e Som, com uma maratona de palestras, workshops e leituras de portfólio.

Participação especial de Scout Tufankjian, que fotografou e lançou um livro sobre a campanha "Yes we can" de Barack Obama. Alguns participantes terão a oportunidade de fazer um workshop com o artista.

As outras atrações são as palestras dos fotógrafos Eustáquio Neves (Via imaginária), Cristiano Mascaro ( documentario - Mascarianas), Amy Arbus (on the streets 1980 - 1990) , Antonin Kratochvil (uma aventura pelo mundo) e fechando a equipe Jay Colton (resultados SP Photo fest).

Acompanhe o evento pelo Twitter.

sábado, 5 de setembro de 2009

E Tudo Acabou em Pizza, Novamente

Pois é. Mais uma crise se passou. Vem governo, vai governo e impressionantemente as coisas não mudam. Sarney continua soberano como presidente do Senado, Lula continua com a sua figura e índices de aprovação inabaláveis, Mercadante continua – “irrevogavelmente” – na liderança petista, Collor e Renan Calheiros continuam a apoiar Sarney - se é que pode chamar isso de apoio -, Edmar Moreira – o deputado do castelo – continua vivendo que nem rei e o povo continua a pagar e a assistir os nossos “pizzaiolos” fazerem o que mais sabem: não fazer nada.

O brasileiro está começando a entrar – se é que já não entrou – em um estágio perigoso: o de anestesia. Não falta muito para o eleitor se dar por satisfeito com meia dúzia de projetos aprovados mesmo sabendo dos casos confirmados de corrupção. O famoso “Ele rouba, mas faz”. Cá entre nós, se rouba não deveria “fazer” nunca mais! Muito menos se forem políticas assistencialistas e obras públicas secundárias como é comum vermos por aí.

O nosso querido Brasil varonil precisa de uma reforma urgente, seja ela política, agrária, tributária ou cultural. O nosso país precisa ver mudança, precisa ver movimento, precisa abandonar essa inércia para poder decolar de vez. Mas enquanto isso não ocorre, garçom! Desce dois chopes e uma grande de mensalão sem dólar na cueca, por favor!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A Verdade Nua e Crua

Afinal, o que é certo? Se você tem uma resposta pronta pra essa pergunta é bom pensar um pouco mais sobre o assunto. Durante toda minha vida fui ensinado a falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade. Pena que na prática não seja bem assim.

Tente falar o que realmente pensa durante um dia inteiro e entenderá o que eu digo. Parece que a mentira, a hipocrisia, a falsidade são essenciais pro ser humano viver em sociedade e pra que esta funcione bem. Esses atributos aparentam ser muito mais intrínsecos ao homem do que a verdade. Me lembro do quadro “Super Sincero”, do Fantástico, com o ator Luis Fernando Guimarães onde essa necessidade da mentira ficava evidente, afinal o protagonista, que não mente, coleciona confusões e problemas graças à sua honestidade.

A verdade machuca, fere, revela e desperta. Talvez seja essa a razão da sua antipatia. As pessoas preferem se alienar em um mundo próprio a tentar entender os “comos” e “porquês” do mundo. Também, não é pra menos, as pessoas que tentam fazer isso normalmente são mais infelizes do que as que se fecham em uma bolha. Bom, (in)felizmente eu sou um sofredor nato.

Não me contento com o mundo ao meu redor e estou acostumado a nadar contra maré. Sempre preferi ser o errado, o esquerdo. Quem sabe no fim das contas não seja eu o certo dessa história.

Tempos Modernos

O tempo passa
Passa o tempo
Passageiro
Passatempo
O tempo muda
Corre o tempo
Contra a regra
Contratempo
Faz-se o tempo
Faz-se um muro
Tem passado
Tem futuro
Tem presente
Sempre sente
Passa o tempo
Só pra gente

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

É Sempre Mais do Mesmo...

“Ei, menino branco, o que é que você faz aqui...” E assim começa a música que acabou dando nome a esse blog. Da Legião urbana à nossa legião de autores, apesar de 20 anos, pouca coisa mudou. Os políticos continuam corruptos, o Brasil continua soberano no futebol, o Sol continua a raiar e o Rio de Janeiro continua lindo. As notícias são sempre as mesmas, os ídolos são sempre os mesmos, as opiniões são sempre as mesmas: É tudo sempre mais do mesmo. É justamente se opondo a isso que criamos esse blog. Opiniões diversas, comentários inovadores, notícias, poesias, dicas culturais, filosofias cotidianas. Tudo isso regado a muita criatividade e bom humor. Essa é a nossa proposta. Divirtam-se. ;)