segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sangue Não se Lava com Sangue

Assistindo, há uma semana, uma palestra sobre Klaus Barbie, último general nazista preso e condenado, apresentada por meus colegas de sala, comecei a refletir sobre todas as conseqüências que a Segunda Guerra trouxe para todo o mundo. O holocausto trouxe à prova a importância da democracia em uma sociedade.

A Ditadura Hitleriana despertou monstros inibidos na mente de muitos alemães nazistas. Monstros que jazem em todos nós, porém não são despertados, pois temos como freio uma educação, uma legislação, uma humanidade. Porém, quando o Estado é permissivo a tudo isso, não só permissivo, mas apoiador, instigador de uma teoria de “raça superior”, perde-se o parâmetro de certo ou errado que há em nós. É a famosa “banalização do mal”. Durante essa apresentação sobre Klaus Barbie, um colega meu abordou o julgamento, chamou- me atenção o argumento do advogado do réu. O advogado de Barbie, Jacques Vergés, declarou na defesa um fato que é omitido por todo o mundo: a consciência limpa daqueles que acusaram os nazistas.

É inegável a falta de humanidade que houve durante a Segunda Guerra, mas o que aconteceu logo depois? O que foi a bomba atômica em Hiroshima, o massacre praticado pela França (país em que Klaus Barbie foi julgado) contra os Argelinos que lutavam pela independência, o também massacre praticado pelos Israelenses contra o Egito e os palestinos? Barbie teve um argumento que pode servir de defesa a tudo isso: “Admito tudo que fiz, mas fiz tudo isso durante a Guerra, e a Guerra acabou”. Mas por que então somente Barbie recebeu prisão perpétua? Que pena teve Paul Tibbets (comandante do avião que jogou a bomba atômica em Hiroshima), Ariel Sharon (ex- primeiro-ministro israelense que permitiu um massacre aos libaneses)? Onde fica a permissividade das nações do mundo ao assistir de camarote os conflitos na África, fruto de uma colonização mal pensada e com intuito único de exploração, desprezando as rixas entre as tribos que lá existiam?

Na entrevista de Mahmud Ahmadinejad, presidente do Irã, à Globo News concedida em sua visita ao Brasil, ele foi indagado sobre as afirmações à respeito da não-existência do Holocausto. Ahmadinejad disse o que busquei enfatizar nesse texto, não é que não existiu o Holocausto, é que não se aprendeu, com toda a brutalidade que foi, a valorizar a vida humana. Porém, que credibilidade tem um chefe de estado que lança mísseis caseiros e financia organizações terroristas pelo mundo inteiro?

Minha esperança continua na educação, com uma globalização positiva, a globalização dos direitos humanos devidamente aplicados, da punição justa e universal, do respeito às culturas, do reconhecimento da importância da democracia e seu desenvolvimento. Uma democracia que protege as minorias e impulsiona seu povo a ter consciência, voz ativa e fé no voto. O Brasil, no linguajar popular, capenga, mas acredito que caminha para isso.

2 comentários:

  1. Pois é, essa é a justiça para todos que temos hoje. Não me venham com essa de equidade desigual de Aristóteles, porque acredito que mesmo em filosofia não podemos cometer anacronismos: a teoria de hoje serve pra hoje. Óbvio que as anteriores contribuiram e muito, mas não vejo ablicabilidade em resoluções antigas ao mundo atual. Realmente, precisamos de democracia, precisamos de direitos humanos mais sólidos. Não concordo, no entanto, impor um padrão UNIVERSAL de direito, de penalidade. Se devemos respeitar as culturas, devemos também respeitar seus direitos, desde que não tão absurdos como a República de Weimar.
    Hoje há uma forte tendência nesse sentido: supranacionalidade. Juntamente com ela, vem a noção de normas e tribunais supranacionais. Desde que respeitadas as particularidades de cada país, um tribunal desses, que aplicasse uma noção geral e ao mesmo tempo concreta de direitos humanos, para que uma democracia efetiva fosse praticável seria muito bem vindo.

    Sobre o holocausto e outras atrocidades, não estávamos lá para poder falar hoje em dia, por isso a pitada de ignorância que temos é inevitável. Mas a impunidade e a falta de justiça é inaceitável. Mesmo que ausentes, devemos nos fazer presentes ao não esquecer esses acontecimentos nefastos e aprendermos com eles, repararmos seus danos. Calar-se frente a tamanha falta é consentir com os erros cometidos. O duro é saber como meter o bedelho aonde não somos autoridades. Daí a dificuldade de chegar em um acordo após tanto tempo...

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  2. Sobre o começo do comentário da Mínia, concordo em "gênero, número e degrau". Dizer que teorias antigas são imunes a desatualizações é absurdo. Vemos que o que é criado hoje é criado hoje justamente por ser mais adequado a nossa realidade.

    Teorias de administração, por exemplo, se sobrepõe às antigas, por serem criadas sob medida para as empresas em questão. Mas é claro que teorias antigas tem sua validade para quem tem uma realidade parecida com a daqueles tempos.

    E mesmo não sendo um estudante de direito, posso garantir que uma universalidade de direito, de penalidade, é impraticável (obviamente). Além dos problemas de culturas conflitantes temos os agravantes e atenuantes (bonito, né?) de cada caso que devem ser levados em consideração num julgamento justo.

    Paro por aqui minhas divagações jurídicas, por não ser meu campo.

    Ps.: foi mal o recomentário!

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