terça-feira, 10 de novembro de 2009

Cabra da Peste

Ao ouvir de um colega meu da faculdade que eu "queria ser nordestino", tive a oportunidade de refletir sobre essa minha atração aparente pelo povo da região pioneira da colonização de nosso país. Acabei por concluir que deveríamos valorizar e entender mais ainda daquela área. Por partes.

Meu amigo fez essa ressalva ao me ouvir cantando Chico Science e a Nação Zumbi com o sotaque próprio deles, o recifense. Por ser atraído pelas artes cênicas (porém, sem muito talento, confesso), tento sempre ser fiel ao original e imitar de maneira sempre coerente. Daí a minha "vontade de ser nordestino", segundo João, meu colega. Acontece que fui atraído pela música da banda, principalmente, pela mistura entre a percussão marcante do Maracatu (tenho enorme afinidade por percussão, em geral, mas falo sobre isso outra hora) e o som de guitarras ora distorcidas ora carregadas de peso. Também grandes expositores de uma parte intrigante do nordeste eram os Raimundos em início de carreira. Músicas, às vezes besteirentas, outras vezes exageradas, conseguiam explicitar situações tipicamente nordestinas (também com sotaques).

Outro aspecto meu que me fez atraído pela região nordeste brasileira foi o meu contato extremamente impactante com a obra de João Guimarães Rosa "Grande Sertão: Veredas". Confesso que não tenho a envergadura moral necessária para absorver satisfatoriamente o romance (detalhe: ninguém tem), porém, tenho a convicção, adquirida empiricamente, de que esse livro é, e, com certeza, será por muito tempo o mais grandioso romance de nossa literatura tupiniquim. Ao o ler, fui transportado para o universo sertanejo do norte de Minas (ah, não é no nordeste, mas é um expoente, também, do interior do nordeste) e me senti parte das andanças de jagunços e capatazes pelos matos e semi-desertos de nosso país. Daí vem muito de meu conhecimento sobre o sertão e a personalidade do sertanejo, simples, mas, indiscutivelmente, universal e o mais humano possível.

Era de se esperar que eu demonstrasse, nem que seja um pouco, de afeição pela região nordestina e pelo povo de lá proveniente, seja ele um músico e compositor genial (que visava se organizar para desorganizar) ou um autor de incomparável talento narrativo (que, como pouquíssimos, conseguiu expor a natureza humana e seus sentimentos mais primordiais). Só me falta correr atrás de mais exemplos da magnífica cultura nacional que germina duma das áreas mais brasileiras e não-globalizadas (no sentido de ter uma identidade ainda bem preservada e intocada) de nosso Brasil velho de guerra. Realmente, o nordeste É o Brasil.

11 comentários:

  1. Definitivamente o Nordeste É o Brasil... haha É por isso que eu fico puto quando vem neguinho dizer "O Sul é o meu país"... É muita burrice... Se de São Paulo pra baixo ficassemos independentes qual seria a nossa cultura? Quem consefue me dizer na lata 10 escritores ou 10 compositores, músicos aqui do Sul? Ninguém! Agora dá pra citar 20 Nordestinos sem nem usar muito a memória... Um brinde ao Nordeste!

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  2. Opa, peraí, são coisas diferentes, a graça do nosso país está na heterogeneidade da cultura...
    A cultura jurídica sai praticamente só daqui do sul, os tribunais no RS são exemplos de atitude de humanização das leis...
    O que é o Vanerão, o baile dos alemães, o Fandango...
    Pegou bem pesado no comentário, Allan, não curti...

    Tá aqui a lista:

    Veríssimos
    Cristóvão Tezza
    Domingos Paschoal Cegalla
    Caco Barcellos (colocar um mais na mídia)
    Lya Luft
    Hipólito da Costa
    Raul Bopp
    Fábio Campana
    Dalton Trevisan


    Beto Guedes
    Chitãozinho e Xororó
    Os Serranos
    Namasté
    Kleiton e Kledir (Competiram no Festival Brasileiro)
    Gilberto e Gilmar
    Dazaranha
    ...
    Sem contar os de música erudita, que basta perguntar para a pessoa que conheça o mínimo sobre isso, que os paranaenses, catarinenses e rio-grandenses tem grande destaque no cenário mundial.
    É claro que há os graaandes nomes, como Chico, Gilberto, Caetano, Titãs, mas veja, são 3 contra todos os outros estados...

    A razão de só vermos de São Paulo pra cima é justamente por influência da mídia, que, querendo ou não, a atenção para lá é enorme. O que eles (acham que) sabem de Curitiba é que curitibano é antipático, Catarina fala arrastado e Gaúcho é viado. Conhecemos muito menos a cultura daqui não por falta de qualidade, mas de oportunidade, de ligar a TV, de ler revistas ao invés de catar o carro e ir conhecer.

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  3. Epa, epa. Nem me venha com "cultura jurídica" que Direito não tem nada de cultural não... Quando eu falo de Cultura eu falo de Folclore, de música, de artes plásticas TIPICAMENTE nacionais. A cultura aqui do sul se confunde, e muito, com a argentina, uruguaia e paraguaia. Não condeno, mas não chamo de brasileira também!

    Ah, Pedro, não seja cínico de querer comparar Dazaranha e Xitãozinho e Xororó com Gibelrto Gil, Caetano, Raul Seixas, etc. É desonesta a comparação. O Sertão produziu Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto. Gosto de muitos autores que você citou - apesar de não considerar o Caco Barcellos um escritor - mas não dá pra comparar com os nordestinos. Pô, nem pra falar Leminski e Alice Ruiz, os maiores poetas paranaenses! Ou o Poty, um símbolo das artes plásticas nacionais...

    A cultura brasileira tem alguns polos: a nordestina, a mineira, a tropeira, a amazonense... Como diria o recém-finado Lévi-Strauss, não se pode comparar ou hierarquizar culturas. Cada uma tem sua peculiaridade, a questão que a nordestina é extremamente rica.

    E obviamente que eu fui um pouco exagerado e enfático no post, mas você me conhece...

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  4. Eu n vou comparar, mas digo q são diferentes, pioneiros no q fazem, são músicas diferentes...
    Eu não citei esses pq vc colocou "escritores e músicos", a Alice Ruiz, mas conheço pouco...

    E cultura jurídica, vc vai aprender, tem sim muita conexão com arte, cultura de música, pô, é vc associar uma lei à uma interpretação moderna, avaliar com um contexto social, vc fazer uma leitura da real situação das ruas, das vidas, dos conflitos sociais e trazer para uma interpretação jurídica...A música capta da realidade, também...

    Uma música sem sal e sem açúcar é comparável à tratar de um caso da lei sem ver a função social dela. Isso é hermenêutica jurídica, n podia deixar de citar isso como característica do sul...

    Cara, gosto é gosto, uns fazem sucesso nas letras, outros na voz, vamos fazer um falcete igual do Xororó...vc considera mais uns do que outros...vale o gosto...agora para finalizar, repito um pedaço do último comentário:

    "É claro que há os graaandes nomes, como Chico, Gilberto, Caetano, Titãs, mas veja, são 3 contra todos os outros estados..."

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  5. Você sabe de que tipo de "cultura" eu tô falando. Se for assim, então o mato grosso tem a melhor agriCULTURA do país...

    E longe de mim desmerecer o Paraná, minha terra, mas existem vários aspectos em que eles se sobresaem, a questão é que a cultura nordestina, a música, a culinária, a literatura, o frevo, o cordel, o artesanato, dão um banho na gente.

    E não é bem questão de gosto não, é de qualidade. Ramones é uma bosta mas eu gosto, por exemplo. Chitãozinho & Xororó não tem uma grande qualidade musical nem poética, o que não quer dizer que a música sertaneja - a de verdade, do sertão, que no caso é nordestino, não esse tal de "sertanejo universitário" - seja ruim. Sobre alcançar os agudos do Xitãozinho, eu não consigo, mas eu não sou músico...

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  6. Cara, nâo pode dar um pau pq sâo coisas diferentes, meu Deus...
    Todos esses que citei foram pioneiros no seu próprio estilo musical...
    Até mesmo o Xororó, foi pioneiro no sertanejo, e a qualidade musical dele é boa sim...
    Acabamos conhecendo mais da cultura deles do que a nossa pois temos maior acesso à cultura nordestina... Outra coisa que peço tb para ter cuidado é a questão da cultura homogênea do nosso sul, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai. Todos, menos esse último, sempre estiveram juntos, tanto fisicamente quanto na época das colonizações e migrações européias e das missões jesuíticas, separaram-se só, fisicamente, pelo Uti Possidetis do Alexandre Gusmão...taí a justificativa de uma cultura próxima...
    Não é no Uruguai que nasceu Carlos Gardel, e na Argentina que ele consagrou o tango, tudo isso resultado de uma cultura mista que também está aqui na parte sul da América do Sul. O problema foi o enfoque, o costume, o acesso de cada nação para um estilo musical, para um costume próprio, seja lá o que for. O tango é bandeiraa argentina, o samba brasileira.
    Eu cresci ouvindo, graças a Deus, um pouco de tudo e meu pai sempre dissse: É mais fácil gostar de música do nordeste, do q do Sul pq está toda hora na mídia, mesmo se n gostar, vc acaba se acostumando... Ainda bem que gostei, não precisei me acostumar...
    Essa percepção de achar uma melhor que a outra é pelo enfoque pela oportunidade de aprofundar-se nessa cultura. Você tem pouca oportunidade para estudar a história daqui, pq toda nossa história vem de lá do Nordeste até parar no sudeste, no máximo tem a Guerra do Paraguai, a independência de Cisplatina.
    Mas Allan, falando apenas de Brasil, desenvolveu-se mais a cultura lá, foi trabalhada e incentivada pelo povo brasileiro, foi um apoio mútuo, todas as regiões. Nossa grade curricular, nossos canais de tv, tudo isso contribui...
    É aquela história de, se algo é bom, vc se apaixona cada vez mais qnto mais a conhece...
    Eu acho que tive mais acesso à cultura do sul q vc, sempre ia nos fins de semana num churrasco com acordeon e viola, vesti 7 léguas e pisei em bosta d vaca...talvez por isso, por ter experimentado um pouco mais, valorizo mais a cultura do sul...e reconheço q ela n eh mais nem menos, ela é diferente.

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  7. Pedro, não tô dizendo que a cultura nordestina é "melhor" que a do Sul, disse que ela é mais rica, e isso você não me convence que é. E eu também não condeno essa homogeneidade do cone sul da américa, mas isso não muda o fato de a nossa cultura, aqui do sul, não ser cultura brasileira! A nordestina não, ela é toda brasileira, entende? Toda a mistura indígena e negra típica do Brasil tá lá...

    E eu fiz esse post todo exagerado porque fico indgnado com quem diz que "o Sul não precisa do Nordeste, nordestino é vagabundo, etc.", e não não pra desmerecer a nossa cultura local.

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  8. Quer uma coisa mais nacional do que o direito? Quem disse que ele não é cultura? Seria extremamente autoritário pensar que o direito é algo universal e atemporal, ao invés de algo emanado da sociedade e inserido em um contexto histórico? E sobre o nordeste, acredito que eles tem a pureza da ignorância construtiva, de não possuírem um olhar manchado por influências estrangeiras, mas quem disse que essas influências não são igualmente construtivas? O multiculturalismo catarinense, por exemplo, é sublime. Cada região, ou até mesmo estado, possui sua particularidade e isso é unicamente brasileiro. Durante o período colonial, a administração foi tão estratificada em camadas pequenas que fez com que surgisse e fosse mantida uma cultura MULTIFACIADA. Acho que o Jamil só quis elogiar o nordestino e sua pureza, internalismo. Mas duvido que Guimarães Rosa, por exemplo, não fez uso da literatura estrangeira pra construir um arcabouço cultural necessário para escrever livros daquele porte. Particularmente, acredito que nós, ao sermos inseridos em um mesmo contexto, somos submetidos a uma mesma influencia. No entanto, estereótipos como CULTURA NORDESTINA, CULTURA PARANAENSE não cabem aqui senão para fins práticos e didáticos. Ninguém se enquadra perfeitamente em categorias, o que existe são particularidades juntamente com signos compartilhados ! Sendo assim, acho que se torna INCOMPARÁVEL o nordeste e suas particularidades com as demais regiões e suas particularidades também. NÃO EXISTE CULTURA BRASILEIRA. O que existe é um amontoado de gente que contribuiu de sua maneira para o acréscimo cultural de cada um. Não podemos falar de homogeneidade, como o Pedro já afirmou, mas também não podemos comparar banana com laranja.
    Allan, entendi seu ponto, e concordo, realmente, quem fala que o Sul devia ser outro país está sendo presunçoso ao extremo. Contudo, atenhamo-nos a essencia do post do camarada jamil (HAHAHAH SEMPRE QUIS CHAMAR ALGUEM ASSIM): enaltecer um sem desmerecer outro.

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  9. Pessoal se matando, mas, pelo menos, chegamos àlgum lugar!
    Só quero acrescentar duas coisinhas: primeiro que sim, o Rosa usou muitos estrangeirismos nas suas obras, até porque ele falava uma dúzia de línguas. E ele fez tudo isso meio que criando uma nova língua e uma nova cultura.
    Segundo que eu, como o Pedro, tenho muito daqui do nosso sul. Ora, minha família materna é das mais gaúchas que conheço. Que coisa linda é ouvir meu tio Alceu entoando as canções de Passo Fundo, de Pelotas, os hinos das cidades gaúchas. Que beleza é aquele churrasquinho precedido e terminado com aquele chimarrão.
    Acho que é isso! Viva todos nós, sem comparação, Esse negócio de pôr um do lado do outro e escolher um deles é baboseira da nossa cabeça.

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  10. Pessoal, uma coisa é dizer que uma cultura é melhor que a outra, outra coisa beeem diferente é dizer que uma cultura é mais rica que outra.

    É como sistema político. Imaginem uma aldeia, organização política bem simples. Agora olhem pra gente? Prefeitura, assembleia, governo estadual, congresso, senado, presidente, muito mais complexa do que a daquela aldeia. É nesse sentido que eu digo que a nordestina é mais rica que a nossa, mas isso não é julgamento de valor.

    Outra coisa é que eu disse que a cultura nordestina é INTEIRAMENTE brasileira, e que resume tudo o que lembra Brasil, o que não quer dizer que seja uma "cultura nacional". Como disse, a cultura aqui do Sul se funde muito com a do cone sul latino, o que não é um problema também...

    E por fim, "o nordeste É o Brasil" é uma metonímia, uma figura de linguagem, exagerada por final. É quase que uma intertextualidade com "O sertão é o mundo", do próprio Guimarães.

    Gosto da nossa cultura como ela é, sem cara e sem cor, de várias caras e de várias cores, aliás, já comentei sobre isso num dos meus posts. Só não gosto do desrespeito por parte de alguns imbecis para com os nordetinos, minha intenção foi dar apoio ao post do Jamil, e não repudiar todas as outras, não é tão difícil de entender...

    Mas prometo não comentar mais aqui, nesse post...

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  11. 10 comentários e ainda não há consenso, acho q o critério "rica" ou nâo, sustentando meu último comentário, atribui-se ao contato e à experiência com a cultura.
    O Allan é suspeito para falar da cultura nordestina, leu quantos e quantos livros dela, comparados ao número de livros do sul, pouquíssimos.
    Peço que seja considerada todo uma educação voltada para a cultura do sudeste e nordeste, pois isso que traz um ledo engano de serem culturas que disenvolveram-se um pouco mais. Aliás, o q eh esse conceito d cultura mais desenvolvida? N entendi, apesar de citar.
    a segurança de um argumento parte do quanto conhecemos ele, comparar duas coisas que nâo conhecemos tão bem é caminhar no escuro, é generalização apressada...

    Também é meu último comentário sobre isso...

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