quarta-feira, 31 de março de 2010

O CNJ, as Pilantragens e o que É Certo

Conselho Nacional de Justiça, está ai o órgão que se tornou um Ministério Público quanto a atribuição de fiscalizar outros órgãos. Porém, o CNJ possui um papel bem mais específico, apreciar o judiciário brasileiro que, como os dois outros poderes da federação, passa por problemas de corrupção e abusos de poder.

As sanções ainda não são as que o povo deseja ver, juiz que contraria a lei não é exonerado do cargo, é aposentado compulsoriamente, ou seja, ainda terá seus 15 mil reais mensais, faça chuva faça sol.

A função do CNJ não é reformar decisões judiciais, é ver se os que decidem ou fiscalizam cumprem com suas obrigações. Como foi o caso dos presídios do Espírito Santo. Os presídios estavam lotados e “provisoriamente” resolveram colocar os presidiários em Containers. Mas o provisoriamente durou 10 anos e as condições eram deploráveis. Um em cima do outro e sem banheiro ou ventilação, os Containers abrigavam tanto homens, quanto mulheres e menores. Ou também quanto à questão dos salários de 40 mil reais a escrivão no Paraná, das vendas de sentença, tudo isso é apreciado pelo CNJ.

O interessante é quem são seus membros: um ministro do STF, um do STJ, um do TST, um desembargador do TJ, um juiz estadual indicado pelo STF, um juiz federal indicado pelo STJ... (e por aí vai, para saber todos os membros, 15 no total, ver o art. 103-B da Constituição). Interessante, pois são membros de diversas áreas do Judiciário, além de dois advogados indicados pela OAB, dois membros do Ministério Público e dois cidadãos quaisquer indicados um pela Câmara dos deputados e outro pelo Senado. Muito difícil, logo, a corruptibilidade de um grupo tão heterogêneo.

Esse órgão é recente, pois é fruto de uma emenda constitucional (adição, subtração, alteração no texto, aprovada pelo Congresso Nacional) de 2004. Demorou um pouco, mas já está presente no cenário nacional.

Acredito que essa informação não é importante só para os alunos das faculdades de Direito que lêem nosso blog, mas para que todos saibam que o país não é só feito de gente satisfeita com as injustiças. São os pequenos focos de esperança, porém de alerta, como o Ministério Público que concentra um poder muito grande nas mãos: investigar e acusar quase tudo e todos. Porém, por enquanto, é um ótimo instrumento para tirar do poder aqueles Coronéis Togados, os famosos “doutô” do interior que se esquecem que justiça não é só fazer valer a lei do Código, mas a consideração do Brasil como um país desigual e débil para com seu povo.

terça-feira, 30 de março de 2010

Daime Paciência

Sim, eu li a Veja. Mas como já diz a sabedoria popular: mantenha seus amigos perto e os seus inimigos mais perto ainda. Tinha até esquecido como a Veja anda ruim, além de muita propaganda, as matérias que eram pra ser informativas acabam saindo uma coluna de opinião. O texto foi escrito por três autores, mas contarei o milagre sem dar nome as bois. Penso que nunca li um texto mais parcial do que esse. Acho que os caras sairam da edição achando que tavam abalando.

Sabe aquele tipo de advogado merreca que apela para o emocional, para o lado pessoal, ao invés de se ater aos fatos? Uma coisa meio Márcia e Ratinho? Mais ou menos assim. A baixaria dá audiência,e a imprensa já aprendeu com isso há muito tempo. Olhem o exemplo d'A Tribuna Não acho que a revista deveria se adequar ao leitor, mas sim o leitor à revista. É óbvio que isso não acontece, fazendo dos programas de televisão e das revistas, verdadeiros prostituintes, atados fortemente a opinião de seu público alvo. Há séculos que essa prática já existe, mas em esferas diferentes: eram os chamados mercenários. É claro que não podemos ser ingênuos e pensarmos que todos tem ideais fixos, não fazendo o que fazem porque gostam e não porque são bem pagos.

A imprensa precisa ser crítica, mas sem ser passional como os três autores Vejanistas (pois eles achavam que estavam fofocando no calçadão). Assim, voltamos para a estaca zero: como podemos nos informar sem sermos afetados pela impacialidade dos meios? Aí é que tá, não existe neutralidade. Todo mundo é parcial, todo mundo é direcionado pela lógica em que está inserido, querendo ou não. O legal é ser menos parcial possível, buscando fazer o seu ouvinte ou leitor entender a mensagem, mostrando os dois lados da moeda. Uma tese bem fundamentada é aquela que não desvanece em meios adversos, mas sim convence ainda mais, humilha o lado oposto. Mas aí é que tá de novo, nunca vejo uma revista/jornal/livro fazer isso. Nós precisamos fazer isso por nós mesmos, lendo o máximo de jornais e revistas, tendo o maior contato possível com o conhecimento, para podermos desenvolver uma tese bem fundada, com os prós, contras e tudo mais. E aí que chega a preguiça, a falta de empenho ou até de tempo. No final das contas, são poucos aqueles que conseguem ter um olhar crítico sobre as coisas, porque só consegue formar uma opinião bem fundamentada aquele que vê cara e coroa.

domingo, 28 de março de 2010

O que uma Louis Vuitton Tem a Ver com a Igreja Medieval:

Post embasado numa aula de Artes do Direito com o professor José Garcez Ghirardi.

Qual o verdadeiro valor de uma bolsa Louis Vuitton? O custo de produção, o material, etc. Não chega, certamente, a 10% do valor que é vendida. Mas, senhores, por que vende tanto? Por que aquilo é um objeto que causa um desejo e identificação profunda.
Não é a Louis Vuitton que força as pessoas comprarem, são as pessoas que encontraram, naquele objeto, algo de diferenciação social e pagam um valor maior do que ela realmente é.

A Igreja simbolizava uma crença, num ponto inicial, as pessoas encontravam um valor nela. Tinha padre safado, tinha, tem bolsa falsa, tem. Mas o valor é verdadeiro, a essência. Tudo aquilo trazia explicações, era a Ordem que fazia o mundo ter sentido.

A Igreja logo deteve poder abosluto, tornou-se autoritária pois acabaram com suas mordomias, passou a época, seus abusos tornaram mais relevantes que sua identificação à figura Divina. A tradução da Bíblia selou o rompimento desse antigo prevalecimento. Assim, acabou-se aquele valor para muitos, cansados dos abusos, das hipocrisias. Mas que a Igreja mexeu com a cabeça do indivíduo, deu umstatus social para aqueles que contribuíam, sem dúvida.

A chave para cada símbolo que o ser humano identifica-se está no valor que a mente de todos atribuem. Hoje, uma bolsa Louis Vuitton, uma Ferrari, um Rolex, uma caneta Mont Blanc, tudo isso significa um símbolo de poder. Não é pela objeto, mas pelo algo a mais. Na era Medieval, não era ir à missa, pagar o dízimo, não era o documento de entrada ao céu, as indulgências. Era algo a mais, era o que estava na mente de cada um. Nossa mente, mesmo sendo abstrata impactua em coisas concretas da realidade. É o poder da mente nos pedaços de papel, aço, couro, e por aí vai...

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Faço Aliança Até Com o Diabo"

Essa frase, que foi dita por Requião num vídeo usado por Osmar Dias na última eleição para governador, está neste título para iniciar uma pergunta que consigo responder olhando somente o Paraná: Por que no Brasil não há uma identificação e um orgulho partidário? Pois os partidos preferem distorcer suas ideologias para se aliar com os partidos maiores e assim, ter um, dois, cinco cargos no governo.

É a prostituição partidária que se vê ao ter chapas como a possível para o governo do Paraná: Osmar Dias (PDT) e Gleisi Hoffmann (PT). Como disse no post “Os não tão mais de esquerda”, o fervor ideológico vai passando com os anos, porém, como o passado de Osmar (defensor das grandes propriedades rurais, atrelamento ao PSDB que tinha até pouco tempo) e o cerne ideológico do PT. É por isso que digo que o PT do Paraná seria um partido que muito pouco além do nome tem como PT nacional.

Essa falta de firmamento ideológico e de alianças que faz o PT ser tão fraco em comparação aos outros PTs estaduais. O PT nunca ganhou uma eleição no governo do Paraná, nem em Curitiba. Qual foi a figura que levou esse partido a diante no Paraná? Vanhoni perdeu duas vezes para Cássio Taniguchi e uma para Beto Richa. Gleisi não vencerá para senadora, senão sair para vice de Osmar, não conseguiu nem um segundo turno na prefeitura de Curitiba.

Agora, qual a principal a razão para essa falta de líder? É a falta de honra ao plano de governo do partido que, por alguns cargos, macula a fé dos eleitores que são fiéis. O PT torna-se coadjuvante do cenário político quando era para ser, junto com PSDB e PMDB, um dos grandes pólos ideológicos (se bem que perco tempo ao acreditar que os planos de governo são muito diferentes). A vontade principal nos partidos não é mudar o governo, é usufruir do governo, acumular cargos, mamar. É a política que, infelizmente, é mais interesse particular do que público.

Queria saber, por parte dos leitores do blog dos outros estados, se aí é tudo igual? Mesmo morando em São Paulo, vejo que, no fim das contas, político é tudo farinha do mesmo saco. Quem não venderia sua crença por um cargo público? Nós não, eles sim.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Evadindo-se e Recorrendo

Estonteado por pensamentos e cafeína, tropecei na rua e acabei sentado num banco de praça. Ainda com a cabeça girando, resolvi me organizar, desorganizando o resto, como pregava o sábio Francisco de Assis França.

Primeiramente, olhei nas janelas/olhos do edifício de business do outro lado da praça. Encarei obstinado sua imponência, sua força, sua "gigrandeza". Briguei com suas complicações, sua fundação, sua burocracia. Com certa facilidade, vi-o implodindo-se na minha frente. Assim, consegui, como dizia o mesmo Chico Science, ver o céu atrás do arranha-céu, e, depois desse, ainda outro céu, sem estrelas.

Em seguida, desafiei os passantes. Por estar numa praça central, eram muitos os pequenos mundos que me provocavam. Mesmo assim, fui às armas contra cada um dos olhos, sonhos, convicções e crenças, medos e pesadelos. Suei para fazê-los caírem, cansei após derrubá-los das suas certezas e da sua própria existência. Joguei-os para o nada, abismo abaixo.

O maior desafio veio em seguida. A pequena queda d'água, o laguinho que ela forma, as árvores que envolvem toda a praça com seus braços marrons-esverdeados. Tudo isso, com sua naturalidade, sua fluência, sua absolutidão, caçoava de mim. Não me intimidei e fui além da garoa fina que me resfriava a careca, dos pássaros se banhando no lago, das folhas mortas que caíam sobre mim. Com força descomunal, empurrei-os para a escuridão, para a indecifrável incerteza.

Com o suor pingando, figurativamente, relaxei os ombros no banco que me abundava. Porém, logo vi que, na sala/vácuo que me encontrava, havia um elefante: eu. Por isso, por mais confortável que o vazio me fosse, ainda aqueles escombros zoneados deixados de lado tinham algo em comum, uma ligação comigo. O branco da matrix era lindo, aconchegante, e a escória que restava do nosso mundo era, apesar de dolorida e feia, amigável.

Por fim, ouvi as badaladas da igreja ao longe e senti o chamado intrínseco dos escombros. Tinha compromissos com alguns edifícios demolidos.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Tudo Começou Com Uma Mordidinha...

Ser humilde não é fácil, todo mundo sabe. Mas a humildade não brota só da falta de ações narcisistas e manifestações egoístas. Na verdade, pode ser algo muito mais abrangente. Estou falando de não dizer: "vou ficar em casa porque essa aula de biologia é fácil, já sei tudo" ou "fiz meu TCC (trabalho de conclusão de curso) sobre esse tema, por que cargas d'água eu iria àquela palestra?!" e principalmente " ele tem menos da metade da minha idade, o que esse pirralho sabe que eu não sei?".Ser humilde é ouvir o mais ignorante no assunto e admitir que alguma coisinha que ele falou voce não sabia, e não sabia porque o conhecimento nunca é absorvido da mesma forma e, consequentemente, não construído da mesma forma por todos.

Além disso, humildade implica naquela visão anterior a lógica moderna utilitarista. Sim, Direito Romano não é mais aplicado hoje em dia, mas ele tem importância, nem que seja a de ocupar um pedaço da sua memória e contribuir para que o seu raciocínio se torne mais elaborado e sua mente mais cultivada. A mesma coisa pra matemática, química orgânica, os macetes pra passar daquela maldita fase da estrela do Mário World, filosofia...

E claro, o conhecimento nunca basta em si. Não conheço uma matéria que não necessite de outra. Nosso universo em si já é multidisciplinar, veja só, a astrologia precisa da física, e a física da matemática, e a matemática da própria habilidade de reconhecer números que, por sua vez, precisa da visão, que precisa das sinapses entre os neurônios para que o feixe de luz refletido pelo papel seja lido como comprimento de onda e sua freqüência, para que então no cérebro a imagem seja invertida e lida.

É fato. Até o fruto proibido proporcionava o conhecimento do bem e do mal. Aquilo que é fechado em si é completamente interno, neurótico e anti-crítico. Para construirmos uma opinião bem fundada, um argumento bem embasado, uma linha de raciocínio respeitável precisamos uns dos outros, de seus conhecimentos e de suas matérias. Afinal, "a felicidade só é real se compartilhada".

terça-feira, 23 de março de 2010

E que se Abram as... Ruas!

Cultura, diferentemente do que muitos pensam, é de muito fácil acesso. Aliás, chega a ser de graça. Música, artes, peças de teatro. É sobre o último tipo, especialmente, que venho falar aqui, afinal, não há melhor momento para quem é curitibano para falar de teatro do que durante o Festival de Curitiba.

Eu nunca tive muito contato com o mundo teatral, mesmo indo em peças desde a infância, e esse Festival é uma oportunidade anual de exercer (com facilidade, convenhamos) o seu lado cênico, mesmo que seja "só" como espectador. Peças das mais variadas regiões do país, de fora do país, dos gêneros mais diversos (de clown, tragicomédia, dança até gastronomia, musicais e infantis). E muitos espetáculos, dos bons, gratuitos.

Venho dar essa dica agora, no meio do Festival, pois tive a oportunidade de me maravilhar com algumas obras muito boas e fiquei na obrigação de incentivar todos a assistirem e participarem, afinal, ainda dá tempo!

Peças como a dos franceses Janvier Lila e Gil Emmanuel, de Bordeaux, "Exílio", peça grátis, assunto com certa profundidade, palhaços divertidos; "O Grande Mentecapto", do Coletivo Joaquina, aqui de Curitiba, adaptação de Fernando Sabino; entre muitas outras são ótimos programas para quem tem uma manhã livre.

Portanto, não percam muito tempo e corram já pelas ruas do centro da capital paranaense que ainda dá tempo de apreciar o Festival e suas maravilhas!

sábado, 20 de março de 2010

O Maior Espetáculo da Terra

Primeiro de tudo, começo esse post me desculpando pela longa ausência, mas ultimamente tem sido difícil pensar no que escrever, afinal não sou o Jamil que da ausência de ideias cria posts. Mas foi justamente numa das famosas conversas frutíferas e filosóficas com o Jamil que nos veio a constatação: o futebol é a coisa mais democrática que existe.

Na torcida do Flamengo, por exemplo, tem de tudo. Desde os mais ricos empresários até os mais simples moradores do Morro do Alemão. E todos vivendo em uma certa harmonia, todos comemorando com um coro quase uníssono o balançar da rede, todos xingando o árbitro quando o gol feito é dado como impedido. Durante 90 minutos todos são iguais.

Além disso, o futebol é o único esporte que eu consigo imaginar que pode ser praticado em qualquer lugar, inclusive, sem bola – quem nunca usou uma tampinha de garrafa pra bater uma “bolinha”? Futebol é um esporte de pessoas, é humano, as traves, as linhas, a prórpia bola são meros adornos desse espetáculo maravilhoso.

Porém há um lado negro nisso tudo. O futebol pode ser usado como um “circo” do “pão e circo” contemporâneo. Em 1970, a ditadura foi esquecida por quase um mês pras pessoas poderem observar uma das mais incríveis copas da história. Porém, ao mesmo tempo em que distrai, o futebol agrega. Como, por exemplo, a seleção alemã de 1990 que jogou, pela primeira vez em muito tempo, unificada novamente. Alemanha Ocidental e Oriental juntas, comemorando o título. Enfim, como diria o Ultraje a Rigor “Mas se for pra jogar bola, me chama que eu vou, me chama que eu vou”.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Dissecando os Números

Conforme já disse no texto "Matematicando", tenho um apreço especial pelos números e as ferramentas que eles nos possibilitaram inventar. As facilidades e conforto que eles criaram são tidos por muitos como essenciais. Mesmo assim, é difícil, quando penso nessa afinidade, não divagar no seguinte: o que seria realmente um número?

7. Sete. O que vem na mente ao ouvirmos "sete"? Uma imagem tridimensional do símbolo atribuído à "quantidade" sete, talvez, ou sete unidades de um objeto qualquer. Alguma dessas opções é o significado, a representação exata de "sete"? Longe de nós almejarmos a absoluta verdade, a essência das coisas. Porém, não temos claramente um atestado inquestionável sobre nenhum dos números, sejam eles reais ou imaginários. E no caso desses, pior ainda. Se mal entendemos "-1", nem temos chance com a raiz quadrada dele. E o zero, então?

Tudo que deriva dos números (suas operações, definições, aplicações, axiomas,...) acaba tendo, por extensão, um fundo de incerto, de indefinido. Por mais exata que seja a ciência, ao lidar com números, não podemos dizer com toda a certeza suas afirmações. Paradoxal. No fundo, e isso soa muito ruim, eu acho, é tudo uma questão de fé. Convenções, mitos e fé.

Triste para um estudante de engenharia ter que admitir que a fundação, a base sólida de sua área de conhecimento é tão dependente da fé quanto uma discussão sobre religião. Mas nada que um bom copo de cachaça e uma aula de cálculo diferencial e integral não amenizem, mesmo que por um tempo.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Conversas Frutíferas com o Jamil

Já perceberam que a gente vai marcando milhões de coisas para o decorrer de nossos dias? E todo esse agendamento depende só do horário, não nos preocupamos com os imprevistos, não deixando brechas entre as coisas! Até as agendas já são desenhadas para que nós pensemos assim, compromissos de meia em meia hora, um dia após o outro. Quanto teremos uma folga pra nós mesmos, uma pausa pro cafezinho? Depois da revolução Industrial, nos tornamos tão escravos do relógio, nada é feito com calma, porque caso seja assim, chegamos atrasados.

Devido a isso, há certos aspectos com que não costumamos contar, os chamados imprevistos, que na verdade deveriam sim ser vistos previamente. A saúde por exemplo: uma doença nos pega de suspresa sempre, e sem um bem-estar físico e psiquico, é impossível para nós cumprirmos todos esses compromissos. É como se a gente já contasse com o bem, como se ele fosse presumido. Na sociologia, essa é a Teoria do Bom Senso, onde a sociedade vive em prol de um interesses comuns, não sendo ela dividida em seu ideal, ela é estável. É como se, para que Max Weber e Durkhiem, clássicos da sociologia, a sociedade não está em conflito, assim eles puderam construir suas teorias em cima dessa planície. O mesmo acontece conosco, construímos nossas vidas em cima da teoria do bom-senso, como se aquela fosse predominantemente estável e presumível, o suficiente para podermos fazer planos. Mas ela não é, constantemente muda. Na verdade, a verdade muda a cada minuto

Daí vem a Teoria do Conflito Social de Marx. Ele construiu todo o seu mundo em cima de algo contraditório, que se movimenta, se opõe. A sociedade não tem o mesmo fito, existindo segmentos que , mesmo não se opondo, existem em dois polos opostos. Quem diz que não é marxista, ou que pelo menos, não concorda com parte da teoria de Marx,é um tanto hipócrita. Certos conceitos da história cíclica, da filosofia em movimento, de alienação, de luta de classes, de operariado, de divergentes opiniões entre os segmentos sociais, de mais-valia, de trabalho, etc. foram inventados ou, pelo menos, dotados de um sentido completamente novo por ele. Sua filosofia pode ser anacrônica, não ter muita aplicabilidade na íntegra hoje em dia, mas podemos usá-la por meio da analogia. Sua essência ainda é válida. Infelizmente, pois ter noção de que, por exemplo, alunos e professores, pais e filhos, pobres e ricos, estagiários e chefes,proprietário e trabalhadores e muitos outros, partilham da opinião marxista e sua dualidade, que as classes aqui encontram-se em oposição, cada um com interesses divergentes, é triste.

Por isso, nada melhor do que acreditar na Teoria do Bom Senso, ser romântico, achar que a sociedade vive em uma realidade estável e confiável (apesar de sabermos intimamente que isso não é verdade). Talvez nem precisamos nos libertar daquela teoria alienante, pensar no não tão óbvio e contar com tudo e todos... o que temos a perder?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Cara de Vencidos, Mas Heróis de Coração

Fiz ontem uma visita que me trouxe um resultado que eu não esperava. Nós, jovens, às vezes até muito inconseqüentes, esquecemos das circunstâncias que levamos nossa vida. Balada, bebedeira, apagões alcoólicos. Tudo isso é normal, para alguns, porém para outros é uma doença incurável, o alcoolismo.

É senhores, visitei ontem o Alcoólicos Anônimos da Igreja da Consolação, São Paulo. E foi muito bom, aprendi muito. São depoimentos de pessoas que perderam, pela bebida, muito na vida. Pessoas que viram o tempo passar sem aquela consciência de que tudo passa e que não dá para voltar atrás. Vi que o tempo passa, que desde já estamos investindo no futuro, o exagero traz sim conseqüências. Essa doença pode estar em qualquer ser humano. Na reunião havia indigentes, médicos, engenheiros, militares, advogados, mecânicos.

São pessoas que vêm de todas as classes sociais, todas as cidades, todas as religiões, mas que padecem de algo em comum. Realmente, o alcoolismo é incurável e não há uma medicação totalmente eficaz. Mas que remédio é aquela reunião, que lição de vida. Pessoas que estão visivelmente abatidas, mas que têm humildade de admitir a doença. E, a partir disso, enfrentar, passar pela abstinência e vencer. Quantos e quantos possuem a doença, mas não tem a coragem e a humildade em assumir o seu problema.

São pessoas que viram o tempo passar sem mensurar as conseqüências, o que é um exemplo para nós quando exageramos muito na bebida pois, inevitavelmente um dia chegaremos lá. Nosso fígado não terá tanta eficiência e quem garante se temos ou não aptidão para o alcoolismo. Mas, além de tudo isso, essas pessoas mostram que heróis não precisam ter fantasia, super poderes, rosto bonito, dinheiro. Ontem eu conheci vencidos pela aparência, só pela aparência, mas vencedores, verdadeiros heróis de coração.

terça-feira, 16 de março de 2010

Mais pra Lá do que pra Cá

Futebol está cada vez mais difícil de ser assunto dos posts daqui do blog. Aliás, quando faço posts sobre futebol, é sempre para reclamar, ou no linguajar futebolístico: “cornetear”. Lembro, faz já cinco anos, tempos que não havia blog, mas havia futebol paranaense, falava-se muito sobre o rompimento do Eixo Rio-São Paulo. Os paranaenses possuíam destaque no futebol brasileiro, qual atleticano não se recorda do vice da Libertadores de 2005 (tirando o fato dos 4x0 na final, mas lembrando da eliminação do Santos, vingando o vice brasileiro de 2004, mesmo com Diego e Robinho, o Furacão atropelou tudo e todos).

Depois disso, resultado de abusos de autoridade e imprudência administrativa, o Atlético voltou a ser coadjuvante no Campeonato Brasileiro. Saco de pancadas fora de casa, resultados positivos suados na Arena, iniciou-se o cai não cai que perdura até hoje. Iniciava a temporada, durante o paranaense, o técnico era mandado embora. O Brasileirão começava, derrota, derrota, derrota, o novo técnico era mandado embora. Depois vem o salvador, tira o Furacão da lama, por um, dois pontos da Zona de Rebaixamento. Esse salvador, que já foi Vadão, Geninho, Antônio Lopes, será o mesmo cara que perderá o emprego durante o paranaense.

Política é determinante no futebol, mas o que faz o resultado é o time. E que time, senhores... Que time é esse? Tá bom que a razão desse post foi a derrota para o Iraty por 1x0, sou de memória curta no futebol e, se o time não tivesse perdido, esse post não seria escrito. Converse nessa semana com um palmeirense (estão felizes da vida por terem vencido o Santos por 4x3), compare com semana passada.

Bom, a memória curta tem de prevalecer na mente de cada apaixonado por um time paranaense, esperamos já um ano de partidas discretas, suados resultados, derrotas acachapantes. Espero que eu esteja errado, mas já ganhando do Paranavaí nesse fim de semana, garantindo o ponto extra na segunda fase, já mudo novamente de idéia.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Filme-Sátira

"Trovão Tropical" - Ben Stiller

"Tropic Thunder", de 2008, é uma comédia pesada. Pesada no sentido de ser carregadíssima de referências e piadas ácidas. Pesada, também, na abordagem de certos aspectos que são notavelmente ridículos e absurdos da indústria do cinema.

O filme é sobre a filmagem de um filme sobre guerra, no Vietnã, que acaba saindo dos trilhos por uma série de fatores. Um diretor inexperiente somado a um elenco de super-estrelas mimadas, um maluco mentiroso e um piromaníaco é a fórmula do desastre.

Da história, conto só isso. Mas vale bastante a pena acompanhar tudo, não só pelas reviravoltas e atitudes inesperadas de cada um dos personagens, mas também pelo elenco (real) absurdo. Tom Cruise e Robert Downey Jr. estão irreconhecíveis, com maquiagens extremamente bem feitas, apesar de caricatas. Ben Stiller, Jack Black, Matthew McConaughey, entre outras muitas aparições são as estrelas que se sujeitaram a esse filme.

As falas engraçadas, coordenadas, críticas também são um ponto forte. Jargões militares, que sempre vemos em filmes de guerras, especialmente aqueles especificamente da guerra do Vietnã, vistos em filmes como "Full Metal Jacket", são utilizados de maneira esperta e satírica. Referências à cultura cinematográfica hollywoodianas são usadas em sacadas ótimas e piadas ácidas na cara dura.

Enfim, vale a pena pelo história totalmente fora do comum, pelas cenas de efeitos especiais de guerra usados nas horas erradas e pelo humor bruto e, muitas vezes, de se rir alto.

domingo, 14 de março de 2010

“É Cadeia e Rua.”

Essa frase do título soa demasiadamente antiquada, extremista e errada, não? Espero que essa frase soe, ainda mais, um absurdo quando eu afirmar que dita por um representante do povo. E, para desespero de nós, paranaenses, essa frase foi dita pelo nosso governador Roberto Requião.

Muito truculento, impulsivo, e principalmente alheio à lei. Esta aí é a definição que pode ser tirada do governador, no período de exercício do cargo, longos dois mandatos. Mas, como todo bom futuro advogado, chato e persistente, querendo tudo mais claro possível, devo explicitar a circunstância da frase dita: Dia 10/03 foi adiada a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que institui piso salarial para policiais e bombeiros militares. Assim, os policiais militares estavam protestando por esse adiamento. Já o governador acreditou que o principal motivo do protesto era um projeto de aumento salarial elaborado pelo infante candidato de sucessão do governo nesse ano, seu vice Orlando Pessuti.

Que tipo de governante afirma tal frase a seus eleitores ("É safadeza política e a gente trata isso com firmeza. É cadeia e rua")? Principalmente a polícia, base sólida de votos do governador. Foi esse povo que colocou esse representante e, além disso, é garantido o Direito de Protesto, desde que de maneira pacífica. “Safadeza política”, para utilizar os bordões do coronel, é a ingratidão para com seus eleitores e a desconsideração de um direito assegurado pela Constituição.

Depois de comer mamona, aliar-se ao Diabo, dentre outras trapalhadas, o que mais esperar desse político? Quando digo que nosso estado, o Paraná, é governado por coronéis, são fatos como esse que sustentam minha opinião e reduzem ainda mais minha esperança de mudança. Por isso, mesmo morando em São Paulo, irei para Curitiba votar e ver se muda alguma coisa. Porém antes falta encontrar um candidato que represente meu anseio por mudança. Alguma sugestão?

sábado, 13 de março de 2010

A Conta, por Favor

Ou você pede a conta pelas palavras ou faz aquele sinal universal da “canetada”. E o nobre garçom vai lá e te entrega a fatura:

-Senhor, aqui está a conta.
-30 reais de consumo, ok. 36 reais no total? Mas não é 10% pelo serviço?

Pois é, para os garçons que trabalham durante a madrugada, será sugerido por lei que a gorjeta terá de ser 20%. Muitos de nós acreditamos o acréscimo para serviço na conta ser opcional, mas por que então há uma lei que fala sobre os 10%?

A razão disso é que essa lei está de acordo com um artigo da Constituição – art.5º, inciso II – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. E como a lei disse que é opcional, então assim é. É claro que se fosse aprovado a obrigatoriedade seria rapidamente declarada inconstitucional, mas esse não é o assunto deste post.

Será votado hoje, 11/03, às 23h a nova lei. Para nós, estudantes muquiranas que gostam de um chopp gelado, dói no coração, mesmo sem obrigatoriedade. Porém, quem aprova ou não é o Senado, e lá eles adoram superfaturar as coisas, não é?

sexta-feira, 12 de março de 2010

Talião em Quadrinhos

“Death Note” - Tsugumi Ohba

Cá está algo inédito no blog: uma dica de mangá. Pessoalmente, adoro mangás, são tão divertidos, ensinam nobres lições e tudo mais. Mas podem meio bobos, e se misturados com a mentalidade atuante, um tanto quanto alienantes. Não deixam de ser um passatempo, e se bem escolhidos, um passatempo muito instrutivo. Como arte, a técnica empregada faz os personagens serem inseridos em um mundo japonês único, característico, com traços marcantes e realísticos. Por ser manual e trabalhoso, os desenhistas dão muito valor aos detalhes, sem contar que trazem muito da cultura japonesa, não a já tão manjada pelo ocidente, mas aquela que nem todos podem experimentar, o dia-a-dia, a lógica do país, as manias de cada um dos pensonagens tipificados, a rotina de uma família, a diferença da linguagem e do tratamento utilizados em cada situação.

Vim aqui especialmente para indicar "o" mangá, aposto que muitos aqui já devem ter ouvido falar: Death Note. Com uma ácida crítica ao estereotipo feminino de olhos grandes e incomparável delicadeza, traz também em seu cerne uma questão extremamente polêmica: a pena de morte. Mas você acha que o japonês é ajustado o suficiente para falar sobre condutas puníveis com a morte da maneira convencional? Para isso, ele cria todo um mundo sobre Shinigamis (deuses da morte), deduções, traições, lógica, orgulho e mentira.

A história começa quando um desses Shinigamis (criaturas invisíveis aos humanos) derruba seu Death note (caderno da morte) no Japão. Qualquer pessoa que tem o seu nome escrito nesse caderno, juntamente com a visualização do seu rosto, está fadada a morrer. Como esse Shinigami estava intediado, ele passa seu Death note para frente propositalmente. Raito, um estudante japonês, brilhante, filho de um dos chefões da INTERPOL, acaba achando o caderno, e assim, podendo ver o Shinigami. Aluno exemplar, porém entediado, ao descobrir os sinistros poderes do caderno negro, ele decide virar um justiceiro e varrer a criminalidade da face da Terra. E quanto mais criminosos ele mata, menos deles têm coragem de praticar crimes!!! Assim, o índice de criminalidade diminui.

No entanto, o fato da sua técnica ser eficaz, faz dela também legítima? É certo matar para que não matem? Usar um de exemplo, como fizeram com Maria Antonieta e o Luis XVI durante o regime do terror, ou Tiradentes na inconfidência mineira, é justo? O que aconteceu com a educação, a boa fé objetiva, a esperança? É certo julgar que um presidiário não possa cumprir penas alternativas? Aceitar a pena de morte, penso eu, é como voltar a Antiguidade e a sua reinante lei de talião. Se 95% dos crimes cometidos pela sociedade, em média, não são registrados nem geram conseqüências processuais, para que serve a pena de morte (considerando que seu objetivo maior seja meter medo pra que a criminalidade possa diminuir)?

Estão vendo?! Nem todos os animês e mangás são inúteis. Normalmente, as pessoas já chegam neles cheias de pré-conceitos, formados não por sua própria opinião, mas principalmente pelo que tanto ouvem por aí. Vale a pena dar uma conferida. Sei que muitos deles são uma furada, mas Samurai X, Death Note, Dragon Ball, e outros, têm muito a acrescentar, afinal, ninguém é tão ignorante que não tenha nada a ensinar, nem tão inteligente que não tenha nada a aprender.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Um Bom Dia

- Um risóli de queijo e presunto e um café preto.
- Café pequeno, médio ou grande?
- Vê um médio, por favor.

Sete e meia da manhã, ao lado do terminal do Guadalupe, coração de Curitiba. Sol começou a despontar por detrás das insistentes nuvens curitibanas. Altivas, elas. O calor me força a tirar minha camisa xadrez de flanela. O clima abafado ainda se soma com a fumaça preta dos ônibus metropolitanos que chegam quase todo instante. Essa hora o terminal está quase que lotado. Mas há horários piores.

- Senhor?
- Opa!
- Taí o café.
- Ah, valeu.

Distraído. Desse jeito perco a hora. Tomar esse café logo que os compromissos são meio que inadiáveis. Ketchup. Ah, droga. É daqueles mequetrefes, mais finos que água de filtro. Fazer o quê. É ketchup do mesmo jeito.

- Tem açúcar? Obrigado.

Açúcar empelotado. Lembra aula de materiais: torrões de argila na areia. Só que lá é tudo menos doce. Aliás, nesse ambiente é tudo meio que salgado, bruto. Menos o açúcar empelotado. Café da hora, quentinho. Só cuidar pra não me queimar, como sempre. Revigorante, como sempre. Essa droga lícita que é a cafeína. Todos já estão cansados de saber quão sou submisso a ti, ó, cafezinho. Sempre relaxa ao mesmo tempo que me anima, me alegra.

Entra um casal na pastelaria. Pelo cheiro, viraram a noite. Bem vestidos, pelo menos. Me apertar para eles passarem. Cuidar da mochila, também. Tudo dentro. Livros e mais livros. E pensar que muito dificilmente lerei tudo de todos eles. Materiais, mat. 2, cálc. III, fís. 2, e por aí vai. Pelo menos gosto das aulas. Pediram café, também. Meio que universal, né.

- Quanto deu o meu?
- Uhm, salgado e café pequeno...
- Médio, moço, café médio.
- Ah, ok. Dá 3. 3 reais.
- Tá na mão. Bom dia.

Taí, primeira boa ação do dia. Honestidade. Passa despercebida até. Mas com isso já saio daqui mais tranqüilo e animado. Não é todo dia que presencio atos assim, de bom caráter.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Os Monstros do Background

Muitos grupos musicais são praticamente sinônimos de seus frontmen. Grandes bandas como Queen, The Doors, The Jimi Hendrix Experience, entre muitas outras são muitas vezes confundidas com seu porta-voz. Mas eles, sem seus coleguinhas mais discretos não seriam tão bem-sucedidos assim.

Começando pelo primeiro exemplo, o Queen. Claro que muitos são um pouco entendidos de música já sabem que além de Freddie Mercury e sua performance, a banda tem Brian May e seus atributos. Por exemplo, sua maestria na guitarra é para poucos. Além disso, o guitarrista também é um dos maiores gênios em astrofísica atualmente, tendo, inclusive um asteróide com seu nome.

The Doors sem Jim Morrison não é Doors? Diga isso para os que acompanharam os re-batizados Doors of 21st Century se apresentar. Claro que a fúria e a novidade não são como antes, porém a beleza instrumental de Ray Manzarek nos teclados e Robby Krieger na guitarra estão ainda mais do que presentes, imponentes. Desde a época de sucesso original do Doors, Krieger e Manzarek eram peças centrais no grupo, ofuscadas pelo teatral Morrison. Belezas como "Roadhouse Blues" e as óperas "When the Music's Over" e "The End" sem teclados e guitarras magnânimos (e a voz perfeita de Jim) não seriam as mesmas.

Tá, o terceiro grupo leva o nome da fera, porém a bateria furiosa/rítmica de Mitch Mitchell e o baixo de Noel Redding são para poucos grupos. Realmente, esse trio tinha uma força instrumental que até hoje é rivalizada por poucos. Vide "Hey Joe" e "Manic Depression" como exemplos da beleza da bateria de Mitchell; e "Little Miss Strange" e "She's So Fine", composições de Redding, mostram sua aptidão para compor e também com a guitarra.

Pois é, então pensem duas vezes antes de dizer que o tecladista é só o gordinho irmão do baixista e que o baterista só está na banda por ser difícil achar alguém que toque os tambores.

terça-feira, 9 de março de 2010

A Derrota dos Na’vi

Como eu esperava – e torcia -, ontem na festa do Oscar as três únicas estatuetas do homenzinho dourado que o tão aclamado Avatar levou foram as óbvias: melhor fotografia, direção de arte e efeitos visuais. Bom, fotografia é meio controverso já que o filme em si tem pouca coisa real, logo as paisagens são mera computação gráfica, mas essa suposta derrota já bastou pra mim.

Você deve se perguntar por que tanto repúdio a um filme que você provavelmente viu e gostou. Bem, eu também vi e também gostei, mas o ponto não é esse. Avatar é um filme legal, revolucionário do ponto de vista gráfico, lindo em várias partes, mas só. A história, mesmo longa e um tanto maçante, é previsível! Eu já imaginava como ela ia terminar lá pela primeira hora e meia de filme. É um filme de fim-de-semana, um programa de lazer, não é um filme digno do Globo de Ouro de melhor filme que ele ganhou, por exemplo.

Além disso, várias das características de Pandora aparentemente não saíram da cabeça de James Cameron. São 3 as grandes acusações. Os plágios sobre Delgo, uma animação que foi um fracasso, os quadrinhos da Marvel Timespirit e Poul Anderson, um autor de ficção científica. Sobre Delgo, não acho que as acusações sejam muito contundentes. Avatar abrange diversos clichês e se inspira em animais reais, provavelmente eles beberam da mesma fonte. Se quiser checar pode ver essas nove fotos comparativas (I,II,III,IV,V,VI,VII,VIII e IX), além do trailer. Já Timespirit traz selvagens azuis que usam arco e flecha, que realmente se assemelham aos Na’vi, como pode ser observado aqui.

Quando se trata de Poul Anderson o buraco é mais embaixo. Ele escreveu um romance chamado “Call me Joe” em 57. Nele o personagem principal é um paraplégico, Ed Anglesy, que se conecta telepaticamente a uma forma artifical de vida para explorar um planeta inóspito. Com o desenvolver da história, Ed se encanta pela liberdade e a força do seu novo corpo e vai se tornando nativo com o passar do tempo. Além disso, uma outra obra de Anderson se chama “O Avatar”. Coincidência? Não cabe a mim decidir. A mim só cabe comemorar pela sanidade da academia.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Filosofia por Necessidade

Como no texto "Humildes Meditações", no qual critico a falta de ouvintes e a desvalorização do filósofo, venho aqui expressar outra indignação relacionada a esses assuntos: o pouco caso com a disciplina de Filosofia e seu ensino nas escolas de nosso país.

Curso engenharia na UTFPR, porém, por diversão e por gosto, resolvi cursar uma cadeira na minha grade que seria uma matéria optativa, Filosofia da Ciência e da Tecnologia. Resumindo a ementa, estudaremos a origem e os tipos de conhecimento gerados pelo homem e suas conseqüências, principalmente do conhecimento científico. Tivemos sorte pelo professor ser um filósofo real (finalmente!) com experiência no ensino da matéria.

Enfim, entramos numa discussão na primeira aula que abordava as experiências anteriores que tivemos com a filosofia. Logo percebi que eu era uma das exceções. A grande maioria da sala (uns 35, 40 alunos da área da tecnologia) tinha trauma, até desgosto pela disciplina. Posso dizer que meu primeiro contato também não foi dos melhores. Porém, o simples fato de ter sido introduzido no assunto fim do ensino fundamental e no início do médio, foi o suficiente para atiçar minha curiosidade e, conseqüentemente, meu gosto.

O professor, então, disse que a matéria havia sido abolida das escolas durante a Ditadura, só voltando nos anos 90. Porém, esse hiato não foi apenas no ensino e formação de novos cidadãos, mas também na formação de profissionais de ensino da área. Daí tiramos que a probabilidade de, nos anos 90 e até a pouco tempo atrás, se ter um professor de Filosofia mal preparado era alta. Inclusive, em muitas instituições, por falta de professores da área, quem ministrava essa disciplina era um teólogo ou um professor de história.

Gostaria de deixar no ar o seguinte pensamento: precisamos difundir mais os usos da filosofia se queremos ser um país melhor. Por quê? Poucas pessoas se interessam a nível profissional pelo assunto, daí tiramos escassez de educadores da área. Com isso, poucas pessoas são educadas com um básico da disciplina. O que tiramos disso? Poucos questionadores por natureza, poucos desconfiadores. Pois se tem uma coisa que aprendemos na filosofia é que o mundo cresce não com respostas, mas com questionamentos. E um país conformado com as respostas não vai pra frente.

domingo, 7 de março de 2010

Mímica e Música

Ah, os covers. Uma maneira legal de prestar tributo a uma banda ou artista que influenciou seu trabalho de uma maneira absurda. Uma grande parte dos maiores artistas que já passaram por essas bandas que chamamos de planeta Terra já gravou covers. De Beatles a Fall Out Boy. De Hendrix a Guns N’ Roses. O problema é que existem dois tipos de covers: os bem e os mal feitos. Existem covers que nada se parecem com os originais, que até são de estilos diferentes, que acrescentam à original, que entraram pra história. Existem covers que conseguem simplesmente destruir e ainda por cima se tornar mais famosos que os originais.

Como bons covers temos vários exemplos. “All Along the Watchtower” do Jimi Hendrix é mais animada e mais caótica que a original no violão de Bob Dylan. “Stand by me” do John Lennon, apesar de parecida com a original, tem uma levada muito mais cativante que a do Ben E. King. “Twist and Shout” do Beatles é bem mais divertida que a dos Isley Brothers. Falando em Beatles, “With a Little Help from my Friends”, que era uma música somente bonitinha, ganhou uma poder avassalador na voz do Joe Cocker. “I’m a Believer”, que é do Monkees, ganhou muito mais fãs com a versão mais moderna do Smash Mouth. “You Really Got Me” do Yardbirds era pesada para sua época, mas não se compara com a versão do Van Halen e“Beat It” original na voz do Michael Jackson é incrível, mas a versão do Fall Out Boy supera espectativas.

Mas nem tudo são flores no mundo da música. As desgraças que aparecem de vez em quando na mídia são lastimáveis. “Behind Blue Eyes” é um hino criado pelo The Who e foi desrtuída – e amputada, já que no final da original as guitarras entram a todo vapor quebrando o clima melódico – pelo Limp Bizkit. “I Love Rock N’ Roll” da Joan Jett era um hino, da Britney Spears é pura hipocrisia. Tem umas que não são tão ruins, mas que não me agradam como “Born to be Wild” do Steppenwolf na velocidade e peso do Slayer ou “Knockin’ on Heaven’s Doors” do Bob Dylan sendo gritada histericamente pelo Axl Rose do Guns N’ Roses.

E o Brasil também não escapa dessa. Sejam covers de músicas brasileiras, sejam traduções de músicas internacionais. Eu já falei no post dos Paralamas, mas “Lourinha Bombril” é um versão nacional de “Parate y Mira” do Los Pericos. Mas o que eu não falei no post dos Titãs – pelo simples fato de que descobri isso recentemente – foi que “Marvin” na verdade é uma versão brazuca de “Patches” do Clarence Carter. Outra célebres versões é “Não Chores Mais” que é baseada em “Woman No Cry” do Bob Marley , “O Passageiro” do Capital, que foi feita à base de “The Passenger” da banda punk The Stooges e “Sônia” do Léo Jaime que veio de “Sunny” do Bobby Hebb. Mas como disse antes, também temos covers e versões de canções brasileiras como “Primeiros Erros” do Kiko Zambianchi na voz do Capital, “Além do Horizonte” do Roberto Carlos na voz do Jota Quest, a versão roqueira de “Malandragem” do Bezerra na versão do Barão Vermelho, “É Proibido Fumar” e “Vamos Fugir”, respectivamente do Erasmo Carlos e do Gilberto Gil, ambas na voz do Skank e as versões de “Aluga-se”, do Raul Seixas, e “É Preciso Saber Viver”, do rei Roberto Carlos, na visão dos Titãs.

Por fim, um destaque para a banda norte-americana Weird Al Yancovic que transformou sucessos como “Bad” do Michael Jackson, “Eye os the Tiger” do Survivor e “Barbie Girl” do Aqua em “Fat”, “Rye and the Kaiser” e “I’m an Ugly Girl”, respectivamente, isso pra citar alguns. As letras satíricas são extremamente recomendáveis, só não venha reclamar se eles parodiaram o seu artista favorito.

sábado, 6 de março de 2010

Os Não tão Mais de Esquerda?




Cheguei uma conclusão nessa semana ao ver José Mujica assumir a presidência do Uruguai: A idade vai acalmando o fervor ideológico. Quer melhor exemplo nacional que o nosso presidente Lula? Será que aquele Lula abertamente contra o pagamento da dívida externa, contra a ALCA, iria se eleger em 2002? José Mujica fazia parte do grupo Tupamaros, milícia que fazia frente à Ditadura Militar Uruguaia. Naquela época, como o MR-8 no Brasil e os Montoneros na Argentina, o grupo combatia o governo vigente por meio de atentados, roubos a banco, etc. Hoje, Mujica promove planos similares aos novos ícones políticos da América do Sul (Chávez, Evo Morales, Fernando Lugo), um plano que visa o equilíbrio das classes sociais do país. Um governo para os pobres, um populismo moderno.

Como amadureceu a idéia de revolução desse idoso agricultor que já foi Ministro da Agricultura, da Pecuária e da Pesca, além de deputado. Lula nunca pegou em armas para lutar contra a ditadura. Nessa época, ainda estava chegando a São Paulo para daí comparecer às greves dos metalúrgicos do ABC paulista e apanhar da polícia. Porém, não foi menos ideário de planos extremistas para melhorar o país, e como vimos, esse Lula mudou. Até o, hoje sereno, José Serra era presidente da UNE (União Nacional Estudantil) e fugiu da Ditadura de helicóptero, exilando-se na Bolívia. Agora é candidato do PSDB à presidência.

Agora, gostaria de enfocar uma questão que discutia com meus colegas: Dilma ganha ou não ganha? A reposta, mais do que óbvia, é depende. Qual imagem dela que prevalecerá: a mulher que é filha de um búlgaro comunista, que participou do POLOP (Política Operária), do COLINA (Comando de Libertação Nacional), que participou do assalto ao Banco da Lavoura de Sabará, do COLINA/VPR (futura Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares), que ainda traçou o plano do roubo à casa de praia do político Adhemar de Barros e depois foi presa em São Paulo, armada, e delatou o companheiro Natael Custódio Barbosa ao DOI-CODI?

Ou será vista como a Dilma que continuará a próspera política de Lula, a mulher que poderá ser a primeira a ser Presidente da República, a guerreira que venceu um câncer, a nova embaixatriz dos Direitos Humanos, a desbravadora do PAC, uma patriota, acima de tudo?

É claro que Dilma não é mais aquela guerrilheira extremista. Ela amadureceu, provou a responsabilidade de representar 190 milhões de brasileiros. Porém, qual a imagem que o povo brasileiro terá dela? Em outubro, saberemos...

sexta-feira, 5 de março de 2010

“A Long Time ago, in a Galaxy Far, Far Away...”

“Star Wars” – George Lucas

Se teve um filme que conseguiu uma legião de fãs incondicionais, que não se restringiu às telas do cinema , que mesmo com uma história um tanto clichê conseguiu revolucionar toda uma geração, esse filme foi “Star Wars – Uma Nova Esperança”, lançado em 77. Graças ao sucesso, acabou-se completando a Trilogia com os 2º e o 3º episódios, “O Império Contra-ataca” e “O Retorno do Jedi”. Mas uma trilogia não bastava para saciar os fãs e uma nova trilogia iniciou-se em 99 com “A Ameaça Fantasma”, seguida por “O Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”. Essa, porém, teria o papel de contar o que aconteceu nos momentos que antecederam a trilogia clássica.

A história da saga retrata a depredação do jovem Anakin Skywalker até se tornar Darth Vader. Mostra como o amor é capaz de todas as coisas, até mesmo de se auto-destruir. Vendo os 6 filmes seguidos, essa linha fica evidente. Anakin era o escolhido pra salvar tudo e todos, mas acabou sendo induzido a ir pro lado negro da força para, justamente, salvar sua amada - e justo essa atitude a matou de desgosto. Desolado com a vida, com a incapabilidade de mudar o destino – já que a razão de ele ter ido para o lado dos Sith foi impedir a morte de Padmé, prevista em sonho -, ele se torna cruel e cria um império submisso aos seus caprichos. Porém, quando ele descobre que os frutos do seu amor – Luke e Leia - estavam vivos, se converte para o bem novamente e se rebela contra Darth Sidious – que fez as vezes de serpente do Jardim do Éden futurista -, que o levou para o mal, pra começo de conversa.

Além dessa história contagiante, contamos com um dos maiores vilões de toda a história do cinema. Mas Darth Vader não é ‘o’ vilão por ser simplesmente mal – afinal, no episódio VI ele prova que era bom no fim das contas -, mas sim por ser quase mitológico. Darth tem tudo, é carismático, parodiável, tem postura de vilão. Outra coisa, Star Wars não virou clássico por ter roteiro incrível e atuações fabulosas, mas sim por ser um universo completamente novo. Cada Jedi que fez uma aparição coadjuvante em um filme da segunda trilogia tem uma história própria - e bem longa, por sinal – criada por fãs ou baseada nas histórias alternativas.

E a saga reúne algumas várias curiosidades interessantes. “Darth Vader” na verdade é uma variação de “Dark Father” fazendo uma alusão ao parentesco entre ele e Luke Skywalker. Aliás, Skywalker era pra ser Starkiller, mas Anakin Starkiller não soava muito bem aos ouvidos de George Lucas. A roupa de Darth Vader é baseada nas armaduras samurais – a armadura que influenciou a roupa se encontra no castelo de Himeji (Japão), por sinal – entre tantos outros causos.

Enfim, é uma saga maravilhosa e que angaria fãs pelo mundo todo a cada geração que passa. Mesmo que mais filmes não sejam produzidos, a história não pára de se expandir. Seja contando a era pré-“Ameaça Fantasma”, seja contando a era pós-“Retorno do Jedi”. Jogos, quadrinhos, fanfics, livros, seriados, enfim, tudo o que é possível imaginar. O universo de Star Wars - como é chamado – alcançou proporções extraordinárias. Pode até se equiparar ao que os livros do Senhor dos Anéis fizeram e fazem até hoje. Se alguém se interessar pode encontrar ótimos sites – normalmente em inglês – sobre essa maravilhosa ficção. Que a força esteja com vocês.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Gente como a Gente

Tem gente que canta sem saber por quê.
Tem gente que bebe pra poder esquecer.
Tem gente que mata pra sobreviver.
Tem gente que é fútil e se diz blasé.

Tem gente que é louco e se diz são.
Tem gente que rouba, mas diz que não.
Tem gente que faz tudo pra ganhar um milhão.
Tem gente guitarra, tem gente violão.

Tem gente que dança pra poder fugir.
Tem gente que engana pra se redimir.
Tem gente que é bomba, só falta explodir.
Tem gente que é vaca, só falta mugir.

Tem gente que arranha pra poder marcar.
Tem gente que apanha pra continuar.
Tem gente que ama pra poder lembrar.
Tem gente que lembra pra poder amar.

Tem gente esperta que parece demente.
Tem gente que está sempre um passo à frente.
Tem gente igual e tem diferente.
Tem gente que é gente, assim como a gente.

Duplo, sem Gelo

Um copo de uísque. Tudo o que eu preciso nesse momento. Nada melhor pra aliviar a carga de 2 empregos e uma dúzia de trabalhos atrasados. Ah, aquele líquido amargo irritando o fundo da minha língua, queimando meu esôfago, descansando inquieto no meu estômago. Sentimento aconchegante.

Pessoas pensam que sou de ferro, incansável. Isso quando há olhos em mim. Não, não fico sentado, fraco e deprimido quando só, pelo contrário! Nessas horas encontro a melhor e mais alegre das companhias: eu mesmo. Preciso de algo mais? Talvez de um copo de uísque.

Um copo de uísque. Atalho intensivo para a euforia alcoólica. Mas não vejo muitas semelhanças com a embriaguez de outras bebidas. Um "quê" de força, de maturidade enche o copo, sem gelo, claro, e toma posse de meus neurônios.

Sou responsável, confiável. Especialmente nas ressacas, tanto físicas quanto morais. Claro que não abuso, não sou ignorante! Aliás, a leve palpitação na testa me faz sentir mais vivo ao contornar problemas e gerir soluções. Além disso, ajuda muito aquele café preto com um lanche reforçado pela manhã. Na noite anterior? Um copo de uísque.

Um ode ao infame e maldito álcool, e um desabafo sobre a existência humana.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ler É Negócio Muito Perigoso

Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa

Donada. Daí surge o que é considerado por muitos o maior romance da história da língua portuguesa, e um dois maiores do mundo. Como dito por alguns estudiosos, o livro é uma história de um fôlego só, um único ímpeto. E não precisava mais. Enquanto eu lutava e brincava com as palavras de Rosa, pude, na minha limitada capacidade, me impressionar como nunca antes com um romance. Vou tentar expor parte do que apreendi dessa obra, mesmo sabendo que a cada dia que passa e a cada experiência que ganho, teria mais chance de absorver cada vez mais dessa história.

O livro nada mais é do que um relato de histórias de vida de um sertanejo, Riobaldo, para um ouvinte fiel (e silencioso) da cidade grande. Nascido numa família relativamente de classe média (para o sertão do norte de Minas Gerais) no começo do século passado. Riobaldo teve uma chance que poucos conseguiram naquela região naquela época, ser educado. Com isso, teve oportunidades boas como ser tutor do fazendeiro Zé Bebelo. Daí sai o início da vida de jagunço de Tatarana (apelido de Riobaldo). Nesse meio, ele reencontra um amigo de infância, Diadorim, que entrou no "ramo" por causa de seu pai, Joca Ramiro. Após o assassinato desse por Hermógenes, Diadorim se recusa a abandonar a jagunçagem até vingar seu pai, o que vira um incômodo para Riobaldo, que nunca teve muito apreço por essa vida e por amar Diadorim.

Não quero me prender muito no enredo, até porque não me lembro das minúcias e por ele não ser linear, mas seguir o raciocínio do contador, Riobaldo. O que me interessa é fazer uma rápida reflexão sobre dois dos temas profundamente abordados no livro. Primeiramente, a recorrente menção do diabo no livro. Aparentemente, Riobaldo tem uma certa obsessão com a figura, talvez até um interesse meio obscuro. O fato de ele, desesperado por vingar Joca Ramiro por uma questão de honra, ir a uma encruzilhada e chamar o capeta pelo nome, acompanha a narrativa em todos os momentos. Porém, nunca fica claro se houve ou não o pacto. O protagonista vive se questionando sobre a existência do chifrudo e essa dicotomia diabo-não-diabo é um dos motores das histórias. Enfim, um dos temperos da obra é a constante idéia do "diabo na rua, no meio do redemoinho..." (para bons entendedores).

O outro tema que gostaria de abordar é o amor homoerótico de Riobaldo por Diadorim. Apaixonado, o protagonista constantemente conta a agonia de sua situação, na qual lhe era impossível divulgar seus sentimentos para o companheiro jagunço. Por esse amor, Riobaldo decide seguir atrás de Hermógenes, junto de Diadorim, e também acaba por tentar o pacto com o diabo. Mas as descrições das noites em que passavam juntos a uma fogueira, com os outros jagunços, são uns dos atrativos mais impressionantes da história.

É claro que a linguagem de Rosa no romance é, talvez, o aspecto mais discutido e repercutido da obra. Considerada uma daquelas impossíveis de serem traduzidas (embora tentativas foram feitas), Grande Sertão: Veredas tem na sua absurdamente trabalhada linguagem única do sertão uma universalidade absoluta. Tá, sem palavras feias, o livro, com sotaque nordestino, trata dos assuntos mais atemporais, universais. O ser humano e sua existência versus as divindades e sua aparente falta-de-existência; as noites em claro perdidas em pensamentos; o fascínio pelo extraterreno; etc. A idéia de sublimidade, na qual o homem deixa de ser homem e vira mundo, grande sertão ("o sertão é do tamanho do mundo"), é algo expresso de maneira linda.

Inúmeras citações seriam possivelmente as mais belas da literatura brasileira: "qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."; "o senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."; "o diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano.";... Enfim, resumindo tudo, segundo o próprio Guimarães Rosa, o livro é a constatação mais clara possível de que "viver é negócio muito perigoso".

terça-feira, 2 de março de 2010

Com Um Golpe de Caratê

Quem nunca ouviu a famosa frase do Governo Collor: “Vamos acabar com a inflação com um golpe de Caratê”. O povo acreditou, votou, porém esqueceu-se de perguntar como iria ser resolvido o problema da inflação. E aí, Zélia Cardoso de Mello, aquela que casou com o Chico Anísio, ministra de Collor, foi à TV e, sendo pouco compreendida pela pouca habilidade retórica, disse que iria confiscar as poupanças que possuíam mais de 50 mil Cruzados Novos. Quer algo mais impopular que confiscar as poupanças? O desespero popular, a pressa de cortar o mal pela raiz, trouxe legitimidade a um ato que prejudicou toda uma população. Quantos e quantos idosos perderam a aposentadoria nesse ato...

Relembrei desse fato histórico ao ver um insurgente candidato à presidência pelo PT do B. Um autêntico Legalista, um homem que busca governar pelo “império da lei”. Mário Oliveira, advogado, caiu nas graças da classe alta brasileira e dos militares que, por incrível que pareça, sentem saudade da ditadura ao propor medidas como a pena de morte, a redução da maioridade penal, a extinção do programa bolsa-família, o fim da reforma agrária, o fim das cotas. Gostaria de deixar a discussão se essas medidas são certas ou erradas para os comentários desse post.

O problema em fazer acontecer essas medidas é a existência de cláusulas-pétreas (um tipo de cláusula inalterável) na Constituição brasileira. Por exemplo, nem se o Congresso aprovar a lei e o presidente sancionar, a pena de morte pode ser aceita, pois uma dessas cláusulas-pétreas veda a implantação da pena de morte, só se elaborarem uma nova constituição. Só seria possível reduzir a maioridade penal, a pena de morte com uma nova Constituição. E para existir uma nova Carta Constitucional precisa existir apoio do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado). Como um candidato do PT do B, um partido pequeno, vai ter apoio de, pelo menos, 2/3 do Legislativo Federal para uma nova Constituinte?

E é entregando o poder nas mãos desses que se consideram “salvadores” dos anseios da população que criamos um governo instável, desesperado, inconstitucional. No meio de tantos candidatos em 1990, um homem de um pequeno partido chamado PRN, que prometia mundos e fundos, o ”caçador de marajás”, que possuía um rosto bonito, foi o único presidente eleito da história do Brasil a sofrer Impeachment. Qualquer semelhança é pura coincidência.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Acordes Espaciais

Tenho que confessar que sou apaixonado por ficções científicas. Desde as Space Operas – histórias épicas e romantizadas de ficção científica –, como Star Wars e Blade Runner, até distopias mais reflexivas, como 1984, por exemplo. Outra coisa pela qual sou apaixonado é o bom e velho Rock N’Roll, mas isso vocês já devem estar carecas de saber. Agora, bom mesmo é ter essas duas coisas numa só.

A fusão entre rock e ficção é bem comum, várias bandas gravaram músicas e escolheram nomes baseados em livros, por exemplo, o Led Zeppelin tem diversas músicas baseadas em Senhor dos Anéis. Ou a banda gaúcha Os Replicantes que tirou o nome dos androides de Blade Runner. Porém as fusões entre Rock e ficção científica não são tão óbvias. A primeira que me vem à cabeça é “Space Truckin’” presente no álbum Machine Head do Deep Purple. A letra conta a história de desbravadores espaciais que viajam pelo sistema solar. Uma espécie de “EasyRider” espacial. E a música em si é legal, gostosa de ouvir, cantar e tocar. Inclusive, segundo Blackmore, o riff prnicipal é inspirado na música do batman.

Outra muito significante e extraordinária é a Ópera Rock “2112”(pts 1, 2 e 3) da banda canadense Rush. “2112” é um disco e uma faixa – que por sinal tem 20 minutos de duração – que é dividia em VII partes e ocupa um lado inteiro do álbum. A história da música começa no ano de 2062 quando uma guerra que abrange toda a galáxia resulta na união de todos os planetas sob o governo da estrela vermelha da Federação Solar. Em 2112, o mundo é controlado pelos sacerdotes dos templos de Siringe (Syrinx, no original), que determinam o conteúdo de todas matérias de leitura, músicas, imagens, enfim, tudo. Porém um homem acaba descobrindo um estranho instrumento, no caso uma extinta guitarra, e alcança novos paradigmas musicais.

Quando ele apresenta a descoberta aos sacerdotes, eles a destroem. O protagonista então vai para a clandestinidade, sonha com o mundo pré-unificação e quando desperta, pelo desespero de perceber que o mundo era bom, livre e que sua vida nunca poderia ser como a de seus antepassados, comete suicídio. Porém, inicia-se uma nova guerra que termina com a misteriosa – e ambígua – frase “attention all planets of the Solar Federation: We have assumed control.” Ambígua já que não se sabe se houve uma contra-revolução pra trazer de volta o mundo de antes ou se os sacerdotes tomaram o poder da federação e instauraram uma teocracia. Mas vai dizer, dava um filme, não?

E como sempre, a versão brasileira não fica de fora. “Ficção Científica” é umas das músicas do Aborto Elétrico (depois regravada pelo Capital Inicial em um disco-homenagem ao Aborto) que, por sinal, eu mais gosto. Ela não tem um história definida, é um apanhado de nomes e termos da ciência e da cultura pop como Flash Gordon, Barbarella, Bomba H, Albert Einstein, Julio Verne, Galileu, etc. Isso sem contar a parte musical que é irada, no sentido literal da palavra. Espero que com essas dicas, vocês acabem gostando de viajar pelo espaço ao som de guitarras distorcidas como eu gosto.