segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Um Minuto de Silêncio

E começa o segundo tempo de Coritiba e Fluminense...

Com a vontade de vingar-se pelo Atletiba sofrido, a cada minuto que passava, sentia um falso alívio no peito de ver o nosso arquirrival indo para a Série B. O resultado, Botafogo 2 x 1 Palmeiras, decretava o fim da megalomania do Centenário (1909 - 100 anos do nascimento do Coritiba Futebol Clube).

Restava uma vitória para salvar o Coxa e acabar com a inesperada arrancada do Fluminense de 10 jogos invictos (7 vitórias e 3 empates). A partida no Couto Pereira estava 1 x 1, o primeiro gol do jogo feito pelo tricolor carioca, uma falta rolada batida no canto. O empate veio de um cruzamento na medida para o zagueiro Pereira do Coxa cabecear direto para o gol do goleiro Rafael. Pouco preocupei-me com o jogo do meu Furacão que, com o time desfalcado, ficaria no 0 x 0 com o Barueri. Estava com alma e coração no Coxa e Flu. Estava certo de que o rebaixamento coxa-branca lavaria minha alma e que seria uma alegria comparável ao título paranaense de 2009.

Chegava os 40 minutos, o desespero dos jogadores no Couto aliviava tudo aquilo armazenado no meu peito: os 4 x 2 na Baixada, a capa da tribuna, o 3 x 2 de virada no Couto, o frequente comentário dos "comentaristas esportivos" da imprensa paranaense de que o Coxa tinha um elenco melhor do que o do Atlético. Como aquilo fazia bem, porém, só naquele momento.
O juiz indica os 4 minutos de acréscimo, começa em mim o tradicional momento de "cair a ficha".

Mais um ano sem Atletiba no brasileirão. Mais um ano de um futebol paranaense desacreditado e ridicularizado pela imprensa nacional. Mais um ano de um futebol que faz jus ao fato de ter mais torcedores Corinthianos, Palmeirenses, São-Paulinos, Gremistas e Colorados do que torcedores dos times do Paraná. Tem de ser valorizado o torcedor atleticano, coxa-branca, paranista, pois nós somos os verdadeiros torcedores do nosso time. Nós comparecemos ao estádio, nós estamos perto do clube que amamos, nosso clube representa nosso Estado, nosso lugar de berço. Pena que o time não corresponde, nenhum dos três times do nosso estado merecem a torcida que têm.

O rebaixamento do Coritiba, pela segunda vez em menos de 5 anos, traz para todos nós a lição de que não é possível torcer para um time que tem suas alegrias embasadas na desgraça do rival. O que traz alegria para nós, fanáticos pelos nossos times, é futebol. Um futebol no mínimo de raça indiscutível. A falta de habilidade é compreensível pela circunstância do famigerado mercado de jogadores de futebol.

Soou o apito. Não pude nem comemorar ou refletir melhor o turbilhão de sentimentos que passou por minha cabeça. Um grupo de torcedores do Coxa pula o fosso do estádio e agride um policial que protegia os jogadores do Fluminense. Na frente de câmeras e de inúmeras pessoas de princípios, um pai de família é espancado por um grupo de torcedores enfurecidos. O desespero dos repórteres em volta pedindo reforço policial no campo. Cadeiras arremessadas ao gramado, confronto direto entre torcedores e a Polícia Militar. O que é isso? Onde está agora Jair Cirino, presidente do Coxa, que prometeu, deu esperanças e nada correspondeu? Por que ele não estava no gramado? Aliás, por que havia torcedores no gramado? O que justifica espancar um inocente por causa de algo que sequer é sua culpa? O policial espancado queria seu salário para levar à sua casa, pouco importava Fluminense ou Coritiba, ele estava fazendo seu trabalho.

É aí que precisa ser ensinado, junto ao amor à camisa, mesmo eu sendo um admitido fanático pelo Clube Atlético Paranaense, o limite desse amor, o valor da vida, o ato de medir as consequências. Uma vida não pode ser comparada ao fanatismo por um clube de futebol. Cala o Brasil, o país do futebol, uma atitude repugnante como essa. Além de ser uma lição para dirigentes de clubes, que promovem um marketing dualista do seu time de futebol (nós somos o bem, o rival é o mal). Mexer com as emoções das pessoas não é como vender um simples produto. Time de futebol não é marca, não é empresa. Time de futebol é paixão, por isso devem ser transmitidos os limites dessa paixão.

Um minuto de silêncio, não ao Coxa, não à vergonha do futebol paranaense, mas às vidas arruinadas das pessoas no dia 06/12/2009 no Estádio Major Couto Pereira.

2 comentários:

  1. Como já disseram aqui no blog antes: o maniqueísmo já era. Não existe bem, nem mal, mas sim gente torcendo pros seus próprios times. Particularmente, achava uma baboseira essa história de time. Mas agora que eu to mais inserida no meio, percebo que não é futebol o fator que deixa toda esssa história ridícula, mas sim os torcedores, que tomam as dores do campo para si e levam para o lado pessoal. Bem, quando a gente leva uma briga para o lado pessoa, as pessoas perdem a racionalidade. Os argumentos e as ações tornam-se muito passionais! Acho uma barbárie fazer do futebol, competição saudável e "limpa" (ah, não podemos ser ingênuos e pensarmos que nunca houve na face da terra um resultado manipulado), um lazer, um cano de escape para uns (porque berrar no estádio e torcer é estravazar, esquecer dos problemas reais) um campo de batalha animalesco. É neandertal, decepcionante, uma CIVILIZAÇÃO, um povo soberano, descer a tal nível. Pior que não era só gente sem educação que tava ali no meio da muvuca. Bagunça é diferente de revolução, de expressar aquilo que não temos voz para falar e ser ouvido.
    Sinceramente, eu to aprendendo a gostar de futebol. Ainda estou vencendo meus preconceitos, proque ocorridos como esse fazem a gente ter asco da situação. O culpado não é o esporte, o culpado são aqueles que vão "torcer" da maneira errada.

    ResponderExcluir
  2. Realmente, é complicado o que vem acontecedo com o futebol nos ultimos anos, as consequências que o fanatismo exagerado trazem. O brasilerio deveria aproveitar mais o que o futebol tem de bom, as emoções, aquela adrenalina! Mas apesar do episódio lamentável de ontem, é dificil um atleticano não se sentir bem com a queda do coxa para a segunda divisao! haha

    ResponderExcluir

Regras dos comentários para melhor organização do blog:

- Comente de acordo com o tema do post.
- Sem ofensas nos comentários.
- Manifestações (tanto a favor quanto contra) são bem vindas.
- Siga a regra da ABNT nos comentários. (Brincadeira =D)