segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Na Prática, a Teoria É Outra

Esses dias eu tava ai, revendo uma aula de história do direito. Foi então que percebi uma coisa que não tinha notado em aula: a revelação que nosso professor fez e ninguém deu bola! Vejam só:
O despossuído tem somente o sonho irrealizável de ser proprietário. É essa a lógica que a burguesia vende: todos podem ser proprietários. Teoricamente, podem. Mas na prática, a teoria é outra: uns podem outros não podem.

O Iluminismo do século XVIII foi fundamental para consolidar essa lógica, principalmente com a racionalização do conhecimento. O uso da razão iluminista. Essa razão vai ser chamada, mais adiante, por filósofos da escola de Frankfurt, na Alemanha, de uma razão instrumental. Os Frankfurtianos tem sua escola surgindo no período entre guerras. Na Alemanha, esse é um período de crise: ela perde a I Guerra Mundial , Inglaterra e França impõe a ela um ressarcimento do prejuízo de guerra, a Alemanha é proibida de ter exército, perde a Alsacia-Lorena, e tem uma crise econômica como nunca antes vista. E é ai que se desenvolve o pensamento crítico. Isso que a Escola de Frankfurt vai fazer: a primeira reflexão importante filosófica do século XX, que critica a razão iluminista, chamando-a de razão instrumental. Instrumental para quê? Para o controle da natureza. Esse era o seu objetivo, dominar a natureza. Então é uma razão que é utilizada como instrumento de domínio.

E aí vem a reflexão que os Frankfurtianos fazem: o homem de fato está separado na natureza? Ou o homem faz parte do homem do mundo natural? Se ele pertence ao mundo natural e toda razão instrumental iluminista foi projetada para controle do mundo natural, qual é a conseqüência que essa racionalidade teve para o próprio homem? O controle do ser humano também. E aí vem as análises que Foucault faz sobre a sociedade disciplinar, esquadrinhamento, controle, disciplinalização, que vem dessa racionalidade. Por isso, os historiadores Frankfurtianos não são críticos da razão, e isso é importante hoje, porque é essa a idéia que se tem.

Os pós modernos são aqueles que não mais acreditam na razão. A razão já era, precisamos partir para outras formas de conhecimento do mundo: conhecimento sensível, outras formas de inteligência, inteligência emocional. Papo irracionalista, não acredito mais na razão. Os Frankfurtianos, no entanto, falam que o problema não foi a razão, mas sim essa razão que nós tivemos contato. É possível ser racional e emancipar, ser racional e tentar. A razão não é só um tipo de controle burguês. O que precisamos não é de uma razão que modele, mas sim aquela que emancipe; que não seja construída para a sociedade, e sim pela sociedade.

3 comentários:

  1. Eu diria que a razão é um instrumento magnífico desenvolvido pelo homem. Uma pena (para os outros) meu pensamento ser muito influenciado por Schopenhauer.
    Posso dizer que, sem a lógica e a análise fria através da razão, não seria nada (eu, obviamente).

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  2. Já eu tenho que discordar, Jamil. Pra mim o excesso de razão ofusca certas percepções sensitivas. Descartes, por exemplo, abdicou de todos os sentidos para descobrir a verdade, o que eu acho totalmente inválido. Os sentidos estão no nosso mundo bem como a razão, talvez eles ofusquem ela, ou quem sabe abram seus olhos. Prefiro continuar com o clichê shakesperiano: "Existem mais mistérios entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia".

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  3. Olha só, que legal ver a Hermínia falando da Escola de Frankfurt.
    Eu bem que tentei dar uns toques quando você foi minha aluna, mas como você mesma disse em outro post mais acima, "o que a faculdade não faz com as pessoas?".
    É isso mesmo, há que se esperar o momento de digerir determinadas ideias, de se fazer certas reflexões. Às vezes, somente com um referencial cultural mais amplo é que tais coisas são possíveis.
    E a razão? Essa tal que desbancou a fé no mundo ocidental e que ainda não trouxe a tão propalada redenção da humanidade... Qual é mesmo a razão que nos foi oferecida? Para que ela serve?
    Os ideais iluminsitas "foram vendidos tão barato que eu nem acredito".
    Daí fica mais fácil compreender o papel dos frankfurtianos na tentativa de apreender as dinâmicas históricas que norteiam a sociedade contemporânea.
    Discussões tão necessárias para mim mesmo. Resolverão os problemas do mundo (todos aqueles que estão entre o céu e a terra)? Espero que não, pois não há bula que traga as indicações precisas para a humanidade. Mas para mim resolverão muita coisa...
    Enfim,me mandaram o link deste blog e assim que acessei fui surpreendido pela abundância de ideias e palavras de alguns velhos conhecidos meus.
    Esse blog é um bálsamo que ratifica minha ingênua esperança, esperança que não está pautada nem na fé nem na razão, mas nos homens, na humanidade aqui representada por uma Hermínia, por um Allan, um Jamil e um Pedro, todos eles humanos da mais alta estirpe.

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