quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Mas a Mônica Queria Ver o Filme do Godard"

"Le Gai Savoir"- Jean Luc Godard

A subordinação da arte ao mercado faz com que a poesia não mostre sua ousadia. As imagens de Hollywood são grosseiras e dispensam o livre pensamento, jogadas aleatoriamente e sem a filosofia de seus significados. A surdez artificial vendida como verdade pelo mercado tem uma grande fissura nesse novo olhar, representado por Godard, que pretende, nesse filme, intensificar a poesia de imagens e sons contraditórios. Em “ Le Gai Savoir”, Jean Luc Godard não quer explicar o cinema, mas sim oferecer um método para que isso seja feito, que mostre a arte e a cultura impregnadas nele.

O filme recusa o fácil e nos faz pensar, confronta idéias políticas, fala de Marx, Lênin, Mao e Freud, legitimando seus profundos conceitos em suas imagens. Penso que esse título foi uma alusão ao nascimento da poesia européia, com o trovadorismo do século XII. Representa o confronto com o passado e o presente, e deixa no ar a incômoda interrogação de como lidar com o futuro. Geniais os silêncios visuais em homenagem aos Panteras Negras e a outros movimentos revolucionários.

Produto de seu meio, o longa explicita o sepultamento do moralismo da década de 60, a passagem de “I wanna hold your hand” para uma revolução sexual. Imagens da Guerra do Vietnã são misturadas com quadrinhos americanos. Patricia e Rousseau, “protagonistas” do filme em dado momento até falam que a perversão se deflora na negação do sexual. “Le Gai Savoir” exalta o espírito revolucionário jovem, o ensino cada vez mais conformado pela sociedade imperialista burguesa. Nele, há uma passagem na qual Lenin fala que o comunismo só será uma opção quando o capitalismo, tão profundamente impregnado na sociedade atual, não seja mais ensinado nas escolas, não mais conforme e esvazie o povo. Isso se aplica a hoje, o povo está tão comportado que não é mais visto nas ruas.

Um filme brilhante, que representa inovação para, até mesmo, a atualidade. O método e o sentimento se confrontam de um jeito desconfortável, mas necessário. E pensar que até a Legião Urbana já conhecia ele e que, mesmo hoje, ainda representa a quebra de um padrão.

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