terça-feira, 8 de setembro de 2009

Essa Falta de Conformismo que me Faz, (In)felizmente, Pessimista Demais

Primeiro artigo, primeiro tiro no escuro. Quando me pediram para escrever sobre política aqui no “Mais do Mesmo”, pensei logo em escrever sobre a característica primordial do jovem: o inconformismo. Nada melhor do que escrever sobre a esperança que já fez nosso país sair da ditadura, da inflação, ou que acreditou que o Merthiolate (que não ardia) curava. O ponto não é dizer que o brasileiro é manipulável, ou, talvez, crédulo ao extremo, mas sim ressaltar a importância dessa esperança.

Conheço estudantes comunistas, trotskistas, maoístas, até seguidores do Inri Cristo, mas dentre eles há um sentimento em comum: a vontade de ver o Brasil ser um país justo, de qualidade de ensino invejável. O inconformismo do jovem, por toda a história, sempre vai, vagarosamente, desgastando, desgastando, ate extinguir-se por completo. Quem imaginaria que aquele médico, advogado, engenheiro, que hoje só lê Veja, que faz um ctrl+c ctrl+v mental das colunas, lia o Capital de Marx, colocava no último volume “O Vira” dos Secos e Molhados, e tinha até esses tempos o ingresso do primeiro Rock in Rio guardado em meio a certificados de cursos, álbum de formatura. Nós ficaremos assim, sem dúvida. O problema é que encontro cada dia mais colegas da minha idade já conformados com o quadro atual.

Hanna Arendt denominou esse fenômeno como banalização da violência. Porém, Arendt fez esse estudo baseado no massacre praticado pelos nazistas sobre os judeus durante a segunda guerra, como os soldados se acomodaram com a calamidade que ocorria, como a frivolidade tomara conta dos seus corações. Ela nunca pensou que isso poderia aplicar-se ao conformismo político que nós temos. Essa noção de incapacidade para tirar alguns gatunos engravatados que povoam a manchada figura do Senado brasileiro. Temos diferenças das gerações anteriores, a música era melhor, a comida mais saudável, o tempo passava mais devagar. Mas quando se trata do inconformismo, estamos falando da essência do espírito jovem, esse anseio de mudar o mundo.

Bato o pé, veementemente, e digo que é sim possível acabar com essa vergonha que vivemos hoje. Basta fazer durar essa esperança, ir contra a maré, todos os políticos que hoje roubam e denigrem a dignidade da nossa política já foram também idealistas, mas sempre desistiram de remar e foram levados pela corrente. É complicado toda vez que discutir política com alguém você levar uma risada na cara pois você acredita na mudança. Até Belchior, “apenas um rapaz latino americano”, não suportou a pressão da vida e fugiu. Mas eu ainda dou minha cara a tapa, mais um dia, mais do mesmo, mais um sorriso amarelo no rosto. Conformar-me, ainda não, ainda não.

3 comentários:

  1. O problema da juventude é falar de mais e fazer de menos.
    Por mais inconformismo e revolta que tenhamos, as manifestações são pequenas. Pessoal reclama no orkut, indigna-se no msn, mas aí chamam pra passeata e aí:"não dá, vô num churras de uns parça ae".
    E cada vez mais acredito que manifestações não-violentas, se não tiverem uma participação massiva e que não possa ser ignorada, não dão resultados. O jeito é ou mudar o sistema estando lá dentro, ou partir pra violência.

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  2. Concordo com o Jack, mesmo durante tanto tempo fazer questão de estar alheio à toda essa situação... "Quem sabe faz "ahora" não espera acontecer"...
    Porém, creio que em todas as gerações, as minorias sempre foram dos que partiram para a rua, indignaram-se verdadeiramente... Só que essa minoria teve a habilidade em convencer a maioria de que é possível fazer mudança.

    A crítica desse blog não é feita por jovens que estão somente sentados...Nosso objetivo é sim comover, alertar, trazer esperança, todos que postam nesse blog já foram em passeatas, porém, insuficientemente para o caos político atual...

    Devo desculpas por ser um brasileiro parcialmente conformado, porém, não estamos sentado de braços cruzados...

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  3. Pedro Felipe.

    Vejo que vocês aí, entre amigos, criaram uma sociedade dos que gostam escrever. Ótimo!

    Quase não se vê mais isto, nos dias de hoje.

    No passado, alguns grupos assim foram verdadeiras estufas de talentos. E vocês levam jeito. Pelo menos até aqui, o que eu já li, está com um paladar autenticamente literário. É prosseguir, não parar, porque penso ter visto talentos.

    Quanto ao "mérito da questão"..., ou seja, quanto a um dos enfoques principais do teu texto: não se desencante antes do tempo! Alguns não consentem que o passar dos anos lhes faça a desgraça que nós tanto vemos... São poucos, é verdade... Mas, nem todos deixam o sonho morrer.

    Que tal, você mesmo, não deixar?! Eu não deixei. De jeito nenhum. Até "piorei": não paro de sonhar, até acordado...

    Em frente! Parabéns.

    P.S.: Sugestão de revisor chato "bato o pé, veementemente". Caso contrário, fica com o sentido de que o teu pé tem vontade própria, é veemente por conta própria, é "um pé veemente".
    São enganos comuns. É importante que um revise o texto do outro: ninguém é bom revisor de si mesmo - nem o melhor revisor da Enciclopédia Britânica!

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