quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Humildes Meditações

Posso dizer, sem medo, que faltam ouvintes decentes no mundo. Pior ainda é a escassa quantidade daqueles que sabem discutir (ou, citando a Mínia no outro post, sabem usar a "enferrujada" dialética). Mas o que me preocupa mesmo, nesse assunto, é o número de pessoas que não valoriza as divagações próprias e dos outros, principalmente sobre assunto viajados, metafísicos ou até triviais.

Notei isso tudo quando, como faço rotineiramente, estava num momento introspectivo e fui interrompido. O ruim não foi a interrupção, mas sim a extrema falta de noção dos que me interpelaram. Perguntaram-me, como sempre fazem nessas situações, se eu estava triste, preocupado ou até nervoso(?!). Nem passou pela cabeça deles que eu poderia estar simplesmente pensando. E se menciono o assunto que ponderava temo que teria sido não só motivo de riso, como de desprezo.

Ouso hipotetizar que esse comportamento e (falta de) pensamento advém daquilo que citei no início: a falta de valorização dos pensamentos e divagações íntimas. Isso não nos levaria, dando um pequeno pulo, ao absurdo de menosprezar a profissão do filósofo? Não podemos passar dez minutos do precioso tempo de nossas vidas pensando em assuntos, muitas vezes considerados irrelevantes (mas muito mais profundos do que aqueles que divagamos sobre no cotidiano), que somos tachados de desocupados e vadios despreocupados (no sentido de não fazer nada útil).

Não vou negar que esse tipo de desvalorização foi um dos motivos para eu ter escolhido a engenharia ao invés da filosofia, mas, apesar disso, eu (um dia, quem sabe) irei mostrar para aqueles, que não entendem esses nossos momentos introspectivos, o real valor dessas meditações e a sua importância.

6 comentários:

  1. Eu sempre digo que o maior trunfo dos gregos e a maior razão de todo aquele desenvolvimento filosófico-científico é graças ao ócio criativo. Eles literalmente não faziam nada. Mas é justamente não fazer nada que possibilitou Pitágoras desenvolver seu teorema, Sócrates questionar os dogmas do mundo e tantas outras "heranças gregas" que temos hoje.

    Talvez se olharmos um pouco mais pra dentro, entendamos o que se passa lá fora...

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  2. Não seriam só os momentos de reflexão solitários, mas também a própria discussão de coisas pertinentes, como a política, o futuro profissional... Hoje, como eu disse no nosso último encontro, é cada vez mais raro uma discussão sobre coisas úteis, uma cerveja para cada um, um tema polêmico, pessoas que buscam se livrar dos preconceitos... As conversas lúdicas tomaram conta e o anseio pela informação e pela formação de uma opinião bem fundamentada, embasada em diversas opiniões diferentes, foram deixados de lado...
    Apesar da nossa amizade, Jamil, vejo nossos encontros não só como um simples happy hour...é uma academia para a mente, talvez...rs
    Porém, gostaria de salientar que hoje o conhecimento construído por pensamentos solitários já demonstra grande limitação, de maneira nenhuma retirando mérito de raciocínios feitos pelos grandes filósofos da Antiguidade.
    Mas a gama de conhecimentos hoje abrange uma diversidade impossível de conhecer por si só, além das diferenças culturais que trazemos.
    Um exemplo é esse blog que, como motor de arranque, faz-me a cada dia reformar e repensar meus conceitos...

    Salientando aqui também a importância dos comentários, eles trazem um complemento que valoriza não só aos que lêem, mas também aos que escrevem neste espaço.

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  3. O pior é que dá para notar a honestidade dessa observação. Triste saber que existe uma verdade assim. O mundo pós-século XIX adotou uma filosofia paradoxal: é mais fácil não pensar. Porque não pensar é mais fácil, dói menos, magoa menos, não te afasta de ninguém, nem te aproxima de ninguém, não trás lucro material, de um modo mediato. No entanto, essa lógica dos avessos tem brechas, e espero estar cavando em uma delas agora mesmo.
    Organizar seus pensamentos e transferí-los para a escrita também é um dom. Você foi muito transparente, me senti abrindo sua cabeça e dando uma espiada. O ruim é o fato dessas idéias terem um pano de fundo real: o universo comodista de hoje.

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  4. Vou tentar seguir a regra da ABNT, mas orra, eu não sei qual é!
    Bem sincero em Sr. Barbudo socialista, mas um quanto perdido em seus pensamentos!

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  5. Estou num momento da minha vida que se penso, logo desisto!

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  6. "Filosofia é poesia, já dizia minha vó, antes mal acompanhado do que só...." - Erasmo para maiores de 4.0
    Mas aproveitado a inspiração Legião Urbana do blog, divaguei sobre o tempo. Até os 30 anos a sensação é que temos todo o tempo do mundo. Depois disso, que não temos tempo a perder!

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