quinta-feira, 25 de março de 2010

Evadindo-se e Recorrendo

Estonteado por pensamentos e cafeína, tropecei na rua e acabei sentado num banco de praça. Ainda com a cabeça girando, resolvi me organizar, desorganizando o resto, como pregava o sábio Francisco de Assis França.

Primeiramente, olhei nas janelas/olhos do edifício de business do outro lado da praça. Encarei obstinado sua imponência, sua força, sua "gigrandeza". Briguei com suas complicações, sua fundação, sua burocracia. Com certa facilidade, vi-o implodindo-se na minha frente. Assim, consegui, como dizia o mesmo Chico Science, ver o céu atrás do arranha-céu, e, depois desse, ainda outro céu, sem estrelas.

Em seguida, desafiei os passantes. Por estar numa praça central, eram muitos os pequenos mundos que me provocavam. Mesmo assim, fui às armas contra cada um dos olhos, sonhos, convicções e crenças, medos e pesadelos. Suei para fazê-los caírem, cansei após derrubá-los das suas certezas e da sua própria existência. Joguei-os para o nada, abismo abaixo.

O maior desafio veio em seguida. A pequena queda d'água, o laguinho que ela forma, as árvores que envolvem toda a praça com seus braços marrons-esverdeados. Tudo isso, com sua naturalidade, sua fluência, sua absolutidão, caçoava de mim. Não me intimidei e fui além da garoa fina que me resfriava a careca, dos pássaros se banhando no lago, das folhas mortas que caíam sobre mim. Com força descomunal, empurrei-os para a escuridão, para a indecifrável incerteza.

Com o suor pingando, figurativamente, relaxei os ombros no banco que me abundava. Porém, logo vi que, na sala/vácuo que me encontrava, havia um elefante: eu. Por isso, por mais confortável que o vazio me fosse, ainda aqueles escombros zoneados deixados de lado tinham algo em comum, uma ligação comigo. O branco da matrix era lindo, aconchegante, e a escória que restava do nosso mundo era, apesar de dolorida e feia, amigável.

Por fim, ouvi as badaladas da igreja ao longe e senti o chamado intrínseco dos escombros. Tinha compromissos com alguns edifícios demolidos.

6 comentários:

  1. Linda a crônica. Lembra muito "Cidades invisíveis" de Itálo Calvino..

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  2. Quem me dera ter essa sensibilidade que você tem, bicho... Aliado a um pouco de loucura e alguns pelos na cara, saiu: Jamil!

    Parabéns por enriquecer nosso blog com essas inquietações individuais, não só cornetagens políticas e resenhas mal humoradas com pensamentos absolutos de filmes, arte, dentre outros.
    Divergem, e muito, as linhas de pensamento daqui do blog. Mas a cada post lido, melhoro minha visão de mundo. Nada como compartilhar para dar um passo até o conhecer, amadurecer.

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  3. é muita filosofiaa...

    vai pra flatland!

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  4. Um dos melhores textos que eu já vi por essas bandas. ;D

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  5. Grande Jamil Assis, que prazer! Quanto tempo rapaz! Venho aqui retribuir sua visita ao meu blog! hehe

    Cara, modéstia sua admirar meu texto quando a tua própria escrita encontra-se toda uma eternidade a frente da minha.
    Uma escrita muito mais sensível e corajosa. Sério mesmo curti - pra caralho - seu texto.
    haha
    Sonhos no pós-moderno.
    Vou seguir vocês aqui!
    Abraço, rapaz!

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  6. Bah!
    Eu estou realmente chorando depois de ler esse post. E detalhe, estou em Barcelona!
    Hoje, passei por um turbilhao de sentimentos em que o tema principal foi amizade! Se soubesse o quanto lembrei de ti...
    Mas, desconstruir a realidade foi o que mais fiz em BCN! O lugar e magico e diferente, cada experiencia e intensa,consome as pessoas e faz com que revelem suas mais intimas caracteristicas... descobre-se quem se e, mas tambem quem sao os outros!
    E diante disso que digo, pela enesima vez, tenho orgulho em ter voce como amigo!
    So voce para ser capaz de escrever dessa forma tao sincera e profunda o que vivi aqui do outro lado do mundo, nessa cidade maravilhosa!
    Ouse, Jamil! =)
    Saudade doidaaaaa dos nossos cafes!
    Para finalizar... Boa Pascoa a todos do Blog!
    Beijoes na testa e abracos apertados!

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