domingo, 24 de janeiro de 2010

Transgressões

Nadar contra a maré sempre foi algo cultuado pelas pessoas, mesmo que por fora, pelo underground. Aquela ideia, aquela vontade de rebeldia, de liberdade exacerbada, sempre povoou nossa imaginação. Quem nunca deu um deslize, também? Dirigir sem carteira (ops!), assistir filmes ou shows sem pagar, usar drogas (lícitas e/ou ilícitas). Todos exemplos de "pequenos" erros que, a primeira vista, parecem inofensivos. Outra coisa: regras bobas, leis idiotas. Como assim tenho que prestar contas de tudo para o fisco? Ou tenho que fazer auto-escola por trocentas horas, mesmo já sabendo dirigir? Só servem para incentivar rebeldia, desprezo pela ordem.

A literatura, obviamente, se envolve bastante nessa discussão. Por indicação de uns e lembrança de uns conceitos esquecidos, cito aqui dois monstros sagrados: Nietzche e Dostoievsky. Desse ótimo artigo achado na web (cof, cof... hipocrisia...) tiro que o russo foi o primeiro a criar o conceito de "homem-idéia", enquanto o alemão, seu confesso admirador, moldou o "super-homem", seguindo algumas diretrizes do primeiro. Mas a essência é a mesma nos dois conceitos: com o advento do ateísmo, liberalismo e outras teorias libertárias, os autores viram o surgimento de pessoas que, ao terem a capacidade ideológica de viver "além dos credos" (Nietzche), podem tudo. Tudo mesmo. Dostoiévski mostrou (muito bem) em seus romances esse tipo, porém, criticando-o. Enquanto isso, Nietzche via aqui a morte de Deus e a conseqüente abolição do pecado. Portanto, temos aí o "aval intelectual" para transgressões.

Mas não há um motivo para existirem leis? Mesmo não as conhecendo ("Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil), devemos cumpri-las. Afinal, uma pessoa que, durante um congestionamento no trânsito, resolve "cortar caminho" pelo acostamento está perturbando a ordem e a boa convivência em uma sociedade civilizada da mesma maneira (a grosso modo) do que uma que rouba, por fome, uma caixa de leite do supermercado.

Não devemos cultuar quem transgride regras como sendo "descolado", não podemos passar a mão na cabeça de quem, como diria Chico Science, é "bandido por necessidade", por uma questão de classe, nem existe a possibilidade moral de nos perdoarmos ao percebermos que fizemos algo que atrapalhará o resto da sociedade. Há exceções? Não me arrisco em dizer, mas que é tentador dizer que sim para nos safarmos de umas e outras, é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Regras dos comentários para melhor organização do blog:

- Comente de acordo com o tema do post.
- Sem ofensas nos comentários.
- Manifestações (tanto a favor quanto contra) são bem vindas.
- Siga a regra da ABNT nos comentários. (Brincadeira =D)