domingo, 17 de janeiro de 2010

Mania de Grandeza

Uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na última semana, apontou a preferência dos clubes de futebol no estado do Paraná. Do nosso estado, apenas 15% dos entrevistados torcem por algum time do Paraná. Atlético 8%, Coritiba 5%, Paraná Clube 2%, não foram nem mencionados na pesquisa times de tradição no estado como o Londrina Esporte Clube. 30% demonstraram não ter preferência por time algum, o que até é bom, pelo fato de ser uma dor de cabeça a menos, torcer dá trabalho. Mas aí olho para o topo da pesquisa e vejo o nome "Corinthians". Em segundo lugar, empatado com meu amado Furacão, há o Palmeiras com 8%. Esperando o quarto lugar ser mais uma conquista frustrada do centenário alviverde deste ano, vejo ainda Flamengo (7%), São Paulo(6%) e Santos (6%), a conquista do sétimo lugar, mais um presente amargo para nossos camaradas rivais.

É muito fácil explicar essa preferência por clubes do eixo Rio-São Paulo. A colonização do norte do estado foi predominantemente feita por paulistas na expansão cafeeira. No oeste paranaense, a cada 50 km você encontra um CTG (Centro de Tradição Gaúcha), fruto da migração feita para a criação de milho, soja, pecuária, gado. Porém, isso já faz mais de 80 anos, já se foram aí quase quatro gerações 100% paranaenses. Não consigo encontrar em quase nenhum lugar do Paraná uma identificação estatal, um patriotismo como há no Rio Grande, quando se comemora o aniversário da Revolução Farroupilha, ou em São Paulo, quando grande parte dos nomes de ruas, rodovias, é atribuído a Bandeirantes que matavam e escravizavam índios.

Nosso governador até tenta forçar um pseudo-orgulho de ser paranaense, ao impor que, antes do início de todas as partidas de futebol, seja executado o hino do nosso Estado. Aliás, consegui decorar parte do hino, “dentre os astros do cruzeiro és o mais belo a fulgir...”, e por aí vai.

Voltando ao futebol, faz 80 anos que nossos times daqui tiveram a chance de cativar os paranaenses das mais diversas regiões. É claro que há obstáculos, as filiais da Rede Globo espalhadas pelas regiões do Paraná transmitem o sinal direto de SP, o jogo do fim de semana: Corinthians x Náutico. Porém, falta um futebol aguerrido, de qualidade nos nossos times. Para que vou torcer por um time que só leva sacola? Que luta para não cair faz cinco temporadas? Que está na segunda divisão sem esperanças para voltar a subir? Que cai no centenário? Faço essa pergunta para mim mesmo diariamente, mas eu não tenho cura. Nós curitibanos torcemos pois temos uma história com o time, vivemos próximo ao Estádio, somos sócios. Mas e o pessoal do interior? Eles não tem esse privilégio de estar próximo ao time, então escolhem o time que mais veem na TV, que está no topo da tabela, escolhem o time dos artistas da Globo, time dos pais, do primo.

Basta os nossos times voltarem a jogar um futebol decente, fazer alguns clássicos no interior. Falta nossos times largarem a "mania de grandeza" e, de uma vez, serem grandes. E que venha o disputadíssimo campeonato paranaense.

Um comentário:

  1. Essa falta de identidade por aqui é bem triste, mesmo. Outro dia saiu na Gazeta do Povo matéria sobre isso. De capa. O interior e a capital não concordaram em nenhum aspecto, seja comida típica do estado, ponto turístico, time de futebol.

    Não comento no caso do futebol por não ser fã nem gostar muito de assistir (só jogar), mas esse problema é muito difícil mesmo de sumir. Criar uma cultura assim, do nada, quase impossível. Negócio é usar essas outras já existentes como base.

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