sábado, 30 de janeiro de 2010

"Organizamos a Vida de Tal Forma que Seja Quase Impossível Conhecê-la"

"Admirável Mundo Novo" - Aldous Huxley

Sabe aquele tipo de livro que você pega pra ler esperando muito, porque os outros falaram muito, mas quando você realmente lê vê que não era tudo isso? Então, aqui, isso não se aplica. Confuso? Espere até ler esse livro cheio de "fordezas", brinquedos eróticos para crianças, ausência de relações afetivas, família, romantismo, maternidade, religião, etc. Você se perde muito até pegar bem as novas regras do jogo. Mas eu posso afirmar, sem sombra de dúvida, foi um livro que mudou minha vida. Perceba como as coisas que vivemos aqui nessa lógica ocidental-mais-do-que-americanizada foram sempre assim. Sempre existiram famílias. Sempre existiram pautas morais. Sempre existiram os medos como axiomas, que herdamos de nossos pais. Só existiu uma única forma de continuar a existência da espécie. Imagine existir uma alternativa pra tudo isso. Pior, imagine criar essa alternativa antes da II Guerra. Depois dessa, virei fanzona do Huxley.

Vejamos: em 32 o homem não havia chegado à Lua; a Dolly ainda não tinha sido clonada; o LSD ( uma droga sintética) nem havia sido inventado; o cara nunca ouviu Beatles nem Frank Sinatra; o cinema 3D nem tinha imaginado em existir! Mesmo assim, Huxley já falava de drogas sintéticas; sucedâneos de paixão violenta e de gravidez (visto que as pessoas não podiam ficar com o mesmo parceiro por muito tempo, nem engravidar - os bebês eram todos clones); cinema cinéticos (onde você, ao apertar um botão, poderia sentir o que o ator estaria supostamente sentindo, ver a imagem em hologramas, e tudo mais); classes inferiores planificadas, porque os seus integrantes eram geneticamente adequados aos seus serviços e inferioridade, sendo preparados para sentirem-se satisfeitos com a sua condição social.

Hipnopedia (hipnose durante o sono), ateísmo, clonagem, e muita filosofia. Além de inédito, o livro faz você refletir sobre o nosso próprio sistema, faz você questionar uma lógica dominante e ser uma pessoa mais crítica, ter uma visão de fora, como o Selvagem, aquele que não foi criado no mundo "civilizado", que no início vê toda aquela sociedade pensada e produzida e a acha admirável, mas depois percebe seu lado pútrido: a felicidade através da desigualdade, da abdicação da felicidade individual para dar lugar a um sentimento de satisfação conjunta, de Bem-comum atingido. Ah sim, sem contar que os velhos aparentam ser jovens, porque sempre tomaram coquetéis da juventude. E a história deles também foi escrita pelas fordezas do governo, assim como os burgueses e a Revolução Francesa! Só de pensar já me da vontade de ler novamente. Taí mais uma dica.

Um comentário:

  1. Passando aqui para agradecer ao blog Sempre MDM! Há agum tempo o @AllanMH postou uma resenha sobre o livro Caim, de Saramago, no post "o livro que Deus amassou". Só me deixou com uma vontade ainda maior de ler a tal obra. Comprei o livro, e curti demais! Ótima indicação!
    Parabéns!

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