sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CaFÉ com LEIte

Escrever sobre religião nunca é aconselhável, é inevitável encontrar críticas sob qualquer afirmação que cercar seu texto. Isso acontece porque você lida com um campo onde argumentos lógicos, concretos, não bastam. Você lida com as emoções humanas. Porém, há um consenso que é o respeito a qualquer devoção, isso é assegurado pela Constituição, pelo senso comum, isso faz parte da liberdade moderna.

O que me instigou a escrever sobre a linha tênue, entre Fé e Lei, foi um fato que me chamou a atenção já faz algum tempo: a venda de um diploma de bom fiel, assinado pelo “inassinável” Jesus Cristo, entregue por uma igreja evangélica a um fiel que “doou” cerca de 30 mil reais à igreja que fazia parte.

Para nós, isso não gera indignação apenas do pastor “boa índole” que entregou o diploma, mas também do fiel que aceitou o diploma. Que punição sanaria o tipo de crime que foi isso, ou melhor, que tipo de crime seria isso? Creio que não seja apenas estelionato, pois se trata de manipular uma área vulnerável de qualquer ser humano, a parte dos sentimentos. A religião, qualquer uma delas, traz conforto aos seus fiéis, aproxima o indivíduo à divindade. Porém, o problema inicia quando uma instituição tenta passar ao fiel que a instituição e a divindade são a mesma figura. Assim, a instituição deixa de ser um intermediário e torna-se autoridade o suficiente para exigir o que for do fiel.

A grande particularidade, o que deve ser levado mais em conta ao analisar esses casos, é que não basta prova concreta, contrato, RG, CPF, título de eleitor, para determinar crença, eu creio e pronto. Esse fervor, essa certeza da crença, são manipulados por muitos pastores (em sua esmagadora minoria, claro) que distorcem a imagem do amor a Deus. |Você precisa provar publicamente esse amor, “Deus não aceita esmolas”, e por aí vai. Só que Deus não tem conta corrente, quem recebe é a instituição. E o ato de crer é incomensurável, é incomparável, ainda mais quando compara-se coisas materiais aos sentimentos.

A solução é dá quem quer, porém, tem limites de manipulação, como é o caso do diploma. Eu ainda insisto na solução da educação. Com ela, você perde seus julgamentos intransigentes, você perde os extremismos. É mais fácil perceber o que é amor a Deus e o que é exploração. Tudo parte do sentir-se à vontade num lugar, sentir-se bem, fortalecer-se, pois está para nascer melhor remédio que fé e boa vontade.

2 comentários:

  1. Pelo fato de envolver sentimentos fora da explicação da razão, realmente é complicado tocar nesse assunto.

    Bom o texto, absurdamente indignante essas situações de pessoas que se aproveitam do inexplicável pra lucrar.

    Mas é difícil ter simpatia com pessoas que acreditam muito cegamente, sem nenhuma evidência. Pior ainda se se mostra vulnerável à pastores desse naipe.

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  2. Concordo, existem muitas atrocidades por ai que deveriam ser consideradas crimes, mesmo ultrapassando a linha limitrofe da jurisdicao do Estado. Esse diploma, por exemplo, nao foi emitido com boa fe subjetiva, assim como as doacoes tambem foi extorquidas dos fieis. A educacao seria uma solucao plausivel, visto que as pessoas possuiriam um senso critico mais aprimorado, nao deixando ser enganadas tao facilmente. Ate tava falando com o Jamil esses dias sobre o metodo cientifico, sobre aceitar uma coisa como verdadeira apartir de uma serie de evidencias plausiveis. Penso que quando se tem acesso a um universo de informacoes, aceitar algo como verdadeiro vai se tornando cada vez mais dificil, nos tornamos cada vez mais exigentes.

    Mas a religiao, como Marx dizia, e o opio do povo. E visto que vivemos em um Estado laico, pior ainda, estamos num mato sem cachorro...

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