domingo, 25 de outubro de 2009

O Livro "Bem Escrito"

"O Retrato de Dorian Gray" - Oscar Wilde

Romances românticos são quase sempre nacisistas e restritos a um só sentimento. Se os personagens "esféricos" sentem outra coisa é para que , no final, acabem felizes para sempre. Mas existem aqueles poucos livros, cujos finais são os mais inusitados, que me fazem pensar. Goethe ao construir Werther pensou em um personagem movido pelo amor, mas de um modo diferente:masoquista e esperançoso, não egoísta e narcisista, amante e introvertido. Mas o personagem que eu mais admirei até hoje dentro desse setor literário foi Dorian Gray. Incrível como sua inocência e ingenuidade se fundem com iniquidade e busca pelas futilidades pagãs. Sua "branca e rosada" juventude, tão admirada e valorizada por ele mesmo e pelo resto da elite londrina, torna-se eterna em um quadro feito por Basílio Haward, pintor este gamadão em Gray. O quadro é pintado com tanta sinceridade por Basílio, que torna-se algo íntimo, visto que coloca muito de si na obra. Gray é influenciado a adorar sua imagem, de modo a prometer sua alma àquele que conseguir manter sua aparência como foi pintada.

Justamente por ser tão vulnerável às opiniões alheias, com sua bela ignorância ( visão sem máculas nem cicatrizes de outras teorias) torna-se interessante ao leitor. A decadência da sociedade e a imoralidade, tão bem expostas e retradas no livro são o pano de fundo das longas discussões e solilóquios do protagonista e de seu amigo, Lord Henry. Este, é largamente conhecido por sua habilidade de influenciar os outros. Ele faz questão de emprestar um livro que torna Dorian adorador das belezas pagãs, de sua arte e de seus rituais. Nesse aspecto, o livro de Wilde torna-se denso e curioso.

Enquanto Dorian vai realizando aquilo que leu e tanto gostou, durante vinte anos de sua vida, sem mudar nada, as cicatrizes de seus feitos, assim como do próprio tempo, ficam estampadas no quadro pintado por Basílio. Nesse aspecro, Wilde explora os fantasmas do passado que assombram a consciência de Gray, como eles o atormentam e torturam, influenciando seu presente. O mais incrível é a habilidade que Dorian tem de perceber os mais distintos aspectos de sua alma com uma distância incrível, a ponto de conseguir detestá-los criticá-los, e ao mesmo tempo perceber que é impotente para mudar. Ele é, e isso o faz ter ódio de si mesmo. Imagine poder contemplar sua alma em uma pintura, que muda com os anos e com as experiências que você vive? Seria um alívio a curiosidade e ao mesmo tempo um tremendo fator enlouquecedor.

Acho que gostei ainda mais do livro justamente por não ter tempo de lê-lo. Além de dar valor aos poucos minutos que eu dava uma espiadinha entre as páginas, pude degustá-las longamente, aproveitar cada passagem ao invés de engolí-las de uma vez só. É isso que nos recomenda Ítalo Calvino, ao pegarmos "Cidades Invisíveis" para ler. Demorarmos em cada parte. Mas, como já dizia Oscar Wilde :"se um homem encara a vida de um ponto de vista artístico, seu cérebro passa a ser seu coração". A trama sem pudores é explicada pelo autor: "Não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo."

Fica aí a dica de um livro filosófico e intrigante, pra encontrar o download do livro em pdf, clique aqui

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