segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O ENADE

É por isso que eu adoro esse pessoal do blog. 40 minutos de debate sobre o ENADE, prova que Minia e eu faremos no dia 8 de novembro. Não tínhamos opiniões opostas, mas havia minha curiosidade em saber o porquê dos alunos de Direito da UFPR boicotarem a prova.

Gostaria de perguntar isso também para a Aline, nossa honorária aqui do blog, e também para todos. Vejo nesse protesto um raciocínio muito bem pensado, porém pouco trabalhado nas idéias e circunstâncias que foram desenhando o momento atual do país.
Abrindo a discussão aqui para críticas e pedradas, espero que todos compreendam e ajudem a trazer a tona o boicote, que já virou religião para muitas pessoas. A razão desse post é justamente comentar, trabalhar a idéia, para que, como já diz o título, não repetirmos o que foi dito por especialistas, veteranos, presidentes de partidos, e sim usarmos as palavras deles como sustentação da nossa voz. Como estudantes, somos construtores de opiniões e nunca meras pessoas que consentem por diferença de currículo, poder e idade.

As verbas destinadas para as instituições de ensino superior públicas são subordinadas ao critério determinado pelo Ministério da Educação, justamente, o ENADE. Pelo pouco que conversei com a Minia, por isso peço a participação de todos, para saber mais, quanto maior o conceito avaliado por esta prova, maior é a quantia de recursos repassada para a instituição. A quase totalidade dos alunos que boicotam defende o repasse proporcional justamente ao contrário, quanto menor a nota, maior o incentivo estatal. Porém, o boicote não seria maior ainda? Todos querem a maior verba possível, se tirarmos um conceito no teste baixo, teremos mais recursos, vamos boicotar. A arrecadação de impostos pelo governo é descomunal, a prioridade tem de ser a educação, então vamos boicotar mesmo. Não seria justo.

As Universidades públicas que não obtêm um conceito alto recebem posteriormente um fiscal do Ministério da Educação para buscar as supostas falhas do curso que justificariam a nota. O fiscal vai até lá, faz uma vistoria, busca o que não é possível encontrar, como encontrar defeito no ensino de uma UFPR, por exemplo? Cria-se um impasse na maneira que o governo encontrou de justamente impulsionar o ensino superior. Quer coisa mais inspiradora que uma competição? Ainda mais pelo conhecimento, que nunca enche o cérebro. Quanto mais se estuda, mais espaço tem a cabeça. Busquei no pouco tempo que tive de conversa, escrever esse post encontrar uma maneira diferenciada para avaliarem as instituições de ensino superior. De cara, lembrei do famigerado vestibular, que apesar de injusto, por direcionarem o ensino e não conseguir compreender que cada lugar, cada sala de aula, cada pessoa, pode pensar diferente, é o mal necessário para avaliar pessoas de diferentes regiões, escolas e professores. Um boletim com um 10 em plena floresta amazônica, em uma escola de índios e um 10 no Colégio Bom Jesus é totalmente diferente.

Percebi que muitos adotaram essa postura contra por, justamente, pouco pensarem sobre o assunto, por gostarem de estar contra o sistema - com todo o respeito, já que sou, também, contra o sistema -, por tentarem seguir a linha do partido estudantil filiado. Não quero ofender, macular a imagem de ninguém aqui, mas tento buscar sempre o caminho mais curto e benéfico para a solução do Brasil: a educação. Che preferiu ir direto para a luta armada, Gandhi preferiu a guerra sem violência, qual seria a melhor solução nesse caso? Mais verbas não significariam mais vagas, melhor ensino, maior acesso das pessoas à Universidade. Sem querer, ao gritar pelo boicote ao ENADE, deixamos de refletir sobre essas pequenas coisas, que têm um significado maior, o bem comum.

12 comentários:

  1. ENADE- quer assunto mais polêmico? Até há alguns minutos atrás eu era completamente contra: ia boicotar e fim de papo. No entanto, cá estávamos eu e o Pedro discutindo sobre isso, e ele( não estando afetado pelas opiniões majoritariamente negativas sobre o ENADE, influência essa que eu carrego fortemente, por causa da faculdade) falou algo que me fez pensar. Enquanto eu via o exame como uma forma de hierarquização das instituições públicas e uma estratégia de marketing das universidades privadas, contribuindo para o aumento das diferenças entre aquelas com conceitos mais baixos e as mais bem taxadas, o Pedro via como uma maneira de estimular a livre-concorrência entre essas instituições de ensino superior. Acredito que o investimento mais bem feito, realmente, é no setor educativo. Mas o Estado inverteu essa lógica: as universidades públicas com os melhores conceitos ganhariam abonações em seus orçamentos, tendo cada vez mais capital para investir em melhorias. Já aquelas que possuiriam conceitos 1 e 2, receberiam menores quantias de dinheiro, não tendo o mesmo para investir em melhorias que aqui se fazem muito mais urgentes. Ao meu ver, aquelas que possuíssem as menores notas seriam as universidades que precisariam de um incentivo maior. Por isso, para que eu não contribuísse com esse sistema de avaliação injusto, boicotaria o ENADE, em nome de um mais equânime e justo. Mas, até agora só ouvi argumentos contra o exame, quase nenhum a favor. Realmente, esse seria um debate construtivo, peço que comentem. Estamos postando aqui ao vivo, em conjunto, hahaha inédito o negócio.

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  2. Você não passa de um pelego frustrado com teorias fenomenológicas...

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  3. aaa, fio, sem ataques pessoais. Acredito em um debate construtivo, na dialética. Atenha-se a críticas a essas teorias "fenomenológicas".

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  4. Mesmo lendo o texto inteiro continuo a favor do boicote e de uma vistoria específica. Não teria esse "boicote geral" por mais verbas, afinal seriam vistorias, e não somente provinhas bestas sem poder de avaliação algum. O que a UFPR exige é uma avaliação digna, o boicote só serve pra que os inspetores, ao virem à UFPR, percebam que o método de avaliação deles é pífio.

    Já sobre as verbas, não concordo que as piores universidades mereçam mais verbas, são as USPs, UNICAMPs, UFRJs, UFPRs, UFMGs da vida que avançam a pesquisa do Brasil. E olhe que fazem milagres, afinal verba pra pesquisa é difícil de arranjar... Mas também concordo que precisam de atenção especial, mas pelo menos só são as verbas o problema né? Corrupção nas faculdades?? Aqui no Brasil?? Não acredito... Intriga da oposição...

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  5. O Guia do Estudante faz uma avaliação legal das faculdades... Eles avaliam a quantidade de Doutores e Mestres, os programas de pesquisa e extensão, a infraestrutura, etc. É isso que queremos do MEC (já digo queremos por que se tudo der certo, ano que vem eu estarei nesse "nós" do "queremos", haha)

    Ah, e pro anônimo que vomitou ofensas, só lamento. Um amigo meu uma vez me disse que "Quem simplesmente xinga, não sabe usar a língua". Fica a dica aí, campeão.

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  6. É claro, não disse que as universidades com conceitos piores deveriam ganhar mais, até porque é estritamente arcaico um sistema de distribuição orçamentária que não considera as atuais pesquisas, um proporcional de alunos, a qualificação do corpo docente. Falo de um sistema de incentivos: a UFSC precisa de mais incentivo pra desenvolver seu programa científico, do que a UFAC, por exemplo? É disso que o ENADE trata: de um incentivo pecuniário. Mas é como você falou, com corrupção na administração das faculdades, um aumento no orçamento não implica necessariamente em melhorias para o ensino. Muito teórico. O boicote não é só sobre o método de avaliação, mas também sobre as consequencias que essa simplória provinha e seus conceitos de 1 a 5 trazem.

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  7. No final, todos guinamos para um lado comum, que é o anseio por uma melhor atenção dada pelo Ministério da Educação à questão das universidades, tanto públicas quanto particulares.
    Claro que é muito ruim esse sistema avaliativo, porém, basta fazer manifestação somente uma semana antes do ENADE? Por que não dá para fazer como fez os argentinos que exigiram a renúncia de De La Rua? Bater panela, gritar, incansávelmente, por mudança, um escarcéu.

    Quanto ao comentário do nobre Anônimo, pô bicho, você provalmente nunca colocou os pés e teve a honra de assistir uma honra na Faculdade de Direito Curitiba, assim como eu nunca tive o privilégio de assistir uma aula na UFPR, não fala o que não sabe. Se fosse frustrado, não ficaria esperando acontecer, estudaria mais um ano.
    Mas, mesmo assim, obrigado por ter lido e comentado.

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  8. Primeiramente, muito obrigada Pedro pelo título de honorária! É um prazer! Peço desculpas pela minha ausencia, mas vocês não sabem o que é 3° ano! =/

    Vamos ao tema... como eu não peguei o ENADE nem no 1° ano e provavelmente não vá pegar no 5°, não se fala quase nada sobre isso no meu ano! E tão pouco eu sei problematizar tal tema...É um absurdo, não?! Trata-se de algo de extrema importancia para a subsistencia da nossa faculdade e ninguém nem fala nada... Como vocês sabem o tal do sistema é mesmo cruel, e de fato, aulas, estágio, terceira lingua, estudar pras provas, comer e dormir, tomam o tempo todo de nossas vidas...
    Mas poxa, vou no encalce da manifestação do Pedro... será que antes de só se revoltar na véspera contra a tal da prova (que de fato não avalia porcaria nenhuma) não seria mais interessante desenvolver um debate conctínuo e construtivo sobre o papel da educação para o desenvolvimento do Brasil?!
    Eu realmente não sei quais são os fundamentos do boicote, como já disse acima, mas sempre me pareceu (desculpem-me meus amigos mais exaltados) uma medida extremista e infundada, que não leva a Federal a lugar nenhum...
    Por que não fazer a prova direitinho?! Ah, os parametros estão errados... Ok! Também tenho essa impressão, mas será que custa fazer a prova e ver como a federal sai dentro destes parametros, para dai, tendo em vista este resultado, criticar os parametros e a avaliação?! E mais, a partir dai, desenvolver uma avaliação melhor?!

    Agora quanto às verbas... Gentem, só quem está lá dentro pra saber o quanto deprimente é a falta de dinheiro.. Isso que eu não frequento os centros das áreas tecnológicas, mas a falta de um bom livro atualizado e de disponibilização de legislação atual é enervante, pra dizer o mpínimo. Mas olha, eu tenho cá pra mim, que é nas dificuldades que o ser humano se supera e demosntra o seu melhor... Poxa, já estamos numa das melhores faculdades do Brasil, já somos a "nata da nata intelectual", já estamos em uma grande vantagem em relação a grande parte do país, não é mais interessante, então, fazermos aquilo para o que o pouco dinehiro dos brasileiros é aplicado na UFPR? Dinehiro faz falta?! Faz! Mas antes de reclamar sempre disso, que tal sentar numa cadeira pra pensar e fazer valer as tuas sinápses?! Que tal aproveitar os livros clássicos, verdadeiras raridades preservadas a suor e sangue, disponibilizados no acervo da nossa biblioteca!
    Cara, faculdade não se faz só com dinheiro, faz-se antes de tudo com suor mental! Somos financiados para trazer "luz" pro Brasil!
    Olha, sei que meu aparato técnico quanto ao ENADE é pouco, mas essas ponderações estão intaladas na minha guela desde a primeira semana que entrei na Faculdade!

    Mais uma vez, parabenizo o blog, adoro ler isso aqui! ;)

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  9. Olha só, eu podia aproveitar pra aprender a ser menos prolixa! hihihih

    =)

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  10. Aline, só uma coisa...Se fazemos a prova direitinho e a nossa faculdade tem um bom conceito deduz-se que o sistema está funcionando e a avaliação continua a mesma. Infelizmente, é difícil conseguir mudanças e ao mesmo tempo andar "dentro das regras". Mas isso é a opinião de alguém que acredita na revolução e não na reforma.
    Outra coisa, Pedro, é possível, sim, encontrar defeitos no ensino da UFPR, muitos por sinal. Você talvez não os veja por encarar o papel da Universidade de uma forma diferente da minha e por ter necessidades e perspectivas também diferentes. Ainda assim, garanto: há muitos defeitos!

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  11. Nessa quinta, estava eu discutindo sobre Luis Carlos Prestes com meu professor de Direito e História. O professor Marcelo Bueno Mendes, grande inspirador de muitas questões que coloquei nesse blog, falava-me das duas linhas comunistas brasileiras: a linha de Werneck Sodré e de Prado Jr.
    Certa altura da conversa, soltei uma frase que, depois de refletir um tempo, cheguei a uma conclusão trágica: "Nós brasileiros, temos um jeito diferente de protesto e comunismo, ninguém no mundo entende".
    A particularidade parte do fato de uma idéia eclodir e já ser deixada de lado, no aspecto do protesto. O que me deixou emcucado foram as ferrenhas manifestações sobre o ENADE, porém feitas uma semana antes e depois da prova, depois, permanece o espírito de indignação e acabam-se as manifestações. O espírito jovem é o mesmo desde os anos de chumbo, da impossível de suprimir UNE. Porém, naquele tempo quebravam o pau (perdoe o vocabulário) até serem ouvidos. Hoje, temos maior maturidade sobre o trâmite de mudança, da má vontade dos políticos, porém, as manifestações são mais curtas, menos contundentes.

    Deixamos de rebeldes sem causa para rebeldes com muitas causas, mas acabamos não indo a fundo em nenhuma delas.
    PS: Sobre o comunismo, estudarei mais um pouco as idéias de Prado Jr. e Sodré, para daí vir até aqui escrever preparado.
    PPS: Obrigado Aline e Ana, seus comentários enriqueceram em 300% a discussão...

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  12. DOOOOOOOUUUUZZEEEEE RAAAAAAWWWW

    Eu PRECISAVA fazer isso... Pô, décimo segundo comentário! É um recorde absoluto!

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