quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Lavrar De Um Ideal

Como constumamos dizer: o comunismo só daria certo em comunidades pequenas. Imagine o comunismo extremado, quando chega em seu ápice e torna-se a anarquia completa, visto que os cidadãos já têm aquela consciência de bem-comum, de extrapatrimonialidade, de um ideal maior, e assim, não precisam mais de instituições para governar seu Estado, podendo se auto-governar. Então, eles decidem tudo a partir de decisões democráticas, o monocratismo é visto como algo impensável. Pois é , os direitos humanos reinam, não há estratificação da sociedade, nem divisão da propriedade, o que é de um, é de todos, o trabalho é dividido segundo as qualificações, mas todos recebem os frutos. Cada um desempenhando sua função, no exercício de seu dom para que se possa atingir um patamar maior- o bem de todos e a felicidade geral da nação.

Pois é, e acontece que esses ideias da famosa frase de Dom Pedro I foram encontrados por Dom Pedro II em uma de suas viagens por motivos médicos para a Itália, em meio às idéias de um famoso colunista: Giovani Rossi. Ele então é chamado pelo imperador ,traumatizado com a experiência colonizadora de imigrantes russo-alemães (que passaram fome e foram sustentados pelo governo durante dois meses, além de depois terem suas passagens compradas para voltarem a terra natal), para efetivar sua teoria. Como o Brasil queria parecer mais atrativo do que os Estados Unidos ou do que a Argentina, achou atrativa a idéia de colocar em prática uma idéia tão disseminada na Itália. Então, Rossi ganha um vasto espaço de terra,no Paraná , para por sua experiência anarquista em prática. Ele junta 150 agricultores que concordam com a experiência de por em prática seu plano, e juntos, chegam aqui em meados da década de 80 do século XIX.

No entanto, ao plantar milho, perceberam que o dinheiro se esvaia enquando a colheita não chegava. Foi então que ajudaram a construir mais de 10 mil km de estrada! Além disso, com uma nova lei, as suas dívidas foram transferidas para o estado do Paraná, que estabeleceu um preço para o montante de débito: o valor da propriedade em que estavam. Foi então que precisaram se preocupar com questões materiais, produzindo e vendendo para cobrir a dívida. Mas o cara responsável por vender a colheita (metade argentino, tinha que ser, hehe, sem preconceitos, claro) sumiu. Isso fez com que a desconfiança surgisse entre os colonos anarquistas. E, sem confiança, não existe um regime sem o poder Estatal e suas instituições. Entregaram a terra e foram dividindo-se entre as novas cidadezinhas satélites, cada vez mais modernas

Realmente é uma pena que algo tão pequeno como o egoísmo pudesse aniquilar com o sonho de tantos italianos. Na verdade, a falta de necessidade de um controle rígido dos homens, um comportamento disseminado em uma sociedade não estratificada que visasse o bem-comum, um governo de todos, a falta de intrigas por propriedade privada, a evidência geral dos indivíduos, tudo isso constitui um sonho muito bonito, não só dos italianos, mas de muitas pessoas do mundo inteiro. Penso que o anarquismo é impraticável em grandes conglomerados, pois perderíamos aqueles laços de proximidade tão necessários para se tomar decisões justas por todos e para todos. O exemplo da Colonia Cecilia aqui mesmo no nosso estado, é algo comovente. Mas como já pregava o Alexander Supertramp, não tem como fugirmos da lógica atuante vivendo nesse meio atuante: a própria civilização. Assim, para que possamos viver de modo diferente, sem nos submetermos aos valores atuantes, precisamos nos afastar deles.

Não que o anarquismo não tenha vingado na Colônia, mas encontrou barreiras emocionais e físicas, afetando a legitimidade do regime entre a população, além de uma de suas bases fundamentais: o preceito de confiança de um para com o outro, para que todos trabalhem para o bem-comum conjuntamente, sem nenhuma exceção. É um fato triste, poderia ter se desenvolvido bem mais. Não nego que nao tenha havido divisão social dentro da colônia, mas apenas que ela amenizou e muito essa conseqüência nefasta do Modo de Produção Capitalista. Fica aí o exemplo. Resta-nos aprendermos com o passado para que possamos mudar o futuro.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto Hermínia..
    Realmente, uma sociedade diferente é muito difícil de ser concebida por nós, que vivemos nos tempos alienados e conformistas da democracia-capitalista. A experiência não deu certo, mas já foi positiva por ao menos ter existido. É triste mesmo pensar que no fim, o que estraga tudo, é o próprio homem.

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