domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mozart Sobre Outros Olhos

"Amadeus" - Milos Forman

É incrível como alguém tão conhecido pode possuir uma personalidade tão desconhecida. Espantei-me ao ver a atuação do ator Tom Hulce como o grande músico Wolfgang Amadeus Mozart no filme intitulado com seu nome do meio. "Amadeus" mostra a personalidade do personagem: um crianção irresponsável e metido. Alguém que nunca soube reconhecer seu lugar na visão de outros, mas que ao mesmo tempo possuía tal habilidade que seu orgulho de superior poderiam até se tornar justificáveis.

O filme mostra a vida de Mozart sobre os olhos de outro compositor da época. Antonio Salieri (F. Murray Abraham) sempre teve o sonho de tornar-se músico e invejava Amadeus, que mesmo tendo menos idade que ele, já se apresentava para reis através de seu talento natural e prática musical desde o berço, muito diferente de Salieri. Crescido e tendo realizado seu sonho de se tornar um importante músico, Salieri tem a chance de encontrar-se com Mozart, a quem tanto admirava. Surpreso por um estilo totalmente não-ortodoxo, à primeira impressão subestima o grande compositor que através de uma rápida apresentação deixa claro seu talento e superioridade musical. Um estilo que inovava, ultrapassando as peças de seu tempo.

Remasterizado, e agora até em blu-ray disc, "Amadeus" surpreende os olhos. Toda essa tecnologia faz com que este de 1984 pareça de recente estréia. Além disso, é um filme sem efeitos especiais que com sua simplicidade espanta por reproduzir óperas e composições de Mozart de um modo fantástico. A capa pode ser um tanto quanto intimidadora, mas faz relação direta à ópera que o compositor escrevera ao pai morto. Na época, foi indicado a onze prêmios da academia, incluindo a rara indicação dupla para melhor ator (Hulce e Abraham). Destes, ganhou oito premios: melhor filme, melhor ator, melhor diretor, melhor figurino, melhor roteiro adaptado, melhor direção de arte, melhor maquiagem e melhor som. Parodiado em séries como "Os Simpsons" e "Family Guy", "Amadeus" mostra sua fama. É um filme que por seu grande entretenimento parece estar até a frente de seu tempo, apesar de falar de uma vida passada.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sistema Não tão Coerente de Signos

Essa semana eu tava vendo um filme que, por incrível que pareça, trouxe uma questão bastante válida: a linguagem como fator seletor de classes. A história é sobre uma vendedora de flores e um especialista em línguas, que se propõe a ensiná-la a linguagem culta, provando que isso pode mudar sua vida, trazer novas oportunidades a ela.

Ao mesmo tempo em que ela abre portas, a linguagem também exclui, como o Allan já falou aqui sobre o aparteísmo da língua: as ciências usam um jargão próprio, uma linguagem tão técnica que acaba sendo excludente. Para que você se comunique com alguém, não precisa só falar a mesma língua, mas também compartilhar uma mesma gama de significados que o outro.

Sem contar que não falamos a mesma língua. Cada um tem o seu jeito de falar, sua maneira peculiar de pronunciar as combinações de vogais e consoantes. Mesmo pessoas de um país ou, pelo menos, de uma determinada região não soam igualmente por não compartilhar dos mesmos símbolos cotidianos. Ninguém possui em si reunidas as mesmíssimas experiências e idéias que uma outra pessoa, assim cada um fala a sua língua. Se linguagem falada é aquela que proporciona a propagação da linguagem pensada para mais de uma pessoa, levando a informação de um indivíduo a outro, nunca vamos experienciar uma conversa franca: mesmo pessoalmente, com a tonalidade e o ritmo de uma fala, não captamos todos os pensamentos e intenções contidos na oração.

No entanto, mesmo sendo falho, falar pessoalmente é o modo mais eficaz de elevar a terceiros os nossos pensamentos. Não é horrível ter uma conversa importante através da escrita, sem a tonalidade e a sonoridade das palavras, mesmo que possamos nos expressar melhor, organizar mais as idéias no papel? O segundo, menos pior, talvez seja o telefone, você pode acompanhar o tom e o ritmo da pessoa, mas nada de sua expressão facial e corporal. Hoje, existem outros meios, satélites dos antigos, como o skype, o messenger... Pessoalmente, fico com o cara a cara.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Da Infância para o quê?

Espanta-me o quão rápido a inocência infantil tem se perdido nessas “novas gerações” e pertuba-me a substituição dessa infância por uma vida adulta sem base para aguentar o peso do mundo. Não posso dizer que sou exatamente “das antigas” ou que tenha vivência o bastante para comentar sobre isso, mas observo o movimento das gerações posteriores a mim. Houve uma época em que a inocência infantil era “substituída” pela maturidade intelectual, física e moral, capazes de suportar o peso das responsabilidades da vida. Hoje em dia...

Sabemos pelo estudo da história, e por simplórias estórias que nossos avós, e até mesmo pais, nos contam que o jovem “das antigas” era muito diferente do atual. Para eles a maturidade veio no que pareceu-me o momento certo: junto com a responsibilidade. Movimentos de defesa aos ideais foram ações feitas pelos jovens que tinham energia, disponibilidade maior para fazê-los e com isso cresceram mais. Os jovens são cheios de dúvidas e não têm uma carreira que pode ser destruída. Não seriam eles os supostos defensores da ordem? O futuro não está nas mãos dos jovens?

Mas, porém, entretanto, todavia os tempos mudam e essa realidade mudou. Com sorte poucos sobrevivem às mudanças do tempo e continuam a trilhar pelas mesmas passagens de vida dos antepassados. Outros criam uma inocência sábia, a troca do que a infância tem de melhor por ignorância e fuga da realidade. Aliás, essa ignorância e fuga da realidade moral refletem no modo como muitos aparentam exteriormente. Precisam chamar a atenção de algum jeito, já que o interior é muito pequeno (em todos os sentidos).

Posso ser chamado de conservador, mas existem coisas que não só para mim são um tanto exageradas. Meninas vestindo uma falta de roupa, se jogando para os meninos, com 12, 13 anos. Meninos que acham bonito mostrar a roupa de baixo, que pensam serem homens por fazer as mesmas idiotices que muitos maiores que eles fazem, que fingem ser outra pessoa pensando que podem ser melhores que “o resto”, beijando 30 pessoas de cujos rostos nunca se lembrará (apesar de lembrar perfeitamente o número deles) e passará essa herança aos seus filhos (se os tiver) que, pior que eles, se tornam as meninas que beijaram essa única boca sabendo por onde ela passou! É um beija-beija sem nenhum sentimento envolvido, apenas a adrenalina e emoção sobre a possibilidade de você não se sentir bem no dia seguinte.

E a ignorância? O conhecimento de política (pegarei este como exemplo) já é elitizado entre os jovens, e mais ainda entre aqueles que tentam conhecer área. Só aprendem os que procuram esse conhecimento, e esse é o caso da minoria. Não podemos culpar as escolas por não ensinarem sobre política (mesmo sendo isso uma boa ideia). Aprender sobre como é o funcionamento do país em que você vive e despertar-se para os absurdos criados pelos poderosos, ações que muitas vezes nos passam despercebidas ou mesmo ignoradas, são necessários para o crescimento do jovem. Precisamos crescer e crescer. Ser uma eterna criança deve ser apenas uma pequena parte de nossa personalidade. Da infância para o despertar devemos seguir.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Está Embaixo dos Nossos Narizes

Que a educação é a solução milagrosa para boa parte dos problemas do país, todo mundo sabe. Vocês devem até estar cansados de tanto que somos taxativos quanto a isso aqui no blog, que a educação vai dar um fim na alienação do povo, que ele vai poder cobrar se sabe os seus direitos, que vai ter mais oportunidades em sua vida profissional e pessoal. A questão em voga é essencialmente básica e, no entanto, não muito discutida: como melhorar a educação, propagá-la mais? E o pior, como fazer isso com as ferramentas que temos em mãos?

Pra início de conversa, quem deveria ser bem instruído eram os professores. Eles são a base de tudo, a pedra de esquina desse novo país a ser construído. Quem disse que o aluno que faz a instituição nunca teve professores ruins. Em um certo estágio da nossa educação, um professor é fundamental sim! Nem todas as crianças têm pais presentes que cobram do colégio um bom corpo docente ou supram a falta de um, através da ajuda em casa. O negócio precisa começar por cima. Olhem um exemplo prático: sempre odiei francês, e não era uma má aluna. Mas o meu aprendizado só realmente começou a acender quando peguei uma professora nova, dinâmica, prática. A gente se empolga com o negócio, por mais que ele seja chato.

Sem contar que os professores aqui são muito mal pagos! A carreira docente aqui é completamente desvalorizada, as horas-aula têm preço de banana. A única vez em que eu vi um professor bem pago foi no cursinho, e isso porque existe toda uma competitividade muito bem acentuada entre eles, por isso a disputa por bons professores, cada um pagando o seu bem para que ele permaneça na instituição e faça o seu trabalho. Quem já viu professores de faculdade, por exemplo, que não fazem mais nada a não ser dedicar o seu tempo para o ensino de seus alunos, sem um emprego paralelo, ou pelo menos, se dando bem na vida só com isso, por favor, atire a primeira pedra.

Com professores bem pagos, bem-treinados, as vagas para o corpo docente tanto do ensino público quanto do ensino particular seriam muito disputadas, e segundo a lei da livre-concorrência, isso exigiria melhor preparo dos candidatos. A dominância do conteúdo e de boas técnicas de ensino seriam uma exigência mínima. Assim, eles poderiam incentivar os seus alunos, conscientizá-los da importância do ensino e de ter ciência do mundo ao seu redor. Esses dias eu vi um livro na prateleira de uma livraria: “Brasil, e eu com isso?”. Frases como esta que dão margem para um panorama político vergonhoso como o nosso existir. Aposto que esse livro fala da alienação do povo! Óbvio, bons professores não são o suficiente. Acesso a bibliotecas, a métodos de ensino alternativos, e o principal VAGAS PARA TODOS, poderiam sim fazer das gerações futuras um passaporte pra um Brasil melhor. Aliás, um governo que pensasse mais no bem-comum, com propostas mais bem-fundadas, que se preocupasse menos com rixas interpartidárias, com o que um fez e o que o outro deixou de fazer, seria já sinal de um Brasil melhor.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Pedreira É Nossa!

Hoje, dia 24 de Fevereiro, é o dia em que o futuro da nossa querida Pedreira Paulo Leminski será decidido. Em audiência pública marcada para as 14h30 na 4ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, o juiz Douglas Marcel Perez vai decidir se a Pedreira será liberada ou não para a realização de shows e grandes espetáculos.

O espaço está fechado desde Maio de 2008 depois de somente 134 moradores da vizinhança acionaram o Ministério Público por causa do barulho e algazarra nos dias de espetáculos. Porém, em Dezembro passado, o vereador Johnny Stica (PT), uma das cabeças do movimento, que levou a Perez um abaixo-assinado contendo 11 mil e 600 assinaturas.

Era pra tudo estar resolvido em Novembro passado, quando foi formalizado um acordo entre entre os produtores culturais da cidade, a Fundação Cultural de Curitiba - que administra o espaço - e os representantes dos moradores do Abranches. Na proposta, os produtores topavam respeitar os limites de horários – até às 23h nos dias úteis e até às 1h em fim de semanas e feriados – e emitir cheques-caução de R$ 50 mil que poderiam ser resgatados caso as normas fossem desobedecidas.

Bom, essa é a chance de reacender a chama do mais significativo espaço cultural da nossa querida cidade. A pedreira não pode ficar às moscas deixando a cultura de Curitiba na mão por causa de alguns moradores reclamões. Até entendo que os shows causam tumultos e barulho, mas o que dizer dos moradores ao redor do Alto da Glória depois do jogo que rebaixou o Coxa? Não é por isso que querem fechar o estádio nem acabar com o time. Além de que shows dignos de irem pra pedreira não acontecem todo fim de semana.

Bom, eu torço pela Pedreira aberta e funcionando e sou adepto da campanha “A Pedreira É Nossa”. Espero que consigamos resgatar esse pilar indispensável da chamada “capital cultural”.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Peleja de Coronéis

Esquenta para as Eleições – Governo do Estado do PR

No Brasil, diferentemente de muitos países, há o tão lutado “sufrágio universal”, isto quer dizer: quase, realmente quase, todos votam. Aqui, não podem votar os menores de 16 anos e os soldados e cabos recrutados para o serviço militar obrigatório. Os votos facultativos, vota quem quiser, são para as pessoas entre 16 e 18 anos e com mais de 70 anos.

Os prováveis candidatos a governador nesse ano do Estado do Paraná são: Beto Richa (atual prefeito de Curitiba, filho do ex-governador José Richa – “o homem que levou energia elétrica ao interior do Paraná”) que consagrou sua carreira política quando era vice prefeito de Curitiba no segundo mandato de Cássio Taniguchi. Cássio fez uma viagem ao exterior e deixou aprovado um aumento de 0,40 centavos na passagem de ônibus, Beto vetou esse projeto e caiu nas graças do curitibano, pura jogada política. Com o sobrenome e a popularidade, Beto elegeu-se prefeito de Curitiba com folga sobre o eterno 2º colocado, Ângelo Vanhoni, do PT. A polêmica de Beto Richa iniciou-se após sua reeleição para prefeito de Curitiba (vencendo sem 2º turno) quando se comprometeu em cumprir totalmente o mandato para prefeito, ou seja, não se candidataria para governador em 2010. Com isso, Beto tirou o sorriso do rosto de figuras certas para o governo em 2010, como Álvaro Dias. Além disso, o irmão de Álvaro, Osmar Dias (segundo colocado na última eleição para governador) comprometeu-se em se candidatar para governador esse ano, quebrando aquele famoso rodízio: um candidata-se à senador, outro para governador.

Osmar Dias, junto com Beto Richa, é favorito para a sucessão do Governo Requião. Com tradição na política, Osmar possui o apoio maciço da Região Norte do Paraná, todo mundo gosta de Osmar, mas, como todo senador, ninguém sabe os projetos que fez. O destaque que deixo aqui para esse senador foi sua última disputa para governador com Roberto Requião. Nessa disputa pouco se ouviu de propostas e sim muita agressão. Nos debates, nos comerciais, falava-se somente mal do outro, um era nepotista, outro era ladrão, e por aí vai.

O candidato da situação é Orlando Pessuti, atual vice de Requião. Pessuti possui o apoio dos que, incontestavelmente, apóiam Requião, como a Polícia Militar que recebeu uma injeção absurda de investimentos, superando até gastos relacionados à educação. Muito Peemedebistas preferem apoiar diretamente Beto Richa, sem lançar candidato próprio do partido, mas isso será revelado daqui a algumas semanas. Todos nós sabemos da prostituição partidária que há aqui no Paraná, é PT fazendo aliança com PSDB, DEM com PL, PV com PSTU e por aí vai.

Confesso que, como sempre, o desânimo toma minha alma na eleição para governador. Mas o vencedor dessa eleição pegará nas mãos um Paraná fraco em suas bases sólidas, como a infra-estrutura para a agricultura, o Porto de Paranaguá sem investimento externo (após a suspensão da parceria com o Paraguai e muitas empresas do exterior como a MAERSK, que preferiram o Porto de Santos, apesar da maior distância) e principalmente a Educação debilitada.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Gênio da Guitarra

Lado a lado com Jimmy Page e Eric Clapton, Jimi Hendrix fez dos anos 60 os anos mais fecundos em matéria de guitarristas. Principalmente por ter feito parte nisso. Na verdade, se apenas Hendrix tivesse sido dessa época, já teria feito dela a melhor de todas. Com sua guitarra (de cabeça para baixo, mas com as cordas na ordem, por ser canhoto), Jimi revolucionou a música e a cultura em volta dela de uma maneira nunca antes vista.

Em canções como "Purple Haze", uma de suas mais bem sucedidas, notamos a virtuosidade de Jimi. Ele mesmo disse uma vez que queria, fazer com sua guitarra, o que Little Richard fazia com sua voz. E muitas vezes, em canções como "Red House", ele fazia com que sua guitarra "cantasse" como ele, como que fazendo um backing vocal elétrico. Outros artifícios como deliberadamente usar a microfonia a seu favor, popularizar o uso dos pedais de wah-wah, tacar fogo ao seu instrumento após o show, foram de autoria pionera de Hendrix.

Na década de 60, drogas alucinógenas (LSD) eram muito usadas, principalmente por músicos, e muitas das canções de Jimi Hendrix tem um tom, às vezes exagerado, psicodélico. "3rd Stone from the Sun" é uma dessas, que, além de soar extremamente diferente dos sons da época, antecipou uma fusão, riquíssima, diga-se de passagem, do Blues e do Jazz. Porém, nas palavras de Pete Townshend (outro monstro da época, guitarrista do the Who), Jimi era maior que o LSD.

Esse post é apenas uma recomendação, uma dica (e uma homenagem), para o ano em que a morte de Hendrix completa 40 anos (em setembro), afinal, outro CD póstumo, porém com qualidade, será lançado agora em março (com direito até a canções "inéditas"). Vide matéria do site da Rolling Stone. Outra coisa interessante, mencionada nessa notícia, o guitarrista pode ganhar, ainda esse ano, sua própria versão do game Rock Band, seguindo os passos da multibanda Beatles.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Bem-vindo à Selva

Viver entre camaleões

É pior que ser preso

A uma cama com leões.

Raios Fotográficos

O fotógrafo Hiroshi Sugimoto é famoso pelas suas fotos arquitetônicas de museus antigos , mas dessa vez o japonês se superou. Com um gerador de 400 mil volts, ele passa eletrecidade pelo filme fotográfico, formando belas imagens. Apesar de alguns efeitos serem acidentais, Sugimoto tentou usar objetos de metal para controlar os raios. É um método inovador, apesar de utilizar filme, mas a grande diferença que a fotografia normal as imagens são captadas com luzes no negativo ao invés de eletricidade.

Veja alguns resultados da experiência:
 
  
 
 Arte com eletricidade Hiroshi Sugimoto / Fraenkel Gallery, São Francisco

Quer saber mais sobre o fotógrafo? Visite o portifolio www.sugimotohiroshi.com

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Eu Ganho Duas Vezes

O que seria do orçamento nacional com a livre concorrência? Melhor dizendo, o que seria dos orçamentos sem os políticos fazendo acertos do tipo: “olha, o governo compra 50 mil sacos de cimentos de você para construir escolas lá no Barreirinha, só que você precisa me dar 50 mil reais em dinheiro”? Eu sem isso, certamente, teria mais orgulho em pagar impostos.

O Brasil, com folga, poderia arcar com o dobro de obras de infra-estrutura do que hoje possui. Bom se fosse o vencedor de uma negociação com o Governo aquele que oferecesse o menor preço. O vencedor, na verdade, é aquele que dá dinheiro, ou conhece o político de maior autoridade para delegar essa obra. Isso se a empresa não for do próprio político, como faz agora o Governador Interino do DF Paulo Octávio, com 10,4 milhões gastos em publicidade. Ou for empresa de algum parente. Infelizmente, dessa vez o exemplo não é o nepotista-mor, nosso governador Requião, mas o vice-presidente do país José de Alencar. O filho de Alencar venceu uma licitação para fabricação de botas para uso do exército (detalhe, o filho não tinha nem fábrica, teve de importar tudo da China, e tirar seu lucro; assim, uma empresa séria brasileira, que paga impostos e emprega brasileiros, deixa de vender seu produto e alimentar o mercado interno)

Creio que todos nós, participantes do blog, seja leitor, etc. teremos oportunidade de fazer esse tipo de escolha: de fazer o certo para o bem comum, ou fazer o certo para o bem particular. O detalhe, que acredito que seja crucial, é que nós hoje assistimos à tudo isso e nos envergonhamos; além de saber como é a vida do menino que acorda às 6 horas da manhã no Barreirinha para estudar numa sala sem cadeira, giz, material apropriado. Quem vive no Governo sabe como é a vida dessa criança, mas a imagem vai esvaindo-se lentamente da memória, pois ele só visita esse local de quatro em quatro anos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Todo “Cão” Tem seu Dia

“Cães de Aluguel” – Quentin Tarantino

“Reservoir Dogs” (título original) é um daqueles filmes que ou se ama ou se odeia. Aliás, toda a obra do Tarantino se encaixa nessa dicotomia. Outro exemplo disso é “Pulp Fiction”, já eternizado nas páginas desse blog pelo meu colega Jamil. Mas “Cães de Aluguel” é mais cru, mais tosco, mais rude que Pulp Fiction, talvez por ser o filme de estreia de Tarantino. Mas mesmo assim não deixa de ser um clássico.

O filme conta a história de 5 criminosos que são contratados para cometer o crime perfeito, um roubo a uma joalheria. O sigilo é essencial para o caso de algum ser pego pela polícia, portanto nada de pessoal poderia ser revelado entre a gangue, nem os nomes, o que explica a utilização de codinomes de cores – o que se tornou um marco no filme. Porém, algo dá errado no dia do roubo e pela velocidade com que a polícia chega à cena do crime é certa a existência de um traidor no grupo, mas como ninguém sabe nada sobre ninguém, qualquer um pode ser o infiltrado. Mas é bom lembrar que, como é típico do Tarantino - que inclusive faz o papel de Mr. Bronwn -, essa história não é nada linear.

A trama te prende do começo ao fim, e isso não é só uma daquelas frases feitas ditas da boca pra fora. O Tarantino tem o dom de colar os espectadores à sua história. Mas o principal mesmo são os diálogos, marca do diretor - como o do começo do filme, sobre Madonna e as possíveis metáforas implícitas em “Like a Virgin”. Além dos diálogos brilhantes, temos violência comendo solta e cenas memoráveis – como esta daqui, em que o Mr. Blonde dança ao som de “Stuck in the Middle with You” enquanto decepa a orelha de Marvin – que entraram pra história do cinema, isso sem contar a trilha sonora incrível.

Enfim, um grande filme. Merece ser visto tanto por aqueles que gostam de se autointitularem cinéfilos quanto por aqueles que querem xavecar uma menina com um “papo cabeça” cinematográfico. O filme inclusive foi escolhido pelo Empire como melhor produção independente da história. Então tá esperando o que pra ir pra locadora mais próxima e se banhar com um pouco de cinema – e sangue – de qualidade?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Loucura Consciente

Falar consigo mesmo é uma coisa no mínimo peculiar de se ver. Chega até a ser engraçado, quando não somos nós. Porém, esse monólogos solitários (viva à redundância) são muito úteis para se manter a sanidade. Parece estranho dizer isso, mas falar sozinho, em voz alta, de preferência, é algo bom.

Não só atores e palestrantes em frente ao espelho praticando o texto têm permissão de dialogar com seus alter-egos (aliás, outra coisa muito interessante numa personalidade é quando ela é múltipla, claro, da maneira inofensiva). Algumas vezes nem é necessária a existência de um alter-ego, ficando assim a conversa no mano-a-mano, porém, com apenas um "mano". Dessa maneira, conseguimos extrair de nosso interior informações importantes, amenizar acessos de loucura, ou até nos consolarmos num momento de solidão extrema.

Além, é claro, de sua utilidade para memorizarmos qualquer informação mais facilmente e dos usos supra-citados (olha só...), falar sozinho pode também ser um ótimo exercício para dicção, especialmente quando se está aprendendo uma língua nova. Vale dizer também que essa atividade ajuda-nos a treinar nossos ouvidos para palavras e expressões novas, qualquer língua que seja.

Enfim, podemos enumerar, além de tudo isso, várias desculpas para estarmos falando sozinhos quando pegos no ato. Uma pena ninguém ter me visto praticando isso hoje. Olhem só, tive que escrever um post para me explicar (para mim mesmo).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

“Atrás do Trio Elétrico, só Não Vai quem já Morreu”

Ah, o carnaval. Hoje, 4ª-feira de cinzas (afinal, já passou da meia-noite) representa o fim dessa festa pela qual somos tão famosos – fim da festa, mas começo do “ano novo brasileiro”, já que as coisas só funcionam partir do meio dia de hoje.

O engraçado é a origem do Carnaval. É totalmente paradoxal com os corpos – belíssimos, por sinal – expostos semi-nus nos desfiles da Sapucaí. Começa pela etimologia de “carnaval” que vem de “carne vale” e tinha como intuito ser uma festa para, justamente, afastar os prazeres da carne para a Quaresma. O Carnaval tem uma origem medieval, o que explica essa reclusão da sexualidade e do hedonismo.

E não é só o nosso Brasil varonil que comemora os dias que antecedem a 4ª feira de cinzas. Outros carnavais famosos pelo mundo são os de Nova Orleans (EUA), Nice (França), Toronto(Canadá) e Veneza(Itália) – que é famosa pelos bailes de máscaras.

Mas é claro que o maior, melhor e mais animado é o nosso – inclusive, o Guiness trata o carnaval baiano como a maior festa de rua do mundo. Desde Abadás baianos, passando pelos blocos de rua, o frevo de Olinda/Recife, bloco do Galo da Madrugada, os bonecões pernambucanos até os desfiles nas avenidas de RJ/SP.

Eu admito, como bom curitibano, por enquanto, não sou o maior fã de Carnaval – talvez tenha sido a falta de sorte -, mas realmente é um festa admirável. Mas pelo menos agora começa 2010 de verdade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"Sim, Coroné!"

Brasil, anos do auge da política do café com leite, rodízio de presidentes da república, um mandato paulista, um mandato mineiro. Esses sustentados pelos grandes “Coronéis do campo” (alcunho dado na época colonial aos grandes proprietários de terra que organizavam seu pequeno exército, com financiamento da coroa, e aderiam à Guarda Nacional, uma milícia enrustida, já que o Exército brasileiro era pequeno) através do voto de cabresto. A Coroa se foi, veio a República, alguns Coronéis morreram, mas seus filhos herdaram o alcunho. Eram absolutos em suas terras, mandavam e desmandavam, falava-se com o “Hómi” até para se casar, pedir a benção, e se a mulher era bela, a primeira noite não pertencia mais ao noivo.

Foi com esses homens que as oligarquias paulista e mineira tiveram de negociar, mas custou certo preço o seu “apoio”: simplesmente deixar o governo estadual para os Coronéis. Em troca, todos os que trabalhavam na lavoura, no engenho, na ordenha, votavam, por ordem do Coronel, nos paulistas e mineiros. Para votar, bastava saber rubricar seu próprio nome. Os trabalhadores nem sabiam em quem, nem por que estavam votando.

Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência. Foi a permissividade dos antigos presidentes da república, que só visavam o poder, que tornou o Brasil ainda mais desigual. Aliás, basta olharmos para nosso estado, o que virou o Paraná, sendo que nosso governador arruma briga até com associação de moradores, faz urros e nada resolve contra os pedágios, tem seus parentes infestando os cargos públicos. Esse governo que passa por cima de uma sucessão de poderes para mandar e desmandar no Paraná, um estado governado por uma oligarquia mal preparada, com descaso e pouco conhecimento da desigualdade das regiões paranaenses. Isso que até pouco tempo, o Paraná fazia parte de São Paulo. Na eleição desse ano, vejo os candidatos e me vem um desânimo: Osmar Dias quebra o rodízio feito com Álvaro Dias (um ano um sai para governador, o outro para senador); Beto Richa não quer honrar sua totalidade do mandato na cidade de Curitiba, quer mandar mais, quer estar no cargo de Governador no ano da Copa; aí vem os que correm por fora: Orlando Pessuti, atual vice-governador; Rubens Bueno... E por aí vai.

O que me trouxe um pouco de alento foi a prisão do Arruda, pelo menos durante o Carnaval. Porém, foi a justiça federal que honrou, um pouco, sua função, a estadual nem quis mexer onde sabia que iria acabar em maus lençóis, ainda piores do que já estão. É por isso que sempre falamos da educação, ninguém pode mais suportar coronéis no poder, nós não somos bichos sem racionalidade, somos brasileiros que aturamos, espero que por pouco tempo, essa piada de mau gosto.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Folhas de Boa Sorte

Ah, as folhas de Arruda. Planta mágica essa, não? A crença popular diz que ela pode suprimir a menstruação – e inclusive abortar -, suas folhas são usadas como chá de propriedades calmantes, é ótima pra tratar conjuntivite, na Roma antiga era usada até pra temperar carnes. Falando em antiguidade, na Grécia era usada pra afastar doenças contagiosas, os escravos africanos usavam-na contra o mau olhado, a Igreja no começo da era cristã usava os ramos pra jogar água benta nos fieis, além de ser a favorita das rezadeiras.

Enfim, Arruda, pra mim, sempre significou boa sorte, proteção. Mas não é exatamente “boa sorte” que o nosso queridíssimo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, teve na semana passada. Ele foi finalmente preso no dia 11 de Fevereiro, uma 5ª feira, junto com mais 5 pessoas, com o objetivo da preservação da ordem pública e da instrução criminal. O motivo da prisão - preventiva - foi a participação na tentativa de suborno do jornalista Edson Sombra, testemunha do caso. Seu Habeas Corpus foi negado no dia seguinte, o que quer dizer que Arruda passará o carnaval atrás das grades.

Mesmo que seja apenas uma prisão preventiva, nunca antes na história desse país, um governador teve sua prisão decretada. Isso é um rastro de esperança, uma luzinha no fim do túnel. Isso mostra que o país não tá perdido, que as coisas não precisam ser como são. Que mudança é possível SIM! Com esse post quero agradecer aos estudantes da UNB – que inclusive apanharam da polícia enquanto protestavam contra a corrupção –, aos formadores de opinião que compraram essa briga e à justiça brasileira que mostra que não é insossa, inativa e desonesta. Se o Arruda se safar dessa, pode até ser uma decepção, um retrocesso, mas a sua prisão foi um marco, e se NÓS quisermos, tem mais delas vindo por aí.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Quem Sabe, um Bom Futuro

Vagando pela cidade, a pé, sem compromissos na agenda. Tempo bom, nem muito ensolarado, sem ameaça de chuva repentina, temperatura suportável. Ruas não muito vazias, porém, longe de estarem cheias. Carregando minha agenda (sempre), um livro ("Assim Falou Zaratustra", Nietzsche), meu celular/mp3.

Esse tipo de situação (que me faz muita falta) me faz sempre chegar a conclusões interessantes. Senão isso, então, pelo menos, me permite divagar sobre assuntos, digamos, filosóficos. Nessa última jornada, me prendi num pensamento: chega!

Não aguento mais ficar parado quando poderia estar fazendo algo para melhorar a nossa situação. Baita pensamento revolucionário (daquele que é obrigação do jovem ter de vez em quando). Eu estava embalado por uma palestra sobre "acessibilidade" (que, agora, é obrigação ser observada nos projetos) na qual o palestrante, através de fotos, descrição de situações vividas e por uma vivência prática, quando sentamos numa cadeira de rodas e colocamos uma venda, nos mostrou como existem injustiças nesse mundo, mesmo que impensadas; e pelo livro de Nietzsche, no qual todos os valores cristãos, aqueles que pregam que sejamos santos, que busquemos uma ótima vida após a morte como objetivo de vida (?), são apedrejados com um sarcasmo que arde os olhos e faz rir. Não foi à toa que pensei numa possibilidade para meu futuro que jamais, pensava eu, passaria na minha cabeça.

Ser político. Quem? Eu? Nunca! Mas, naqueles momentos, tomando o famoso espresso duplo, a idéia me pareceu extremamente apelativa. Poxa vida, precisamos fazer algo para sairmos desse "sempre mais do mesmo", e nada melhor do que nos candidatarmos a algum cargo no qual é (um pouco) mais fácil aplicar mudanças.

Quem sabe foi apenas uma "bad trip" da cafeína, afinal, nunca me interessei pelo assunto. Sou um ignorante ("ignorance is bliss") no que diz respeito à política. Mas, quem sabe, pode ter sido um despertador para que eu saia desse escuro que muitos de nós estamos.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Urbana Legio Omnia Vincit

E finalmente chega ao fim a sequência de posts sobre o quarteto sagrado do rock nacional – “O Power Trio de Bermudas”, “Os Barões do Rock N’Roll” e “Longa Vida (e Post) aos Titânicos”. Dessa vez, vim pra falar da banda que talvez seja a mais conhecida, cantada, tocada e idolatrada pde toda a nossa música: A Legião Urbana.

É sempre bom lembrar que a história da Legião, do Capital inicial e do Aborto Elétrico se confundem. Tudo começou com a criação do Aborto Elétrico, composta inicialmente por Renato Russo (baixo), Fê Lemos (bateria) e André Pretorius (guitarra). Posteriormente, Flávio Lemos – irmão de Fê – entrou como baixista, André foi servir o exército e Ico Ouro Preto (irmão do Dinho, vocalista do atual Capital) entrou como guitarrista. Depois de desentendimentos, o Aborto teve dois filhos: A Legião Urbana (formada pelo Renato) e o Capital Inicial (formada pelos irmãos Lemos).

A formação histórica da Legião é Renato Russo (vocais e violão), Dado Villa-Lobos (guitarra) e Paulo Bonfá (bateria) com baixistas nunca fixos. Mas chega de ficar patinando nas diversas formações e vamos às indicações. Vou começar por uma das minhas favoritas – apesar de não tão conhecida – que por sinal inspirou o nome desse blog! “Mais do Mesmo”, apesar de ter uma letra desconexa, é tocante, dançante e genial. Começa com um riff que nos faz tirar os pés do chão até que entra o Renato com sua voz característica. Pra mim, a letra fala sobre o tráfico de drogas e dos jovens que sobem o morro pra comprar drogas. Falando em drogas, esse tema chega a ser recorrente como em “Conexão Amazônica” – “a cocaína não vai chegar”- e em “Há Tempos” – “parece cocaína, mas é só tristeza”.

Outra pérola dessa banda é “Perfeição”. A letra é um discurso digno de ser ovacionado pelo público. Em um tom irônico, Renato agradece a todos os monstros por todos os podres que fazem do Brasil, ser assim, inclusive se autoflagela celebrando “a estupidez de quem cantou essa canção”. No fim, um discurso de esperança “Venha! Meu coração está com pressa, quando a esperança está dispersa, só a verdade me liberta, chega de maldade e ilusão. Venha! O amor tem sempre a porta aberta e vem chegando a primavera, nosso futuro recomeça, venha que o que vem é Perfeição...”.

Um fato que eu não posso deixar de comentar é que uma das mais famosas músicas da banda, “Monte Castelo”, não foi escrita pó Renato, no máximo, remontada. A letra se baseia no soneto 11, de Camões, e no capítulo 13 de Coríntios, o livro da bíblia. Mas apesar dessa letra não ter sido escrita por Renato, as letras sempre foram o forte de suas músicas. Elas pairam por diversos assuntos como a guerra - “Soldados” e “A Canção do Senhor da Guerra” -, protesto dos jovens – “Geração Coca-Cola” e “Que País É Este” –, colonização - “Índios” - e até mesmo vestibular – “Química”.

Por fim, outra peculiaridade da banda são as óperas rock “Eduardo e Mônica” e “Faroeste Caboclo”. A primeira conta a história de Eduardo e Mônica que “eram nada parecido, ela era de Leão e ele tinha 16, mas que “todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz”. A outra não é uma mera história de amor, é um épico. O Renato dizia que “Faroeste” era a sua “Hurricane” - outro épico, composta por Bob Dylan, conta a história do pugilista Rubin Carter. A saga de João de Santo Cristo, lutando contra os preconceitos da sociedade, ao determinismo de fazê-lo ser bandido, de um amor que pode mudar uma pessoa, tem um enredo tão perfeito que daria um filme. E não é que vai dar mesmo? Esse ano mesmo, por volta de Outubro, está previsto o lançamento do filme que levará esse clássico para as telonas.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Omitir para Emitir

O silêncio dos mosteiros, o silêncio do culpado, o silêncio entre desconhecidos, o silêncio frente à uma pergunta, silêncio frente à uma resposta bem dada, o silêncio dos amantes, o silêncio dos ignorantes, o silêncio dos templos, o silêncio dos cemitérios, o silêncio em uma aula de alemão avançado (intensivo de férias), o silêncio de um filho grato, o silêncio do assumido, o silêncio dos orgulhosos. Pode ser convidativo, constrangedor, confortável, incômodo, calmo, agitado. Pode alterar o ambiente, deixar o ar mais gélido ou modorrento. Pode trazer luzes ou levar à loucura. O que um interpreta como aspereza, outro pode ver como conforto, respeito.

"Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo." Assim já dizia Oscar Wilde sobre o silêncio, um mistério universal. Não penso em algo tão relativo quanto o próprio. As meias palavras, ou até mesmo as não ditas revelam muito mais do que um discurso bem explanado. Quer um bom exemplo? O que te faz pensar mais: um texto em prosa, um clássico soneto ou um haikai?

Até na China, com sua lógica berrante e diferente, utilizava-se o silêncio e umas gotinhas d'água para levar os torturados à beira da loucura. Ao mesmo tempo em que ele traz paz e tranquilidade, nos deixa sozinhos com os mais remotos fantasmas de nossas almas. O que antes era uma obrigação (éramos calados porque não haviam ainda modos de comunicação audíveis e lógicos) hoje é uma qualidade e tanto! Quem sabe ouvir muito e falar somente nas horas necessárias pratica o silêncio bem aplicado, já quem fala pelos cotovelos, fala o que não quer. Shakespeare falava mais ou menos isso: é melhor ser rei de seu silêncio do que escravo de suas palavras.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Sexo Frágil

Dependentes, enganáveis, manipuláveis. Por mais incrível que pareça, estou falando do sexo masculino. Calma, a idéia não é despertar a guerra dos sexos, mas sim mostrar que o homem é muitas vezes incapaz de superar as mulheres em um mundo onde a força não é mais a medida de troca e que essas, por sua vez, os têm em suas mãos.

Mas antes disso foi preciso alcançar o posto de igual, e essa luta é mais antiga que parece. O Gênesis diz que antes de criar Eva, Deus criou outra mulher, Lilith, da mesma forma que havia criado Adão. Ela, por sua vez, se rebelou por sempre ficar por baixo na conjunção carnal. Foi por isso que Deus criou Eva da costela de Adão, pra criar uma mulher submissa ao homem - o que acabou não dando certo já que foi o poder de persuasão dela que prevaleceu na hora de experimentar o “fruto proibido”. Enfim, Adão - bem como os homens em geral - nunca conseguiu conviver com uma mulher de “igual pra igual”, o que explica o sistema familiar patriarcal que se estendeu por séculos. Explica, não justifica.

Essa submissão está sendo combatida com mais força desde o começo do século XX, e vem dando resultados. Hoje em dia é fácil perceber a disparidade. Separe os dez melhores alunos de uma sala de aula de ensino médio ou fundamental e veja qual é a quantidade de meninos. Se passar da metade, já é algo surpreendente. Talvez pelo preconceito que elas sabem que vão ter de enfrentar, elas se dediquem muito mais do que os homens, mesmo ambos tendo o mesmo potencial – ou talvez tenha a ver com o culto ao corpo em detrimento da mente, mas isso fica pra outra conversa.

Os homens dependem das mulheres mais do que elas deles. Aliás, foi só elas resolverem trocar o avental pelo mercado de trabalho pra instituição familiar despencar. Existe até uma pesquisa sendo feita – paradoxalmente, por homens – que procura uma espécie de autofecundação feminina, demonstrando essa independência. Além, claro dos infinitos casos de mães solteiras que conseguem trabalhar e cuidar da casa num esforço incrível.

E cá entre nós, as mulheres sempre nos têm aos seus pés quando bem entendem. Nós lutamos para jogar nossos genes por aí, elas escolhem os parceiros. Nós as cortejamos, elas simplesmente selecionam. Enfim, elas detêm o poder. Isso talvez explique a tendência poligâmica de alguns homens, mas mesmo assim, uma mulher convence um homem sem fazer muito esforço. E pior, faz com que ele pense estar no poder. Duvida? Dê uma olhada ao seu redor. Só não vá me culpar depois.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ortodoxia Alternativa

E lá vou eu colocar meu pescoço em risco falando de religião novamente, mas vamos ao trabalho. Religião e crença pra mim são dois conceitos que sempre se confundiram. Religião não passa de uma crença cega – e cego nesse sentido não é necessariamente pejorativo – em tal Deus, dogma, livro sagrado, ritual, etc. Mas em nossa sociedade existem diversas “religiões” enrustidas, e é disso que eu vou falar hoje.

Se tem uma coisa pior que um crente fervoroso, é um cético fervoroso. O que me intriga são as semelhanças entre esses dois radicais, já que o ateísmo e o ceticismo ganharam proporções – em alguns casos, que fique claro – de religião. O Deus? A ciência. E é uma fé cega. Nenhum cético ousa discordar dos axiomas científicos. Mesmo com os cientistas provando sua falibilidade a cada nova descoberta. Tomo como exemplo Sir Isaac Newton, que afirmou que existe uma força entre dois corpos quaisquer diretamente proporcional ao produto das suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre ambos. Depois de Einstein essa teoria caiu por terra. Pior que Newton foi Aristóteles que disse que os corpos caem porque pertencem ao chão – e a teoria dele foi aceita por séculos como verdade absoluta. Ou seja, os céticos têm a vantagem de crer em algo palpável e discutível – que é a ciência -, mas não escapam da crença nela.

Outra ideologia que beira a religiosidade é o comunismo. É incrível – e chega até a ser admirável – os defensores ferrenhos da revolução do proletariado. E olhe que os poucos exemplos de revoluções que se concretizaram acabaram em ditaduras como as que as revoluções derrubaram. Mao e Stalin são exemplos cabais disso. E mesmo assim temos crentes cegos e surdos na revolução. Não que eu não acredite em mudanças, só acho que como as revoluções sempre foram feitas durante a história uma solução assim é praticamente impossível. Veja o que ocorreu com o Trótski – que pra mim era a esperança da URSS virar o que era pra ser -, por exemplo. A URSS acabou se tornando desigual, burocrática, e extremamente conservadora vestindo uma carapuça de revolucionária.

Um outro grande exemplo é o futebol. Tem gente por aí que deixa o pai na forca, mas não perde um jogo do time. E é engraçado que time de futebol – assim como religião - ninguém escolhe, normalmente é por influência do pai, do tio, do avô. E futebol – assim como religião - também está inserido na máxima “futebol, política e religião não se discute”. Se bem que, pensando bem, acho que vou começar a seguir essa teoria. Pelo menos seria uma boa maneira de evitar atritos e de manter meu pescoço a salvo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Salvo Pelo (Des)Interesse

Há dias nos quais pensamentos ficam nos cutucando por horas a fio, sem dar trégua. Em muitos desses dias, os pensamentos em questão são ruins, ou, pelo menos, incomodam. E por mais que tentemos não dar atenção a eles, não adianta, principalmente se nos encontramos num dia vazio, sem trabalho ou ocupação.

Comigo, isso acontece, na maioria das vezes, à noite. E, claro, a insônia se aproveita desse 'comprometimento' da minha mente pra me pregar uma peça e não me deixar cair no sono. Não pode com eles, junte-se a eles. Minha solução sempre é sentar, olhando pra longe, num lugar quieto (privilégio do lugar onde moro).

Numa dessas noites, não muito tempo atrás, fui surpreendido, enquanto refletia, por clarões ao longe, no horizonte. Era quase 1h da manhã. Como as casas do outro lado da rua impediam a visão mais clara, fui até uma esquina, aqui próxima de casa, mais alta, para contemplar a cena. Belíssima, por sinal.

Um espetáculo de relâmpagos numa noite estrelada (sobre mim), porém, nublada densamente no horizonte. O céu escuro e límpido que pairava sobre minha cabeça era interrompido, no horizonte, por nuvens grandes, no entanto quase imperceptíveis na paisagem noturna. Mas constantemente, separados por alguns segundos, às vezes até menos, relâmpagos brilhantes, fulminantes, pintavam as silhuetas dessas nuvens. Por um motivo que desconheço, na minha ignorância, as luzes eram de um amarelo vivo, e, ao se manifestarem, os relâmpagos faziam vir à luz, literalmente, não apenas os contornos dessas nuvens, mas também me dava uma noção de profundidade que me permitiu perceber um amontoado sinistro de formações nebulosas.

Na minha cabeça viajada, aquilo parecia um espetáculo dos deuses do Olimpo, ou uma briga entre eles. Sem a menor preocupação com mais nada, fiquei a contemplar, desinteressadamente, a cena e os fulminantes relâmpagos brilhantes no horizonte.

Até que, uma hora depois, um bocejo!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Femme Fatale

Quero uma dama sagaz,

Que não só fale, faça

E não me deixe dizer "mas".

Ano da Realização

Primeiramente, queria desculpar nossos amigos leitores do blog pelo tempo ausente, porém, cá estou de volta, ainda mais crédulo no futuro do país, crítico com a política coronelista do Estado, e por aí vai.

Mas não é sobre política, economia, música, esse post é sobre realização. Na virada desse ano, meu pai disse para mim que esse ano, de acordo com estudos cabalísticos seria o ano da realização, pois representa o número 3 (2010 – 2+0+1+0= 3). Não levei muito em conta o que ele disse, nós jovens somos um tanto extremistas quanto a crer em determinada coisa que não tem explicação lógica.

E passou janeiro e parte de fevereiro e, nesses quarenta e cinco dias, tive duas grandes notícias: a primeira é que o Jamil e a Hermínia não serão os únicos titios ou titias do blog, terei um sobrinho para ensinar violão, torcer pelo Atlético, escutar Bezerra, ler Le Monde Diplomatique, ensinar a história dos países latino-americanos. A segunda notícia é que consegui, mesmo sem retomar os estudos do cursinho, ser aprovado no vestibular de Direito da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Estou fazendo as malas, com o coração na mão pela família, os amigos, o time, a minha vida inteira que foi resumida pelos ares gelados da capital social Curitiba. Ainda bem que essa mudança não impede minha participação nesse blog.

Gostaria de desejar a todos essa realização, aproveitem, o ano ainda está no começo.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Um Livro de Sucessos

"O Fio da Navalha" - W. Somerset Maugham

Literatura que prende a atenção. Esse livro, seja quando o autor/narrador descreve a mobília da casa de um nobre do início do século passado, seja descrevendo um quadro de modernistas, na época considerados extremamente avançados, seja ao tentar exprimir o Absoluto em palavras, sempre nos deixa com olhos grudados em suas páginas.

O livro, supostamente, uma adaptação de pedaços da vida do autor, conta a história de um piloto de guerra americano que, ao voltar da Primeira Guerra Mundial, se vê numa crise existencial. Não daquelas em que se busca perder a vida, pelo contrário, Larry, como Maugham chama o ex-aviador, busca implacavelmente significado na vida. Ora atrás de Deus, ora atrás de conhecimento contínuo, ou ainda perseguindo a iluminação.

O principal personagem, que surge após mais de dez páginas do romance e é citado em intervalos não regulares, passa por transformações grandiosas, sempre no plano espiritual, enquanto as outras pessoas mencionadas no romance sofrem por sua exacerbada preocupação com o material. O autor, que se apresenta como narrador, avisa no início que não se tratava de um romance, o que torna a jornada de Larry ainda mais impressionante (mesmo não sendo exatamente como na vida real).

Citações de ensinamentos hindus, meditações e um pouco da cultura de yoguis indianos antecipam o interesse que se sucedeu no ocidente pela cultura oriental, mais especificamente pela parte espiritual. O alcance da chamada 'iluminação' por Larry mostra, numa descrição muito bem trabalhada, apesar de o autor achar que não é a precisa definição do acontecimento, as sensações que se passam por quem atinge o 'sublime'.

Fica a dica para quem quer ler, ou leu, de assistir o filme desse post, no qual o protagonista experimenta situações similares às de Larry, nesse romance. E, quanto ao título, quem chega ao fim do livro, descobre o que quer dizer.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

“Vaidade, Meu Pecado Favorito”

“O Advogado do Diabo” - Taylor Hackford

Se teve um filme que mudou a minha vida, foi o Advogado do Diabo. Eu reassisti – quando vi pela primeira vez era muito novo pra entender o filme – bem na época de transição de escolha entre Engenharia e Direito, que não por acaso acabou sendo meu veredicto.

O filme conta a história de Kevin Lomax, um jovem e brilhante advogado de uma pequena cidade na Flórida que nunca perdera um caso sequer. Kevin é o típico caso de corrupção financeira. Começa a carreira como promotor - tendo sucesso em todas as acusações-, mas acaba usando seu talento na defesa de grandes corporativistas cujos honorários o convenceram.

Ele se muda para Nova Iorque contratado pela maior empresa de advocacia da cidade, que pertence a John Milton – magnanimamente interpretado por Al Pacino -, mesmo contra a vontade de sua mãe, uma católica fervorosa que compara a Big Apple à babilônia. Com o tempo o jovem advogado acaba cada vez mais se distanciando de sua esposa e se afundando num caso de triplo assassinato. Mas mesmo com todos os problemas, curiosamente John, seu patrão, sempre tem uma solução. Se eu disser mais, acabo com o suspense e com as reviravoltas do enredo.

O final é surpreendente, magistral, digno deste grande filme. A atuação do Al Pacino é de dar calafrios e os diálogos de humor – extremamente refinados, por sinal - do seu personagem são simplesmente memoráveis. Diversas citações do filme – como o título deste texto – são dignas de ficar na ponta da língua dos maiores cinéfilos. Enfim, é um dos meus filmes favoritos disparado. Espero que se torne um dos seus também.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"Naturally Born, Born Bad"

"Assassinos por Natureza" - Oliver Stone

"Natural Born Killers" (nome original) é um filme perturbador. No sentido bom, ou melhor, no sentido visual, ou melhor, no sentido estético. Enfim, é um filme que não nos deixa relaxar, nos tira do conforto, nos força a vista e a cabeça, exercita nosso senso de nojo. Tudo no bom sentido.

O filme conta a história de vida de um casal de serial-killers que vagam pela rota 666, nos Estados Unidos, e por lá causam o maior terror. Só que, para dar um ar de profundidade além da análise psicológica dos dois (que possuem problemas familiares, pouco senso de preservação da vida, entre outros problemas), acompanhamos as façanhas de outros dois marcantes personagens: um repórter maluco, sedento por audiência e que, para consegui-la, se dispõe dos métodos mais grotescos da mídia; e um policial, não menos louco, que investiga o casal Knox, criando por Mallory, a esposa, uma relação de obsessão/amor platônico/ódio mortal.

Além da trama absurdamente viajada, que culmina com um caos inesperado e de fim menos previsível ainda, temos, na parte visual do filme, a grande atração. Com um aspecto meio psicodélico ao extremo, meio perturbador, como numa mente psicopata, meio grotesco (com a mão de Tarantino, claro), com flashes sinistros, a fotografia do filme é de tirar do sério. A trilha sonora não deixa por menos, também, com nomes variados: de Piaf a Lou Reed, de Rage Against the Machine a Juliette Lewis (atriz que interpreta Mallory Knox).

Recomendadíssimo para quem gosta de ver coisas diferentes, não tem nojo de cenas sangrentas, gosta de uma história de amor totalmente fora dos eixos e adora uma boa crítica (no caso, à mídia). Só não me xingue depois de assistir por ter ficado perturbado. Aqui, o trailer.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Obviedades Não Tão Óbvias

Pra ser sincera, sempre achei ridículo aquele apelo hollywoodiano para finais felizes, comoção da platéia. Até hoje. Estava no cinema, programinha típico de curitibano que não sabe direito quais estações vão dar as caras no dia, então vai pra um lugar fechado e climatizado. Eu tava louca pra ver aquele filme sobre o Nelson Mandela, sabe, “Invictus”? Ainda mais por que era um drama. Não sei vocês lembram daquele post em que eu falei sobre as olimpíadas aqui no Brasil, xingando todo mundo, falando que o país mal tinha dinheiro pra educação e ia ficar investindo em infra-estrutura, etc. Tanto a minha opinião sobre finais felizes quanto sobre 2016 mudou depois daquele filme.

Parafraseando o Pedro, como humanos não podemos aceitar certas injustiças, como o racismo exposto no filme. Não é segredo pra ninguém que o Apartheid foi uma atrocidade moral, política e social. Situações como esta são pontos delicados a serem explorados emocionalmente, tanto que não vejo muitos filmes expondo polêmicas do tipo tão freqüentemente. É muito mais fácil agradar a todos com filmes sobre cachorrinhos, casais em crise que superam seus problemas, aquilo de sempre. Confesso que adoro muitos desses filmes, tanto eles não são inferiores por não serem politizados.

A epifania veio ao ver como Mandela utilizou o esporte para unir a população tão segregada, como o rugby foi usado de forma engenhosa para fazer o povo ter esperança. Não só os brancos conseguiram amenizar a herança política do apartheid, diminuindo os efeitos do racismo espalhado pela sociedade, quanto os negros tiveram uma bela lição sobre o perdão e a caridade. Não podemos ser ingênuos e acreditar que a Copa de Rugby de 95 foi a solução para todos os problemas da África do Sul, mas olhe, que isso pode ser utilizado como um grande exemplo de otimismo bem aplicado, pode.

Como é difícil esperar o bem das pessoas, ser crítico e hipócrita ao analisar terceiros é muito mais fácil! O otimismo às vezes é irritante, mas penso que se bem balanceado com o pessimismo, as coisas andariam bem : sem ingenuidades mas também sem ceticismos. Hipócritas todos somos, isso não podemos negar. Somos tão abertos para teorias políticas, religiões, todos somos irmãos nesse mundo supranacional, não existe mais inferioridade racial; mas, ao mesmo tempo, somo conservadores nas pautas morais (ninguém aceita de boa ver um cara correndo peladão na rua), no relacionamento com as pessoas mais próximas, na educação (nos submetemos às tradicionais provas, mesmo sabendo que nenhuma avaliação é justa). Eu mesma, estudo em uma faculdade federal sem concordar com a política do governo atuante.

Sim, sim,certas situações envolvem a questão do respeito além do conservadorismo. Mas é fato: a hipocrisia é profundamente cravada no dia-a-dia da sociedade. A questão é se existe um uso inocente dela ou não. Para aqueles que acreditam que sim, nada como uma visão otimista da vida, mas será que devemos relativizar algo tão exato como a descrição dessa incoerência comportamental? No entanto, é comum encontrar pessoas como eu que tendem a esperar o pior dos outros, desconfiar de tudo, o mais fácil a fazer, não me orgulho disso. Não que isso demonstre um senso crítico aguçado, afinal penso que é fácil ser crítico com tudo, mas difícil ser crítico com as coisas certas.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quanto Tempo o Tempo Tem

Assim como as transgressões à ordem vigente, as mudanças, sejam pequenas ou gigantescas, são instrumentos da nossa sobrevivência. Nossa espécie, mais especificamente falando, é a que mais busca balançar a poeira, digamos. Inovações tecnológicas, cortes de cabelo, mudança de guarda-roupas, enfim. Tudo em busca de uma visão diferente, de uma vida com sensações diferentes.

O tempo é o mais implacável dos agentes de mudança. Ao chegar no barbeiro, percebi como o tempo o castigou, tornando-o mais uma vítima. Antes, um senhor simpátissíssimo, falante, sorridente. Hoje, um senhor mais pálido, aparência de desânimo, de cansaço. Digo isso porque também sofri muitas mudanças nesse curto tempo de vida: cortes de cabelo, barba, estilos, atitudes e comportamento. Parece um clichezão daqueles que passa no Fantástico, mostrando o antes e o depois. Mas não, aqui, a reflexão é mais do que a estética.

Muitas pessoas, ao alterarem sua aparência, têm juntamente um avanço (ou regresso) espiritual/intelectual. Não é via de regra, mas é fácil de se notar. Meus irmãos mais velhos, ao rasparem suas longas madeixas, pareceram, e não só esteticamente, mais responsáveis, donos de si. Talvez, ao fazer como eles (sim, raspei os cabelos), eu tenha procurado adiantar esse amadurecimento, forçar um pouco mais meu senso de adulto, digamos assim.

Voltando ao assunto do tempo e suas mudanças, a reflexão que tive ao passar pelo barbeiro foi de que, por mais que briguemos, as transformações, de todos os tipos, são inevitáveis. Apenas uma questão de (quem diria) tempo. E como essa queda da ficha é forte. Ao notarmos a fatalidade do tempo, que ainda nos é absoluto, em nossa condição de humanos com nossa tecnologia atual, é impossível não se sentir insignificante. É como se o titã Cronos nos olhasse e nos debochasse a cada dia e, com isso, tentamos mudar para que o titã não nzombe de nós novamente.

Pode parecer engraçado um piá como eu reclamando do tempo. Porém, todos, sem exceção, envelhecemos a cada dia. Não há pessoa capaz de me negar isso. E, mesmo assim, não temos como fugir da sensação de impotência. E isso, mesmo sendo eu daquela opinião de que tudo só é porque somos.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

"Brasil Likes it Heavy!"

Quando se consegue fazer música de boa qualidade, sonora e poética, ao mesmo tempo que se toca num volume altíssimo e se consegue botar a cabeça de quase 70 mil pessoas para bater, aí sim, pode-se dizer que há uma banda decente. O Metallica, com seus shows, em Porto Alegre e São Paulo, fez tudo isso e mais um pouco. Fui no do dia 30, sábado, no Morumbi, em São Paulo, e posso dizer, que quando James Hetfield disse "Brasil likes it heavy", ele tava certo.

Só pelo começo, com "Creeping Death" e "For Whom the Bell Tolls", do segundo disco da banda, já se sabia que o Metallica não estava de brincadeira e veio fazer o mais puro heavy/thrash metal. Sem sair da linha antiga e rápida da banda, a canção seguinte foi a "galopante" "The Four Horsemen", seguida de um show de pirotecnia com "Harvester of Sorrow". Para arrematar de vez os que já eram fãs da banda, "Fade to Black" foi executada com primazia. Muitas das canções tocadas foram executadas com uma pausa no meio, na qual as luzes do palco de ligavam e se percebia a euforia e excitação dos 68 mil headbanger presentes.

Após esse setlist clássico, Metallica apresentou, sem nenhum declínio na qualidade ou na sonoridade, canções do álbum mais novo, "Death Magnetic". "That Was Just Your Life", "The End of the Line", o novo clássico da banda "The Day that Never Comes" e a agressiva "Broken, Beat & Scarred".

Em seguida, mais clássicos pesados: "Sad But True", segundo Hetfiled antes da canção, uma homenagem ao Sepultura, banda de abertura do show, e ao povo brasileiro; "One", precedida de muitos fogos, luzes e barulhos de guerra; e "Enter Sandman" e seu riff inconfundível.

É claro que haveria um bis. Após ficarem alguns minutos fora do palco, Metallica voltou para tocar mais três sonzeiras. Começaram com uma homenagem a uma das bandas que os influenciaram: Queen. Um cover magnífico de "Stone Cold Crazy" levou a galera ao delírio. "Motorbreath", canção que retrata o estilo de vida do grupo, no seu início, foi tocada em seguida. Por último, a canção mais aguardada pelo público, mais pedida pelos quase 70 mil no estádio: "Seek and Destroy". Segundo Hetfield, todos gostamos dessa canção por sua letra fácil. Mas pode-se dizer que não apenas sua letra e seu refrão ("searching... seek and destroy!") é que fazem dessa, na minha opinião, a melhor canção do grupo, mas seus riffs acelerados e solos implacáveis também.

Enfim, o grupo, sempre no máximo do volume dos amplificadores, deixou muitos headbangers de pescoço dolorido e pingando de suor. Mas tudo por uma ótima causa: um som empolgante e de qualidade.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Bote o seu Gulliver pra Funcionar

"Laranja Mecânica" - Stanley Kubrick

O mesmo diretor que fez "O Iluminado" deu vida ao romance revolucionário de Anthony Burguess. Bem, é óbvio que o livro é sempre melhor do que o filme, justamente por dar mais margem para a interpretação de cada leitor. O filme já é um olhar sobre aquele livro, o que faz dele um tanto quanto restrito. Nem por isso a interpretação de Kubrick chega a ser explícita e mastigada: ela dá espaço para uma crítica absorção da trama. Taí porque o filme ficou tão bom!

O filme é de 71 (bem revolucionário para a época, quebra muitos tabus de hollywood),mas a história se passa em um futuro próximo, num mundo da ultraviolência, da pornografia liberada, da falta de regras e leis, da ausência de respeito para com os mais velhos e muito mais. Não chega a ser tão louco quanto o admirável mundo de Huxley, tendo até uma pitada de verossimilhança. O protagonista e seus "druguis" formaram uma gangue, e em meio aos estupros, saques, espancamentos e assaltos, misturam o inglês com o Nadsat, uma língua que mistura o inglês com o russo (outra parte genial do romance). Mas seus dias de farra acabam quando "lhe caiu os butiá do bolso", e o piazão é então preso.

Deposi disso que o filme começa a ficar intrigante: depois de dois anos cumprindo pena, oferecem a ele uma alternativa para sair mais rapidamente da prisão, um tratamento milagroso que o curaria de sua banditice. Mas como pau que nasce torto morre torto, o tratamento é uma furada, baseado em manipulação e falta de livre arbítrio. Para quem gosta de teorias da conspiração, histórias de governos autoritários que foram publicamente humilhados, manipulação e rebeldia, o filme é um prato cheio!