domingo, 31 de janeiro de 2010

A Terceira Dimensão

Estão chamando por aí Avatar 3D – super-produção ficcional que levou 12 anos pra ser produzida e custou cerca de 500 milhões de dólares – de o novo “O Vento Levou” – que foi o primeiro filme a cores direcionado pro público adulto. Dizem que a terceira dimensão foi um salto tão grande quanto à fala ou à cor pro cinema.

Eu era um pouco cético nesse sentido. Achava que o 3D acabaria deteriorando o cinema clássico em prol dos recursos visuais. Os produtores se preocupariam mais em jogar carros na direção dos espectadores do que no enredo, por exemplo. Elevaria o estágio de blockbuster, mas não dos filmes artísticos à la Tarantino e Scorcese.

Porém, lendo a Superinteressante de Fevereiro, que tem uma matéria sobre o assunto, fui perceber que o Hitchcock passou pela mudança de preto e branco para cores - que tecnicamente também é uma evolução meramente estética e superficial –, sobreviveu e continuou a fazer ótimos filmes!

Enfim, mudei minha opinião. Hoje, vejo que o 3D não vai “matar” o cinema de qualidade, mas sim apenas vai dar uma guaribada nas películas feitas pra vender e passar batido na qualidade dos filmes de enredo envolvente. Uma mera cereja num bolo requintado.

sábado, 30 de janeiro de 2010

"Organizamos a Vida de Tal Forma que Seja Quase Impossível Conhecê-la"

"Admirável Mundo Novo" - Aldous Huxley

Sabe aquele tipo de livro que você pega pra ler esperando muito, porque os outros falaram muito, mas quando você realmente lê vê que não era tudo isso? Então, aqui, isso não se aplica. Confuso? Espere até ler esse livro cheio de "fordezas", brinquedos eróticos para crianças, ausência de relações afetivas, família, romantismo, maternidade, religião, etc. Você se perde muito até pegar bem as novas regras do jogo. Mas eu posso afirmar, sem sombra de dúvida, foi um livro que mudou minha vida. Perceba como as coisas que vivemos aqui nessa lógica ocidental-mais-do-que-americanizada foram sempre assim. Sempre existiram famílias. Sempre existiram pautas morais. Sempre existiram os medos como axiomas, que herdamos de nossos pais. Só existiu uma única forma de continuar a existência da espécie. Imagine existir uma alternativa pra tudo isso. Pior, imagine criar essa alternativa antes da II Guerra. Depois dessa, virei fanzona do Huxley.

Vejamos: em 32 o homem não havia chegado à Lua; a Dolly ainda não tinha sido clonada; o LSD ( uma droga sintética) nem havia sido inventado; o cara nunca ouviu Beatles nem Frank Sinatra; o cinema 3D nem tinha imaginado em existir! Mesmo assim, Huxley já falava de drogas sintéticas; sucedâneos de paixão violenta e de gravidez (visto que as pessoas não podiam ficar com o mesmo parceiro por muito tempo, nem engravidar - os bebês eram todos clones); cinema cinéticos (onde você, ao apertar um botão, poderia sentir o que o ator estaria supostamente sentindo, ver a imagem em hologramas, e tudo mais); classes inferiores planificadas, porque os seus integrantes eram geneticamente adequados aos seus serviços e inferioridade, sendo preparados para sentirem-se satisfeitos com a sua condição social.

Hipnopedia (hipnose durante o sono), ateísmo, clonagem, e muita filosofia. Além de inédito, o livro faz você refletir sobre o nosso próprio sistema, faz você questionar uma lógica dominante e ser uma pessoa mais crítica, ter uma visão de fora, como o Selvagem, aquele que não foi criado no mundo "civilizado", que no início vê toda aquela sociedade pensada e produzida e a acha admirável, mas depois percebe seu lado pútrido: a felicidade através da desigualdade, da abdicação da felicidade individual para dar lugar a um sentimento de satisfação conjunta, de Bem-comum atingido. Ah sim, sem contar que os velhos aparentam ser jovens, porque sempre tomaram coquetéis da juventude. E a história deles também foi escrita pelas fordezas do governo, assim como os burgueses e a Revolução Francesa! Só de pensar já me da vontade de ler novamente. Taí mais uma dica.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Uma Garoupa por Duas de Cinqüenta

Que governante hoje não idolatra o ideal da Revolução Francesa resumido em três palavras: "liberdade, igualdade e fraternidade"?! Pessoalmente, acho esse lema dotado de uma pitada de hipocrisia. A "revolução" no fim das contas não teve muito de revolução: as mesmas estruturas sociais foram mantidas (Igreja, Universidades, corporações de ofício, a família como entidade fechada, etc), somente uma classe social continuou no poder, os pobres continuaram pobres e os ricos continuaram a comer brioches. Ah sim, "nada mais conservador do que um liberal no poder".

A burguesia, que tanto aclamava por poder, dizendo que iria ouvir as minorias, representar todas as classes, dar um fim no absolutismo, promover a liberdade e toda aquela baboseira acabou sendo ainda mais incisiva no controle do poder do que a própria nobreza. As tentativas de governos revolucionários tinham ar de amadoras, tanto que não passaram de experiências. O que efetivamente se estabeleceu foi uma monarquia, mas com os teóricos da época ao seu lado. Quem não consegue fazer uma coisa parecer boa com todas as fontes respeitáveis ao seu lado? Os burgueses reescreveram a história: passaram a chamar o governo nobre de absolutismo e seu governo de liberal.

No entanto, antes de 1789, os corpos da sociedade tinham voz própria, cada um podia ditar suas leis para aqueles que estavam inseridos em seus grupos. Assim, o pai ditava a lei para sua família, as guildas estabeleciam normas para os seus associados, os artesãos regulavam aqueles indivíduos da corporação, o senhor feudal reinava em seu feudo. O rei reinava sobre tudo isso, mas era obrigado a dar espaço para todas essas entidades também. Já a burguesia, ao se estabelecer no poder, no afã de acabar com toda aquela influência nobre na sociedade, resolveu ser fonte única da lei, estabelecendo a Declaração Universal do Homem, ninguém mais podia dar os ditames da sociedade! Escute, o universo inteiro deu autorização para aquele grupo de indivíduos "iluminados" falarem por todos?

Se antes um indivíduo representava um estamento, depois que a revolução foi estabelecida, um indivíduo representava a nação. Não era mais deliberado aquilo que o grupo queria e levado para as esferas superiores. Agora se vota num cara, outorga a ele toda a sua soberania, e ele tem o poder de falar por você. Sim, tudo o que ele diz você já previamente concordou, votando nele. Agora me diga se ele disse a você tudo o que ele iria fazer, falar, etc. Ele não fez um contrato explícito com todos os seus eleitores. E quem não votou no cara, é obrigado a acatar as burrices que o Lula solta por aí, ou as leis inúteis que o legislativo cria?

Essa é a herança que a Revolução Francesa nos deixou. Não estou dizendo que ela não mudou nada, porque se não seriam muitos os loucos que chamam o ocorrido de revolução à toa. Hoje, temos mais contato com os outros países, temos etiqueta na mesa, leis, etc. por causa dos loucos que estavam cansados de não comer os brioches da Maria Antonieta. O que afirmo aqui é que nem todos esse frutos vieram para o bem. Muitos deles acreditamos que são bons, mas na verdade foram distorcidos pelos historiadores e teóricos da época. Vocês sabiam que nem foi a Maria Antonieta que disse "Se não têm pão, que comam brioches"? Dizem as más línguas que foi uma camareira! Não acredito muito no que as minhas apostilas do fundamental e do ensino médio diziam sobre a vitória democrática do povo com a ascensão da burguesia durante a Revolução Francesa. E quem disse que a democracia é boa? Penso que nem tanta coisa mudou para aqueles que continuaram nos campos, para os pobres artesãos, etc.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As Cidades como Não as Ousamos Ver

"As Cidades Invisíveis" - Italo Calvino

Para quem viaja bastante, ou nunca teve essa oportunidade. Para quem tem imaginação fértil, ou quer ter. Para quem gosta de apreciar uma paisagem, ou para quem valoriza uma descrição exata das coisas, ou para quem vive na subjetividade. Esse livro, publicado em 1972, pelo autor ítalo-cubano, Calvino, é uma viagem profunda e, ao mesmo tempo, suave, que nos cativa a cada página.

O livro é como um caderno de viagem, no qual Marco Polo, mercante veneziano, descreve todos os lugares e cidades pelos quais passou, com uma mistura entre a exatidão matemática e geométrica e a magia dos símbolos das cidades e sua importância na existência humana. Entre essas maravilhosas imagens temos diálogos, não menos poéticos, entre Polo e o imperador mongol Kublai Khan. A princípio, Khan só pede para que o viajante sacie sua curiosidade a respeito de seu cada vez mais vasto império e suas peculiaridades que, por estar envelhecido e ocupado, o imperador não pode conhecer pessoalmente. Mas, com o decorrer dos dias, após vários encontros e conversas, percebemos uma evolução no tema das conversações, passando de meras descrições físicas para aspectos existenciais, de marcos turísticos e perfil de habitantes para profunda análise psicológica de quem uma vez passou por tal cidades.

As cidades invisíveis descritas por Polo, no livro, possuem apenas nomes femininos, e sua descrição não passa de duas, três páginas, no máximo. Porém, ao nos envolvermos na profundidade de aspectos e na gama de possíveis interpretações para cada detalhe, fica difícil querer ler o livro rapidamente, ao mesmo tempo que queremos conhecer toda a extensão do império de Kublai Khan. Recomendo fazer como eu, Hermínia e Aline fizemos e como diz a orelha da edição da Companhia das Letras, apreciar o livro não como um turista apressado, encucado com os horários dos trens e aviões, mas sim como um despreocupado viajante que se detém numa bela paisagem por horas e volta atrás para reexaminar uma obra de arte.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Álbuns de Cabeceira

A maioria das pessoas tem livros de cabeceira, mas sempre que me fazem essa pergunta, eu não tenho uma resposta pronta. Porém posso dizer com toda a certeza que tenho discos de cabeceira. Daqueles que não me canso de ouvir, cujas músicas estão todas no meu aparelho de mp3, etc. Na verdade não é um, são dois. Sendo que um deles é duplo.

Sinto se parecer redundante, mas um deles é o Paralamas e Titãs Juntos e Ao Vivo. Eu sei, já falei inúmeras vezes desse álbum, mas é que realmente é uma obra prima. Primeiro, porque une duas das 4 maiores bandas na nossa história. Além disso, ouvir “Meu Erro” na voz do Branco Mello ou “Flores” na voz do Herbert é algo incrível. O álbum abre com “Diversão” – cujo riff de abertura, por sinal é o meu toque no celular – e assim vai longe por mais 18 faixas. Reúne músicas desde as do começo das carreiras – Como “Óculos” ou “Marvin”- até sucessos mais recentes – como “A Maior Banda de Todos os Tempos da Última Semana” ou “O Calibre”.

O show também tem participação especial de 3 grandes artistas. Samuel Rosa, vocalista e guitarrista do Skank, canta “O Beco” e “Lourinha Bombril”, Arnaldo Antunes canta as músicas que foram eternizadas na sua voz, “Lugar Nenhum” e “Comida”, sendo que essa última é junto com Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, que ainda toca o pot-pourri “Selvagem+Polícia” – pretem atenção no fim de “Lugar Nenhum”, quando os 3 guitarristas fazem uma espécie de duelo de guitarras e o Andreas toca o riff de “Black Dog” do Led no meio do solo. Aliás, os dois pot-pourris – o outro é “Sonífera Ilha+Ska” - são bem interessantes já que fundem duas músicas, uma de cada banda, numa lógica admirável.

O outro álbum é uma paixão recente. O álbum duplo MTV Ao Vivo Barão Vermelho tem a mesma lógica do Paralamas e Titãs: um show antológico – que nesse caso foi na capela do Rock Nacional, o Circo Voador – com sucessos antigos e recentes em versões do mais puro Rock N’ Roll. 25 faixas, desde as do começo de carreira, na época Cazuza – como “Pro Dia Nascer Feliz”, “Bete Balanço”, “Maior Abandonado”, “Por que a Gente É Assim” ou “Down em Mim” – até clássicos da fase Frejat nos vocais – como “Pense e Dance”, “Cuidado”, “Por Você” ou “Puro Êxtase”.

Destaque para os covers do álbum. “Tente Outra Vez” do Raul Seixas, “Quando o Sol Bater na Janela do seu Quarto” da Legião Urbana – que por sinal é mais legal que a original e no finzinho tem direito a solinho de “Here Comes the Sun”, dos Beatles -, “Malandragem Dá um Tempo” do Bezerra da Silva – que na versão do Barão ficou excepcional – e “O Tempo Não Pára”, da carreira solo do Cazuza. Aliás, falando em Cazuza, até ele tem uma participação especial nesse show. Quando é tocado “Codinome Beija-Flor”, um vídeo dele e o Frejat fazem uma espécie de dueto extremamente tocante.

Acabei me inspirando no Jamil e em suas viagens pelos seus álbuns favoritos pra fazer esse texto. Acho que realmente, esses são os dois álbuns que mais me fazem transcender pro maravilhoso mundo da música. Eles só saem da minha cabeceira, pro toca discos do meu carro, quando eu tiver um.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Peso, com Velocidade

Bandas que duram mais de duas décadas, com qualidade de som, são raridades. As que o fazem, são consideradas clássicas, obrigatórias no mp3 player de todos. As pioneiras de certos gêneros também tem um peso grande em nossa cultura musical. Quando ouvi pela primeira vez a banda que comentarei hoje, por influência de meu irmão mais velho, sabia que tinha ouvido algo que mudaria meu gosto pro resto de minha vida. "Seek and Destroy" abalou minhas estruturas, até então intocadas por música boa. Metallica, uma das primeiras bandas de metal de sucesso, "criadores" do speed ou thrash metal, é uma banda de respeito.

Os três primeiros álbuns da carreira deles, "Kill 'em All",  "Ride the Lightning" e "Master of Puppets" são marcos na história do rock pesado. Velocidade, quebras de ritmo inesperadas, letras fulminantes, riffs poderosos. Enfim, três álbuns extremamente pesados, rápidos e com uma sonoridade impecável para uma banda que surgiu da cena underground da Califórnia, com influências do metal britânico recém-surgido (Iron Maiden, Motorhead, Diamond Head, Judas Priest). O quarto álbum, "...And Justice for All", não deixou por menos na discografia da banda. Com letras politizadas, críticas à guerra e à corrupção, riffs marcantes com solos absurdos e o ímpeto de fazer levadas ainda mais velozes na guitarra, Metallica chegava ao seu ápice na carreira.

Com a morte do baixista, letrista e mestre Cliff Burton, pouco antes do lançamento do "..And Justice...", Metallica passou um tempo ignorando e menosprezando o novo baixista, Jason Newsted, o que levou a álbuns com qualidade sonora mais baixa (o quarto álbum teve que ser remasterizado posteriormente pela extrema desvalorização do baixo no original). No meio de tudo isso, em 1991, é lançado o "black album", na verdade, entitulado "Metallica". O maior sucesso comercial da banda, canções um pouco mais leves, sem perder a compostura de uma banda de metal, foi o que trouxe o grupo ao mainstream.

Depois de alguns álbuns que, como fã conservador, prefiro ignorar ("Load", "Reload"), Metallica voltou, em 2003 com o álbum "St. Anger", no qual parte de sua potência antiga foi retomada. O baixista da vez, que continua até hoje no grupo, Robert Trujillo, ex-Suicidal Tendencies, ganhou rapidamente o respeito do grupo e dos fãs, pela habilidade no instrumento e, também, pela cara feia e atitude de roqueiro barra pesada.

Em 2008, retomada a força e velocidade antigas, é lançado o "Death Magnetic", que obteve relativo sucesso. Porém, o que eles conseguiram com esse álbum foi voltar a chamar a atenção de fãs que haviam deixado a banda de lado. Faixas velozes como antes, uma canção instrumental, que era hábito até a era comercial da banda, e a cerimônia de 2009 do Rock and Roll Hall of Fame, na qual o Metallica foi introduzido, fizeram lembranças dos álbuns antigos, boas, por sinal, voltarem às mentes dos fãs do bom metal.

Agora, mais precisamente, nesse sábado (30/01), o grupo vem ao Brasil, em São Paulo, fazer uma apresentação da turnê World Magnetic Tour. Esperemos para ver se, realmente, o Metallica está feroz e pesado como antes.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Power Trio de Bermudas

Voltando à minha idéia de fazer um post pra cada um dos grupos do quarteto sagrado do Rock Brasileiro, a escolha da vez são os brasileiríssimos Paralamas do Sucesso. Digo brasileiríssimos porque são poucas as bandas que conseguem fundir a cultura latino-brasileira com as guitarras do Rock N’ Roll, e nisso eles são os melhores.

A banda, que tem duas cidades natais – Brasília e Rio de Janeiro, afinal a maioria é da Capital Federal, mas a banda começou na Cidade Maravilhosa -, se destaca por alguns fatos. Primeiro de tudo, é um Power Trio – Power trio, pra quem não sabe, é uma banda de 3 integrantes, um baixista, um baterista, um guitarrista, sendo que um dos 3 é o vocalista, como Police, Nirvana, Green Day, Blink 182, Rush, etc. -, que já é algo louvável. Além disso, continua lançando álbuns de qualidade e evoluindo a cada ano que passa, diferentemente da maioria das bandas que começaram com eles. Por fim, o acidente que deixou o vocalista Herbert Vianna paraplégico, que mesmo de cadeira de rodas, não deixou o show parar. A propósito, o nome “Paralamas do Sucesso” foi dado por Bi Ribeiro, o baixista, numa tentativa de dizer um nome engraçado, acabou que todos gostaram.

Mas vamos às indicações. Eu tenho costume de indicar músicas menos famosas das bandas, mas essa versão dessa música eu não podia deixar de comentar. Todos já ouviram “Óculos”, mas no show Paralamas e Titãs, juntos e ao vivo – que virou DVD, CD e que eu já citei no texto sobre os Titãs –, lá pelo final da música ao invés de dizer “Atrás dessas lentes também bate um coração”, que é a letra original, o Herbert canta “Em cima dessas rodas também bate um coração”, e em seguida o povo vai ao delírio. Algo que sempre me toca quando ouço e que você pode checar aqui.

E como prova do que eu tinha dito antes sobre eles evoluírem cada vez mais, uma das minhas músicas favoritas do grupo é “O Calibre”, do décimo disco da banda, “Longo Caminho”, lançado em 2002, um ano após o acidente do frontman da banda. A música é o retrato mais fiel da insegurança que as metrópoles nos trazem. Quem mora em cidade grande compreende exatamente o que a música quer dizer com “Perdido em números de guerra, rezando por dias de paz”. Além da boa letra, o riff é interessantíssimo. Bem mais trabalhado do que a levada de Ska do “Melô do Marinheiro” do começo da carreira dos caras.

Outra coisa que eu não posso deixar de falar é sobre a música “Lourinha Bombril”. Ela sintetiza praticamente toda a miscigenação brasileira. “Essa crioula tem o olho azul, essa lourinha tem cabelo Bombril, aquela índia tem sotaque do Sul, essa mulata é da cor do Brasil.”, mas apesar de toda essa identificação, o que poucos sabem é que ela é uma versão de outra música de um grupo latino, “Parate y Mira” do Los Pericos. Sinceramente, não é pra puxar sardinha pro nosso lado, mas a dos Paralamas deixa a original no chinelo, ainda mais nessa versão – naquele mesmo show com os Titãs – que conta com a voz e a guitarra de Samuel Rosa, do Skank.

Por fim, outra música conhecida, mas numa versão totalmente inusitada, é “Alagados”. Aposto que todos já ouviram alguma vez na vida, mas duvido que muitos tenham visto ela ser cantada pelos Paralamas junto com a Banda Calypso. Isso mesmo, Joelma e Chimbinha. E sabe que não ficou ruim? O ritmo do Pará combinou perfeitamente com o “Rock de bermudas” – de bermuda por ser um rock tropical, nada parecido com o original, de calças jeans e jaquetas de couro. Essa invenção do Estúdio Coca-Cola Zero pode ser vista aqui. A propósito, o refrão dessa música é “Alagados, Trenchtown, Favela da Maré...”. Trenchtown é a favela de onde veio Bob Marley e boa parte dos Wailers. É bom frisar isso porque os próprios Paralamas já comentaram dos absurdos que ouvem da plateia nessa parte da música. Eu mesmo cantava errado antes de checar a letra.

Então é isso. Espero que aproveitem o ritmo contagiante dessa grande banda brasileira, que por sinal está com um disco novo nas lojas, “Brasil Afora”, retomando as influências do Reggae do começo da carreira.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Transgressões

Nadar contra a maré sempre foi algo cultuado pelas pessoas, mesmo que por fora, pelo underground. Aquela ideia, aquela vontade de rebeldia, de liberdade exacerbada, sempre povoou nossa imaginação. Quem nunca deu um deslize, também? Dirigir sem carteira (ops!), assistir filmes ou shows sem pagar, usar drogas (lícitas e/ou ilícitas). Todos exemplos de "pequenos" erros que, a primeira vista, parecem inofensivos. Outra coisa: regras bobas, leis idiotas. Como assim tenho que prestar contas de tudo para o fisco? Ou tenho que fazer auto-escola por trocentas horas, mesmo já sabendo dirigir? Só servem para incentivar rebeldia, desprezo pela ordem.

A literatura, obviamente, se envolve bastante nessa discussão. Por indicação de uns e lembrança de uns conceitos esquecidos, cito aqui dois monstros sagrados: Nietzche e Dostoievsky. Desse ótimo artigo achado na web (cof, cof... hipocrisia...) tiro que o russo foi o primeiro a criar o conceito de "homem-idéia", enquanto o alemão, seu confesso admirador, moldou o "super-homem", seguindo algumas diretrizes do primeiro. Mas a essência é a mesma nos dois conceitos: com o advento do ateísmo, liberalismo e outras teorias libertárias, os autores viram o surgimento de pessoas que, ao terem a capacidade ideológica de viver "além dos credos" (Nietzche), podem tudo. Tudo mesmo. Dostoiévski mostrou (muito bem) em seus romances esse tipo, porém, criticando-o. Enquanto isso, Nietzche via aqui a morte de Deus e a conseqüente abolição do pecado. Portanto, temos aí o "aval intelectual" para transgressões.

Mas não há um motivo para existirem leis? Mesmo não as conhecendo ("Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil), devemos cumpri-las. Afinal, uma pessoa que, durante um congestionamento no trânsito, resolve "cortar caminho" pelo acostamento está perturbando a ordem e a boa convivência em uma sociedade civilizada da mesma maneira (a grosso modo) do que uma que rouba, por fome, uma caixa de leite do supermercado.

Não devemos cultuar quem transgride regras como sendo "descolado", não podemos passar a mão na cabeça de quem, como diria Chico Science, é "bandido por necessidade", por uma questão de classe, nem existe a possibilidade moral de nos perdoarmos ao percebermos que fizemos algo que atrapalhará o resto da sociedade. Há exceções? Não me arrisco em dizer, mas que é tentador dizer que sim para nos safarmos de umas e outras, é.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Vim, Vi, Passei

“O bom é que tá todo mundo calmo aqui, né?” disse eu enquanto meus pais discutiam no caminho pro Agrárias. Todos os 3 “tavam mordendo o mouse”, como diz meu amigo iratiense – que passou em 1º de civil, por sinal – André. Chegando perto, cada cor de bandeira representava um cursinho. As amarelas do Positivo, as vermelhas do Dom Bosco, as Verdes do Bom Jesus e do Unificado. Uma verdadeira babel de pré-vestibulares.

Depois de encontrar um lugar pra estacionar – tarefa difícil – entramos no campus. Andando, observando os vestibulandos ansiosos e suas respectivas famílias, rumei à barraquinha de Direito. De longe, a mais animada. Logo encontrei a Polie, a Ghi e uma amiga delas - minhas até então futuras veteranas - que já me animaram.

Já eram 14h e nada do resultado. É engraçado porque algumas barraquinhas já tinham o resultado e gritos de “passei” só causavam mais agonia nesse pobre até então vestibulando que vos escreve. Eis que chega o envelope de Direito, finalmente. Perfuro a multidão mas a primeira fila já tava ocupada. Procurava pelo meu nome e não conseguia ver a página por inteiro. Como meu nome começa com “A”, teria de estar logo no começo, porém a primeira página sempre estava virada. Vi o sobrenome de uma amiga minha “Cassou” e já me alegrei por ela.

Eis que vejo de relance “Hillani” e sinto um orgulho subindo até a garganta. Me viro e me uno aos “gritadores de ‘passei’”. Minha mãe me mostra a surpresinha dela: uma camiseta escrito “Allan, eu já sabia”. Aliás, “eu já sabia” é o que muitos me disseram nas mensagens de congratulações. A confiança que todo mundo botava em mim era algo assustador! E se eu não passasse? Mas tudo está bem quando acaba bem.

Hoje olho pro meu 2009, que eu nem vi passar, e lembro dos domingos em que tive aula, nas gargalhadas que eu dei, nas coisas que me aconteceram. Vi que o cursinho é quase que um rito de passagem do mundo cor-de-rosa do ensino médio para a vida universitária. 2010 tem tudo pra ser o meu ano. Maioridade, carteira, carro e o mais esperado de tudo: uma vaga em Direito Diurno na Universidade Federal do Paraná. Vim, vi, passei.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Hierarquia do Coração

Seu sorriso é lindo,
E se disser o mesmo sobre mim
Sei que estará mentindo.

Ah, e o seu cabelo,
Que me seduz sem parar
E não se cansa de fazê-lo.

E seus quadris bem-desenhados,
Prontos pra deixar
Qualquer um desgovernado.

Porém se me pedir para escolher
Entre o amor e a amizade,
Fico com a amizade, sinto lhe dizer.

Frágil Conexão

Acho que nunca comentei aqui que tenho uma irmã especial. E realmente, as mães costumam falar que são os filhos que menos dão trabalho, mesmo sendo mais dependentes. Essas crianças costumam ter um tipo de autismo, vivem no mundinho delas, mas ainda assim se comunicam com os seus familiares de uma forma muito amorosa: através da linguagem corporal ou até mesmo pela expressão dos olhos.

A forma mais propagada pelo mundo de trazê-los para mais perto de nós, tirá-los de sua realidade, nem que seja por poucos instantes, é através da música. É incrível como eles te reações diferentes devido ao som, que funciona como o empuxo: faz eles ficarem mais leves, não só de corpo, mas psicologicamente. Como se suas amarras físicas fossem desfeitas. Além disso, existe toda uma tensão no contato com as pessoas mais bem entendidas.

No embalo de uma música é como se uma ponte fosse estabelecida entre esses dois universos tão distantes. O poder de um simples arranjo organizado em compassos e pautas, harmonias bem pensadas, e desarmonias mais difíceis ainda é comovente. A Louise, minha irmã, não consegue nem andar, mas com uma ajudinha, ela até dança ao som do piano.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Bestiais Garotos

Primeiros rappers de sucesso no mundo, os branquelos judeus dos Beastie Boys, foram quem abriu caminho para que as canções e artistas mais bem-sucedidos dos últimos tempos fossem os rappers. Porém, aqui quero comentar, como sempre, sobre algo que foge à regra, um álbum instrumental deles.

Como muitos jovens novaiorquinos da década de 80, os Beastie Boys tinham uma banda de hard-core/punk rock. Gravações bem trash deles foram lançadas no disco "Aglio e Olio", mas também não é desse que comento aqui. Em 2007, cansados de fazer o costumaz rap cômico, às vezes crítico, o trio resolveu se arriscar novamente (vide o álbum "The In Sound from Way Out!") a fazer e performar canções empunhando instrumentos musicais, leia-se baixo, guitarra, piano/teclado e bateria

"The Mix-Up" (perdão os links em inglês, mas é que os artigos de lá dão de 10 a 0 nos em português) é uma arrojada tentativa de variação de estilo do trio. Mas deu bem certo. Canções como "Suco de Tangerina", inspirada pela visita deles ao Brasil em 2006 (eu fui!), e que é uma "viagem" no suco tradicional, "Electric Worm", uma linha de baixo pesada e profunda, "14th Street Break", e seu baixo mais marcante ainda, entre outras, fazem desse álbum um bem charmoso, elegante e bem-feito.

A produção contou, é claro, com uma mão brasileira, vale ressaltar. Mário Caldato é produtor do grupo há algum tempo, além de ajudar com algumas passagens musicais e produzir outros músicos de renome por lá e por cá (Seu Jorge, Planet Hemp, D2, Chico Science e a Nação Zumbi). Outro bom motivo para arriscar e dar uma checada nesse disco magistral dos Beastie Boys.

Só para terminar o post com algo atual, tão atual que, por aqui, ninguém está sabendo ainda, pelo jeito, o grupo lançou um disco novo pelo nome de "The Hot Sauce Comittee pt.1". Veremos como eles se sairão na volta ao hip-hop!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Arte em Ser Pop

Quem nunca achou um filme ou uma música comercial genial que atire a primeira pedra! É um verdadeiro chato – e hipócrita - quem afirma só assistir filmes da Nouvelle Vague e ouvir Bach, Beethoven e Villa-Lobos. Acho que já deixei bem claro pelos meus textos do blog que eu particularmente sou um defensor do pop de qualidade. E é disso que eu vim falar hoje.

Reitero, de qualidade. Não tô dizendo de forma alguma que tudo que toca na Jovem Pan tem seu charme. Mas acho ridículo quem só considera bom o que não tá no mainstream. Bons exemplos na música, no cinema, na literatura e nas artes plásticas é o que não falta.

No campo da sétima arte, por exemplo, temos diversos filmes – e suas respectivas continuações - que, apesar de, muitas vezes, terem desfechos previsíveis, se tornaram clássicos. “007”, “De Volta para o Futuro”, “Rocky”, “Star Wars”, “Indiana Jones”, “O Poderoso Chefão”, “Karate Kid”, etc. Isso sem contar os filmes baseados nos quadrinhos, que fazem os olhos dos fãs – como eu – brilharem a cada nova estreia. E pensar que nessa lista tem quem ganhou Oscar de melhor filme, tem trilogia, tem trilogia dupla, tem heróis carismáticos, cenas clássicas e frases memoráveis que marcaram toda uma geração. Esses filmes, na maioria das vezes, não têm nenhuma divagação filosófica nem nada, apenas um enredo criativo e uma história interessante, às vezes tão interessante que é criado um mundo inteiro somente para um filme.

A música também é recheada de exemplos. Meu ritmo favorito talvez seja o maior de todos. O Rock N’ Roll, por ter sido criado pelos negros numa fusão do Blues e do Gospel com um ritmo mais frenético nos idos anos 50, foi duramente criticado pelos admiradores das Divas e dos musicais da época. E o Rock aos poucos foi angariando seu espaço, despertando fãs até que um rapaz de um rebolado admirável conquistou o coração das meninas da época. Elvis, apesar de branco, popularizou o ritmo. Popularizou tanto que chegou até os ouvidos de 4 rapazes de Liverpool, do outro lado do Atlântico. Após os Beatles – os maiores exemplos de pop de qualidade da música –, ouso dizer que o mundo nunca mais foi o mesmo.

A literatura e as artes plásticas também não escapam. Desde os versos brancos e livres do modernismo até os quadros coloridos de Andy Warhol. Arte acessível para todas as classes, credos e ideologias. Acho que também já deu pra perceber que sou um ferrenho defensor da democracia, inclusive, na cultura. O pop de qualidade é só a melhor maneira de alcançá-la.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Entre Beijos e Despedidas

Não, não vá embora.
Já é passada a hora
De você perceber

Que se você for agora,
Sem me dizer onde mora,
Posso nunca mais te ver.

E o sentimento que me aflora,
Sem sua face que cora,
É sinônimo de sofrer.

Ironias da Vida

Ler...isso não é um tanto pessoal? Se cada pessoa absorve a dita informação de sua maneira particular, não vejo relação mais íntima do que entre um leitor e um livro. E a leitura torna-se muito mais prazerosa se a gente está a sós, em um ambiente silencioso e com a iluminação adequada. Cada palavra passa rapidamente por nossos olhos, não como detalhes desapercebidos, mas olhados apressadamente com a ânsia de terminar a oração, saber o todo. A fome de conhecimento se apodera da gente, e parar se torna inimaginável, não é visto como uma opção. O contato torna a experiência ainda melhor, você tocar no livro faz o ato de ler mais efetivo e intenso. Claro, encontrar o parceiro ideal é essencial, ninguém consegue viajar dentro de um livro chato. Ler em voz alta, como uma dramatização das sensações ali contidas, é legal também. Sussurrar palavras em harmonia, ou em altos brados narrar os "arabescos horizontais"(de Oswald de Andrade). Falando assim, ler é como amar...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Malandro Exemplar

Quando temos oito das canções do top ten americano sendo de "gangsta rap", a última coisa que nos vem a cabeça é o nosso humilde sambinha. Pois bem, vale bastante dizer que, não fosse o famoso porta-voz do morro do Cantagalo, Bezerra da Silva, muitas coisas seriam diferentes. Como?

Ao ficar à margem do samba de partido alto comercial, mas sempre exercitando aquela sua veia cômica e crítica, muitas vezes ácida, porém, sempre engraçado, Bezerra fez surgir um gênero a parte do que já existia no samba e na música mundial, o famigerado Sambandido (valeu, autor do artigo do músico na Wikipédia).

Essa nova classificação musical engloba aquelas canções que, usando o ritmo do samba e o dinamismo do partido alto, mostra a realidade e as mazelas dos morros cariocas. Nisso, Bezerra acabava descrevendo vários tipos, personagens típicos dos morros (o corno, a sogra "sapatão", o pastor ladrão, entre vários outros), situações, nem sempre motivo de riso, como as dificuldades de se morar num lugar cercado de drogas, policiais safados. Enfim, a vida das pessoas marginalizadas pela sociedade. Essa é a fórmula básica das canções de Gangstas americanos, que tiveram origem com artistas como Public Enemy, Run DMC, Tupac, e a lista continua a crescer a cada dia, tendo em vista o sucesso desse gênero por lá.

Nesse texto, ainda, gostaria de destacar as não muito comuns parcerias que Bezerra firmou em sua vida musical de sucesso (relativo, já que morreu sem mudar muito suas condições no morro). Além do famosíssimo concerto com Dicró e Moreira, os três malandros, gravações com RPM, Kid Abelha, Planet Hemp e outros artistas do rock brasileiro fizeram com que as obras de Bezerra da Silva fossem mais conhecidas e difundidas pelo Brasil.

Talvez, quem me conhece pessoalmente, não esperasse me ver escrevendo um texto sobre um sambista, ao invés de ficar louvando o Rock'n'Roll. Porém, tenho por ideal não ficar sempre na mesma coisa, além de buscar novidades (ou mesmo clássicos) de qualidade.

Fica aqui a dica, para quem não conhece ou pra quem conhece, descobrir, ou redescobrir, as ótimas histórias do morro, narradas por Bezerra da Silva.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Mania de Grandeza

Uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na última semana, apontou a preferência dos clubes de futebol no estado do Paraná. Do nosso estado, apenas 15% dos entrevistados torcem por algum time do Paraná. Atlético 8%, Coritiba 5%, Paraná Clube 2%, não foram nem mencionados na pesquisa times de tradição no estado como o Londrina Esporte Clube. 30% demonstraram não ter preferência por time algum, o que até é bom, pelo fato de ser uma dor de cabeça a menos, torcer dá trabalho. Mas aí olho para o topo da pesquisa e vejo o nome "Corinthians". Em segundo lugar, empatado com meu amado Furacão, há o Palmeiras com 8%. Esperando o quarto lugar ser mais uma conquista frustrada do centenário alviverde deste ano, vejo ainda Flamengo (7%), São Paulo(6%) e Santos (6%), a conquista do sétimo lugar, mais um presente amargo para nossos camaradas rivais.

É muito fácil explicar essa preferência por clubes do eixo Rio-São Paulo. A colonização do norte do estado foi predominantemente feita por paulistas na expansão cafeeira. No oeste paranaense, a cada 50 km você encontra um CTG (Centro de Tradição Gaúcha), fruto da migração feita para a criação de milho, soja, pecuária, gado. Porém, isso já faz mais de 80 anos, já se foram aí quase quatro gerações 100% paranaenses. Não consigo encontrar em quase nenhum lugar do Paraná uma identificação estatal, um patriotismo como há no Rio Grande, quando se comemora o aniversário da Revolução Farroupilha, ou em São Paulo, quando grande parte dos nomes de ruas, rodovias, é atribuído a Bandeirantes que matavam e escravizavam índios.

Nosso governador até tenta forçar um pseudo-orgulho de ser paranaense, ao impor que, antes do início de todas as partidas de futebol, seja executado o hino do nosso Estado. Aliás, consegui decorar parte do hino, “dentre os astros do cruzeiro és o mais belo a fulgir...”, e por aí vai.

Voltando ao futebol, faz 80 anos que nossos times daqui tiveram a chance de cativar os paranaenses das mais diversas regiões. É claro que há obstáculos, as filiais da Rede Globo espalhadas pelas regiões do Paraná transmitem o sinal direto de SP, o jogo do fim de semana: Corinthians x Náutico. Porém, falta um futebol aguerrido, de qualidade nos nossos times. Para que vou torcer por um time que só leva sacola? Que luta para não cair faz cinco temporadas? Que está na segunda divisão sem esperanças para voltar a subir? Que cai no centenário? Faço essa pergunta para mim mesmo diariamente, mas eu não tenho cura. Nós curitibanos torcemos pois temos uma história com o time, vivemos próximo ao Estádio, somos sócios. Mas e o pessoal do interior? Eles não tem esse privilégio de estar próximo ao time, então escolhem o time que mais veem na TV, que está no topo da tabela, escolhem o time dos artistas da Globo, time dos pais, do primo.

Basta os nossos times voltarem a jogar um futebol decente, fazer alguns clássicos no interior. Falta nossos times largarem a "mania de grandeza" e, de uma vez, serem grandes. E que venha o disputadíssimo campeonato paranaense.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O Preço do Sistema

Bem, férias é pra fazer turismo mesmo. E aqui estou eu em Foz, comemorando o aniversário da minha avó. A primeira coisa em que fomos dar uma olhada ao chegar, é óbvio, foi os horários dos passeios turísticos e seus respectivos preços (ninguém é de ferro). Não pude evitar de olhar torto pra mulher quando ela disse que precisávamos dar vinte e dois reais para entrar nas cataratas.

Pagamos mais de 64 tipos de impostos, o equivalente a 40% de nossa renda, e ainda precisamos comprar uma entrada para acessar um bem público! Claro, cobrar ingresso se faz necessário para manter a infra-estrutura do parque. No entanto, o preço deveria ser algo acessível a todos, visto que a cidade gira em torno do turismo, o qual gera uma gorda arrecadação pro fisco. Tem também a ITAIPU, que mesmo parcialmente privatizada, cobra uma taxa de R$37,00 para fazer toda a visita.

É evidente a crescente burocratização dos procedimentos mais simples possíveis. Assim, nosso sistema brasileiro abre brechas para o chamado fenômeno de "caciquezação", onde todo mundo, por menor que seja o seu cargo, acha que manda naqueles que tem cargos mais simples, havendo as mais variadas esferas de poder e burocracia. Olhe no judiciário, para que você seja bem atendido nos cartórios da vida, fazer o processo andar, etc, é preciso conhecer o cartorário, ser amigo do estagiário balconista, do oficial de justiça. Mesmo que a história do sobrenome tenha perdido a força, manter a panca de importante continua sendo válido, por isso a importância da imagem, até mesmo para aqueles que frequentam o fórum.

Fica claro que hoje a república não é de todos os brasileiros, e posso dizer que nunca foi, e até que nunca será. Para que se mantenha uma estabilidade no país, a desigualdade se faz necessária. Mas o movimento de privatização da res publica é descarado! O sentimento de pertencimento a esse todo não é compartilhado por muitos. Essas barreiras que são estabelecidas pelas mais variadas esferas do sistema, como um ingresso caro, ou a necessidade de uma imagem imponente, são um dos fatores que emperram a humanidade de caminhar para frente.

Não me atrevo a oferecer uma solução a todo esse problema, mas penso que não podemos também usar da lógica daquele antigo ditado de "briga de marido e mulher...", afinal mesmo não estando envolvidos faticamente com o problema, porque fazemos parte de uma fina fatia abonada da sociedade (que tem acesso a internet, educação, no mínimo), deveríamos nos sentir comovidos ao perceber todos esses problemas, se importar com aqueles devido a um sentimento de humanidade. O Pedro sempre diz isso, como humanos, não poderíamos permitir certas injustiças. Cabe a nós utilizarmos as ferramentas que temos nas mãos: educação, para podermos fazer algo para mudar no desempenho de nossas funções dentro da sociedade.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Fazer a Diferença

Até que ponto realmente acreditamos na possibilidade de fazer a diferença para o mundo? Até que ponto lutar por um ideal supre todas as críticas e deboche de um esforço dito como “sem resposta”?

Superação, fé, trabalho, trabalho, trabalho... Essa foi a vida da paranaense Zilda Arns, médica de formação, criadora da Pastoral da Criança, angariou simpatizantes dessa organização que buscou amenizar a carência que nosso país tem em relação ao amparo às crianças pobres. Na liderança de uma batalha que parece sem fim, nunca desanimou e, apesar de ter partido, deixa esse espírito de perseverança para todos nós. Além de lamentável, sua partida deve ser também uma lembrança de que é possível fazer a diferença. Essa paranaense, digo isso com orgulho, contradiz uma matéria da Gazeta do Povo do último domingo que fala justamente da carência de identificação do paranaense, comparado ao gaúcho, paulista.

Apesar de um fanático pelo meu time, reconheço que o melhor jeito de demonstrar o orgulho de ter nascido nessa terra não é só torcer por um clube de futebol daqui, tomar mate, comer barreado, andar na Litorina, é ter orgulho de pessoas como a Dra. Zilda e nunca desanimar em ser uma pessoa melhor, mais bem informada, sempre humilde, e nunca conformada. E apesar de ler diariamente as mesmas tragédias, trapaças e picaretices nos jornais, nunca adotar a conformidade como lema de vida.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Grego

O amor é um eterno grego.

Um tempo verbal da língua grega.

Os amores sempre são eternos.

O amor é aoristo.

O Mito do Homem

Algumas pessoas morrem, outras entram pra história. Algumas simplesmente partem dessa pra melhor, outras têm o (des)prazer de entrar pro Monte Olímpo da humanidade. É engraçado como as pessoas deixam de serem humanas pra se tornarem símbolos e esses ícones nem sempre são tão humanos quanto os de verdade.

O primeiro exemplo que me vem à cabeça é o de Ernesto "Che" Guevara, o médico argentino que foi peça fundamental na Revolução Cubana. Che deixou de ser de carne e osso faz tempo - não só porque morreu, mas porque sua imagem superou sua existência. Ninguém se importa com o que ele fez e foi de fato, a esquerda só pensa em divinizá-lo com libertador da tirania enquanto que a direita só se importa em satanizá-lo como assassino frio e calsulista.

E Che é só um exemplo, a nossa história tá recheada deles. Dois bem antagônicos do Século XX foram Adolf Hitler e Mahatma Ghandi, símbolos do mal e da violência e da bondade e da paz, respectivamente. Mas Hitler não tacava fogo em estrelas de Davi nos intervalos do colégio por simples sadismo nem Ghandi fazia greve fome desde criança pra conseguir o que queria. Que eles tiveram seus feitos em vida, disso não há dúvida, mas a imagem que permanece em nossas cabeças é só uma sombra das pessoas que eles realmente foram.

Nomes do bem e do mal, recentes e antigos. Desde o recente Osama Bin Laden, representação de todo o terrorismo, até Jesus Cristo, o homem - queiram ou não - mais influente do mundo. Esse é até mais intrigante, sua história ainda é nebulosa, mas o que interessa é o que ele representa. Nem nós, tupiniquins, escapamos da sina dos ícones. Desde a tentativa de tornar o índio Peri de Zé de Alencar em um cavaleiro europeu, do símbolo na luta negra, Zulu, da messianização de Tiradentes até o desenvolvimento para transformar o atual presidente em um heroi.

E continua valendo a teoria maquiaveliana de que não é preciso "ser" de fato, basta fazer com que os outros pensem que você é. É aí que apelo pra outro filósofo, Platão, que dizia que só conhecendo a essência das coisas é que as conhecemos de verdade e não podemos mais ser enganados, por quem quer que seja.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Livro que Deus Amassou

“Caim” – José Saramago

Deixe todos os seus preconceitos e convicções religiosas em casa quando for ler “Caim”, do único escritor em língua portuguesa a faturar um prêmio Nobel, José Saramago. Ele é ateu, comunista e tem 87 anos de idade, ou seja, ele não tem nada a perder nem algemas que o prendam, o que permite que ele escreva sem pudor sobre os tabus religiosos do mundo.

O livro traz uma interpretação mordaz do português sobre o Velho Testamento, começando pelo “pecado original” e passando pelas clássicas histórias de Abraão, Sodoma & Gomorra, Arca de Noé, e Caim & Abel, que é o ponto principal do livro. Nele, Caim mata Abel num ataque de raiva, mesmo amando seu irmão, e quando Deus – que no livro é vingativo, rancoroso, ególatra e mesquinho - desce do céu, Caim o convence que ele, além cúmplice, foi o verdadeiro mentor do crime contra Abel quando não aceitou, para simplesmente testar a fé de Caim, as suas oferendas.

Então Deus resolve fazer um acordo, Caim seria fadado a vagar sem rumo na companhia de um fiel burrico enquanto que Deus não permitiria que nada lhe ocorresse nessa jornada. Mas as viagens do jovem não são somente geográficas, são também históricas. Sem mais nem menos Caim vai do futuro ao passado em poucos passos - sem controle algum sobre o que acontece - testemunhando todas as atrocidades que o “Senhor” comete.

Pelo menos, Saramago rega tudo isso com uma ironia impecável típica dele – assim como a falta de pontuação nos diálogos, coisa típica dele também, mas que com o tempo se pega o jeito pra entender-, além também de algumas reflexões que são interessantes a certo ponto – já que, graças às características ditas no 1º parágrafo, a visão do Saramago não pode ser levada muito em conta em assuntos como este.

O livro também é erótico em certas partes, com direito a minúcias das carícias entre Caim e Lilith e tudo. Ah, Lilith no livro não é a primeira mulher de Adão, como na Bíblia – de acordo com o livro sagrado, Lilith foi criada por Deus da mesma forma que Adão, mas se rebelou por ter de ficar em baixo na conjunção carnal e por isso Deus teria criado Eva da costela de Adão; mas Lilith acabou ganhando um sentido luxurioso, quase demoníaco, durante os anos -, mas sim uma espécie de rainha de uma terra aparentemente atemporal chamada Nod.

Enfim, é uma boa leitura pra quem gosta de interpretações alternativas e debates teológicos tudo isso repleto de críticas ferrenhas e comentários ácidos do autor. Não vou indicar link algum porque esse livro é fresquinho, saiu em Outubro, e pode ser facilmente encontrado em qualquer livraria por aí.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Psicodelia, com Pitadas de Criatividade

O deserto da Califórnia é o palco perfeito para a criação de uma obra-prima do rock performático e teátrico. Juntando a paisagem vasta e deslumbrante com uma boa dose de psicotrópicos alucinógenos (leia-se LSD) temos uma viagem pela mente perturbada e criativa de um dos maiores poetas da música: Jim Morrison. Convido a todos a um passeio pela odisséia maior da grande banda The Doors, "The End".

A canção começa com a guitarra nos seduzindo e com a letra perturbadoramente e universalmente identificável, ou seja, qualquer pessoa consegue se enxergar em pelo menos um dos versos dessa poesia fantástica. Após o anúncio do fim de tudo e da necessidade de uma mão estranha numa terra estranha na primeira estrofe, somos hipnotizados pela levada leve de bateria acompanhada por um ritmo suave de teclado e eventuais choros da guitarra. E seguimos nesse ritmo que lembra, meio de longe, batidas indianas, durante a grande maioria da música, interrompendo esse balanço somente algumas viradas de bateria, acompanhando a letra e a proclamação dela pela voz magnífica de Morrison.

Chega um ponto de, literalmente, leitura de uma história, na qual uma criança expressa, para alguns, uma representação do complexo de Édipo, referência direta ao romance de Sófocles, para outros, uma alegoria ao fim da infância com o advento da liberdade. Enfim, interpretações são tantas que até o autor da letra diz que cada vez que ouvimos a canção, podemos interpretá-la de uma maneira diferente. Depois disso, somos carregados, sem perceber, quase, ao clímax da música, quando Jim nos chama para o fundo do "Blue Bus".

Aí, um turbilhão emocional entra em cena com uma ascensão de raiva na guitarra, um aumento no tempo do teclado e da bateria no fundo, junto com gritos do vocalista: "kill, kill, kill,...". Passada essa perturbação, entramos no verso inicial, novamente. Transcrevo aqui a estrofe final, com suas frases que, apesar de darem margem a uma múltipla interpretação, sempre me tocam quando as ouço: "This is the end/ Beautiful friend/ This is the end/ My only friend, the end/ It hurts to set you free/ But you'll never follow me/ The end of laughter and soft lies/ The end of nights we tried to die/ This is the end".

A canção é a última do primeiro álbum da banda. Álbum esse que contém, entre outras magníficas faixas, "Light My Fire", "Break on Through (To The Other Side)" e "Alabama Song (Whisky Bar)".

Outra coisa que gostaria de mencionar ainda nesse post, que não deixa de ter a ver com o grupo aqui homenageado, é que li uma matéria, na revista Galileu, de uma especialista (não lembro no que) que defende a legalização sem restrições do ácido lisérgico e outras drogas alucinógenas. Ela diz que cientistas e artistas se beneficiaram e podem se beneficiar ainda mais com o uso delas. Ela está realizando um estudo para provar isso. Lembrem-se que não há indícios de que alucinógenos viciem. Mas isso fica para outra conversa.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um Filme Nada Elementar

“Sherlock Holmes” – Guy Ritchie (livros originais de Sir Arthur Connan Doyle)

É, dessa vez não vai ser uma dica pra você ir buscar na locadora perto de casa. O post de hoje se refere a um filme que estreou faz pouco tempo nos cinemas. Aliás, sempre que eu vir um bom filme no cinema procurarei comentar por aqui, assim não comentamos só dos clássicos e dos nossos filmes favoritos, mas também boas opções pro fim-de-semana.

Mas vamos falar do filme. Eu particularmente gostei bastante, e olha que fui com um olhar pessimista pra sessão, afinal, pra mim, a figura de Sherlock Holmes tinha um ar de superioridade, de gentleman. Um “quê” de inatingível, que não precisava nem suar pra resolver seus problemas – bem como a figura do James Bond, principalmente na pele do Sean Connery -, mas o Sherlock - interpretado por Robert Downey Jr., o mesmo do Homem de Ferro - que nos é apresentado é um verdadeiro dândi, amante das artes marciais, da música e demasiadamente irresponsável, mas sem nunca perder o raciocínio preciso e o poder de observação – e claro, a carismática arrogância – que lhe são característicos.

O que pode assustar um pouco é o Watson - atuação de Jude Law - que se apresenta como figura indispensável para a sobrevivência de Holmes. Watson no filme não é um mero aprendiz dos passos do detetive, mas sim seus braços e pernas direitos e esquerdos. Tanto que Watson, que no filme está noivo e vai se mudar da Baker St. 221b, é tentado de todas as formas possíveis por Holmes para desistir da ideia de matrimônio. Também é interessante levar em conta que o filme se passa numa transição entre os anos dourados da dupla e de sua separação – afinal as histórias de Sherlock são contadas por Watson e suas anotações do tempo que convivia com seu colega – mostrando um Watson com uma argúcia e um poder de dedução admiráveis.

Para os fãs da série, temos alguns personagens marcantes como Irene Adler - a golpista com quem Holmes tem uma certa relação afetiva - e Professor Moriarty – arqui-inimigo de Sherlock, que no filme é somente um coadjuvante, provavelmente está sendo guardado para uma continuação. Em compensação o chapéu de caçador e a capa xadrez, os ternos Tweeds e o clássico cachimbo curvo não estão presentes, já que esse novo Sherlock tem um ar mais boêmio do que aristocrata.

Mas mesmo tendo o pretexto da memorável história de Sherlock Holmes, ainda é um blockbuster de ação, com direito a pancadarias e efeitos especiais. Porém, a capacidade cognitiva de Holmes está claramente presente - o que mostra uma faceta mais psicológica - indo desde suas incríveis deduções até minuciosos planos de ataques – executados com perfeição nos instantes seguintes à linha de raciocínio.

Enfim, continua sendo um filme recomendável, até porque essa visão da saga de Connan Doyle é bastante interessante – e iconoclasta - pra quem estava costumado com aquele Sherlock antiquado eternizado por Robert Stephens nos anos setenta.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Potpourri de Veraneio

Lá Estava eu, vendo TV na praia. Como quase ninguém tem TV a cabo para assistir de vez em nunca (haha, menos o Jamil), após passar ISA Tkm, cheguei num canal que tava passando Pica- Pau. Quando nós somos pequenos, somos muito mais abertos ao mundo: as coisas são novas, não temos um senso crítico desenvolto, capaz de censurar cada palavra dita ou valor incutido, não temos preconceitos formados. Mas com o tempo, isso passa. Adquirimos novas pautas comportamentais e morais. Eu, após muitos livros, anos de aulas, professores conservadores, mestres liberais, revistas de esquerda, artigos de direita, seminários marxistas, esporros de amigos, lições que os pais sempre pregam, comportamentos reiterados, passei a cristalizar um padrão do que é certo e do que é errado. Todos nós fizemos isso.

Imagine então ver um episódio de Pica-Pau hoje em dia, uma loucura! Nos tornamos mais rígidios e exigentes, além de infectados por essa lógica toda que a vida nos lega diariamente. essa carga cultural de cada um pode ser uma coisa ruim. Olhe no direito, por exemplo. Os formandos saem da faculdade com a cabeça feita, com a mesma lógica manjada de jurista, a mesma forma de pensar, e isso é quase inevitável. Por isso, em certas ocasições, a ignorância, a inocência, são muito bem-vindas. Os calouros, voltando ao exemplo, têm respostas muito mais ricas e não manchadas, falam o que pensam, e não o que leram e ouviram. Nosso cérebro é mais plástico quando somos crianças, livre de toda essa influência.

Aproveitando a brecha, gostaria de meter o pau nos desenhos americanos. Aonde estão os valores? Eles são mercenários, completamente vendidos e, em sua maioria, repletos de piadinhas e ideiais sociais já reiterados na cabeça do mundo todo: o american way of life. Olhe o Pica-Pau, o cara roubava comida dos outros animais durante o verão e no inverno passava fome! Aí, no verão seguinte, quando o povo ajudava ele a recuperar-se da fome e do frio, ele ia lá e comia a comida que os outros estava estocando, DE NOVO! E pior, saia impune. Animês, tão criticados hoje, taxados como esquisitice, mostram valores milenares: a família, a honra, a honestidade, a sabedoria, o respeito; mesmo cheios de lutas, mortes, traições...

Isso me faz lembrar das novas cartilhas recomendadas pelo governo para as escolas públicas, cheias de contos-de-fada reformulados, politicamente corretos. Como se as crianças não precisassem ter contato com os eventuais acontecimentos ruins, a escola deveria preparar para a vida, prezar a íntegra do original, a cultura alí contida. Como iria prepará-las para as atrocidades do mundo se lá dentro tudo é cor-de-rosa? Não digo que devemos pregar a violência, a depravação, imoralidades mil na escola, haha, nada de brinquedos eróticos para as crianças, como Huxley pensava em "Admirável Mundo Novo".

Um pouquinho de realidade cariria bem. Aí que volto para os desenhos japoneses: são criativos, engraçados de uma maneira saudável, e sempre pregam bons valores. Pena que não são muito valorizados aqui. Até adultos, com um senso crítico desenvolvido, conseguem ter um tempinho agradável em frente à TV, vendo Samurai X, Dragon Ball Z, Sakura Card Captor, para só manter somente entre os famosos.

sábado, 9 de janeiro de 2010

World Wild Web

A partir do título - emprestado do Allan, aliás - pode-se deduzir sobre o que vim criticar nesse post. Mas, se bem que não é exatamente a Web quem tem culpa no assunto. Que assunto? Vamos à discussão.

Quando se tem uma dúvida, onde procurar primeiro? Obviamente que na internet. Nada de mal até aqui, afinal, ela veio para nos ajudar com a sua agilidade e fartura de informações, que facilmente temos acesso. Porém, esse "agrado", ou "mimo", se preferirem, acabou por estragar muitas pessoas. "Como?", vocês se perguntam. Explico.

Numa discussão (calma, não um quebra-pau) no Twitter (sim, na internet, que não deixa de ser uma boa ferramenta) com minha cunhada Ronise e com o @RuiBittencourt chegamos a uma conclusão: ninguém se preocupa mais com a fonte da informação, contanto que essa venha inteirinha, empacotada e pronta para ser usada. Citações sem-nexo e de fontes absurdas estão se tornando cada vez mais comuns. Isso quando há uma fonte. Nunca mais vamos numa enciclopédia verdadeira (dá-lhe Wikipédia, que de enciclopédia, só tem os números, porque fontes e autores...) ou fuçamos nas bibliotecas pública ou das Universidades por aí.

O pior de tudo isso é que quem sofre mais com essa febre de "excesso" de informação é o estudante. No ensino fundamental e no médio até passa batida a falta de explicitação da fonte. Agora, coloque uma foto num slide de uma apresentação na faculdade sem fonte e veja o rombo que se cria no seu boletim. É claro que há professores e professores. Mas esse tipo de erro não passa batido numa banca de monografia. Jornalistas também têm seu trabalho comprometido com a falta de fontes confiáveis. É só ver o caso da Ronise, que teve que fazer uma entrevista por e-mail e ainda obteve como resposta "pesquise no Google", numa das questões.

Agora podemos apontar o dedo pra quem realmente tem a culpa disso tudo: nós. Sim, eu, você e eles. Todas as pessoas que dizem que está tudo bem em não pesquisar direito, em colocar como fonte "um site qualquer, às tantas horas do tal dia" (claro, quando o site é algo não-oficial ou meio obscuro).

Solução para isso tudo? Não é possível retirarmos agora de nossa cultura o Google como meio de pesquisa mais utilizado, mas podemos, sim, fazer um pouco de esforço. Atualizar o cadastro na biblioteca do bairro e mostrar aos mais jovens que realmente é melhor sofrer um pouco mais para obter um resultado mais satisfatório.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CaFÉ com LEIte

Escrever sobre religião nunca é aconselhável, é inevitável encontrar críticas sob qualquer afirmação que cercar seu texto. Isso acontece porque você lida com um campo onde argumentos lógicos, concretos, não bastam. Você lida com as emoções humanas. Porém, há um consenso que é o respeito a qualquer devoção, isso é assegurado pela Constituição, pelo senso comum, isso faz parte da liberdade moderna.

O que me instigou a escrever sobre a linha tênue, entre Fé e Lei, foi um fato que me chamou a atenção já faz algum tempo: a venda de um diploma de bom fiel, assinado pelo “inassinável” Jesus Cristo, entregue por uma igreja evangélica a um fiel que “doou” cerca de 30 mil reais à igreja que fazia parte.

Para nós, isso não gera indignação apenas do pastor “boa índole” que entregou o diploma, mas também do fiel que aceitou o diploma. Que punição sanaria o tipo de crime que foi isso, ou melhor, que tipo de crime seria isso? Creio que não seja apenas estelionato, pois se trata de manipular uma área vulnerável de qualquer ser humano, a parte dos sentimentos. A religião, qualquer uma delas, traz conforto aos seus fiéis, aproxima o indivíduo à divindade. Porém, o problema inicia quando uma instituição tenta passar ao fiel que a instituição e a divindade são a mesma figura. Assim, a instituição deixa de ser um intermediário e torna-se autoridade o suficiente para exigir o que for do fiel.

A grande particularidade, o que deve ser levado mais em conta ao analisar esses casos, é que não basta prova concreta, contrato, RG, CPF, título de eleitor, para determinar crença, eu creio e pronto. Esse fervor, essa certeza da crença, são manipulados por muitos pastores (em sua esmagadora minoria, claro) que distorcem a imagem do amor a Deus. |Você precisa provar publicamente esse amor, “Deus não aceita esmolas”, e por aí vai. Só que Deus não tem conta corrente, quem recebe é a instituição. E o ato de crer é incomensurável, é incomparável, ainda mais quando compara-se coisas materiais aos sentimentos.

A solução é dá quem quer, porém, tem limites de manipulação, como é o caso do diploma. Eu ainda insisto na solução da educação. Com ela, você perde seus julgamentos intransigentes, você perde os extremismos. É mais fácil perceber o que é amor a Deus e o que é exploração. Tudo parte do sentir-se à vontade num lugar, sentir-se bem, fortalecer-se, pois está para nascer melhor remédio que fé e boa vontade.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Animalesco

Estava voltando de uma prova em São Paulo. O local era o metrô Barra Funda. O dia, sexta-feira. Acabara de chover, e lá fui eu em minha aventura. Tinha que voltar para a casa de meus tios. Eram 18:14 e estava adentrando aquela floresta em que o barulho e o movimento não cessavam.

Procurei por um tempo a direção que deveria tomar. A seta indicava o destino. Desço ao subterrâneo onde encontro montes e montes de meus semelhantes, pessoas. Já haviam me dito sobre a quantidade em que se juntam e o perigo que é se aventurar entre eles, mas até esse dia não tive nenhuma noção do que aquilo era na realidade.

Funcionava como algo já programado na cabeça de todos. O som do freio do trem implicava num levantamento de cabeças e num empurra-empurra imediato. No meio de tantos a sensação de sufoco é inevitável. O clima de pressa e competitividade para conseguir entrar na máquina era pesado. Por azar, em minha frente se encontravam três velhos sábios e, posso dizer, extremamente fortes. Enquanto todos empurravam um ao outro, lutando para entrar na locomotiva, aqueles velhos entravam um por metrô, e preferiam esperar o próximo. Aguentavam de forma surpreendente ,aos meus olhos, todos que os empurravam impiedosamente.

Obrigado a esperar a passagem de três trens, finalmente consegui meu lugar em um. Literalmente espremido, observava como os outros ainda conseguiam entrar dentro do vagão quando o espaço já era mínimo. Existe habilidade e técnica em tudo! Chegando à estação que seria minha "ponte", me encontrava prensado em um lado do trem. Vendo a estação chegar, torcia para que a porta na qual estava encostado abrisse para que pudesse sair.

Agradeço à famosa "Lei de Murphy" pela porta oposta ter aberto. Em desespero para sair daquele clima pesado e fedido com todas as pessoas cansadas, perfurei a mata de carne amontoada na minha frente. Era engraçado que na minha frente via um sendo levado, girando, pela multidão. Uma cena hilária tanto para mim quanto para ele. Ainda bem que o humano ri da própria desgraça.

Podendo respirar melhor agora, saía da Sé na direção do Jabaquara em um ritmo muito mais calmo. Sinto saudades da minha cidade.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Música de Vídeo-Game

Não, não é sobre os clássicos temas de Mário ou Zelda que vim falar hoje. “vídeo-game”, nesse sentido, beira o tom pejorativo. Eu vou falar é de “música eletrônica”.

Os DJs que me perdoem, mas não vejo nada de “música” na “música eletrônica”. O porquê é simples. Os sons não são de verdade! São meros ruídos eletrônicos que simulam o som dos instrumentos de verdade. Toda música eletrônica tem uma “bateria eletrônica”, um “baixo eletrônico” e um som mais agudo, algo como uma “guitarra eletrônica”. Você nesse momento deve estar pensando “e baixo e guitarra não são eletrônicos já?”. Então, não são. Eles são elétricos, o que é algo totalmente diferente, acredite.

Explico. A diferença é simples e basta entender como funciona o instrumento pra perceber. Pego como exemplo a guitarra. Ela tem o corpo de madeira, que é a parte mecânica, e os captadores que convertem o som das cordas em ondas que vão pro cabo e pro amplificador de som, que é a parte eletrônica. Porém, a onda captada pelo captador é transferida por meio da madeira, o que faz com que guitarras tenham sons diferentes dependendo do tipo de madeira que nelas é empregado. Ou seja, apesar de ser algo elétrico, a parte mecânica é essencial para o processo. Isso faz com que o som da guitarra seja mais “real” que os “bips” eletrônicos.O mesmo ocorre com a bateria e com o baixo.

Qualquer música eletrônica pode ser feita por instrumentos reais. E é, dependendo da pessoa. Lembro que fui no Planeta Atlântida do ano passado e o Marcelo D2 – que nem é um artista que eu admire tanto – me chamou a atenção porque tinha na banda de apoio um baixista, um guitarrista, um baterista e um DJ. Mas o DJ não tava ali só pra botar o som, ele botava os samplers, que é a parte legal de ter um DJ na banda. Toda a batida – extremamente necessária pro hip hop que o D2 faz e que normalmente é feita por som de computador – era real, o que dava um ar muito mais vivo à música.

Claro que tem cara por aí que bota instrumento no meio das batidas. Não sou muito conhecedor, mas amigos meus me falam que um tal de Skazi toca guitarra nos “shows” – é, entre aspas mesmo, não considero DJs músicos e, pra mim, não se discoteca em show, se discoteca em festa – o que já é algum diferencial.

Mas não tem jeito, não consigo ver a “música eletrônica” senão como um conjunto de sons que se repetem constantemente pra se dançar - e nesse sentido ela ótima; pra dançar é perfeita, mas não entendo como conseguem ficar ouvindo e curtindo esse som. E também acho engraçado todas as nomenclaturas que criam pra esses sons que me parecem tão iguais. “Ah, ele faz um pop-trance-lounge com tendências prog-psy”, sabe? Mas enfim, se alguém tiver paciência pra me convencer de que estou errado, estou aberto pra discussões. Por enquanto não passa de “música de vídeo-game”.

Férias Para Quem?

O Sempremdm e seus autores estão de férias? Nada disso! Quebrando a tradição do Allan de escrever posts comemorativos, aqui vou eu, me arriscando em terras desconhecidas.

Mas nem preciso me esforçar muito. Esse post é pra dizer que estamos voltando à ativa! Posts serão postados (sério?) regularmente a partir de hoje!

Só que não basta apenas "escrevermos para as paredes", precisamos de ajuda de todos! Seja comentando, divulgando, ou apenas lendo e se indignando, participem e façam parte desse Blog que, apesar do nome, sempre tem coisas novas!

Outra coisa: acompanhem também pelo Twitter do Blog as atualizações!

Sem mais, que venham os posts!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um Brinde do Sempremdm!

Aos nossos leitores, que vêm nos acompanhando, fazendo o nosso blog ser o que é e que nos permitiram chegar até aqui:

Nós da equipe do Sempre Mais do Mesmo desejamos a vocês um Feliz Ano Novo com ótimas festas e felicidades pela frente!

Provavelmente já em Janeiro estaremos de volta à ativa. Fiquem atentos para os avisos no twitter do blog (@Sempremdm) e aguardem!