segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sangue Não se Lava com Sangue

Assistindo, há uma semana, uma palestra sobre Klaus Barbie, último general nazista preso e condenado, apresentada por meus colegas de sala, comecei a refletir sobre todas as conseqüências que a Segunda Guerra trouxe para todo o mundo. O holocausto trouxe à prova a importância da democracia em uma sociedade.

A Ditadura Hitleriana despertou monstros inibidos na mente de muitos alemães nazistas. Monstros que jazem em todos nós, porém não são despertados, pois temos como freio uma educação, uma legislação, uma humanidade. Porém, quando o Estado é permissivo a tudo isso, não só permissivo, mas apoiador, instigador de uma teoria de “raça superior”, perde-se o parâmetro de certo ou errado que há em nós. É a famosa “banalização do mal”. Durante essa apresentação sobre Klaus Barbie, um colega meu abordou o julgamento, chamou- me atenção o argumento do advogado do réu. O advogado de Barbie, Jacques Vergés, declarou na defesa um fato que é omitido por todo o mundo: a consciência limpa daqueles que acusaram os nazistas.

É inegável a falta de humanidade que houve durante a Segunda Guerra, mas o que aconteceu logo depois? O que foi a bomba atômica em Hiroshima, o massacre praticado pela França (país em que Klaus Barbie foi julgado) contra os Argelinos que lutavam pela independência, o também massacre praticado pelos Israelenses contra o Egito e os palestinos? Barbie teve um argumento que pode servir de defesa a tudo isso: “Admito tudo que fiz, mas fiz tudo isso durante a Guerra, e a Guerra acabou”. Mas por que então somente Barbie recebeu prisão perpétua? Que pena teve Paul Tibbets (comandante do avião que jogou a bomba atômica em Hiroshima), Ariel Sharon (ex- primeiro-ministro israelense que permitiu um massacre aos libaneses)? Onde fica a permissividade das nações do mundo ao assistir de camarote os conflitos na África, fruto de uma colonização mal pensada e com intuito único de exploração, desprezando as rixas entre as tribos que lá existiam?

Na entrevista de Mahmud Ahmadinejad, presidente do Irã, à Globo News concedida em sua visita ao Brasil, ele foi indagado sobre as afirmações à respeito da não-existência do Holocausto. Ahmadinejad disse o que busquei enfatizar nesse texto, não é que não existiu o Holocausto, é que não se aprendeu, com toda a brutalidade que foi, a valorizar a vida humana. Porém, que credibilidade tem um chefe de estado que lança mísseis caseiros e financia organizações terroristas pelo mundo inteiro?

Minha esperança continua na educação, com uma globalização positiva, a globalização dos direitos humanos devidamente aplicados, da punição justa e universal, do respeito às culturas, do reconhecimento da importância da democracia e seu desenvolvimento. Uma democracia que protege as minorias e impulsiona seu povo a ter consciência, voz ativa e fé no voto. O Brasil, no linguajar popular, capenga, mas acredito que caminha para isso.

domingo, 29 de novembro de 2009

For Those That Rock, I Sallute You

Passar 12 horas de baixo de um sol escaldante, tomar uma chuva de verão típica de São Paulo, com direito a trovoada e ventos, ficar mais do que 15 horas em pé, seja andando, parado, pulando, passar 7 horas apertado num ônibus na ida, mais 7 na volta... Tudo isso gastando mais de 300 reais. Mas valeu muito a pena por duas horas do dia 27 de novembro. AC/DC.

Setenta mil pessoas, muitas delas vindo de longe, pulando no gramado e nas arquibancadas do Morumbi ao som de "Rock'n'Roll Train". A impressão que tive foi que todas elas sabiam de cor as letras de todas as músicas de uma das bandas mais influentes de todos os tempos. Segunda música foi "Hell Ain't a Bad Place To Be", extremamente irônica na minha situação, afinal, passar pelo inferno, comparando com o dia que passei, não seria tão ruim. Canções clássicas, como "Back in Black", intercaladas com umas do álbum novo, o Black Ice, fizeram um setlist de agradar a qualquer fã (ou não fã). A banda simplesmente deu um show de instalações e, principalmente, de performance. Pirotecnia, solos virtuosíssimos, bonecas infláveis gigantes e dancantes. Não tenho jeito melhor de expressar a sensação de ter feito parte desse espetáculo.

Destaco aqui o que mais me chamou a atenção do show. Primeiro, ao apagarem-se as luzes do estádio, podia-se observar um enxame de luzes vermelhas piscando. Eram os chifres de diabo que estavam sendo vendidos antes do show, tema da capa do disco "Highway to Hell", e que Angus Young, guitarrista, usou no bis. Canhões ensurdecedores, se unindo ao já estrondoso som da banda, ecoavam durante a performance de "For Those About to Rock (We Salute You)" e abalavam as estruturas, senão do estádio, as minhas.

Mas absurdo mesmo foi o show do já mencionado guitarrista, Angus Young. Nas palavras do vocalista Brian Johnson antes da música "The Jack" (na qual, no fim, Angus faz um strip-tease), "he's got the devil in his fingers and the blues in his soul". E não duvido nem um pouco dessa afirmação, principalmente pela música "Let There Be Rock". Uns vinte minutos após término da letra da música e Angus ainda solava no palco. Seja na passarela que atravessava o gramado e levava a uma plataforma que se elevava, seja no centro do palco e das atenções e das luzes. Young parecia uma criança de brinquedo novo, não querendo soltá-lo jamais. Na minha humilde opinião, digo convicto que presenciei um dos guitarristas mais talentosos ainda vivos. Animador de multidões, virtuoso solista, criança (de 54 anos) hiperativa.

Resumo da ópera: 300 reais extremamente bem investidos no show que garanto ter sido o melhor de minha vida, até agora.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Vestibular É Negócio Muito Perigoso

No começo,
Em tudo se acha graça.
Mas com o tempo,
Percebe-se a desgraça.

E então conhecemos Einstein
E a viagem que é a Física Moderna.
Quarks, Quantuns e neutrinos.
A mais organizada das badernas.

E ter de decorar os filos,
Organelas, tecidos, profilaxias e termos.
Saber de anfioxos, eritroblastose, eutrofização.
Tudo armado para nos perdermos.

Ter de calcular o PH
Das reações mais absurdas.
Nox, fenóis, elétrons e radiação
Estampados em provas sisudas.

Viajamos da Mesopotâmia
Aos causos dos dias atuais.
Compreendemos cada intriga
Mas logo não queremos saber mais.

Conhecemos diversos sujeitos
Recheados de adjetivos.
E vemos em cada frase
Um sentido subjetivo.

Não bastavam os números normais?
Já tem infinitos desses ordinários!
Mas os matemáticos, não satisfeitos,
Me inventam os “imaginários”.

E com o tempo vem a ansiedade.
E nossa mente se torna um aterro.
E aprendemos que rir é bom,
Mas que rir demais é desespero.

E tudo isso pra uma prova!
Por um banho da lama sagrada.
Por um urro de comemoração
Pela conquista da vaga disputada.

E poder contar pros seus filhos
O que passou naquele ano.
“Sofri, mas valeu a pena,
Disso eu não me engano”.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Eternamente Efêmero

No começo do século passado, um físico alemão revolucionou o modo como vemos as coisas. “O tempo é extensível e o espaço, compressível”, é o que dizia Albert Einstein. E, em se tratando de tempo, ele estava cheio de razão. 5 minutos podem ser um instante bem como uma eternidade, dependendo de simples variantes como a companhia no momento.

Regularmente, dividimos o tempo em pretérito, presente e futuro. Mas basta olhar pra gramática que descobrimos o pretérito perfeito, o pretérito mais que perfeito, o futuro do subjuntivo, o presente do indicativo, o futuro do pretérito – esse último, o mais intrigante, na minha opinião, afinal o futuro do pretérito É o presente – e diversos outros “tempos” verbais.

Mas o presente não existe. É como a tênue linha do espelho d’água que separa este líquido do ar que o cerca. O passado é um conjunto de presentes, adimensionais, que unidos formam o que conhecemos por história. E o futuro? Esse é uma interrogação por si só. Uns creem na sua predefinição, no destino, na sina, no karma, outros em sua completa aleatoriedade, no livre arbítrio. Enfim, o tempo não é tão simples quanto parece.

O tempo é de tudo um pouco. É o caminho da sabedoria, da experiência e das rugas. O tempo não faz diferença para os apaixonados. “O tempo não para”. O tempo é invenção, resultado de uma revolução industrial escrava das horas e dos minutos. O tempo é Chronos, o pai de Zeus. Mas acima de tudo, o tempo é atemporal.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Som & Fúria

Poucas coisas conseguem me tirar do sério quando se trata de música. Os sintetizadores, definitivamente são uma delas.

Sintetizadores, pra quem não sabe, é aquele teclado meio fanho, típico dos anos 80, como por exemplo, o da introdução de “The Final Countdown” do Europe. Eles também se fazem presentes em algumas músicas eletrônicas, no tecnobrega e no maldito “funk” carioca – funk em parênteses porque pra mim funk é o que o James Brown fazia, aquilo é palhaçada.

Bem, nunca fui muito adepto do piano e de seus afins. O piano solo tudo bem, é legal. Da música clássica, apesar de não ser minha preferência, alguma coisa ou outra sempre me interessou. Agora teclado sempre “estragou” algumas das minhas músicas favoritas. Bem, estragar talvez seja um exagero, mas as versões em que os teclados são substituídos por guitarras marcantes são infinitamente melhores que as originais.

Acho que o maior sacrilégio feito pelos sintetizadores foram o álbum dos Titãs Pós-Cabeça Dinossauro, o “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”. O álbum tem algumas das melhores músicas do grupo como “Comida” e “Diversão” que são muito melhores nas versões ao vivo do que nas originais, já que estas tinham os famigerados sintetizadores em peso.

Felizmente, hoje em dia os sintetizadores já estão superados, pelo menos no Rock. Mas ainda tenho que aturar Banda Calypso, Bonde das Popozudas e Calcinha Preta redescobrindo essa desgraça eletrônica.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

100 Posts, 100 Tempo, 100 Pre Mais do Mesmo

Incrivelmente, sem o Allan para periciar nossos textos sobrou pra mim, Pedro, e pra Minia fazer o texto que comemora o centésimo post desse blog, nesse estilo Fátima e Bonner, mesmo eu sendo totalmente contra a Rede Globo.

E nada mais propício do que começar pelo "fim", o mais recente começo: eu e o Pedro. O Jamil quase bateu o carro quando descobriu.

Pois é, dois meses e pouquinho. Um pouco tempo que remonta uma viagem. A viagem em que descobrimos 5 pessoas que nunca se encaixariam, pelas diferenças, mas que hoje possuem uma amizade muito forte.

E foi nada mais nada menos do que para o outro lado do mundo: JAPÃO! Onde se enrola churrasco no alface, canta karaokê, abre a porta ao contrário, se lê de trás pra frente.

O Jamil se passava por maior de idade, o Allan sabia de tudo, o Dan comia por dois...

Eu era a inocente e você o maior Fanfarrão de todos!

O grupo original pode ter diminuído, mas ficou a amizade. Ficou aquela inexplicável coesão.

E entre sushis e mesas ao léu no Largo, o papo se tornava cada vez mais interessante.

Nessas mesas de Largo consegui discutir filosofia, política, sem ficar cansativo. Quem diria...

Sem perceber, um acrescentando ao outro as mais sutis influências. É, fomos evoluindo.

No final, não era só amizade, era vontade de mudar o país. Taí algo que, também, temos em comum.

Aprendemos a conviver com as nossas diferenças, a gostar dos nossos defeitos, a admirar nossas loucuras.

Debates sobre quase tudo. Desde se vestir de personagem japonês e fazer coreografias a boicotar ou não o ENADE.

Da solução para a aplicabilidade do comunismo à proporção de queijo e presunto em um misto quente...

Havia os mega a favor, os mega contra, mas tudo num debate construtivo, com respeito mútuo.

É como o Allan diz: viva a dialética! Nesses bate-voltas aprendemos muito. Não só sobre política, mas sobre um a tomar as dores dos outros.

Vimos de tudo nessas mesas, o Allan flexibilizando a sua opinião, o Dan levantar o tom na discussão, o Jamil admitindo que gostava de um sambinha...

E em meio a DOUZES e RAAWS, surge o Javã, um menino esquisiiiiito, amigo do Jamil, que tira fotos com uma máquina amadora e faz parecer um fotógrafo... Introspectivo. E ainda quer fazer engenharia da computação no ITA!

A consciência limpa que nós dois temos de que esse grupo pode crescer cada vez mais, Javã fazendo posts magnânimos em 5 linhas... Nós dois, futuros advogados, fazendo uma frase em cinco linhas.

Pontos de vista diferentes que dão a esse blog a riqueza de nossas amizades: uma miscelânea de vozes. "Arabescos horizontais caóticos". A rica dissonância entre os posts sem rima, seguindo um mesmo ritmo.

E o mais importante: a esperança. A esperança de chegar lá na frente e ter peito pra mudar. Coragem, possibilidade e vontade. Quer final mais feliz que esse? 100 posts, uma amizade mais forte do que nunca, além de alguns bons imprevistos ocorridos há dois meses atrás, não é, ma chérie?

É, kare. Um final inesperado com um começo engraçado que tá dando muito certo. Diferentemente do que a gente jamais imaginou. Vai entender...

sábado, 21 de novembro de 2009

"I'm Supertramp, and You're Super Apple!"

"Na Natureza Selvagem" - Sean Penn

Um ideal levado a sério, com conseqüências irreparáveis. Várias amizades e lições aprendidas. Tudo isso ao longo do caminho mais clássico da história moderna: através dos Estados Unidos. "Na Natureza Selvagem" ("Into the Wild", no original) é baseado na vida real de um universitário que, munido de alguns livros (Byron, Thoreau,...) e uma mochila, se forma e decide se exilar, temporariamente, no Alaska, estado mais isolado do país norte-americano (tirando o Hawaii).

Após sua formatura, McCandless foge de casa sem deixar rastros, nem avisar sua irmã e confidente. Ele ia com um carro até parte do caminho, sua única posse, que ele perde. Seu dinheiro (24 mil dólares) ele doa, pegando apenas alguns trocos que, no meio do caminho, ele decide queimar. Pegando carona e andando pelas estradas, McCandless topa com várias personagens que vão de excêntricas à maior das simplicidades. De todas elas, ele tira um aprendizado valioso e memórias para aproveitar enquanto ele passa tempos só numa imensidão gelada.

A história é contada em flashes, intercalando cenas do protagonista vivendo no Alaska e durante sua jornada até lá. Já no destino, ele mostra o quanto fugir da civilização hipócrita e constantemente contraditória que vivemos é gratificante e prazeroso. Porém, durante sua 'fuga', percebemos o quanto nos aproximar dos outros e criar vínculos afetivos reais é, também, gratificante e prazeroso. Só que o protagonista descobre isso tarde demais.

O filme tem um desfecho trágico, porém iluminado e cheio de sentido e convites à reflexão. Vale bastante a pena pelos diálogos nos quais vemos o brilhante idealismo do jovem, do qual, querendo ou não, todos temos um pouco. As paisagens deslumbrantes e a fotografia bem trabalhada em cenários grandiosos formam um par belíssimo com a trilha sonora extremamente adequada, creditada ao vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder. No todo, uma obra para se deliciar e se pensar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Melanina da Discórdia

Hoje, 20 de Novembro, é o Dia da Consciência Negra. Um marco da luta afro-descendente pela igualdade. E é justamente sobre igualdade que eu resolvi falar, aliás, sobre a falta dela, simbolizada pelas cotas raciais. Mas antes que me crucifiquem por eu ser branco e achem que eu, por ser vestibulando, olho só pro meu umbigo, quero deixar claro que eu sou totalmente a favor das cotas, mas das sociais.

Cotas não são e nunca serão a solução pros nossos problemas educacionais. Elas são somente um “tampão” pra conter o vazamento. Agora, que elas são úteis pra diminuir as discrepâncias, isso elas são. Cotas possibilitam um aluno dedicado de baixa renda chegar ao ensino superior e ter uma carreira digna. É desonesto comparar a minha preparação com a de um rapaz com o mesmo QI que o meu, mas que sempre estudou em colégios estaduais.

Entendo que o índio e o negro foram explorados de todas as maneiras possíveis e que o preconceito e sua suposta inferioridade estão praticamente inseridos na cultura popular, mas ainda não concordo com as cotas raciais. Separar alguém pela etnia é admitir a diferença. “Cor de pele” não é mensurável, por dentro nada diferencia um negro de um caucasiano, afinal somos todos iguais, lembram? Sem contar que conheço diversas pessoas que vão tentar entrar em cursos superiores concorridíssimos por cotas raciais sendo que sempre estudaram em colégio particular, sempre tiveram acesso à cultura e têm todas as condições de passar por esforço próprio.

Aceitar essa “esmola” governamental é ir contra os ideais de igualdade pelos quais Zumbi, Martin Luther King e Malcolm X sempre brigaram - com razão, diga-se de passagem. Para resolver o preconceito, precisamos mudar a cabeça das pessoas e não a constituição.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Habilidades que nem Sonhávamos em Ter

Sonhar é dar uma espiadinha
No futuro que gostaríamos de construtir
É experimentar a realidade vizinha,
Saborear o surreal de uma forma sólida

Rio do riso do rio que me retribui
Sento na escada doce e melancólica
Que ascende ao terraço dos jardins suspensos
Cheiro a tênue linha entre o medo e a vida
O medo mais sonho do que meu próprio sonho
A vida mais real que a própria certeza de nada ser verdadeiro

A essa hora, a rima já se dissolveu
A água ja se incendiou, o fogo se derreteu
E o relógio ali tocou, uma réstia de luz apareceu
Os minutos se estenderam e a resposta feneceu
Gostaria de ter controle sobre essa aptidão
Dormir com uma pergunta, mas acordar com um bordão.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

“Gigante Pela Própria Natureza”

Se o tamanho do Brasil é o que nos propicia ter vastos campos para a plantação de produtos para exportação, enormes reservas subaquáticas de petróleo, gigantescos lençóis freáticos e a diversidade única da Amazônia e do Pantanal, ele também é um dos maiores causadores da nossa desigualdade.

Explico. Uma coisa, por exemplo, é você fazer uma revolução no sistema educacional de um país como a Alemanha ou como a Coreia do Sul, equivalentes aos estados do Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina, outra bem diferente é fazer a mesma reviravolta no 5º maior país em extensão e população do mundo. O Brasil, em extensão só fica atrás do Canadá, da China, dos EUA e da Rússia.

Porém, esses países têm, cada um, peculiaridades históricas que propiciaram esse avanço e que os diferenciam de nós. Os EUA e a Rússia – que era a maior república da URSS – avançaram no pós-guerra devido à vitória sobre o Eixo, o que acabou desembocando na Guerra Fria, quando ambas desenvolveram-se tecnologicamente. O Canadá é irmão siamês dos “states” e, portanto recebe os reflexos dos avanços americanos, isso sem contar a baixa população por metro quadrado. A China é um regime comunista e eu gosto de dizer que “na China o povo é obrigado a ganhar dinheiro” o que, unido à ausência de Direitos Trabalhistas, fez com que ela alcançasse esse crescimento astronômico anual. Mas é bom lembrar que a China só funciona na porrada, na repressão. Se não fosse esse governo ditatorial ela não teria esse mesmo crescimento. Entre economia e liberdade, ainda fico com a segunda opção.

O tamanho do Brasil é também um empecilho no transporte, afinal os investimentos nesse setor devem ser muito maiores do que o de qualquer país da União Europeia. Energia então é um caos, é só olhar pra semana passada e ver o que a falta de energia pode fazer com o país. O problema é que nem a maior hidrelétrica do planeta consegue suprir a nossa demanda energética. Têm ainda os programas de assistência social que não conseguem suprir a demanda, o sistema de saúde ineficiente pelo números de necessitados e a confusão burocrática que tem se tornado “tipicamente brasileira”.

Mas ainda é possível reverter esse quadro. Como disse no primeiro parágrafo, essa vastidão tem nos trazido boas notícias, agora só basta investirmos na educação – que no futuro vai gerar tecnologia, a única coisa que nos separa dos “países de 1º mundo” – e desistirmos dessa ideia besta de que em 4 anos se pode revolucionar todo o sistema. O Brasil não necessita de medidas desesperadas, precisa de medidas a longo prazo. Só basta os eleitores perceberem isso.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Revolução Imposta

Muitos de vocês não devem ter visto, até porque eram poucos os cinemas que estavam exibindo o filme, mas quem viu "Che 2" sabe do drama que o comando revolucionário sofreu com a falta de apoio. Mesmo vivendo na miséria e sofrendo horrores, sem infra-estrutura física nem cultural, sem assistência médica nem voz alguma, a população da Bolívia resistia a revolução proposta pelos guerrilheiros.Claro, Ernesto Guevara sob a perspectiva de Steven Spilperg, nada mais paradoxal. Mas por incrível que pareça, a mensagem foi passada de maneira clara e sem rancores nacionalistas: não existe revolução sem educação, sem consciência, e principalmente, sem VONTADE.

O elemento volitivo se torna fundamental em um momento de ruptura com o passado. Sem ele, como poderia ser instituída uma nova ordem sem que o povo, e consequentemente o poder soberano dele emanado, validasse a mudança? Não seria algo autocrático e contraditório querer instituir um governo contra a vontade soberana do povo? As forças reais precisam validar o poder e suas leis, caso contrário, a carta magna só será um simples papel. Como já dizia Érico Veríssimo em "Olhai os Lírios do Campo": os lírios não crescem forçosamente, por leis, decretos. É necessário que a população queira crescer, tenha a vontade de mudar. O povo tem o direito de se auto determinar, não precisando se submeter àquilo que ele não consinta.

Trazendo toda essa teoria para o concreto, lembro-me de um artigo que li no início do ano sobre educação, intitulado "Precisamos de uma crise". Nele havia uma explícita crítica a falta de interesse por parte da população como um todo em melhorias no sistema educacional. Em um determinado exame, o Brasil foi o último colocado entre os 40 países avalidos no tocante a qualidade de ensino, e os pais ainda declaram-se satisfeitos com a educação ofertada aos seus filhos! Já na Alemanha, o resultado de 25º lugar gerou uma verdadeira crise interna. O ensino, assim como todos os outros setores do país, só mudará para a melhor, quanto a população parar de dar uma de surda, cega e muda, e agir com sapiência: aceitar os problemas, e ter vontade de melhorar. Fácil é reclamar, mesmo já sendo um passo dado. No entanto, outro muito mais largo seria tomar as rédias do movimento, estender as bandeiras da revolução e fazer algo para que a realidade mude.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Do Agogô ao Caxixi, Do Xequerê à Zabumba

O batuque, em todas as suas possíveis variações é, com toda a certeza, uma das coisas que mais move o ser humano. Pelo menos para mim, isso é uma verdade. Seja ele de um surdo de uma escola de samba, de um taiko, de uma zabumba, de uma bateria, de uma panela ou de uma batida à mesa, não interessa. A vibração da pele animal que fica esticada no tambor entra em concordância com as batidas do coração, quando bem executada, seja num conjunto só de percussão, seja num grupo musical misto. Arrepios surgem nos pêlos, tremores se espalham pelas veias, emoção é extravasada por todos os poros de quem acompanha um grupo de maracatu, uma bateria de escola de samba ou escuta uma apresentação folclórica japonesa de taiko. Usada em guerras antigamente como maneira de afugentar o inimigo e aumentar a aparência de poder nos exércitos pelo mundo inteiro, a percussão se mostra, até hoje, como uma das maneiras mais puras e belas de expressão musical.

Minha simples homenagem àlguns dos ritmos que mais me cativam e emocionam: taiko, maracatu e samba, entre vários outros.

domingo, 15 de novembro de 2009

Espada, Café, Leite, Chumbo e Democracia

Hoje é 15 de Novembro. Só fui me dar conta disso no meio do dia e creio que vocês também não acordaram com bandeirinhas na janela. Como vocês sabem, hoje se comemora a Proclamação da República, mas esse ano temos algo mais, comemoramos seus 120 anos. Desde o Marechal Deodoro até o Lula foram 2 capitais federais, 4 moedas, 2 ditaduras e 33 presidentes. Evoluímos em alguns pontos, saímos do coronelismo para uma das mais seguras votações do mundo, por exemplo. Agora só falta ter os melhores políticos do mundo, coisa que o Brasil nunca foi medalha de ouro.

A única coisa que me entristece é a nenhuma divulgação dessa data tão valorosa. Nenhum comentariozinho sequer no Fantástico, por exemplo. Nenhuma propaganda do governo, nenhuma bandeira hasteada em um prédio, nenhuma versão do hino nacional. Uma coisa é se orgulhar de uma história que não tivemos, como fizeram os Românticos, outra bem diferente é comemorar um acontecimento histórico.

Talvez seja essa falta de patriotismo – porque pra maioria da população, patriotismo é vestir a camisa da seleção em época de Copa do Mundo – que nos afasta dos “países de 1º mundo” como EUA e França que nos dias 4 e 14 de Julho, respectivamente, param seus países com um coro uníssono de exaltação à bandeira. Não gosto de militarismo, mas um patriotismozinho de vez em quando não faz mal a ninguém.

Belas Divagações

"A Metafísica do Belo" - Arthur Schopenhauer

Ultimamente, tenho adquirido o hábito de exaltar um livro antes de chegar ao seu fim. Foi assim com Ulysses, do James Joyce (que, mesmo com um descomunal esforço, não aguentei chegar ao fim até hoje) e com Musashi, de Eiji Yoshikawa (que já havia lido antes, mas não me segurei e postei sobre ele enquanto estava no meio do volume 2 de 3), entre outros. Mas, desta vez, vou me perdoar e postar aqui sobre uma obra de um obscuro autor, apesar de extremamente influente sobre vários gênios, por exemplo Nietzche, Freud, Beckett e Machado: Arthur Schopenhauer.

Aqui, falo sobre o livro "A Metafísica do Belo", que na verdade é o conjunto de aulas ministradas sobre esse tema por ele para pouquíssimos ouvintes, já que naquele tempo ele não era nem um pouco bem visto pelos alemães por suas críticas veementes a autores conterrâneos influentes da época, como, por exemplo Fichte e Hegel (esse último foi colega professor de Schopenhauer na mesma universidade). Essas aulas faziam parte de sua obra maior, "O Mundo como Vontade e como Representação" (livro que também encostei enquanto estava no meio, por sua densidade), como um de seus capítulos.

Nessas preleções, Schopenhauer, notadamente conhecido como pessimista ("viver é sofrer"), aborda o tema da beleza, sendo esta advinda das artes e da contemplação desinteressada. Definindo o "belo" e o "sublime", o filósofo mostra seu lado esperançoso, democratizando a beleza e a qualidade de "gênio", também explicada por ele nessa obra. Não vou me deter em explicar suas definições detalhadamente, mas acho válido dizer que, conhecendo um pouco de suas convicções e explicações, nos surpreendemos com o otimismo prático que surge de seus escritos.

Recomendo esse livro, não muito fácil nem leve, por suas explanações interessantes sobre os diversos tipos de arte e beleza. Confesso que há partes em que não concordo com o autor, mas sou inclinado a aceitar muitas de suas afirmações, baseadas, na sua maioria, em críticas a Platão e Kant.

Última observação: a introdução na versão da editora Unesp possui uma introdução ótima, na qual o tradutor explica sucinta e claramente os conceitos e as bases mais importantes da obra schopenhauriana.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Era do "Topo do Muro"

Muito se falou e teorizou sobre o século XX. Uma das mais famosas e prestigiadas figuras a ensaiar sobre o assunto foi Eric Hobsbawm, historiador marxista egípcio-britânico. Concordo com ele quando diz que a “Era dos extremos” acabou em 89, com a queda do muro de Berlim. Realmente, se podemos resumir toda a ideologia presente desde então até o momento essa palavra seria “relatividade”.

Einstein, célebre físico alemão, relativizou a física, hoje consideramos o espaço e o tempo – antes tidos como absolutos – deformáveis, este pode ser dilatado e aquele pode ser comprimido. Sartre, Camus, Merleau-Ponty, brilhantes filósofos franceses - mesmo sem terem sido os “inventores do existencialismo” -, relativizaram a filosofia, hoje não há mais verdade, mas sim perspectivas, pontos de vista. Lévi-Strauss, aclamado antropólogo francês, relativizou a antropologia, não existe mais “hierarquização de cultura”, eugenia, conceitos de raça, existe é diversidade. Anthony Giddens, grande sociólogo britânico, relativizou a política, não é mais plausível alguém defender a “ditadura do proletariado” bem como ser partidário do neoliberalismo chega a ser desmoralizante, o caminho agora é a Terceira Via. Enfim, hoje não se vê mais certezas, se vê possibilidades.

Foi-se o tempo do certo e errado, bem e mal, fim e começo. A relatividade é a única certeza que temos. E justamente essa ideologia de concessões que me faz perguntar: e essa visão não é somente UM ponto de vista? Se não existe mais verdade, quem disse que essa ideologia é A verdade? Talvez toda essa tolerância esteja alienando as pessoas cada vez mais. É impossível acontecer um novo “Maio de 68”, “Movimento Hippie”, “Primavera de Praga”, "Revolução dos Cravos" ou até mesmo um “Diretas Já”. Com a relatividade veio a morte do romantismo. Se isso é bom ou ruim, só o tempo irá nos dizer. Aliás, quer algo mais relativo do que um final de texto como esse?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Medievo Estudantil

Há duas semanas um caso dividiu as opiniões do país. Geyse Arruda, 20 anos, estudante de turismo noturno da UNIBAN, Universidade Bandeirantes, foi execrada por mais de 700 estudantes por estar vestindo uma minissaia rosa-choque, salto alto e maquiagem. Uma atitude que se assemelha a um “revival” dos tempos de inquisição, uma verdadeira “caça às bruxas” em época de Halloween.

Já vi gente de ambos os lados. Uns que defendem a atitude grotesca dos “moralistas” universitários - os mesmos que queimam mendigos, batem em prostitutas e arranjam confusões nas baladas -, outros que defendem a estudante - que a meu ver não passa de uma imbecil, tão dispensável para a sociedade quanto os que a agrediram, pois aposto que se fosse outra pessoa, ela estaria dentro da manifestação. Pra mim, não existem santos nessa história.

Preconceito da minha parte? Não, chamo isso de experiência. Para provar minha posição sobre a índole da moça, hoje li na Ilustrada on-line que ela está aproveitando os 15 minutos de fama como pode, mudando de visual e até pensando em estrelar uma Playboy. Nada mais justo mostrar o corpo para a Playboy já que não quis mostrá-lo para os “playboys universitários” que urravam ameaças de estupro. Cá entre nós, não se pode esperar muito de uma estudante que é aprovada no curso de turismo, noturno, de uma das piores universidades do país – a UNIBAN é a 159ª colocada entre 175 universidades avaliadas no país.

Mas quero deixar claro que se tiver que escolher entre o sujo e o mal-lavado, ainda fico com ela. Por mais besta que ela seja, um retrocesso social como esse não pode ficar impune. Ela tem o direito de se vestir como bem entender e se ela resolver praticar “a profissão mais antiga do mundo”, quem somos nós para julgá-la? É absurdo, em pleno século XXI, o chamado “futuro da nação” agir dessa maneira puritana na sagrada “casa do conhecimento”.

Enfim, pelo visto, nós definitivamente ainda não saímos da “Idade das Trevas”. Um fato como esse só comprova a minha teoria.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Voz num Bandeón

Depois do post do Hector Lavoe e do debate sobre a cultura do sul com nosso patrão Allan, resolvi continuar nessa linha antes de voltar para a velha cornetagem sobre a política nacional, nada melhor que despedir-me com chave de ouro. De Astor Piazzola, grande nome do Tango (não adiantaria eu colocar Carlos Gardel ou Gothan Project, pois acredito que vocês conhecem muito mais que eu), a canção "Adiós Nonino" (a mais famosa junto com "Libertango") é a que recomendo a vocês.

É nesse momento que tento deixar minha barba crescer e encarno o grande Jamil: O bandeón inicia a música com uma violência inexplicável, no contratempo com notas secas do violino. A razão é a tentativa de mostrar o momento de despedida de, penso eu, mãe e filho. O desespero da mãe, representado pelo início da música, quebra totalmente com um suspiro de saudade e de tentar colocar, naquele momento de despedida, tudo aquilo que foi vivido, tudo aquilo que só uma pessoa tão querida faz lembrar. A música, pelas notas, traduz uma mensagem que só pode ser associada ao carinho, ao amor. Intensifica-se a melodia, vêm as lágrimas, vem o desespero, o medo de perder um ao outro. Aproxima-se o momento da despedida, volta o desespero, a mistura de sentimentos, de saudade, de inconformação. Porém, para que se inconformar se já está na hora? Tivera eu vivido diferente, aproveitado mais, é tarde para lamentar-se. Fica a melodia alegre para o final, que é a verdadeira mensagem da mãe para o filho: onde quer que esteja, seja o tempo que for, sempre estarei contigo, te amando.

"Nonino"(avô em italiano) era como Piazzola chamava seu pai, a música é uma homenagem a ele, que tinha morrido recentemente. Astor considerava esse tango como o maior de todos. Essa música, não me faz lembrar de outra coisa se não da minha mãe. Ela, D. Sonia, que escuta "Adiós Nonino" sempre que está passando por algum momento difícil. É por me fazer tão bem escutando essa música que escrevo esse post. Para, quem sabe, vocês atribuírem a alguma pessoa querida, ou simplesmente relaxar.

Raiando sem Sol

Aqui fica

A minha indignação,

Maldito seja

O horário de verão!

Black or White

É, pessoas, somos realmente afetados pela lógica moderna. Estamos sempre naquele maniqueísmo contínuo, pensando e classificando as coisas, acreditando piamente no dualismo do mundo. Por que cargas d'água não pode existir um terceiro caminho? Quem não é bom, é mau; é doce ou salgado; em cima ou em baixo. Por que não podemos pairar em um meio termo? Sempre precisamos ter opinião sobre tudo? Confesso que sei amar os dois lados da moeda, de maneira igual. Queria flutuar entre as opções, marcar um "A,5" no gabarito. O que o ensino não só brasileiro, mas o ensino moderno, a educação pós-Revolução Francesa faz é nos ensinar a pensar que tudo é científico, mensurável, conhecível e sólido, que existem poucas opções. No meio acadêmico nos cobram a terceira via, como se fala na nova sociologia, um "caminho nunca antes explorado" , parafraseando meu pai. NÃO EXISTEM ESTEREÓTIPOS, classes, modelos prontos e prévios. Fazemos uso deles de maneira abstrata, mas eles não existem na realidade, são somente criações práticas de um ser humano falho e simplista.

Cada um adiciona a um enunciado que ouve, por exemplo, suas próprias percepções. Pensar que um grupo de pessoas possa ter sido submetido às mesmíssimas influências durante a vida, de modo a perceber aquilo que ouviram de maneira igual e semelhante ao o que o orador quis passar é extremamente pretensioso. Não ouso afirmar, pois até mesmo a verdade é relativa. Se todos não fossem conformados com esse maniqueísmo eterno, não teríamos tantos conflitos armados, tantas chantagens políticas, discussões desnecessárias, inflexionismo de opinião. Talvez seja disso que o mundo precisa mais : uma pitada de incerteza, meio termo. Menos orgulho e preensão, mais humildade e maiêutica.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Cabra da Peste

Ao ouvir de um colega meu da faculdade que eu "queria ser nordestino", tive a oportunidade de refletir sobre essa minha atração aparente pelo povo da região pioneira da colonização de nosso país. Acabei por concluir que deveríamos valorizar e entender mais ainda daquela área. Por partes.

Meu amigo fez essa ressalva ao me ouvir cantando Chico Science e a Nação Zumbi com o sotaque próprio deles, o recifense. Por ser atraído pelas artes cênicas (porém, sem muito talento, confesso), tento sempre ser fiel ao original e imitar de maneira sempre coerente. Daí a minha "vontade de ser nordestino", segundo João, meu colega. Acontece que fui atraído pela música da banda, principalmente, pela mistura entre a percussão marcante do Maracatu (tenho enorme afinidade por percussão, em geral, mas falo sobre isso outra hora) e o som de guitarras ora distorcidas ora carregadas de peso. Também grandes expositores de uma parte intrigante do nordeste eram os Raimundos em início de carreira. Músicas, às vezes besteirentas, outras vezes exageradas, conseguiam explicitar situações tipicamente nordestinas (também com sotaques).

Outro aspecto meu que me fez atraído pela região nordeste brasileira foi o meu contato extremamente impactante com a obra de João Guimarães Rosa "Grande Sertão: Veredas". Confesso que não tenho a envergadura moral necessária para absorver satisfatoriamente o romance (detalhe: ninguém tem), porém, tenho a convicção, adquirida empiricamente, de que esse livro é, e, com certeza, será por muito tempo o mais grandioso romance de nossa literatura tupiniquim. Ao o ler, fui transportado para o universo sertanejo do norte de Minas (ah, não é no nordeste, mas é um expoente, também, do interior do nordeste) e me senti parte das andanças de jagunços e capatazes pelos matos e semi-desertos de nosso país. Daí vem muito de meu conhecimento sobre o sertão e a personalidade do sertanejo, simples, mas, indiscutivelmente, universal e o mais humano possível.

Era de se esperar que eu demonstrasse, nem que seja um pouco, de afeição pela região nordestina e pelo povo de lá proveniente, seja ele um músico e compositor genial (que visava se organizar para desorganizar) ou um autor de incomparável talento narrativo (que, como pouquíssimos, conseguiu expor a natureza humana e seus sentimentos mais primordiais). Só me falta correr atrás de mais exemplos da magnífica cultura nacional que germina duma das áreas mais brasileiras e não-globalizadas (no sentido de ter uma identidade ainda bem preservada e intocada) de nosso Brasil velho de guerra. Realmente, o nordeste É o Brasil.

Less a "Brick in the Wall"

Ontem, dia 9 de Novembro de 2009, comemorou-se os 20 anos da queda de um marco, de um dos maiores símbolos da “Era dos Extremos”: o Muro de Berlim.

Pra quem não se lembra da História, ao terminar a II Guerra Mundial, a Alemanha nazista, derrotada, foi dividida como uma pizza entre as nações Aliadas. A capital Berlim também foi dividida, apesar de se encontrar inteiramente em território soviético. Após algum tempo iniciou-se a bipolarização EUA-URSS que marcou a Guerra Fria e a França e a Inglaterra cederam suas partes ao aliado capitalista dividindo a Alemanha em duas: a Ocidental (República Federal da Alemanha) e a Oriental (República Democrática Alemã). O mesmo ocorreu com Berlim, que também ficou divida em Oriental e Ocidental. Devido à “tentação do capitalismo” o fluxo de pessoas saindo de Berlim Oriental e indo para a Ocidental era muito grande, o que levou o governo Soviético a erguer na madrugada do dia 13 de Agosto de 61 o muro de Berlim dividindo famílias e amigos por quase 40 anos. É sempre bom lembrar que era impossível a passagem da RDA para a RFA pela fronteira comum graças à “Cortina de Ferro” assegurada pelo “Pacto de Varsóvia”, portanto Berlim Ocidental era o cano de escape do Leste Europeu para o mundo ocidental.

Mas uma coisa que me entristece é chegar em casa e me deparar com uma Veja que traz como nota de rodapé: “a derrocada do comunismo abriu caminho para a maior expansão do progresso social e material da história”. É muito triste alguém ainda ver isso como algo bom. O que me alegra a ponto de comemorar essa efeméride é a vitória da liberdade de expressão, da Democracia, da união de um povo segregado por caprichos políticos e não a vitória de um sistema que se baseia na existência da pobreza para se sustentar nem na derrocada de outro sistema que impede a expressão do ser e ainda por cima se afirma revolucionário. Isso é o sujo falando do mal-lavado.

Bem, para relembrar e comemorar esse fato histórico deixo aqui duas músicas que simbolizaram essa união: “Another Brick in the Wall” do Pink Floyd sendo interpretada pelo Roger Waters em carreria solo com participação especial de Cyndi Lauper, show comemorativo da queda do muro – o show inteiro é muito legal, eles constroem um muro no palco e no fim o destroem - e “Wind of Change” do Scorpions, a mais famosa banda Alemã de todos os tempos cantando um de seus grandes sucessos que foi feito em homenagem à essa reunião do povo alemão. Divirtam-se!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Hoy te Dedico, Mis Mejores Pregones

Cá estou eu escrevendo sobre um estilo de música totalmente diferente do costume brasileiro. Numa noite em Nova York, decidiu-se misturar Mambo, Rumba, Jazz, Merengue. Era a Salsa sendo apresentada pela voz de Hector Lavoe, o maior nome desse estilo musical. Com a combinação dos estridentes do trompete, do sax e da percussão que impede você de ficar parado, a Salsa juntava a irreverência latina com um som de batida única. Vou tentar utilizar o maravilhoso estilo de escrever do Jamil, pois realmente acho improvável que ele escreva sobre uma salsa.
Em “Hoy te dedico, mis mejores pregones”, por exemplo, ele utiliza instrumentos de sopro que misturam-se com a harmonia de violinos, tocando o puro da salsa. Assim entra a voz única de Lavoe, conseguindo atear mais a sensação de uma boa música. Os pianos juntam-se à percussão e levam tanto mente e corpo para uma dança, uma viagem, os vocais de fundo dizem a essência dessa canção. A alma do cantor na música.
Afinal, o que é o cantor senão o porta voz do turbilhão da mente, do coração, da raiva. A voz, um dom, uma marca registrada? Pena que, como muitos dos grandes cantores, Hector Lavoe caiu nas drogas e morreu de AIDS. Porém, deixou bem imortalizado um ritmo que representa o Latino-Americano, ninguém fica parado.
Para quem quiser saber a história de Hector, assista ao filme “El Cantante” disponível no link em inglês e com legenda em espanhol.

Eu, Robô

Não, essa não vai ser uma resenha cinematográfica - apesar de eu gostar bastante desse filme - como a do meu último texto. É sobre mim - bem como sobre toda a humanidade. Sim, não sou nenhum pouquinho pretensioso sequer.

Eu, você, nós. Nada mais que ciborgues com músculos no lugar de engrenagens, neurônios no lugar de nanochips e um super HD chamado cérebro. Não sou psicólogo nem médico - no máximo um aspirante a filósofo -, mas isso já basta pra eu admirar a grandeza desse último. O que somos, o que pensamos, o que dizemos. Tudo não passa de um conjunto de reações químico-biológicas. Raiva, amor, tristeza, felicidade não passam de uma combinação entre hormônios e impulsos elétricos. Pessoas inteligentes, burras, boas, más, incríveis e monótonas são todas anatomicamente iguais. Isso me leva a uma conclusão: as ciências humanas não existem. Longe de mim repudiar as humanidades, afinal, é por esse caminho que vou seguir na minha vida acadêmica, mas que elas são superficiais e frágeis, isso são. O que é o pensamento? A índole? A consciência? O ego? Ninguém sabe ao certo. E não é justamente isso o que estuda a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia? Então...

O que me levou a todas essas conjecturas? Ontem comprei a Superinteressante desse mês. A capa expunha comprimidos recheados de cérebros em cima da chamada: "A pílula da inteligência". Pronto, estava feito o estrago. Milhares de conexões e estímulos passaram pela minha massa cinzenta e o resultado vocês estão lendo agora. Esse mote se associou a uma aula de filosofia pras discursivas da federal que tive semana passada em que ouvi que Descartes considerava o corpo uma máquina. Taquei tudo nesse liquidifador encefálico que carrego sobre o pescoço e voilà, um texto denso e relativamente enorme pros meus padrões.

Enfim, a percepção desse fato - do que não passamos de um amontoado de células e afins - me leva a duas conclusões: uma é de que as "drogas da felicidade" presentes no filme do Spielberg, "Minority Report", e na obra-prima de Aldous Huxley - que ainda pretendo ler na íntegra, com tempo e atenção - "Admirável Mundo Novo", são possíveis e não passam de uma questão de tempo; a outra é de que se por dentro somos todos iguais, provavelmente haja algo maior por trás dessas nossas carcaças. Alma consciência, espírito, saber, vida. Chame como quiser. Só espero viver até descobrirem o que é realmente. Espero viver, se é que ao beirar meus 100 anos a morte já não seja algo opcional, porque do jeito que estamos indo, não duvido mais que a imortalidade seja algo alcançável.

domingo, 8 de novembro de 2009

"Nada se Cria, Tudo se Copia"

Copyright

Copycat

Copy right!

Copy that!

sábado, 7 de novembro de 2009

De Pop e Rock, Toda Música Tem um Toque

Gabba gabba hey
Hey mamma, said the way you move, gonna make you
Are my sunshine, my only
Yooou can make all this world seems right
About now, the funk soul
Man, I'm a soul man,
I'm feeling like a woman
No cry, nooo, woman no cry
Me a river, cry me a river
Rolling, rolling, rolling down the
Watchtower, princes kept the view, while all
My loving, I will send to you
Shook me all night long
Way to the top, if you wanna
Rock! I Wanna Rock
You like a hurricane, here I
Like it, Ahan ahan, that's the way
Talk this way, walk this
Love? That I'm feeling? Is this the love
Only love, can bring back your love someday
We'll know if love can move a mountain, someday we'll know
It's only Rock'n'Roll, but I like it. ;D

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Serenata

Te trago essa rosa

Em verso e trova,

Em verso e prosa.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"Quem Vigia os Vigilantes?"

“Watchmen” – Zack Snyder (graphic novel original de Alan Moore)

Pra mim, existem dois tipos de filme: os “blockbusters” - aqueles filmes que custam milhões e rendem bilhões já no primeiro dia de bilheteria, que tem finais felizes e previsíveis com um desenvolvimento regado a muita morte, sangue, briga e romance – e os “cult” – aqueles que não tem começo nem fim, filmes de alta densidade filosófica, tipicamente europeus, que ninguém assiste e quem assiste não gosta, só aqueles pseudointelecutais que andam de boina e gola olímpica em pleno verão. Ambas essas vertentes têm suas obras primas, porém são poucos os filmes que conseguem unir os dois com maestria. Watchmen, definitivamente é um deles.

O filme é uma adaptação dos Quadrinhos homônimos da DC Comics, porém de acordo com os fãs da série é extremamente fiel ao original, apesar de algumas mudanças no enredo. A história se passa num mundo onde super-herois existem e são algo trivial. O fato de eles exisitrem – e serem em sua quase totalidade estadunidenses – causam um desequilíbrio geopolítico no mundo. Os aliados vencem a 2ª Guerra Mundial com folga, graças aos “Minutemen”, uma espécie de Liga da Justiça dos anos 40. Esse fato se torna relevante nos anos 60 quando, com a ajuda do Dr. Manhattan – um físico nuclear que sofreu um acidente em laboratório que o tornou um espécie de semideus, tendo poder absoluto sobre a matéria e compreensão total do tempo que o cerca –, os EUA saem vitoriosos do Vietnã. Isso faz com que o caso Watergate nunca seja descoberto, a popularidade de Nixon vá às alturas sendo reeleito diversas vezes e, portanto o movimento hippie perca considerável força. É nesse ambiente de “desequilíbrio de forças” que é criado o grupo “Vigilantes”, contando com o ex-minuteman, o Comedian – um sádico, irônico e sarcástico anti-heroi que representa de maneira parodiada a sociedade que o cerca –, Silk Spectre II – filha da 1ª Silk Spectre, participante dos Minutemen -, o Nite Owl II – uma espécie de Batman mais fraco e mais Nerd que deu continuidade ao trabalho do Nite Owl original, um ex-policial que participou do gurpo de 1940 –, Dr. Manhattan, Ozzymandias – tido como o homem mais inteligente do mundo, sua mente é brilhante ao ponto de calcular a trajetória e tempo de uma bala atirada contra ele e conseguir segurá-la com as mãos – e por fim Rorschach – o mais intrigante personagem da série, com um nome em homenagem ao teste de Rorschach, um filho de prostituta, conturbado e extremamente moralista, um psicopata às avessas que procura sempre a justiça mesmo que isso implique em mortes e roubos.

Em 1977, é sancionada a lei Keene, implantada em resposta à greve da polícia e à revolta da população contra os vigilantes, que agiam acima da lei. Com isso, ou os Vigilantes se registravam no governo – como fez o Comediante e o Dr. Manhattan -, ou se aposentavam – como fez a Silk Spectre e o Nite Owl, que se mantiveram na surdina, e o Ozzymandias, que revelou sua identidade e se tornou o megamilhonáro Adrian Veidt. Em 1985, data em que se passa o filme, o Comedian é assassinado e então começa a trama.

O filme é genial por diversos aspectos. Ele principalmente cria um conflito mental sobre o que é o certo e errado. Apresenta sacrifícios em prol de algo maior, mostra atitudes imorais pela justiça, mostra a sociedade como ela é. Torna o bem, o mal, o certo e o errado relativos. Além disso, parodia os HQs clássicos como quando o vilão – que eu não vou revelar quem é, se é que podemos chamá-lo desse jeito - diz “Vocês acham que eu sou um desses vilões de história em quadrinho? Já ativei meu plano há 35 minutos” e parodia também a sociedade americana como no diálogo entre um jornalista e seu chefe “-Parece que o Reagan vai se candidatar à presidência . – Eu quero notícias plausíveis, você acha mesmo que elegeríamos um cowboy pra presidente?”. A trilha sonora é ótima, tendo várias músicas de época incluindo "Hallelujah" de Jeff Beckley e "All Along the Watchtower" na versão do Hendrix. O filme também mostra um outro lado da convivência com super-herois. Os protestos das pessoas comuns contra a sua onipotência, as greves das forças policiais que se sentiam inutilizadas graças ao trabalho deles, etc. O post já está longo e se eu fosse descrever tudo do filme com minnúscia precisaria de um outro livro.

Enfim, é uma obra-prima dentre tantos HQs que se tornaram filmes. O diretor Zack Snyder foi o mesmo que trouxe às telonas “300”, e manteve até mesmo alguns quadrinhos como storyboard da produção. Para um fã de distopias, ficção científica e quadrinhos com conteúdo, como eu, esse filme é um prato cheio. Cheio de humor, ironia, sexo, sangue, violência e conjecturas filosóficas. Extremamente recomendado.

domingo, 1 de novembro de 2009

"Open the Door, HAL"

"2001: A Space Odyssey" - Stanley Kubrick

Nunca é demais viajarmos sobre como será o futuro e, com isso, divagarmos sobre nossa situação atual e os antigos acontecimentos e, depois de tudo, tentar fazer ligações entre o agora, o ontem e o amanhã. Um filme vem à mente quase que como uma unanimidade quando pensamos em futuro: "2001: Uma Odisséia no Espaço". Talvez atrás apenas da dupla trilogia do Star Wars em popularidade no gênero ficção científica, essa, como diz o nome, odisséia é uma incrível e ao mesmo tempo absurda viagem ao futuro e ao espaço, vista pelos olhos de Stanley Kubrick e do autor de romances Arthur C. Clarke.

No início, talvez o mais primitivo de todos os filmes do gênero, vemos a chamada "dawn of mankind", ou aurora, amanhecer da humanidade. Grupos de hominídeos brigam por território e, depois de perder seu espaço, um dos primatas do grupo oprimido descobre o osso como arma. Aqui entra em cena a música mais clássica e lugar-comum da história, "Thus Spoke Zarathustra", ou "Assim Falou Zaratustra" (sim, homônima ao livro de Nietzche). Sendo tocada também nos créditos iniciais do filme e no fim, obviamente, essa música ficou no imaginário de todos como trilha sonora de conquistas e superações. Depois de um corte de milhões de anos, nos encontramos a caminho duma estação espacial. E por aí vai a história de bem mais que duas horas de filme que não vou contar.

Comento agora sobre as incríveis qualidades desse filme. Primeiro, fica aqui minha admiração pela criatividade e visão dos autores, por colocarem em cena maquinários extremamente detalhados nas naves e estações e por anteciparem muitas criações tecnológicas que surgiram com o tempo. Vale lembrar que o filme é de 1968 e que muitos dos efeitos que vemos nas partes mais psicodélicas da história são feitas com materiais caseiros em conjunto com duas mentes viajadas. Outra coisa que vem ao caso mencionar é a linda trilha sonora que habita grande parte da narrativa, que, por sinal, é extremamente muda. Não que não haja ação, mas a que há, é curta. Ainda sobre as músicas, legal como a maior parte do filme é feita em silêncio. Mas não é aquele silêncio agonizante, é o silêncio programado, para pensarmos, para refletirmos na gigantesca odisséia a qual somos convidados a participar.

Apesar de ser um filme de ficção, "2001..." levanta inúmeras questões relevantes e atemporais que são extremamente delicadas e, ao mesmo tempo, intrigantes. Exemplos de discussões possíveis: sobre civilizações extraterrestres; sobre a relação entre homem e máquina; sobre Deus; e por aí vamos. Na versão em Blu-Ray do filme, que aluguei não muito tempo atrás, os extras são recheados de documentários (se não me engano, sete deles), sendo um deles sobre as questões filosóficas acerca da obra. Não vou entrar no assunto, mas, quem quiser, depois de assistido o filme, prefiro discutir pessoalmente.

Fica aqui a dica de um filme que, apesar de cansativo, tanto física quanto mentalmente, nos alimenta e nos move em direções nunca antes pensadas.

Nós, a Sós

E com os teus braços
Eu faço laços,
E em meio a abraços
E amassos,
Me apoio em teu regaço
E embaço
Os teus traços.
E te traço,
Te ameaço
E te caço.
No chão e no terraço.
E invado teu espaço,
Teu ventre de aço
E me faço
De palhaço,
E muito bem passo,
E te faço
De meu maço.
Te trago, e o cansaço
Faz de mim de volta um bagaço
Estirado em teus braços.